RECOMENDAÇÃO 001/2008
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- Lorena Malheiro do Amaral
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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DA BAHIA OFÍCIO DO MEIO AMBIENTE E PATRIMÔNIO CULTURAL RECOMENDAÇÃO 001/2008 OBJETO: assegurar que recursos financeiros do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES, não sejam destinados a projetos específicos cuja viabilidade ambiental esteja sob apreciação judicial, inclusive com embargo de obras e construções. CONSIDERANDO que são funções institucionais do Ministério Público da União a defesa do meio ambiente (artigo 5º., inciso III, alínea "d", da Lei Complementar número 75/93), devendo zelar pelos princípios constitucionais pertinentes (artigo 5º., inciso II, alínea "d", da Lei Complementar número 75/93); CONSIDERANDO que "todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (artigo 225, caput, da atual Constituição da República Federativa do Brasil); CONSIDERANDO os objetivos delineados na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81, em especial artigos 2.º e 4.º) e demais normas de proteção ambiental, bem como o regramento supranacional, do qual o Brasil é signatário (Agenda 21, a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, a Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas, entre outros); 1
2 CONSIDERANDO que são funções institucionais do Ministério Público da União "a defesa dos direitos e interesses coletivos" (artigo 5º., inciso III, alínea "e", da Lei Complementar número 75/93), bem como zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias à sua garantia (artigo 129, II, da Constituição da República Federativa do Brasil); CONSIDERANDO ser atribuição do Ministério Público Federal expedir recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao respeito, aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo para a adoção das providências cabíveis, à luz do artigo 6º., inciso XX, da Lei Complementar 75, de 20 de maio de 1993; CONSIDERANDO as informações constantes do Procedimento Administrativo de número /2008-2, instaurado no âmbito do Ofício do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural da Procuradoria da República no Estado da Bahia, em 10 de junho de 2008, a partir de representação relacionada à Ação Popular de número , em trâmite na Justiça Federal Seção Judiciária da Bahia, movida em face do CONSÓRCIO PARQUES URBANOS e outros; CONSIDERANDO que a referida Ação Popular culminou com embargo judicial das obras de ampliação e reforma do SHOPPING CENTER AEROCLUBE PLAZA SHOW, atualmente intitulado Aeroclube Shopping & Office (inicialmente por decisão de primeira instância e, atualmente, por ordem do Tribunal Regional Federal competente, devido a agravos de instrumento interpostos pelo autor popular e, também, pelo Ministério Público Federal); CONSIDERANDO as informações da Receita Federal no sentido de que a ALIANSCE ADMINISTRAÇÃO DE SHOPPING CENTERS LTDA (uma das integrantes do Consórcio Parques Urbanos): a) não existe no endereço informado; b) foi incorporada pela ALIANSCE SHOPPING CENTERS S.A, que tem vínculos com empresas do grupo Iguatemi e sede na cidade do Rio de Janeiro-RJ; c) está pendente de procedimentos necessários à atualização do cadastro CNPJ, os quais serão efetuados, conforme prometido pela contadora do grupo Iguatemi em Salvador-BA, encaminhando-se cópia dos documentos ao Fisco Federal; CONSIDERANDO os esclarecimentos prestados pelo BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL BNDES (Ofício 652/2008- BNDES GP, de 31 de julho de 2008), quanto à aprovação de cerca de R$ 11 milhões no âmbito do BNDES Automático em favor de duas empresas integrantes do Consórcio Parques Urbanos (Nacional Iguatemi Participações S/C Ltda e Virrat Empreendimentos e Participações S/A), tendo como objetivo a expansão em 9.564m2 e a reforma de m2 de um Shopping, incluindo investimentos em instalações e aquisição de móveis e utensílios ; 2
3 CONSIDERANDO o exposto pelo Ministério Público Federal, em agravo de instrumento na Ação Popular em debate, salientando-se, entre outros aspectos: (...) os documentos remetidos pelo IPHAN a este Órgão Ministerial, revelam que em 01º./04/2008 a versão apresentada do projeto do empreendimento comercial foi reprovada (Parecer Técnico 0084/08, cópia anexa) pela área técnica do IPHAN. A reprovação, frise-se, corroborou os itens 6 e 7 de análise anterior da Autarquia Federal (itens 6 e 7 do Parecer Técnico 0023/08, cópia anexa), oportunidade em que foi ressaltado o impacto paisagístico do Bloco H (ainda em projeto) e do volume que abriga as Lojas Americanas (cuja execução já foi concluída!). Ressalte-se que no mesmo dia, em 01º./04/2008 (Parecer Técnico 0085/08), o projeto foi aprovado!. (...) mais uma vez, confirma-se que quanto o objetivo é realizar o empreendimento comercial o Consórcio Parques Urbanos atua com alta velocidade. O parque público, no entanto, não avança, e uma das razões seria o fato de que a responsável pela elaboração do projeto (do parque público) é domiciliada no estado de São Paulo, sendo necessário maior prazo para atendimento ao solicitado pelo IPHAN (...). (...) Outrossim, cumpre registrar que o Ministério Público Federal está apurando todas as demais irregularidades mencionadas pelo autor popular. De fato, pontos controversos e graves (como a ausência de Estudo de Impacto de Vizinhança, a invasão pelo Consórcio Parques Urbanos de área não licitada, num total de ,80 m², a inexistência de qualquer concorrência pública ao contrato administrativo vigente, falta de Licenciamento Ambiental e Estudo Prévio de Impacto Ambiental EIA/RIMA em empreendimento de tamanho impacto, entre outros) demonstram o quanto é necessária a intervenção urgente e firme do Poder Judiciário ; CONSIDERANDO que o BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECO- NÔMICO E SOCIAL - BNDES é empresa pública federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Lei nº 5.662, de 21 de junho de 1971), estando, via de conseqüência, sujeita à observância dos princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência; 3
4 CONSIDERANDO que, em 1994, o BANCO NACIONAL DE DESEN- VOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL - BNDES assinou a Declaração Internacional das Instituições Financeiras sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, passando a integrar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - Iniciativa Financeira (UNEP-FI); CONSIDERANDO que o BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL - BNDES também é signatário do Protocolo Verde - Carta de Princípios Para o Desenvolvimento Sustentável, assinado em 1995 pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia, onde assumem expressamente a tarefa de promover a análise de risco ambiental em suas operações e procedimentos internos; CONSIDERANDO a pública declaração do BANCO NACIONAL DE DESEN- VOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL - BNDES ( quanto à fundamental importância de serem observados os princípios ético-ambientais para concessão de crédito, sobretudo devido ao compromisso com as gerações presentes e futuras, sedimentando que investimentos na melhoria do desempenho ambiental de atividades produtivas e de infra-estrutura são indutores de desenvolvimento econômico e social, e assumindo o compromisso de disponibilizar recursos adequados para a promoção da qualidade ambiental e de atividades ambientalmente sustentáveis. CONSIDERANDO que o BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL - BNDES prescreve, dentre as diretrizes orientadoras de sua política para o meio ambiente: a Promoção da ecoeficiência, por intermédio do incentivo à utilização de tecnologias mais limpas, ao aumento da eficiência energética, ao uso de recursos renováveis, à prevenção e controle de poluição, à redução de rejeitos, à recuperação de recursos naturais, à reciclagem de materiais e a operações com objetivos puramente ambientais que também possam contribuir para a melhoria do ordenamento urbano ; o Desenvolvimento e permanente aperfeiçoamento de instrumentos de avaliação do risco ambiental de crédito e de análise ambiental de projetos, observando o conceito de desenvolvimento ambientalmente sustentável ; a Atuação em ações preventivas a danos ambientais, apoiando e incentivando projetos e programas que equacionem os passivos ambientais ; além de Considerar o Zoneamento Ecológico-Econômico nos procedimentos relativos ao financiamento de projetos pelo BNDES, entre outras questões de relevante valor ambiental ( CONSIDERANDO que instituições financeiras públicas e privadas se incluem, evidentemente, e se equiparam, no conceito constitucional de coletividade, constante do artigo 225 da Lei Maior, e que a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) constitui marco na construção do direito ambiental 4
5 brasileiro recepcionada pela Constituição de 1988, elevando o financiamento e o crédito ao nível de instrumento de controle ambiental; RESOLVE RECOMENDAR ao Senhor Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES (com sede na Avenida República do Chile, 100, Centro, Rio de Janeiro-RJ, CEP ): A) Que não realize, tampouco autorize, qualquer operação de financiamento direto ou indireto, automático ou não, em favor do CONSÓRCIO PARQUES URBANOS ou em benefício de qualquer uma de suas consorciadas ou respectivas empresas coligadas, controladas ou controladoras, cujo objeto ou objetivo seja a realização de obras de ampliação, construção e/ou reforma do Shopping Aeroclube Plaza Show (Aeroclube Shopping & Office), em Salvador-BA, enquanto a questão estiver pendente perante o Poder Judiciário Federal; B) Que inclua, ou determine a inclusão, na análise de risco ambiental de qualquer pedido de financiamento cujo objeto ou objetivo seja a realização de obras de ampliação, construção e/ou reforma do Shopping Aeroclube Plaza Show (Aeroclube Shopping & Office), da necessária constatação de certidão atualizada (que assegure regularidade ambiental) da Ação Popular , em trâmite na Justiça Federal da Seção Judiciária da Bahia, e de informação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA; Fixa-se o prazo de 10 (dez) dias para apresentação de resposta, por escrito e devidamente protocolada na Procuradoria da República em Salvador-BA (Ministério Público Federal), sobre as medidas adotadas para a implementação do recomendado, ou sobre as razões que justificam o seu eventual não-atendimento, sob pena da adoção imediata de todas as medidas judiciais cabíveis em defesa do meio ambiente. Salvador-BA, aos 19 dias de setembro de RAMIRO ROCKENBACH DA SILVA MATOS TEIXEIRA DE ALMEIDA Procurador da República 5
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