ESPECTRO BIOLÓGICO DA VEGETAÇÃO DE DUNAS E DE RESTINGA DA ILHA DO CARDOSO, SP

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Martín Azeredo Farinha
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1 392 ESPECTRO BIOLÓGICO DA VEGETAÇÃO DE DUNAS E DE RESTINGA DA ILHA DO CARDOSO, SP Fernanda C.S. Tibério 1, Alline B. Silva 1, Marilina V. Cortez 1, Rafael F. Ramos 1, Fabio T.T. Hanashiro 1, José Pedro N. Ribeiro 1, Bruno F. Lessi 1, Vinicius L. Dantas 1 e Marcus V. Cianciaruso 1, Dalva. M.S. Matos 1 1 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Botânica Rod. Washington Luiz, Km 235, Bairro Monjolinho, São Carlos, SP para correspondência: nandatiberio@yahoo.com.br RESUMO A distribuição das espécies sobre a Terra está associada às características ambientais as relações entre os organismos e ainda com a amplitude de tolerância de cada espécie ou indivíduo. A classificação de formas de vida de Raunkiaer divide as plantas de acordo com o grau de proteção de suas gemas, considerando que quanto maior o estresse no ambiente, mais protegidas estarão as gemas vegetativas. Tivemos como objetivo comparar a vegetação de dunas e de restinga utilizando a classificação de Raukiaer, na Ilha do Cardoso, SP. Foram amostrados três transectos - desde o inicio das dunas até a restinga com 15 parcela de 2m² distantes 5m entre si, identificamos as espécies encontradas e as classificamos segundo o proposto por Raunkiaer. Na comparação do gradiente desde dunas à vegetação de restinga, onde observamos que caméfitos e hemicriptófitos dominam as parcelas em ambiente de dunas e que fanerófitos e criptófitos aparecem apenas nas parcelas com vegetação de restinga. ABSTRACT Species distribution over the Earth is associated to environment characters, to relations between organisms and also with tolerance amplitude or each species or individual. The Raunkiaer classification of life form divides plants based in the protection of its gems, considering that the more stressed is the environment, more protected will be vegetative gems. We had as objective to compare the dunas and restinga vegetation using Raunkiaer s classification. It was sampled three transects since dunas to restinga with 15 parcels of 2m² distant 5m from each other, where we identified the species found and classificated them under Raukiaer s proposal. In gradient comparison it was observed that camefits and hemicriptofits dominate parcels in dunas and that fanerofits and criptofits occurs only in restinga vegetation parcels.

2 393 INTRODUÇÃO A razão da distribuição das espécies é um dos problemas centrais da ecologia. Essa distribuição relaciona-se com a variação de características ambientais e as inter-relações entre os organismos. Em determinados locais, componentes físicos e químicos podem ser preponderantes para a distribuição das espécies, e isso está relacionado com a amplitude de tolerância de cada espécie ou indivíduo (Begon,1996). Numa tentativa de criar um sistema de classificação das formas de vida vegetal Raunkiaer (1904) propôs uma divisão dos organismos de acordo com o grau de proteção da gema, partindo do princípio de que quanto mais estressante for o ambiente em que o organismo vive, mais protegidas serão as suas gemas vegetativas. Seu sistema foi baseado em ambientes temperados, com estações bem marcadas e invernos rigorosos. Em ambientes costeiros como dunas e restingas, entretanto, a localização das gemas pode variar de acordo com fatores ambientais como salinidade do solo e spray marinho, podendo resultar em um maior número de espécies com suas gemas protegidas dessas condições extremas. OBJETIVOS Tivemos como objetivo comparar, de acordo com o espectro biológico de Raunkiaer (1904) duas áreas costeiras adjacentes, uma de duna e outra de restinga, além de comparar ambas com o espectro normal. MATERIAIS E MÉTODOS A coleta de dados foi realizada na Ilha do Cardoso, município de Cananéia, litoral sul do Estado de São Paulo. Traçamos três transecções desde o início do ambiente de dunas (linha da maré mais alta) até a vegetação de restinga, com 15 parcelas de 2m x 2m, separadas entre si por 5m. Em cada parcela amostramos e identificamos os indivíduos no menor nível taxonômico possível, atribuindo-lhes a classe de forma de vida de acordo com a classificação de Raunkiaer (1904). Comparamos as parcelas entre si para verificar o gradiente de distribuição das formas de vida desde o início do ambiente de dunas até a vegetação de restinga. Posteriormente comparamos as duas áreas entre si, para verificar a diferença entre seus espectros. Por fim, comparamos o espectro de cada área estudada com o espectro normal proposto por Raunkiaer (1904). Para isso, utilizamos o teste do Qui-quadrado a fim de determinar a significância das diferenças encontradas.

394 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na comparação do gradiente desde dunas à vegetação de restinga, observamos que caméfitos e hemicriptófitos dominam as parcelas em ambiente de dunas.

3 394 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na comparação do gradiente desde dunas à vegetação de restinga, observamos que caméfitos e hemicriptófitos dominam as parcelas em ambiente de dunas. Os fanerófitos e criptófitos aparecem apenas nas parcelas com vegetação de restinga, mas, em linhas gerais, ainda em menor proporção em relação a caméfitos e hemicriptófitos (Figura 1). Figura 1. Distribuição das formas de vida ao longo do gradiente. Ao compararmos o ambiente de dunas e a vegetação de restinga, observamos que os espectros biológicos de ambas as áreas são significativamente diferentes (X²=28,39; GL=3; p<0,05). Na comparação dos dois ambientes com o espectro normal, também observamos uma diferença significativa. Para dunas, X²=280,43; GL=4; p<0,05 e para vegetação de restinga, X²=100,74; GL=4; p<0,05. Para ambos os espectros encontrados, a forma de vida com maior desvio em relação ao espectro normal foi de caméfitos (Figura 2).

4 395 Espectros de Formas de Vida 100% 80% 60% 40% 20% Terófito Criptófito Hemicriptófito Caméfito Fanerófito 0% Dunas Restinga Normal Áreas Figura 2. Espectros de formas de vida CONCLUSÕES As diferenças encontradas nos espectros biológicos das espécies de dunas e restinga se devem principalmente ao aparecimento de fanerófitos nessa segunda formação. A maior distância do oceano e assim a menor exposição aos efeitos da salinidade e ventos permite o aparecimento de espécies de maior porte e com gemas menos protegidas (Assumpção & Nascimento, 2000). A ação eólica tem um papel fundamental na estruturação das dunas e, conseqüentemente, na sua vegetação (Calliari et al, 2005). De fato, é importante o entendimento do papel das características do habitat na distribuição dos organismos como fator fundamental para a compreensão da diversidade tropical. Na restinga, a distribuição dos espectros é mais homogênea e as espécies dessa formação parecem apresentar um espectro biológico parecida com o encontrado por Batalha & Martins (2002) em savanas. De fato, essas duas formações compartilham várias características de estresse, como grande exposição aos ventos, restrições na oferta de água, fogo, salinidade e altas temperaturas. O número de caméfitos encontrada nas dunas foi bastante alto (52%), típico de regiões inóspitas, sujeitas a ventos e secas. As espécies fanerófitas estão ausentes, fato este que também tem uma relação muito forte com a influência das características ambientais locais. As proporções de formas de vida das dunas são bastante peculiares, e essa formação não se aproxima de nenhuma outra encontrada na bibliografia (Batalha & Martins, 2002). Apesar das limitações do estudo, os dados demonstram a importância de trabalhos em ambientes litorâneos como as dunas e restingas em ambientes tropicais.

5 396 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSUMPÇÃO, J. E NASCIMENTO, M Estrutura e composição florística de quatro formações vegetais de restinga no complexo lagunar Grussaí/iquipari São João da Barra, RJ, Brasil. Acta Botânica Brasílica. v.14, p BATALHA, M. A. E MARTINS, F. R Life form spectra of Brazilian Cerrado sites. Flora 197: BEGON, M., HARPER, J. L. E TOWNSEND, C. R Ecology: individuals, populations and communities. Blackwell, Oxford, 1068p. CALLIARI, L. R, PEREIRA, P.S, OLIVEIRA, A.O. DE E FIGUEIREDO, S.A Variabilidade das Dunas Frontais no Litoral Norte e Médio do Rio Grande do Sul, Brasil. Gravel. v.3, p RAUNKIAER, C. The life forms of plants and statistical geography Claredon, Oxford, 632p.

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