MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO
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- Luiz Guilherme Canário Marinho
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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO Nº / REPRESENTANTE: ANA KARINA MAGALHÃES CARDOSO REPRESENTADO: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO 1. Cuida-se de procedimento administrativo instaurado nesta Procuradoria da República a partir de representação on-line, formulada por Ana Karina Magalhães Cardoso, a qual noticiou eventual irregularidade no procedimento de inscrição e contratação do financiamento estudantil concedido pelo Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior FIES. 2. Em resumo, a representante alega que o FIES, para o fim de calcular a margem passível de financiamento, não poderia aferir a condição financeira dos estudantes com base na renda bruta do grupo familiar, em razão de o valor nominal de tal renda ser determinado anteriormente aos recolhimentos tributários e descontos outros de natureza diversa que sobre ela ocorrem. 3. Sustenta a representante que o método de cálculo da renda familiar adotado pelo Ministério da Educação, pautado na renda bruta, inviabiliza o acesso de centenas de estudantes ao FIES. 4. É o que se põe em análise. 5. Em primeiro lugar, impõe-se dizer que é antigo o costume contábil da Administração de eleger a renda bruta como parâmetro de averiguação da capacidade econômica dos administrados. 6. Essa opção se justifica pelo fato de que a renda denominada líquida não leva em consideração certas consignações realizadas em folha de pagamento, as Av. Gov. Agamenon Magalhães, nº Espinheiro Recife - PE - CEP Fone/fax: (81)
2 2 quais, por si sós, são capazes de exprimir poder aquisitivo, tais como ocorrem com os descontos resultantes de contratos de empréstimo e de plano de saúde suplementar, bem como com as contribuições sindicais e as prestações alimentícias. 6. Assim, lançando mão da renda bruta, a verificação da capacidade econômica se afigura, em geral, mais adequada para esse fim, na medida em que é possível se estimar, por presunção, qual o montante que o cidadão vem regularmente recolhendo ao Fisco. Por isso, a bem da verdade, é de se pressupor que o exame baseado na renda líquida é que poderia gerar discrepâncias, e não o respaldado na renda bruta, como sustenta a representante. 7. Em segundo lugar, como se sabe, o FIES foi instituído pela Lei nº /2001, tendo por objeto a concessão de financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação. 9. De sua vez, o procedimento de inscrição e contratação de financiamento junto ao fundo foi regulamentado pela Portaria Normativa nº. 10/2010, publicada pelo MEC. 10. Nesse ponto, necessário salientar que a Portaria Normativa nº. 10/2010, devido à sua natureza infralegal, foi editada pelo Poder Executivo sob o uso de critérios eminentemente administrativos, à vista de ponderações políticas de conveniência e oportunidade. 11. Com efeito, em que pese não possa o Ministério da Educação por delegação do Chefe do Poder Executivo se furtar de efetivamente viabilizar a execução da Lei n /2001, é certo que a sua tarefa regulamentar se cumpre mediante uma deliberação de mérito administrativo, cuja revisão e apreciação é, a princípio, vedada ao parquet e ao Poder Judiciário. Apenas na excepcional hipótese de exercício abusivo do poder discricionário, verificável por meio das noções de razoabilidade e proporcionalidade em sentido estrito, é que as intervenções ministerial e judicial se fazem legítimas. 13. Em terceiro lugar, quanto à alegação de que os critérios de cálculo escolhidos pelo MEC, assentados na renda bruta, tolhem o acesso dos estudantes ao FIES, vejamos o que dispõe a Portaria Normativa n. 10/2010, no que interessa ao objeto específico destas peças de informação: Art. 6º São passíveis de financiamento pelo FIES:
3 3 I - até 100% (cem por cento) dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES quando o percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita com estes encargos, calculado na forma prevista no art. 7, for igual ou superior a 60% (sessenta por cento); II - até 75% (setenta e cinco por cento) dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES quando o percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita com estes encargos, calculado na forma prevista no art. 7, for igual ou superior a 40% (quarenta por cento) e inferior a 60% (sessenta por cento); III - de 50% (cinquenta por cento) dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES quando o percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita com estes encargos, calculado na forma prevista no art. 7, for igual ou superior a 20% (vinte por cento) e inferior a 40% (quarenta por cento). Art. 7º O percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita será calculado aplicando-se a seguinte fórmula: [ ( VS / 6 ) RF ] x 100 onde: VS = valor da semestralidade do estudante, considerando todos os descontos regulares e de caráter coletivo oferecidos pela IES, inclusive aqueles concedidos em virtude de pagamento pontual, independentemente da periodicidade do curso; RF = renda familiar mensal bruta per capita do grupo familiar do estudante, obtida mediante a divisão da renda familiar mensal bruta referida no 1º do art. 8º pelo número de membros do grupo familiar, dentre aqueles enumerados no inciso I do caput do art. 8º. 1º Entende-se como renda familiar mensal bruta a soma de todos os rendimentos auferidos por todos os membros do grupo familiar, que compreende: I - o valor bruto de salários, proventos, vale alimentação, gratificações eventuais ou não, gratificações por cargo de chefia, pensões, pensões alimentícias, aposentadorias, comissões, pró-labore, outros rendimentos do trabalho não assalariado, rendimentos do mercado informal ou autônomo, rendimentos auferidos
4 4 do patrimônio e quaisquer outros, bem como benefícios sociais, salvo seguro desemprego, de todos os membros do grupo familiar, incluindo o estudante; e II - qualquer auxílio financeiro regular prestado por pessoa que não faça parte do grupo familiar. Art. 9º É vedada a inscrição no FIES a estudante: IV - cujo percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita calculado na forma prevista no art. 7, seja inferior a 20% (vinte por cento). 14. Se é verdade, de um lado, que o Poder Executivo elegeu a renda bruta do grupo familiar como fator basilar para a mensuração da capacidade financeira do estudante; também o é, de outro, que o MEC estabeleceu, como requisitos do benefício, percentuais relativamente módicos de comprometimento da renda mensal bruta per capita da família. 15. Noutras palavras, muito embora o Ministério da Educação tenha admitido como critério a renda bruta do grupo familiar e não pela renda líquida, essa escolha parece ter sido financeiramente equilibrada pela previsão de um comprometimento pouco expressivo do orçamento familiar bruto como suficiente para que o estudante venha a ser contemplado pelo FIES. 16. Basta, então, que os encargos educacionais cobrados ao estudante pela instituição de ensino superior comprometam 20% (vinte por cento) da renda familiar mensal bruta per capita, para que o fundo execute o financiamento de 50% (cinquenta por cento) desses encargos (art. 6º, III, da Portaria Normativa n. 10/2010). 17. Reduzindo em números, tomando por base o valor hipotético de R$ 900 (novecentos reais) como o custo de uma mensalidade, o estudante satisfará o requisito regulamentar e será agraciado pelo financiamento se o seu grupo familiar tiver a renda mensal bruta per capita de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais). Consequentemente, apresentando renda mensal bruta per capita abaixo desse valor, todos os universitários, satisfeitas as demais exigências, serão beneficiados pelo crédito na ordem de pelo menos 20% (vinte por cento) dos custos escolares.
5 5 18. De outro giro, ainda mantendo o suposto valor de mensalidade de R$ 900 (novecentos reais), poderão os estudantes se favorecer do financiamento de até 100% (cem por cento) do valor dos encargos educacionais se porventura a renda mensal bruta per capita de sua família for igual ou inferior a R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) De tais exemplos, pode-se inferir que os critérios insculpidos na Portaria Normativa n. 10/2010 no que concerne ao estabelecimento da renda bruta como fator de cálculo do montante a ser financiado não maculam a legalidade, tampouco a razoabilidade ou a proporcionalidade. De igual modo, não obstam o acesso da população economicamente desfavorecida ao FIES, visto que fixam limites de renda socialmente aceitáveis. 20. Em face do exposto, conclui-se pela inexistência de fundamento para o prosseguimento deste feito, razão pela qual promovo o seu arquivamento. 21. Comunique-se a presente decisão ao(s) noticiante(s), nos termos do art. 17 da Resolução CSMPF nº. 87, de 2006, cientificando-o(s), inclusive, da previsão inserta no 3º desse dispositivo. 22. Em seguida, encaminhem-se os autos à revisão (PFDC), no prazo estipulado no 2º do art. 17 da Resolução CSMPF nº. 87, de 2006 Recife, 11 de junho de CAROLINA DE GUSMÃO FURTADO PROCURADORA DA REPÚBLICA (4º OTC, EM SUBSTITUIÇÃO AO 3º OTC) 1 Cálculos aritméticos efetuados com aplicação da fórmula prevista no art. 7º, da Portaria Normativa n. 10/2010, do MEC.
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