A Sra. LAURA CARNEIRO (PFL-RJ) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a
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- Amália Almeida Álvaro
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1 A Sra. LAURA CARNEIRO (PFL-RJ) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a questão da adoção de crianças por pares homossexuais, freqüentemente é assunto que polemiza os meios jurídicos. Pequena amostragem deve ser feita sobre a situação vivenciada pelas crianças no Brasil, para alicerçar nosso ponto de vista a respeito. De modo geral, poderão estarem elas integradas em família ou unidade familiar própria, que é a situação desejável e natural; poderão também encontrarem-se agregados a parentes ou criadas por famílias amigas. Poderão os menores estarem legitimamente adotados; nesse caso a situação pode ser tida como aceitável. Estarão eles, eventualmente, sofrendo as agruras de órgãos corretivos, que na verdade pouco ou nada acrescentam a sua formação. Crianças e adolescentes em situação de risco outra situação vivenciada já foram objetos de reportagens e abordagens em filmes que tiveram grande repercussão na crítica nacional e internacional. Calcula-se que cerca de cinco milhões de crianças tiram sustento e vivem nas ruas ou em empregos domésticos.
2 2 Morando na periferia, vendem quinquilharias nas ruas, dormindo ao relento e sendo alvo fácil de estupros e aliciamento à prostituição e ao narcotráfico. Calcula-se que na cidade de São Paulo, cerca de três mil crianças trabalham para os empresários dos faróis, movimentando cerca de vinte milhões de reais por ano, quase nada sendo dado, desses ganhos, às infelizes vítimas. Muitos fatores influem nas razões do abandono do menor pelos pais, como o nível sócio-econômico, cultural, fatores estruturais e psicossociais. Os efeitos perniciosos e traumáticos oriundos desses delitos contra a criança, tendem a originar adultos com comportamento anômalos, facilmente susceptíveis de se enveredar pela senda criminosa. Na modalidade assistencial prestada pelo Estado existem os abrigos, inadequadamente chamados orfanatos. O Jornal do Brasil, de 14/04/2005 dá-nos notícias de que os abrigos no Brasil acolhem cerca de oitenta mil crianças; o Estatuto da Criança e do Adolescente exige que os abrigos tenham estrutura semelhante a uma residência, mas só oito por cento cumprem esse mandamento e apenas entre seis e sete por cento, incentivam a participação das crianças na vida comunitária; somente cerca de quinze por cento dos abrigos obedecem os critérios de
3 3 reestruturação familiar, como visitas aos domicílios, acompanhamento social e encaminhamento para programas de inserção. Em que pese as deficiências existentes, é inquestionável que nos abrigos as crianças estarão assistidas e protegidas. A adoção é modalidade de filiação de cunho jurídico que não resulta de vínculo biológico, mas de vínculo afetivo. Preenche ela duas finalidades principais: dar pais aos menores desamparados e dar filhos àqueles que não podem ter biologicamente ou mesmo se podendo, optaram, por razões pessoais, a acolher crianças de outra matriz geradora. Regula a matéria os artigos a do Código Civil vigente e artigos 39 a 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pelo fato de a agregação familiar exercer profunda influência na personalidade da criança, faremos breve comentário sobre este núcleo. Em remoto passado eram os pais que escolhiam os cônjuges para os filhos. Predominava nas uniões conjugais com forte censo patrimonial e patriarcal. Tal modelo foi oriundo da nobreza européia, e teve sobrevida no Brasil; predominava o estereótipo do homem machista e de mulher submissa. Os desquitados e mães solteiras eram ostensivamente discriminados.
4 4 Na sua evolução temporal, sobrevieram o divórcio, a união estável, a igualdade de tratamento entre a prole advinda de união legal e os filhos concebidos extra- matrimônio. O conceito de família, altera-se, pois, profundamente, através de novas normas e costumes, e também de novas concepções introduzidas pela genética. E entre essas novas situações, chama-nos a atenção a situação de adoção da criança por pares do mesmo sexo. A matéria é controversa, como foram na sua época, a regularização das situações mencionadas linhas atrás. De capital importância para avaliação do Instituto é o Princípio do Melhor Interesse da Criança aprovado em 20 de novembro de 1989, pela Assembléia Geral da ONU, ratificado pelo Brasil, que dispõe: Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança. E os artigos 3º e 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) enfatiza a obrigatoriedade de a família, comunidade, sociedade e Poder Público assegurar, com prioridade, e garantir,
5 5 por lei ou outro meio, os direitos fundamentais, entre os quais destacamos a dignidade humana. Importa, pois, única e exclusivamente, o interesse da criança; há que se perquirir se tem ela a ganhar ou a perder se for adotada por pares homossexuais. Antes da adoção muitos fatores são sopesados, sendo fundamental disponibilidade para repassar carinho e educação à criança, prevendo ter o adotante condições financeiras razoáveis para assumir o encargo e consciência das atribuições e funções a serem assumidas. Atende-se que para que a adoção ocorra, devem ser satisfeitos, entre outros requisitos, os seguintes (art. 28 do ECA): - oitiva da criança, sempre que possível; - afinidade/afetividade/grau de parentesco; - compatibilidade com a natureza da medida; - ambiente familiar adequado; - ser o adulto maior de vinte anos; - representar, a adoção, mais vantagens para o adotado. Apesar de todo cuidado para proceder-se a adoção o fator que mais divide as opiniões com relação a adoção por homossexuais é a crença de haver um dano potencial futuro por ausência de referências comportamentais e, por conseqüência, a possibilidade de ocorrerem seqüelas de ordem psicológica,
6 6 segundo observação da desembargadora Maria Berenice Dias ( União Homossexual. O preconceito e a Justiça. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000, p. 93). Sem questionar a ciência psicológica, é fato inconteste, entretanto, que existem casais heterossexuais em que o vício, a violência e incúria danificam a vida emocional da criança, ensejando, muitas vezes, perda do poder familiar pelos pais; como falar-se nesses casos, em necessidade de existência de modelo masculino e feminino, cuja falta comprometeria a identidade sexual? A filiação (natural ou adotiva) por casais heterossexuais não é garantia de higidez psicológica e emocional dos filhos; se assim fosse não haveria filho de heterossexuais criminosos. Os casais homossexuais podem também dar atenção, carinho e afeto ao adotado; o hipócrito preconceito é em grande parte influenciado pelo comportamento marcantemente escandaloso dos travestis, que nada tem a ver com o homossexualismo. Diversos países já regularizaram a união entre homossexuais ou estão tratando da matéria, como a Dinamarca, Noruega, Islândia, Holanda, alguns estados dos EUA e Espanha. No Brasil a matéria não foi regulamentada. Uma das soluções que se propõe é a adoção do estatuído no artigo 981 do Código Civil, que trata da formação de sociedades.
7 7 Diversos julgados tem reconhecido o direito de pessoa homossexual assumida poder adotar crianças; os jornais Zero Hora, Jornal do Brasil e O Dia, trazem notícias a respeito. E reforçando nossos argumentos é oportuno lembrar ainda que: 1. É permitida legalmente a adoção por uma só pessoa; na prática um dos homossexuais adota e o casal convive com o adotado. O inconveniente é que o outro parceiro não foi avaliado quanto aos requisitos para adotar. Deste fato pode resultar que este parceiro, que não foi avaliado, não apresente condições para o desenvolvimento de um lar harmonioso. Por estas razões, apresentamos Emenda Modificativa, de nº 01/2005, alterando o 1º, do art. 3º, do PL 1756/2003, que trata da Lei Nacional sobre Adoção, dispondo que no caso em que os adotantes sejam casais homoafetivos, haverá necessidade de comprovação da idade mínima de 18 (dezoito) anos de um dos parceiros união estável e estabilidade da convivência familiar (grifamos). A exigência é pertinente e saneadora e, por certo merecerá acolhida, por certo, pelo Sr. Relator. 2. A adoção é precedida de testes, convívio, avaliações. Por certo não se efetivará se não ocorrer melhor interesse da criança.
8 8 3. O número de adoção tem-se reduzido. A folha on line mostra a redução de adoção (e portanto mais sobrecarga em orfanatos e, conseqüente, mais crianças abandonadas) na ordem de 19% (dezenove por cento) em Aumentando as possibilidades de adoção, diminuirá a sobrecarga sobre os orfanatos, possibilitando cada vez mais a inclusão social. Senhores Deputados, a medida que defendemos é um desafio ao preconceito contra os homossexuais, ofensivo inclusive à Constituição, e sem dúvida sua aprovação atenderá ao interesse maior da criança. - Senhor Presidente, peço a Vossa Excelência que autorize a divulgação do meu pronunciamento no programa à voz do Brasil. Muito obrigada. LAURA CARNEIRO PFL/RJ 2006_978_Laura Carneiro_055
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