IV Seminário de Iniciação Científica
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- André Palmeira Beltrão
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1 A IMPORTÂNCIA DO CARRO DE BOIS NO CONTEXTO ECONÔMICO E SOCIAL DE FORMOSA-GO Simone Braga Farias 1 José Ronaldo Teles 2 Marília Gabriela Barros de Moraes 3 RESUMO: Esta pesquisa tem como principal objetivo fazer uma análise da importância que o carro de bois teve no contexto econômico e social na cidade de Formosa e demais regiões, com as quais mantinha-se algum tipo de relacionamento, seja comercial ou mesmo sociocultural. Num período onde a tecnologia não era tão avançada e ainda não existia o veículo automotivo, o carro-de-bois era não só um meio de transporte de carga como também um forte contribuinte econômico e um facilitador das tarefas cotidianas. E superava com vantagem certos obstáculos como inexistência de pontes e estradas. A circulação do carro-debois era livre, porém estava esporadicamente sujeita a tipos de pedágio conforme as regiões que necessitasse passar. Eram os chamados "Registros de Passagem". Apesar do seu peso e ineficiência em relação à velocidade, o carro-de-bois efetuou importante tarefa econômica para as regiões aqui citadas, onde passou a ser usado desde o transporte de cargas agrárias e/ou manufaturadas até simples passeios familiares para longas distâncias e comissões de aluguéis para viagens. Mas o carro de bois foi trocado inexoravelmente pelos veículos de automotores, considerando raras exceções, ele existe hoje somente como peça de decoração, enfeite ou objeto de lendas folclóricas e histórias populares. PALAVRAS-CHAVES: Carro de Bois, Transporte de tração animal, junta de bois. Introdução A importância deste estudo é estabelecer uma linha de reflexão sobre a importância do carro de bois no meio sócio-econômico na região da cidade de Formosa, pois esse veículo de tração animal teve um papel fundamental no transporte de cargas e de pessoas durante décadas, que praticamente movia a economia como também proporcionava momentos de 1 Bolsista PBIC/UEG. Acadêmica do 4º ano do curso de História da UEG/Formosa 2 Pesquisador - Orientador 3 Voluntária de Iniciação Científica PVIC/UEG, Acadêmica do 4º ano do curso de História da UEG/Formosa. 4 Curso de Licenciatura Plena em História. Unidade Universitária de Ciências Humanas UEG/Formosa-GO. 520
2 grande alegria e de encantamento, como o som que produzia pelo atrito nos eixos lubrificados com sebo misturado com pó de carvão. Conta um testemunho local, muito conhecido pelo nome Juca das Moças, que houve época em que durante as festas religiosas da cidade chegavam reunir dezenas de carros de bois, trazendo evidentemente os moradores da zona rural que viviam nas proximidades de Formosa. Muitos, não tendo onde se hospedar, acabavam se acomodando nos próprios carros de bois. O carro de bois foi inquestionavelmente muito representativo e muito versátil também, não porque transportava cargas mas porque serviam também como várias medidas, como por exemplo, quando se perguntava quanto de milho se colhe por alqueire de terra, a resposta vinha de imediato - tantos carros de bois. Este trabalho não teve a pretensão de esgotar todo o assunto, pois isto praticamente seria quase impossível, não só pela limitação do espaço de tempo e pela amplitude do tema, como também pelas dificuldades de acesso às fontes, visto que não há colaboração entre aqueles que têm o domínio dos arquivos. Mesmo assim, contando com os limitados recursos de fontes orais, através de entrevistas com os testemunhos locais e depoimentos de vários moradores que conviveram com essa realidade, assim como relatos de descendentes dos fabricantes de carro de bois e pecuaristas, e também de uma documentação manuscrita existente no Museu Couros de Formosa e de uma bibliografia complementar, foi possível resgatar uma significativa parte dessa história tão interessante da cidade e da região. Neste trabalho pode-se verificar também todo o processo de fabricação, suas atividades transportando todo tipo de mercadoria para regiões distantes, como também a utilização de bois e especialização de carreiros e guias, que conduziam esses carros com grande mestria, conforme as exigências peculiares dessa profissão. Material e Métodos: Para esta pesquisa histórica sobre o carro de bois, ou seja, sobre uma realidade vivenciada em Formosa no século passado, segundo alguns registros, desde 1914 e que se estendeu até as décadas de 60 e, mais raramente 70, quando os veículos automotores começaram a substituir com larga vantagem o carro de bois, foi necessário então utilizar, além 521
3 da metodologia tradicional, como a de análise de documentos primários, como também de fontes orais, como entrevistas e depoimentos com os moradores antigos da cidade. Foi também necessário recorrer à pesquisa de campo, percorrendo alguns caminhos antigos e fazendas, onde se faziam o uso constante deste veículo puxado por bois que transitava por caminhos até mesmo improvisados, cheios de obstáculos como rios e estradas escorregadias. É possível ainda encontrar pessoas que se ocupavam dessas atividades de guiar os carros de bois e até mesmo pessoas que trabalhavam na sua fabricação, como carpinteiros e ferreiros. Estas pessoas são testemunhas vivas que ainda trazem muitas lembranças importantes para o resgate histórico dessa época. Para resgatar histórias como esta basta um gravador para gravar entrevistas e depoimentos, uma câmara fotográfica, disponibilidade de tempo e de locomoção para percorrer os diversos lugares que ainda conservam alguns desses patrimônios históricos que revelam aspectos interessantes de um passado não muito distante. A presente pesquisa foi fundamentada em relatos orais de moradores antigos da cidade que conviveram com o trafego de carro de bois, bem como seus descendentes, e desenvolvida com o auxílio da bibliografia citada, levantamento de documentos antigos do museu histórico de Formosa (Museu Couros) e da documentação (inventários) do arquivo do Fórum da cidade. Houve pesquisa de campo em fazendas próximas à cidade para entrevistas e fotografias. Os materiais utilizados foram: Gravador, fitas cassete, lápis, papel, caneta, computador, impressora, máquina fotográfica. Resultados e Discussão Os resultados aqui obtidos serão incorporados, na sua íntegra, em outra pesquisa que está sendo desenvolvida pelo orientador desta, sobre Histórias de Formosa, que abrange não só a circunscrição da cidade de Formosa como também da região. Há também grande interesse por esse tema de vários pesquisadores que buscam constantemente na Internet e que quase sempre não encontram novos trabalhos e esta pesquisa será com certeza disponibilizada tão logo seja concluída todas as etapas. Durante o evento que ocorre todos os anos em Formosa, sobre a Festa da Moagem, esta pesquisa será também exposta aos visitadores que engloba não só estudantes de todos os níveis como também grande parte da população da cidade e região. 522
4 Além de uma grande contribuição à historiografia regional, que envolve a cidade de Formosa e região, a principal discussão é ressaltar a contribuição do carro de bois para o desenvolvimento da cidade de Formosa, analisando fatores econômicos e sobretudo sociais, pois esse veículo representou uma Formosa agrária que aos poucos foi se modernizando. Ao se fazer uma analise entre o homem rural e o homem urbano pode-se perceber como esse tema resultou em diferentes visões e importâncias de naturezas distintas, bem como a comunidade como um todo, participou das utilidades que trazia consigo o carro de bois. Um outro fator relevante, como a noção de público e privado, percebe-se que essas esferas em alguns momentos mesclam-se, onde terras públicas são premiações de feiras agropecuárias, o que de alguma forma era um fator que agregava valores para os produtores da região. Fig. 01 As partes do Carro de Bois. 523
5 Conclusões Apesar de ser um objeto pouco estudado, o carro de bois, desde a formação de Formosa, fez parte do cotidiano popular. De maneira distinta, hoje é encontrado como enfeites ou relíquias praticamente inutilizados. Porém, alguns anos atrás, nas décadas de trinta e quarenta, onde a cidade se fazia sobreviver pelo comércio de produtos agrícolas, esse veículo movimentou mais que mercadorias, ele movimentou modernidade da cidade para o campo; trazendo produtos industriais para fazenda e levando o que no entorno rural era produzido para a cidade. Tal fato gerou uma constante, essa utilização exigiu o aparecimento de profissionais artesãos especializados no trabalho de confecção e manutenção dos veículos, tal classe acolheu desde cortadores de madeira até os exímios e renomados ferreiros de Formosa que sobreviviam financeiramente desse trabalho. Dessa forma, com o lento andar do carro de bois a economia formosense moveu-se, e esteve por muito tempo ligada a pecuária, com suas alegóricas valorizações do boi carreiro (tração do carro de bois) e também no alimento desses bois, o sal que era inicialmente trazido do litoral pelo carro de bois, incluiu Formosa em um circuito nacional de comércio do raro sal. Para além da carga física, o símbolo carro de boi era ao mesmo tempo popular e nobre fazendo parte das práticas religiosas com fervor. Os participantes das longas e lentas viagens: candeeiro, guia, passageiros e o próprio boi viraram lendas, o movimento das engrenagens emitiu sons característicos e até hoje desperta o saudosismo de quem viveu nessa época, que se orgulha e se conforta ao relatar sobre o assunto, pois ao falar do carro de bois e sua época é como se falassem de suas próprias vidas em um passado varrido pelo comodismo e pela modernidade. Estabelecem inconscientemente um paralelo que mostra que da mesma forma que os homens abandonaram o campo e foram para a cidade, eles abandonaram tudo o que ele representava substituindo o carro de bois por veículos automotivos. E a discussão em torno desse tema, que é bastante extenso, mas que, com esse levantamento, certamente pode-se ter desde já vários seguimentos, e este é o grande objetivo deste trabalho. 524
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTIAGA, Zoroastro.História de Goiás. Goiânia, Estado de Goiás,1959 CANCLINI, Nestor García. Culturas Híbridas. São Paulo: Editora universidade de São Paulo, 2002 CASTRO, Mário. A Realidade Pioneira. Planaltina-DF, Editora Thesaurus, GALLI, Ubirajara. A História da Pecuária em Goiás: dos primeiro gados aos dias de hoje. Pág 43. Editora Contato Comunicação: Goiânia, GOULART, José Alípio. Meios e instrumentos de transporte no interior do Brasil. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1959, Coleção Vida JACINTO, Olympio. Esboço Histórico de Formosa. Brasília: Independência, 1979 Lei municipal 137/57 de 26 de agosto de 1937 Art. 1º LÊ-GOFF, Jackues. A história do Cotidiano. in: Duby, Georges et alii. História e nova História.. Lisboa Editora Teorema, NOGUEIRA, Wilson Cavalcante. Mestre Carreiro. In: A Folclórica n. 8. Goiânia, IGF,
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