II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial
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- João Gabriel Osório Madeira
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1 II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial Políticas do Livro e Leitura para a Educação de Jovens e Adultos: o quadro atual. Paulo Eduardo Dias de Mello 1 Universidade de São Paulo - Faculdade de Educação Resumo Neste trabalho apresentamos um levantamento dos programas, projetos e ações executadas pelo Ministério da Educação (MEC) para a Educação Básica de modo geral e, de modo particular, das ações da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, SECAD, que envolvem políticas do livro e leitura para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nosso escopo é propor indagações sobre como estas políticas estão sendo encaminhadas, destacando duas características que consideramos centrais: a primeira sublinha o caráter descentralizado e diversificado das ações que envolvem políticas de leitura e do livro e que podem ser agrupadas nas seguintes linhas: 1) ações relativas à produção e fomento à produção de livros didáticos, conteúdos educacionais digitais, acervos de obras literárias e tecnologias educacionais; 2) promoção do acesso a materiais educativos; 3) formação continuada de professores; 4) avaliação. A segunda característica é a ausência de referenciais teóricos comuns que definam o léxico e as acepções adotadas quando se trata de termos relacionados a leitura, livro didático, ou material didático e que possam ser utilizados como parâmetro para os agentes internos do Ministério, suas secretarias e autarquias. O levantamento possibilitou identificar divergências de uso sobre alguns termos adotados quando se trata desses temas. Palavras-chave Políticas Públicas; Leitura; Livro; Educação de Jovens e Adulto Introdução Desde a década de 90 do século passado, a democratização da leitura é uma demanda política e ideológica presente na agenda dos documentos e conferências internacionais e dos encontros nacionais sobre a educação de jovens e adultos, com os quais 1 Bacharel e Licenciado em História, Mestre e Doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Atualmente é consultor da Diretoria de Políticas da Educação de Jovens e Adultos DPEJA, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SECAD, do Ministério da Educação MEC, para área de materiais didáticos. Tem experiência na pesquisa e elaboração de currículos e materiais didáticos para a Educação de Jovens e Adultos, e na coordenação de cursos de formação inicial e continuada de professores.
2 o governo brasileiro firmou compromisso. De fato, durante a V Conferência Internacional de Educação de Adultos Confintea, ocorrida em 1997, o governo brasileiro assumiu o compromisso de assegurar o direito universal à alfabetização, à educação básica e à aprendizagem ao longo da vida, concebida para além da escolarização ou da educação formal, como premissas da democratização e redução das desigualdades sociais nas sociedades contemporâneas, marcadas pela forte presença da escrita, dos meios de informação e comunicação. Desde então, várias ações, projetos e programas voltados ao livro e a leitura voltados ao público jovem, adulto e idoso da EJA foram desenvolvidas, mas poucos tornaram-se efetivamente políticas de estado, ou seja, adquiriram o caráter de permanência, independentemente das mudanças ocorridas nas instâncias políticas de governo. Contribuiu para este quadro, a posição fragilizada da EJA no âmbito do Ministério da Educação, e a ação pontual, concorrente, e, por vezes, superposta de diversos outros setores do governo federal, cujo escopo era o atendimento de demandas específicas do público da educação de jovens, adultos e idosos. De certo modo, a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SECAD, em 2004, possibilitou no âmbito do Ministério da Educação uma maior articulação de políticas para a EJA. Na estrutura da SECAD, coube à Diretoria de Políticas de Educação de Adultos DPEJA, através de suas duas coordenações, a Coordenação Geral de Educação de Jovens e Adultos - COEJA e a Coordenação de Leitura e Formação, a formulação de uma Política de Materiais Didáticos com iniciativas voltadas à produção, aquisição e distribuição de materiais didáticos para a EJA e a criação de uma Política de Leitura capaz de oferecer alternativas para estimular práticas de leitura entre as pessoas jovens e adultas recém-alfabetizadas e, para alfabetizandos que estão no processo inicial de alfabetização, ou que ainda possuem um domínio básico da leitura e da escrita fortalecendo o processo de alfabetização iniciado no Programa Brasil Alfabetizado (PBA) ou em outros ambientes de aprendizagem. 2 2 Ainda que as políticas de materiais didáticos e de leitura sejam concebidas para atingir gradualmente a totalidade do público da EJA, efetivamente, no momento, elas atingem principalmente as pessoas jovens e adultas em processo de alfabetização. 2
3 Nosso escopo nesse texto é propor algumas indagações sobre como estas políticas, desenvolvidas no âmbito da Diretoria de Políticas da Educação de Jovens e Adultos (DPEJA), estão sendo encaminhadas, destacando duas características que consideramos centrais: a primeira sublinha o caráter diversificado das ações, projetos e programas que envolvem políticas de leitura e do livro e que podem ser agrupadas em quatro linhas: 1) ações relativas à produção e fomento à produção de livros didáticos, conteúdos educacionais digitais, acervos de obras literárias e tecnologias educacionais; 2) promoção do acesso a materiais educativos; 3) formação continuada de professores; 4) avaliação e pesquisa. A segunda característica é a ausência de referenciais teóricos comuns que defina o léxico e as acepções adotadas quando se trata de termos relacionados a leitura, livro didático, ou material didático e que possam ser utilizados como parâmetro para os agentes internos do Ministério, suas secretarias e autarquias. A seguir descreveremos as ações, projetos e programas do Ministério da Educação relativos à leitura, ao livro e demais matérias didáticos. Leitura, livros e Materiais Didáticos nos Programas do MEC para EJA Atualmente, dentre as atuações da DPEJA, no âmbito da política de materiais didáticos e de leitura e que se traduz em programas, projetos e ações relativas à produção e fomento à produção de livros didáticos, conteúdos educacionais digitais, acervos de obras literárias e tecnologias educacionais, temos: 1) o Concurso Literatura para Todos; 2) a produção dos Cadernos Literários; 3) a produção de material pedagógico formativo sobre o tema da Economia Solidária (Resolução n.51); 4) o fomento a produção de materiais didáticos para neoleitores (Resolução n. 44); e 5) o Guia de Tecnologias Educacionais. O Guia de Tecnologias Educacionais é na realidade produto de uma ação da Secretaria da Educação Básica, a SEB, que realiza a pré-qualificação, ou seja, uma avaliação inicial que atesta a qualidade de métodos, plataformas, softwares, conteúdos digitais, e apresenta um rol dos elementos recomendados para eventual escolha dos sistemas de educação através do Plano de Ações Articuladas, o PAR. A inserção de tecnologias da educação voltadas ao público da EJA na publicação do Guia em 2009, e sua participação efetiva no edital de chamada pública para o ano de 2010, representa a 3
4 iniciativa de articulação da DPEJA com parceiros internos ao ministério de modo a inserir a EJA nos programas e ações da Educação Básica. O conceito de tecnologias educacionais também é utilizado na Resolução/FNDE/CD/ N 44, de 17 de outubro de Esta resolução estabelece critérios e procedimentos para a execução de projetos de fomento à leitura para neoleitores jovens, adultos e idosos, mediante assistência financeira aos Estados, Municípios, Distrito Federal, Instituições Públicas de Ensino Superior e Entidades sem fins lucrativos. Consideram-se neoleitores 3 os educandos que foram alfabetizados e pretendem dar continuidade a seus estudos. Os projetos de que trata a Resolução deveriam contemplar, necessariamente, as seguintes linhas de ação: 1. Promoção de acesso à leitura; 2. Formação de leitores e mediadores de leitura; 3. Produção e distribuição de tecnologias educacionais de fomento à leitura; 4. Pesquisa e avaliação sobre leitura. A Resolução/FNDE/CD/N 51, de 15 de dezembro de 2008, estabelece critérios para a apresentação, seleção e apoio financeiro a projetos que visem o fomento à produção de material pedagógico-formativo e de apoio didático de EJA, à formação de educadores, coordenadores e gestores da EJA e à publicação de experiências de EJA, todos com ênfase na Economia Solidária. Os projetos devem contemplar, obrigatoriamente, as 3 (três) linhas de ação definidas na Resolução 51, sendo elas: 1. Produção de material pedagógico-formativo e de apoio didático para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) que necessariamente a economia Solidária (linha de ação I); e 2. Formação de educadores, coordenadores e gestores da Educação de Jovens e Adultos com ênfase na Economia Solidária (linha de ação II); e 3. Publicação de experiências de Educação de Jovens e Adultos com ênfase na Economia Solidária (linha de ação III). A linha de ação I - Produção de material pedagógico-formativo e de material de apoio didático que incorporem a proposta de Economia Solidária na EJA visa assegurar a criação e produção de materiais pedagógico-formativos e de apoio didático específicos para os processos de formação de educadores, coordenadores e gestores da EJA e da Economia 3 O conceito será discutido adiante. 4
5 Solidária. Do ponto de vista do material didático ela traz como novidade uma concepção ou tipo de material, denominado de material-pedagógico formativo, que é o material criado, produzido e avaliado ao longo do processo de formação que envolve professores e os alunos de EJA na perspectiva da Economia Solidária. Outra iniciativa na linha de política de fomento à leitura é a produção da coleção Cadernos Literários. A coleção visa à produção de obras literárias destinadas especificamente ao público de EJA. Os volumes da coleção estão em processo de elaboração, e sua produção editorial será coordenada pela DPEJA. Os títulos da coleção estão vinculados aos temas da diversidade como cultura indígena, RAP e cordel. O propósito é a produção de material literário que dialogue com temas e características de determinados públicos específicos. O Concurso Literatura para Todos tem como escopo a seleção de obras de natureza literária para produção, publicação, divulgação e distribuição de acervo literário às escolas públicas. Dentre os objetivos anunciados pelo Concurso está estimular a criação de obras literárias específicas para neoleitores, reafirmando o valor da leitura e da palavra escrita e a necessidade de favorecer o acesso de jovens e adultos em processo de alfabetização a obras literárias de qualidade. No II concurso, realizado em 2008, foram selecionadas duas obras, de autores brasileiros, e uma de autor africano de país de Língua Portuguesa, para as seguintes modalidades: - Prosa (Conto, novela ou crônica) - Poesia - Biografia - Textos da tradição oral (em prosa ou em verso) 4 Nesse contexto, o conceito de neoleitor, tem sido utilizado como um recurso para afirmação positiva dos sujeitos da EJA, no sentido de frisar a necessidade de elaboração de obras literárias preocupadas em atender as necessidades e especificidades desses sujeitos. 4 Em sua primeira versão o concurso oferecia um maior número de modalidades e gêneros literários: conto ou novela, crônica, poesia, biografia ou relato de viagem, ensaio ou reportagem; textos da tradição oral: esquetes, scripts, peças teatrais, roteiros de vídeo, cinema, quadrinhos; texto utilizando linguagem das tecnologias de informação e comunicação ( , blog, comunidades virtuais, grupos de discussão etc.). 5
6 Uma definição mais detalhada pode ser encontrada no Manual de Orientações da Rede de Formação para a Diversidade: Podemos considerar neoleitores os/as jovens, adultos e idosos que ainda não desenvolveram plenamente suas habilidades e competências de leitura e escrita e que, independente do nível de escolarização, estejam iniciando sua caminhada de leitores. Nessa delimitação cabem desde aqueles que estão saindo do Programa Brasil Alfabetizado, os analfabetos funcionais (que estudaram até a 4ª série, mas atingem no máximo o grau rudimentar de alfabetismo), os 26% dos que completaram entre 5ª a 8ª séries do ensino fundamental, mas permanecem no nível rudimentar, além dos 45% que cursaram ou estão cursando o Ensino Médio, mas permanecem no nível básico de domínio da leitura e da escrita. 5 A segunda categoria de agrupamento dos programas, projetos e ações da DPEJA é daqueles que buscam promover o acesso das pessoas jovens e adultas a materiais educativos. Os programas utilizam duas estratégias básicas para a realização deste propósito: a aquisição e distribuição de livros didáticos e acervos literários e a disponibilização de acervos e materiais virtuais através da rede mundial de computadores. A disponibilização de acervos e materiais virtuais via internet é feita através do Portal MEC e, nele, do Portal do Professor. Dentre os materiais didáticos disponibilizados está a Coleção Cadernos de EJA elaborada para o ensino fundamental de jovens e adultos, da alfabetização até a 8ª série. A coleção organiza os componentes e conteúdos curriculares em torno de eixos temáticos, tais como cultura, diversidade, economia solidária, dentre outros, sempre articulados ao tema trabalho, que funciona como eixo integrador. A proposta da coleção se caracteriza pela flexibilidade, para oferecer liberdade ao professor decidir o que quer ou não utilizar, em que ordem, com que finalidade. A coleção foi disponibilizada para ser utilizada, integralmente ou em partes, em outras situações de ensino, como nas experiências de educação não-formal, apesar de seu foco ser o ensino fundamental de jovens e adultos ofertado pelas escolas públicas. A distribuição de livros didáticos e acervos literários a partir de aquisição são realizados através de dois programas: o Programa Nacional do Livro de Alfabetização, o PNLA, e do Programa Nacional da Biblioteca da Escola, o PNBE. 5 Manual Operacional da Rede de Educação para a Diversidade, 2009, p
7 Criado pela Resolução Nº. 18, de 24 de abril de 2007, o Programa Nacional do Livro de Alfabetização, o PNLA se desenvolveu, inicialmente, no âmbito do Programa Brasil Alfabetizado, com a finalidade de distribuir, a título de doação, obras didáticas destinadas a alfabetização de jovens, adultos e idosos, às entidades que estabeleceram parceria com o Ministério da Educação, por intermédio da SECAD/MEC, na execução das ações do Programa Brasil Alfabetizado, quais sejam: Estados, Distrito Federal e Municípios. O programa atendeu em 2008 o total de alfabetizadores, tendo adquirido exemplares dentre as 19 obras didáticas de alfabetização selecionadas para comporem o Guia do PNLA Para 2009, está previsto que o PNLA proverá além das entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado, às escolas de ensino público que possuam turmas de alfabetização na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, das redes estaduais e municipais e do Distrito Federal. O Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE é voltado à distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência ao público escolar. A execução do programa é de responsabilidade do FNDE em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. Existente desde 1998, o programa passou a incluir a EJA em 2003, através da ação Palavras da Gente Educação de Jovens e Adultos, que distribuiu uma coleção específica para EJA, aos alunos da última série, termo, módulo ou similar, correspondentes à última etapa do 2º segmento da Educação de Jovens e Adultos dos cursos presenciais e com avaliação no processo, do ensino fundamental, no ano letivo de Além de quatro coleções específicas para jovens e adultos, compostas de seis volumes de obras de literatura e de informação, para cada uma das escolas públicas que possuíam mais de quatro alunos na última série ou equivalente do curso presencial de educação de jovens e adultos do ensino fundamental. Entre o período de 2005 e 2008 as ações do PNBE concentraram-se no atendimento ao Ensino Fundamental, sem contemplar a EJA. Em 2009, a EJA voltou a ser incluída no programa, com a previsão de distribuição de obras literárias para todas as etapas do ensino fundamental e médio na modalidade EJA. A distribuição atingirá todas as escolas públicas que ofertam a EJA. A perspectiva é que a ação se repita em 2010, e que a partir de então, a distribuição seja realizada a cada ciclo de dois anos. 7
8 De certo modo, as ações, projetos e programas agrupados nas duas primeiras categorias, ou seja, que visam à produção ou fomento à produção, e a promoção do acesso a livros e demais materiais didáticos, podem ser resumidas nesta última categoria. Afinal, o escopo da produção ou do fomento à produção de materiais e obras literárias, é superar a situação de desigualdade de acesso ao livro e à informação, condicionada pelo poder aquisitivo e pela escolaridade das pessoas jovens e adultas que buscam a EJA. Além disso, é preciso que os livros disponibilizados para o período pós-alfabetização de jovens e adultos sejam adequados para atender o perfil sociocultural desses sujeitos jovens e adultos. A linha correspondente a formação continuada de professores para a EJA tem sido concretizada através da Universidade Aberta do Brasil, a UAB, que oferta cursos à distância, por meio de universidades públicas cadastradas. Atualmente a Rede de Educação para a Diversidade, que agrega os cursos da SECAD no âmbito da UAB, oferta dois cursos especificamente relacionados a leitura e materiais didáticos. O primeiro é o curso de formação de professores mediadores de leitura. O propósito do curso é a formação de professores para atuarem como mediadores do processo de formação de leitores, seja em contextos escolares ou não. O segundo curso é o de produção de materiais didáticos para a diversidade. O curso visa formar professores e profissionais da educação para avaliar materiais didáticos existentes, realizar projetos de produção de recursos didáticos e elaborar estratégias metodológicas para o uso de diferentes materiais didáticos para os temas da diversidade, em particular tendo em conta as características locais e regionais e as especificidades dos educandos e os temas: cidadania, direitos humanos, gênero e relações étnico-raciais. A linha que agrupa ações, programas e projetos relativos a avaliação e pesquisa sobre leitura e materiais didáticos encontra-se, na realidade definida no corpo de uma diversidade de programas e projetos. A avaliação e a realização de pesquisas são previstos como momento estratégico dos programas e ações, e são apoiadas por resoluções específicas, ou ocorrem através da contratação de instituições ou pesquisadores para a realização de produtos específicos. Pesquisas de específicas foram realizadas no âmbito do PNBE, do PNLA, e do Concurso Literatura para Todos. 8
9 A avaliação de materiais didáticos para a Educação de Jovens e Adultos EJA, realizada no âmbito do Ministério da Educação MEC, se restringe atualmente a dois grupos de materiais didáticos impressos: os livros didáticos e as obras literárias. São eles: 1) os livros de alfabetização inscritos no Programa Nacional do Livro de Alfabetização para Jovens e Adultos PNLA; 2) as obras literárias do Concurso Literatura para Todos e que formam a Coleção Literatura para Todos. Dessa forma, como podemos verificar a SECAD, através da DPEJA, tem realizado importantes iniciativas que colocam a política de leitura, livro e demais materiais didáticos como um elemento estratégico de sua política para a EJA. Existem algumas diretrizes que precisam ser seguidas, dadas as características das políticas destinadas a pessoas jovens, adultas e idosas, e mesmo, políticas do livro e leitura que ocorrem no âmbito federal. 6 É fundamental a necessidade de articulação das ações, projetos e programas da DPEJA a outros existentes em outras esferas do governo federal, e especialmente, dentro do próprio MEC. Este é caso da inserção da EJA nas ações da Secretaria da Educação Básica SEB, ou da Secretaria de Educação a Distância - SEED, através dos programas do livro e das tecnologias educacionais. 7 Esta integração exige um diálogo e sinergia entre parceiros internos e externos ao ministério, envolvendo técnicos do FNDE, da SEB e da DPEJA/SECAD e demais secretarias e ministérios. Esta tem sido, por exemplo, a direção adotada com a integração da EJA ao PNBE, e do PNLA ao Programa Nacional do Livro Didático, o PNLD. No âmbito do MEC, um dos obstáculos a serem superados é a ausência de referenciais teóricos comuns que defina o léxico e as acepções adotadas quando se trata de termos relacionados a leitura, livro didático, ou material didático e que possam ser utilizados como parâmetro para os agentes internos do Ministério, suas secretarias e autarquias. O levantamento aqui apresentado possibilitou identificar divergências de uso sobre alguns termos adotados quando se trata desses temas. 6 Existem programas para pessoas jovens e adultos em diferentes âmbitos do governo federal, como por exemplo, o Projovem, e ações voltadas a leitura, como o Pró-ler mo Ministério da Cultura. 7 A SEED é encarregada, por exemplo, do PROEJA Programa de Educação de Jovens e Adultos Integrada a Formação Profissionalizante. 9
10 De modo geral, a ausência de um documento norteador para a política de materiais didáticos, que defina, por exemplo, o que se considera como material didático de qualidade faz com que, na prática, tal definição obedeça a princípios pragmáticos determinados pelos programas a serem executados pelas secretarias e seus colaboradores. Podemos verificar que, em alguns casos, a definição de um determinado conceito pode ter diferentes significados conforme os critérios adotados por dada secretaria do MEC. Tomemos como exemplo o conceito de tecnologias educacionais. O uso do conceito no documento produzido pela Secretaria de Educação Básica SEB, o edital de chamada para o Guia de Tecnologias Educacionais e na Resolução de Fomento a Leitura proposta pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SECAD revela uma divergência de concepção entre as secretarias. Como vimos a DPEJA/SECAD utiliza o conceito de tecnologias educacionais na Resolução/FNDE/CD/N 44 de 17 de outubro de De acordo com a Resolução 44, entende-se o incentivo à produção e distribuição de tecnologias educacionais de fomento à leitura como sendo a atuação de estimular a produção de materiais de leitura, em diversos suportes, e sua distribuição para jovens, adultos e idosos neoleitores. Tais como: a) Produção de tecnologias educacionais de fomento à leitura considerando não apenas o suporte livro, mas também aqueles baseados em textos, som e imagens como, DVD, CD-ROM, vídeo, filme, jogo eletrônico, plataforma de ensino à distância, gravação de livros falados, livro em Braille, rádio, mp3 e todo conteúdo por meio de novas tecnologias de acesso à informação e ao conhecimento; b) Criação de tecnologias educacionais de fomento à leitura produzidas por alfabetizandos jovens, adultos e idosos e por alfabetizadores; c) Criação de material literário específico para o público de jovens, adultos e idosos neoleitores, considerando os diversos gêneros; d) Criação de material de registro da história oral das comunidades rurais e demais populações que tenham reconhecida tradição oral; e) Formas de distribuição que integrem a mediação de leitura. Enquanto a Resolução da SECAD, supracitada define as tecnologias educacionais incluindo dentre elas o livro, o Aviso de Chamamento Público MEC/SEB Nº 1/2008 que teve como objetivo selecionar e pré-qualificar tecnologias educacionais adota outro recorte sobre este tipo de recurso educacional: (...) entende-se por tecnologia educacional: práticas, métodos ou técnicas de ensino acompanhadas de aparatos, aparelhos ou ferramentas instrumentais, inclusive já em uso por redes ou estabelecimentos de ensino, que apresentem 10
11 potencial impacto positivo na melhoria da qualidade da educação básica pública, a serem empregadas como mecanismo de apoio aos sistemas de ensino e aos processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos em sala de aula. Não se enquadram como tecnologias educacionais as práticas e recursos já amplamente difundidos e incorporados à rotina das redes de educação básica (tais como, por exemplo: livros didáticos, apostilas, livros de literatura, livros paradidáticos, atlas, dicionários, mapas, enciclopédias e cursos modulares, em meio impresso ou digital). 8 (grifo nosso) O ponto de divergência entre os documentos é a inclusão ou não dos livros didáticos e demais obras no conceito de tecnologias educacionais. Para a SEB, os livros impressos ou digitais devem ser excluídos deste conceito, já para a SECAD, o livro é uma das tecnologias mais significativas para o público neoleitor. Uma possível explicação para esta divergência não está no campo conceitual, mas no campo das ferramentas da política educacional. O fato é que a aquisição de livros didáticos, de literatura ou referência já é contemplada pelos programas que formam o arco do PNLD, assim, em tese, não caberia ao Guia de Tecnologias da SEB avaliar e pré-qualificar obras didáticas para as quais já existem programas estruturados. Pode-se supor que objetivo da SEB seria incluir um conjunto de recursos didáticos ainda não atendidos pelos demais programas dos livros, e vinculá-los ao Plano de Ações Articuladas, o PAR, elaborado pelos municípios, no âmbito do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação 9. Dessa forma, podemos entender que em relação às chamadas tecnologias educacionais os propósitos de cada secretaria são bastante distintos. Para a SEB o edital tinha como propósito oferecer aos sistemas de ensino, orientações pedagógicas sobre a aquisição e o uso de tecnologias educacionais nas escolas públicas e, portanto, o conceito de tecnologias educacionais deveria alargar para além do livro didático ou de referência o espectro de recursos e materiais didáticos que poderiam ser objeto de avaliação pelo MEC. Para a SECAD, o edital deveria estimular a produção de livros para um público escolar específico e que não conta no mercado editorial com uma oferta diversificada de títulos Aviso de Chamamento Público MEC/SEB Nº 1/ Outro aspecto do Guia de Tecnologias é que ele exclui das tecnologias educacionais os sistemas apostilados de ensino, ou seja, materiais impressos que se constituem em modalidade de livro didático. 10 A Resolução n. 44 estabelece quatro linhas de ação que induzem à produção de materiais didáticos, formação e avaliação são elas: Promoção de acesso à leitura; Formação de leitores e mediadores de leitura; Produção e distribuição de tecnologias educacionais de fomento à leitura; Pesquisa e avaliação sobre leitura. 11
12 Pode-se afirmar que o público a que se destina o edital é o que define, em última instância, o conceito de tecnologias educacionais utilizado em cada uma das secretarias. Para a SECAD o público final é o neoleitor, para a SEB o público alvo são os sistemas de ensino. Assim, o conceito de tecnologias educacionais utilizado pela SEB deveria incluir técnicas, aparatos, ferramentas e utensílios com potencial de uso no apoio aos processos educativos abrangendo um leque maior de áreas educacionais. Eram elas: a) ensinoaprendizagem (metodologia e avaliação referentes aos componentes curriculares); b) alfabetização: anos iniciais do ensino fundamental; c) ampliação da jornada escolar; d) formação continuada de professor; e) fluxo escolar; f) leitura: promoção e formação de mediadores; g) avaliação institucional; e h) gestão educacional. Outra forma de avaliar o uso do conceito de tecnologias educacionais é verificar como ele foi recebido pelos sujeitos envolvidos no processo. Isto pode ser verificado, por exemplo, pelo tipo de obras e recursos inscritos excluídos ou selecionados ao final do processo. No caso do edital da SECAD, este tipo de avaliação ainda não pode ser realizada, pois o processo está em andamento, mas no caso da SEB este processo já se encerrou e o documento final foi produzido. O processo de elaboração do Guia de Tecnologias Educacionais desenvolvido pela SEB foi executado com a chamada pública de tecnologias, sua avaliação foi feita por uma equipe de especialistas e resultou na publicação de um manual contendo resenhas e informações sobre as tecnologias aprovadas. Uma análise preliminar das tecnologias pré-qualificadas pela SEB revela aspectos importantes sobre formas de agrupamento dos materiais ou recursos didáticos considerados como tecnologia educacional. O primeiro aspecto é a definição do tipo de material que o termo abrange, pois como podemos verificar, o termo agrupa um conjunto de recursos pedagógicos diversificados e que por sua natureza implicam no uso de suportes tecnológicos: computador, aparelhos de som ou DVD, etc. Mas o termo também abriga metodologias ou sistemas de ensino cujo uso não implica necessariamente recursos ou aparatos tecnológicos. Outro aspecto é a possibilidade de participação de diferentes sujeitos produtores de tecnologias, desde pessoas físicas, instituições não-governamentais ou universidades e empresas. 12
13 No exemplo aqui analisado, mostramos algumas divergências entre documentos de secretarias no uso do conceito de tecnologias educacionais. Por outro lado há iniciativas no âmbito do MEC voltadas à busca ativa de materiais didáticos que utilizam aparatos eletrônicos ou tecnológicos e que, no entanto, não mencionam o conceito de tecnologias educacionais. Para alimentar o Portal do Professor, a Secretaria de Educação a Distância SEED publicou uma chamada pública para apoio financeiro à produção de conteúdos educacionais digitais multimídia nas áreas de Matemática, Língua Portuguesa, Física, Química e Biologia do Ensino Médio. Foram contemplados projetos para a elaboração de softwares educacionais, recursos de áudio, produções audiovisuais, experimentos educacionais. A especificidade do portal reside no propósito de disponibilizar conteúdos educacionais digitais de acesso público. Estes conteúdos foram organizados nas seguintes modalidades: áudio, vídeo, imagem, experimento, mapa, animação e simulação. Os documentos da SEED, ou mesmo o Portal do Professor, não mencionam o conceito de tecnologia educacional, ainda que, a rigor, várias tecnologias educacionais apresentadas no Guia de Tecnologias Educacionais pudessem ser consideradas como conteúdos educacionais digitais multimídia e disponibilizados no Portal. Considerações Finais Pelos exemplos aqui apresentados, consideramos relevante desenvolver um exame cuidadoso acerca dos referenciais teóricos e diretrizes que deve subsidiar a formulação e execução de políticas voltadas à leitura, aos livros e demais materiais didáticos no âmbito do MEC. Tal exame deve ter em consideração as recentes pesquisas e diretrizes definidas nos documentos nacionais e internacionais sobre o tema. Tanto a experiência internacional de alguns ministérios de educação quanto indicações de organismos internacionais, permite perceber que os materiais didáticos ocupam uma posição significativa no âmbito das políticas educacionais. Além disso, a formulação das políticas para materiais didáticos tem exigido a elaboração de documentos norteadores para o processo de avaliação dos materiais com indicações relevantes aos atores sociais sobre critérios de qualidade. Estes são alguns 13
14 dos desafios a serem enfrentados para a consolidação das políticas de leitura e materiais didáticos para a Educação Básica e, especialmente para a Educação de Jovens e Adultos. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação. Guia de livros didáticos PNLD 2008: apresentação / Ministério da Educação. Brasília: MEC, BRASIL. Ministério da Educação. Aviso de Chamamento Público MEC/SEB nº 1/2008. Brasília: MEC, FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Conselho Deliberativo. Dispõe sobre o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos PNLA Resolução nº 18 de 24 de abril de FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Conselho Deliberativo. Estabelece critérios para a apresentação, seleção e apoio financeiro a projetos que visem o fomento à produção de material pedagógico-formativo e de apoio didático de EJA, à formação de educadores, coordenadores e gestores da EJA e à publicação de experiências de EJA todos com ênfase na Economia Solidária. Resolução nº 51, de 15 de dezembro de FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Conselho Deliberativo. Estabelece critérios e procedimentos para a execução de projetos de fomento à leitura para neoleitores jovens, adultos e idosos, mediante assistência financeira aos Estados, Municípios, Distrito Federal, Instituições Públicas de Ensino Superior e Entidades sem fins lucrativos. Resolução n 44 de 16 de outubro de BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Manual da Rede de Educação para a Diversidade, Disponível em: Acesso em: 25/04/2009. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. III CONCURSO PÚBLICO LITERATURA PARA TODOS. Edital n.º 07/2009/SECAD/MEC. Disponível em: Acesso em: 25/04/2009. CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS CONFINTEA. V.; 1997, Hamburgo. Declaração Final e Agenda para o Futuro. Disponível em: Agenda_Futuro.pdf. Acesso em: 02/03/2009. PORTAL DE PROFESSOR. 14
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