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1 Intervenção de Encerramento do Colóquio O Serviço Público de Comunicação Social: de Portugal para o Mundo, pelo Presidente da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, Deputado Mendes Bota Sala do Senado, 10 de Abril de 2012 (COM GALERIA DE FOTOS) Senhoras Deputadas, Senhores Deputados, Senhoras e Senhores, Terminada esta ronda, compete-me agora dizer algumas palavras para encerrar este colóquio, em primeiro lugar para agradecer, do fundo do coração, e em nome da nossa Comissão, aos convidados oradores, que com o brilhantismo e a profundidade das suas análises enriqueceram bastante o nosso debate. Queria também agradecer a todos os deputados e deputadas, a todos os cidadãos e cidadãs interessados na matéria que se juntaram hoje a nós. Permitam-me apenas passar por quatro ou cinco temáticas muito rapidamente, que julgo deveriam ficar bem anotadas. Em primeiro lugar: é natural que a RTP Internacional tenha concentrado uma grande parte dos comentários, algumas vezes críticas, outras vezes sugestões, porque, de facto, trata-se de um instrumento fundamental da ligação de Portugal com o mundo, e porventura do mundo com Portugal. Queria dizer que sou também um consumidor da RTP Internacional, porque devido às minhas funções no Conselho da Europa viajo muito e tenho, portanto, muitas vezes a oportunidade de ver os seus conteúdos. A RTP Internacional parece-me e não entendam isto como uma crítica negativa ou destrutiva; eu acho que tudo aquilo que foi dito como crítica deve ser entendido como construtiva, porque nós estamos num processo de reconstrução de todo o nosso potencial de comunicação desfasada em muita coisa. Não pode passar o programa do Preço Certo no mês de Março ou Abril com o Fernando Mendes a despedir-se das pessoas com um Bom Natal ou Bom Ano Novo. Não faz sentido nenhum. Não podem mostrar um programa onde as pessoas aparecem de manga curta quando se está no inverno na Europa é algo que não faz qualquer sentido. Tal como a informação não pode ser pura e simplesmente transmitida e aí, vejam bem o desfasamento, porque a informação é passada em directo no telejornal, mas com notícias não-filtradas; o que é que interessa às comunidades emigrantes saberem que está uma grande fila de carros para passar a ponte sobre o Tejo; mesmo as notícias devem ser separadas, entre aquelas que têm interesse directo para as comunidades e aquelas que não o têm. Depois gostaria de dizer que, por estranho que pareça e a RTP Internacional tem também produção, não direi própria, mas possui mecanismos que em determinados 1

2 países [e devo dizer-vos que a qualidade e a produção variam muito de continente para continente e de país para país], tem protocolos, às vezes com equipas amadoras, que não produzem peças nem com qualidade técnica nem com qualidade jornalística; e diria até que, muitas vezes, se confunde a informação com interesses comerciais, e eu explico porquê: a RTP Internacional não paga a quem produz esses programas nalguns países. Ou seja, dá a possibilidade a algumas entidades de fazerem determinado tipo de reportagens, recolhendo elas próprias o produto da publicidade. Ou seja, aquilo que é o objecto da informação, é alguém que está a pagar para aparecer nesse programa. E eu penso que isto não é muito positivo. O que quero dizer é o seguinte: a RTP Internacional deve produzir, deve ter conteúdos, mas tem que investir, tem que pagar. Não pode haver qualidade e a qualidade é algo que também aqui foi citado por vários deputados intervenientes a qualquer preço. Aquilo que nós transmitimos pela RTP Internacional tem que ter qualidade. Outro aspecto um pouco bizarro é que, se há produto que vem das comunidades para nós, a RTP Internacional não é vista em Portugal. Isto é um absurdo. A comunicação tem que ser biunívoca. De Portugal para o mundo e do mundo para Portugal. Acham natural que a RTP Internacional não esteja na nossa televisão por cabo? Isto é um absurdo completo! Se temos a RTP Memória, a RTP Informação, uma série de outros canais no cabo, porque não havemos de ter a RTP Internacional? Custa assim tanto? Mas desejavelmente com muita produção de qualidade que nos traga informação... porque reparem: quem está em Portugal também gosta de saber do êxito dos seus sucessores, dos seus familiares que estão lá fora e que têm empresas, têm associações culturais, têm iniciativas. Nós gostamos também de saber. Isso não pode ficar apenas para que os outros telespectadores da RTP Internacional, nas outras comunidades, apenas entre eles saibam o que se passa. Os portugueses não sabem Isto é um absurdo completo. Não pode continuar assim. Reparem qual a importância deste canal. Há muita gente que não sabe, mas nós temos no mundo 120 mil empresas portuguesas e quando digo portuguesas permitamme que coloque umas aspas, detidas por portugueses ou luso-descendentes. Reparem no enorme potencial que aqui existe para negócios, transações, importação-exportação, para ajudar o país a sair da crise. E é esta rede que tem de começar a circular. Nós temos que conhecer esses Belmiros de que aqui falavam, esse Jerónimos Martins, que também eles existem em grande escala e com grande potencialidade, como também aqui disse o nosso Conselheiro temos que conhecê-los, porque também eles podem ajudar-nos a sair da crise. Portanto, eu diria que muitas vezes há falta de sensibilidade. E, como há falta de sensibilidade, o Governo tem a obrigação política, quase que diria a obrigação de 2

3 impor que haja sensibilidade para esta relação biunívoca de Portugal com a sua diáspora. Em segundo lugar, uma breve palavra para algo que não foi aqui referido. A RDP Internacional na minha opinião é o parente pobre da RDP, é o parente pobre da RTP. A RDP Internacional neste momento tem apenas três pessoas na redação. Não pode ser. A RDP Internacional continua a ter um papel fundamental. Não podemos menorizá-lo. E gostaria de apelar ao Governo para que, através da RTP, desse mais importância ao papel da RDP Internacional. Quanto à Lusa, que amanhã iremos visitar como Comissão - vamos fazer uma visita às instalações da Lusa, temos aqui o seu presidente a quem agradeço todo o interesse demonstrado - mas permita-me também que lhe transmita neste contexto: a Lusa tem acordos com os órgãos de comunicação social da diáspora, mas são acordos insuficientes. Disponibilizam vinte fotografias por dia. E disponibilizam apenas algumas das notícias que a Lusa produz, ao sabor dos critérios de algum editor ou editora que muitas vezes não são coincidentes com o interesse de quem está lá fora e que gostaria de publicitar e dar divulgação às notícias da Lusa. Até acontece, sr. Presidente, peço-lhe que atente nisto, que por vezes é disponibilizada a fotografia do evento e não é disponibilizado o texto informativo desse mesmo evento. Isto não faz sentido nenhum. Deveríamos avançar para que a disponibilização do conteúdo informativo da Lusa aos jornais, rádios e televisões locais que temos desde a América do Norte, ao Canadá, até à França, fosse total todas as fotografias que a Lusa produz. Isto é que seria de facto abrir as portas a uma relação biunívoca total. Seguidamente, permitam-me que diga aqui algo sobre a questão do porte-pago. O porte-pago foi efectivamente um corte muito grande na comunicação que havia das comunidades locais de Portugal com as suas comunidades das diáspora. São as tais notícias que obviamente não passam na RTP Internacional; nem sei se passarão na RDP ou na Lusa; mas que a nível local diziam muito às pessoas. É evidente que não podemos hoje olhar para o panorama da informação local com os mesmos olhos de há quinze ou vinte anos atrás. Porque os jornais estão também a desaparecer ou a transformar-se aceleradamente para versões para versões online e, portanto, é evidente que a questão do porte-pago já não tem hoje a acuidade que tinha antigamente. Mas queria apenas deixar aqui esta nota: é muito positivo que o Governo dê uma atenção especial a essa rede de órgãos de comunicação social da diáspora. Mas também deveríamos todos Governo e Assembleia da República meditar sobre a proposta do Conselho das Comunidades Portuguesas, que sugere que estas deveriam ter assento no Conselho de Opinião da RTP. Estão lá tantas instituições! Estão lá representados tantos cidadãos! [a Assembleia elege os seus representantes]. Não faz sentido nenhum que, nesta matéria em que temos uma projecção para o mundo, aqueles que são os destinatários da nossa projecção ou os principais destinatários não estejam representados para manifestarem no Conselho de Opinião 3

4 que é o local adequado as suas críticas e sugestões. Penso que não é dispicienda esta proposta que o Dr. Luis Jorge aqui nos deixou hoje. É evidente que temos que ser audazes neste momento de crise. E ser audazes significa não termos medo também de ideias perigosas. E o Sr. Professor Gustavo Cardoso deixou-nos aqui ideias perigosas deliciosas, porque acho que vale a pena aceitarmos pelo menos o desafio de olharmos para elas. E, pelo menos, deixou-nos aqui uma noção das nossas vantagens comparativas em relação àqueles que são os nossos principais concorrentes dentro da diáspora, dentro da lusofonia, ou dentro daquilo onde se fala português. E mencionou a China e o Brasil. É evidente, não tenhamos medo, nós temos vantagens comparativas sobre todos eles. Queria só, para terminar, dizer o seguinte: acho que existe muito preconceito para com a palavra cosmopolita. É preciso reposicionarmos o que é o cosmopolitismo. Cosmopolitismo significa cidadão do mundo. Significa as pessoas que se dão e adaptam a outros meios ambientes, a outras culturas, a outros países. São pessoas que viajam muito. São pessoas quem têm uma cultura internacional. E eu pergunto: acham que todos aqueles emigrantes portugueses, pobres que daqui saíram para fugir à miséria, e que provaram em todo o mundo a sua capacidade de adaptação a outras culturas, a outras maneiras de estar, de viver, de ser eles são cosmopolitas também, por definição, e não deve haver aqui qualquer problema com o uso da palavra. Vejam os dicionários, vejam a raiz etimológica, vejam o significado da palavra! Não tenhamos medo. Se nós conseguirmos de facto ter um serviço público de comunicação social que seja cosmopolita neste sentido de capacidade de adaptação, de viver entre outros povos e de haver uma interacção entre as informações que seguem para fora e as que vêm para dentro, acho que estaremos no bom caminho. 4

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7 COLÓQUIO PARLAMENTAR O SERVIÇO PÚBLICO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: DE PORTUGAL PARA O MUNDO No próximo dia 10 de abril, pelas 17h30m, na sala do Senado da Assembleia da República, realizar-se-á um colóquio subordinado ao tema Serviço Público de Comunicação Social: de Portugal para o Mundo, inserido no ciclo de debates sobre o Serviço Público de Comunicação Social que a Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação tem vindo a promover. O colóquio é de entrada livre e tem o seguinte programa: 17h30m Intervenção dos três oradores convidados: - Feliciano Barreiras Duarte, Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares - Gustavo Cardoso, Presidente do Obercom Observatório da Comunicação; - Luís dos Santos Jorge, presidente da Comissão do Associativismo e da Comunicação Social do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). 18h15m Debate; 19h Respostas e comentários dos oradores convidados; 19h30 Intervenções dos Grupos Parlamentares: - Nilza de Sena, Deputada do Grupo Parlamentar do PSD; - João Portugal, Deputado do Grupo Parlamentar do PS; - Raúl de Almeida, Deputado do Grupo Parlamentar do CDS-PP; - Bruno Dias, Deputado do Grupo Parlamentar do PCP; - Catarina Martins, Deputada do Grupo Parlamentar do BE. 19h55m Encerramento do Colóquio pelo Presidente da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, Deputado Mendes Bota. 7

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