Ministério da Justiça Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE
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1 Ministério da Justiça Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE Processo Administrativo nº /00-18 Representantes: Advogados: Representados: Advogados: Relator: Rodobens Administração e Promoções Ltda. Calixto Salomão Filho, Bolívar Moura Rocha, Ângela Beatriz Paes de Barros di Franco e outros. Mercedes-Benz do Brasil S/A e DaimlerChrysler Administradora de Consórcios S/C Ltda. João Caio Goulart Penteado, Flávio Iervolino, Geraldo Roberto Lefosse Júnior e outros. Conselheiro Luiz Carlos Delorme Prado RELATÓRIO Versam os presentes autos sobre Representação formulada à Secretaria de Direito Econômico, em 06 de abril de 2000, por Rodobens Administração e Promoções Ltda. em desfavor de Mercedes-Benz do Brasil S/A e DaimlerChrysler Administradora de Consórcios Ltda., em razão da qual foi determinada a abertura de Processo Administrativo e a adoção de Medida Preventiva pelo Secretário de Direito Econômico, por meio do Despacho datado de 17 de julho de 2000 (publicado no DOU de 19 de julho de 2000). A Rodobens Administração e Promoções Ltda. é uma empresa de nacionalidade brasileira que atua no segmento de administração de consórcios. A Mercedes-Benz do Brasil S.A. é uma empresa que atua, exclusivamente, no mercado brasileiro de montadoras de veículos automotores. Enquanto montadora, não participa do mercado de administração de consórcios de veículos automotores. A DaimlerChrysler Administradora de Consórcios S/C Ltda. é controlada pelas empresas Starexport Trading S.A. e CIM Comercial e Importadora Ltda, ambas pertencentes ao grupo DaimlerChrysler. Em sua Representação, a Rodobens informa, inicialmente, que: - é a principal administradora de consórcios de veículos da Mercedes-Benz e, desde sua fundação, trabalha exclusivamente com esta marca; - o sistema de administração de consórcios é desprovido de normas pertinentes à relação entre concorrentes e este mercado está subdividido em diversos mercados relevantes do produto, sendo que, para os fins do presente processo, interessa o mercado nacional de consórcios de veículos de passeio, ônibus e caminhões;
2 - o consórcio é um sistema de autofinanciamento com extraordinária importância para a economia nacional, uma vez que através dele indivíduos e empresas financiam-se mutuamente para a aquisição de bens de consumo (a administradora não empresta recursos ao consorciado, mas tão somente reúne e gere os recursos que estes lhe fornecerem, recebendo em contrapartida uma taxa de administração); - a importância, em especial, da aquisição de caminhões e ônibus relaciona-se diretamente ao fato destes bens serem verdadeiros fatores de produção econômica, visto que possibilitam o transporte de coisas e pessoas em massa; - a DaimlerChrysler formou seus primeiros grupos de consórcios a partir de meados de 1999 e o aumento em sua participação de mercado está intimamente ligada às práticas anticoncorrenciais, decorrentes do poder de mercado da Mercedes-Benz no mercado de ônibus e caminhões (62,6% ônibus e 36,9% caminhões), e ao fato das importações de destes veículos para o território nacional ser praticamente inexistente; - por força da Lei 8.177/91, o mercado de sistemas de administração de consórcios é normatizado e fiscalizado pelo Banco Central do Brasil (sendo reservado ao Conselho Monetário Nacional o poder de intervenção nesse mercado) e com a existência de elevadíssimas barreiras à entrada (capital inicial mínimo, requisitos de patrimônio líquido, formação da rede de vendas e regras de constituição, funcionamento e transferência); - a representação da administradora de consórcios pode se dar através de filial própria ou convênio, sendo este, geralmente, firmado com as concessionárias de veículos, que são livres para firmar convênios com diversas administradoras; - a formação de grupos de consórcios, com realização obrigatória de assembléias mensais, obedece a duas variáveis fundamentais: duração (número de meses) e número de contemplações mensais (veículos entregues através de sorteio e lance). No que tange as condutas, a Rodobens imputa às Representadas as práticas de preço predatório, bancagem 1 e venda casada, aduzindo que: - o objetivo pretendido pelas Representadas é a dominação de mercado; - o preço predatório praticado pela DaimlerChrysler configura-se com o pagamento de comissões às concessionárias acima das praticadas no mercado 2 ; - existe o pagamento de um bônus de licenciamento valor pago pela DaimlerChrysler ao consorciado quando este for contemplado, supostamente destinado ao pagamento do licenciamento do veículo; 1 Prática na qual a administradora de consórcios utiliza recursos próprios para a entrega antecipada de mais veículos do que possibilita a arrecadação da administradora, assumindo a posição de financiadora da diferença entre a quantia arrecadada e o valor total dos bens entregues. 2 De acordo com a Representante, esta paga 1,5% do preço do veículo à concessionária por quota de consórcio vendida (percentagem dentro dos padrões de mercado, notadamente os consórcios Scania, Volvo e VW), enquanto a DaimlerChrysler paga uma comissão de aproximadamente 3,55% (3,10% para a venda de quotas e 0,45% de premiação adicional). 2
3 - a Representada obriga sua rede de concessionárias a adquirir quotas de grupos de consórcios administrados pela DaimlerChrysler, sob pena de não entregar os veículos solicitados pelas concessionárias. Acostados à exordial os documentos de fls Em 17 de julho de 2000, o Secretário de Direito Econômico determinou a instauração do presente processo, face à existência de prováveis infrações à ordem econômica previstas nos artigos 20, I, II, e IV e 21, V, VI, XVIII e XXIII, da Lei 8.884/94, bem como adotou Medida Preventiva com base no artigo 52 da mesma lei, determinando a imediata suspensão das práticas de bancagem. que: As Representadas alegaram em sua defesa, apresentada em 21 de agosto de 2000, - o mercado relevante deve ser definido como o mercado de administração de consórcios de veículos automotores, tendo em vista que a aquisição de quotas de grupo de consórcio referenciado a um determinado bem não implica a obrigatoriedade de o adquirente da quota, ao ser contemplado, adquirir o bem descrito no contrato de participação em grupo de consórcio; - inexiste qualquer fidelidade à marca ou garantia de que o consorciado contemplado irá adquirir um veículo da marca do bem do objeto do grupo de consórcios de que participa; - não é verdadeira a afirmação que a Rodobens trabalha exclusivamente com a marca Mercedes não é verdadeira em todos os seus aspectos, uma vez que não existe qualquer acordo de exclusividade com as Representadas e que tal exclusividade é decorrente da vontade unilateral da Rodobens; - não há como obrigar as concessionárias da Mercedes-Benz a vender quotas dos grupos de consórcios administrados pela Daimler-Chrysler; - tanto a Mercedes-Benz do Brasil S/A quanto a DaimlerChrysler Administradora de Consórcios S/C Ltda. não visam dominar o mercado relevante de administração de consórcio, visto que, em relação à primeira, isto seria impossível já que não participa deste mercado e, com relação à segunda, o objetivo é participar do mercado de administração de consórcios de veículos automotores, criando condições favoráveis à sua permanência no mercado de forma competitiva, sem que, para tanto, venha a adotar quaisquer práticas anticoncorrenciais previstas na Lei 8.884/94; - a participação da Daimler-Chrysler no mercado de administração de consórcios é inexpressiva, podendo esta empresa ser considerada como uma entrante no mercado; - desde a entrada da Daimler-Chrysler no mercado de consórcios, esta nunca sofreu qualquer sanção tipo de sanção do Banco Central do Brasil, seja pela prática de conduta anticoncorrencial, seja pela não observância dos limites legais e regulamentares do setor; 3
4 - não pode haver abuso de posição dominante por parte da Daimler-Chrysler, pois esta não possui posição dominante; - várias concessionárias da Mercedes-Benz somente celebram convênio com a Rodobens, o que demonstra que não há qualquer exercício abusivo de posição dominante por parte da Daimler-Chrysler junto à sua rede de distribuição; - a alegação da Rodobens de que o poder de mercado a Daimler-Chrysler decorre, dentre outros fatores, da enorme rede de concessionárias distribuidoras dos veículos da marca Mercedes-Benz é infundada, visto que a distribuição de veículos automotores de via terrestre é efetivada através de concessão comercial entre produtores e distribuidores e, ainda, que a Lei 6.729/79, que disciplina a relação jurídica entre montadoras e concessionárias, proíbe às montadoras deter qualquer participação acionária, direta ou indireta, no capital social de concessionárias; - o grupo Oliveira Verdi, controlador da Rodobens, detém 18 concessões da marca Mercedes-Benz, além de diversas outras concessionárias que celebram convênios com a Rodobens e vendem, exclusivamente, quotas de consórcios administrados por esta, limitando, assim, a atuação de outras administradoras de consórcios; - os convênios da Daimler-Chrysler com as concessionárias não exigem ou impõem exclusividade na venda de quotas de consórcios administrados por esta e que, das 235 concessões da Mercedes-Benz à época da instauração do presente processo, apenas 162 possuíam convênios, sem exclusividade, com a Daimler-Chrysler; - improcedente é a informação da Rodobens que as comissões pagas pela Daimler-Chrysler são de 3,10%, uma vez que dos 162 convênios firmados com as concessionárias, apenas 2 determinam o pagamento de 3,10% para quotas de grupos de consórcios referenciados em veículos de passeio, sendo que os demais determinam o pagamento de comissões nos percentuais de 2,3% e 3,0%; - a taxa de administração média cobrada pela Daimler-Chrysler é competitiva, sendo, inclusive, superior à taxa de administração cobrada pela própria Rodobens para grupos de consórcios referenciados em caminhões e ônibus e, ainda, que não existe pagamento de comissões superiores àquelas estipuladas nos respectivos convênios; - a prática de bancagem também é adotada pela Rodobens e não existe qualquer vedação legal na legislação aplicável à administração de consórcios que proíba o acréscimo de alguma quantia em dinheiro no patrimônio de um grupo pela administradora; - embora considere lícita, a Daimler-Chrysler suspendeu a prática de bancagem após a adoção de Medida Preventiva pela Secretaria de Direito Econômico, determinando a cessação da referida prática; - a lei 6.729/79 determina que é direito da concessionária receber uma quantidade de veículos da montadora e qualquer recusa de fornecimento por parte da Daimler-Chrysler não é provável, visto as quotas de veículos automotores atribuídas às concessionárias estarem ajustadas nos respectivos contratos de concessão. Por fim, as Representadas requerem o imediato arquivamento do processo pela 4
5 SDE, com a conseqüente revogação da Medida Preventiva; a proibição de manifestação da Rodobens nos presentes autos e instauração de processo administrativo de conduta contra esta; a condenação da Rodobens ao pagamento de todas as despesas efetuadas pelas Representadas (inclusive honorários advocatícios). Juntados à defesa os documentos de fls No ano de 2001, a SDE encaminhou ofícios ao Consórcio General Motors, Consórcio Nacional Volkswagen, Consórcio Nacional Volvo inquirindo sobre a prática de alguma conduta anticoncorrencial por parte da Daimler-Chrysler. Todos responderam não ter conhecimento da prática de infrações à ordem econômica por parte desta Representada. Em 27 de janeiro de 2003, o Secretário de Direito Econômico determinou a revogação da Medida Preventiva, por entender inexistirem os pressupostos que ensejaram a decretação da referida medida. Tomados os depoimentos dos srs. Mayrton Monteleone (proprietário de concessionária Mercedes-Benz), Ciro Frare (proprietário da DIVESA Automóveis Ltda. e da DIVESA Distribuidora Curitibana de Veículos Ltda.) e Orosimar Valentim Fraga (sócio de duas concessionárias Mercedes-Benz), todos disseram que nunca tiveram problemas com a Mercedes- Benz, nem foram vítimas da prática de bancagem. Após detalhada análise dos fatos, a SDE emitiu parecer sugerindo o arquivamento do feito, em razão da inexistência de infrações à ordem econômica por parte das Representadas. Adicionou ainda à sua conclusão, a recomendação de envio de cópia do presente Processo Administrativo à Diretoria de Fiscalização do Banco Central do Brasil para apuração de infrações às regulamentações deste Banco, tanto por parte da Representante, quanto pela Representadas. A Procuradoria do CADE e o Ministério Público Federal também entenderam não restar configurada qualquer conduta anticoncorrencial e recomendaram o arquivamento do feito. É o relatório. Brasília, 20 de abril de LUIZ CARLOS DELORME PRADO Conselheiro 5
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