LIBERDADE DE IMPRENSA 1. LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITO DE EXPRESSÃO
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- Sebastiana Valverde Domingos
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1 PARECER nº 001/2014 CEZAR BRITTO ADVOGADOS ASSOCIADOS SOLICITANTE: FEDERAÇÃO NACIONAL DOS POLICIAIS FEDERAIS LIBERDADE DE IMPRENSA 1. LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITO DE EXPRESSÃO Vivemos em um Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos, dentre outros, a cidadania e a dignidade da pessoa humana. A cidadania é o direito de participar ativamente da vida política do país, sendo o cidadão agente das mudanças que ocorrem na busca constante de melhorias que permitam uma vida de dignidade a todos. Como consequência lógica da vida em sociedade o ser humano se comunica com os seus pares, criando laços de afinidade, grupos de interesse e se desenvolvendo culturalmente. Essa comunicação é inerente ao homem e como tal foi reconhecida pela Constituição Federal que, em seu artigo 5º, reconhece a livre manifestação do pensamento como direito fundamental. O pensamento pode ser expresso de diversas formas: intelectual, artística e cientificamente, entre outras, mas a forma que aqui nos interessa é a expressão através da comunicação. Comunicar significa transmitir determinada mensagem a outrem e a Constituição Federal nos garante que esse é um direito de todos. A liberdade de expressão é, portanto, direito a ser exercido por toda e qualquer pessoa que queira se expressar, podendo fazê-lo da forma como quiser. Adiantando-se a possíveis abusos no exercício deste direito a Carta Magna prevê o direito de resposta e a indenização por dano material, moral ou à imagem 1. 1 IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; Página1
2 É também garantido a todos o direito de ser informado 2. Presente na Administração Pública através do Princípio da Publicidade, a Administração fica obrigada, em todas as suas esferas, a informar seus atos, de forma a torna-los públicos. O conhecimento dos atos públicos é imprescindível para que os cidadãos possam saber o que se passa e poder tomar atitudes. Mas nem todas as informações estão relacionadas diretamente ao poder público ou mesmo não precisam ser informadas por este. Tem aqui seu papel a imprensa, responsável por trazer à sociedade todos os fatos que sejam de algum interesse. Não há aqui a obrigatoriedade de informar como tem a Administração, a imprensa informa o que as pessoas querem saber, independente de interesses políticos, apenas informa o que está ao seu alcance. Dessa forma, enquanto o cidadão detém o direito de ser informado, a imprensa está na posição ativa de informante e realizadora deste direito. Merece então a proteção estatal para que possa ser exercida plenamente visto que possui função primordial para o Estado. É o que se depreende da leitura do art. 220 da Constituição Federal: Constituição da República Federativa do Brasil: Art A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. Em que pese haver previsão constitucional explícita, durante longos anos a liberdade de imprensa foi vilipendiada pela vigência da Lei 5.260/67, a Lei de Imprensa. Esta limitava e censurava previamente esse direito que é pleno e que só deverá ser restringido quando comprovadamente causar danos. Sendo assim, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, no julgamento da ADPF 130, que a referida lei não foi recepcionada pelo Constituição de 88, pois ia de encontro aos preceitos fundamentais desta. 2 XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional Página2
3 Foram reafirmados, judicialmente, os direitos fundamentais de informação e de liberdade imprensa como essenciais ao Estado Democrático de Direito estabelecido na Constituição Federal. 2. DO DANO MORAL A Constituição Federal prevê em seu art. 5º, X, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. As lides envolvendo liberdade de imprensa normalmente estão relacionadas à suposta violação desses direitos e portanto ensejariam a reparação em danos morais. A previsão constitucional é de que as liberdades de imprensa e de expressão são direitos plenos, ficando resguardado o direito de resposta e a indenização em caso de o seu exercício causar danos. A configuração do dano moral será aqui debatida analisando-se os requisitos que são utilizados pelos Tribunais Superiores na análise dos casos concretos. O entendimento majoritário é de que uma publicação em meio de imprensa não dará ensejo à reparação por danos morais desde que preenchidos os seguintes requisitos: Quadro de Requisitos dos Direitos-Deveres da Comunicação Apresente informação verossímil; Não configure injúria, calúnia ou difamação; Comportamento ético e zeloso ao informar; Veicule matérias relativas à atividade pública de pessoa pública sem intervir na vida privada; Tecer críticas, mesmo que ácidas, de fatos verdadeiros. Página3
4 Desse modo, são discutidos abaixo cada um destes cinco elementos que devem ser considerados na redação ou veiculação de uma informação, nos termos da jurisprudência dos Tribunais Superiores. a) Informação Verossímil: A imprensa tem o papel primordial de informar à sociedade a realidade dos fatos, visto que esta muitas vezes não é fornecida. Busca passar visões diferentes das que foram apresentadas, de forma a possibilitar que cada um formule sua própria opinião, devendo, para isso, se embasar em INFORMAÇÕES VEROSSÍMEIS. Diz-se que as informações devem ser verossímeis porque a função de informar deve ser cumprida de forma célere, ainda mais nos dias atuais onde a internet possibilita e exige a rapidez das informações. Não é necessário que o meio de comunicação aguarde a conclusão de processo administrativo, cível ou penal para que possa informar os fatos que estão sendo investigados. Dessa forma, exigir que todas as informações veiculadas pela imprensa sejam comprovadamente verdadeiras é inviável. Entendimento do STJ: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR VEICULAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA. A entidade responsável por prestar serviços de comunicação não tem o dever de indenizar pessoa física em razão da publicação de matéria de interesse público em jornal de grande circulação a qual tenha apontado a existência de investigações pendentes sobre ilícito supostamente cometido pela referida pessoa, ainda que posteriormente tenha ocorrido absolvição quanto às acusações, na hipótese em que a entidade busque fontes fidedignas, ouça as diversas partes interessadas e afaste quaisquer dúvidas sérias quanto à veracidade do que divulga. (REsp RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, TERCEIRA TURMA, DJe em 02/5/2013. b) Não configuração dos crimes de injúria, calúnia ou difamação: Consequência desse requisito é o de que a veiculação de informação não pode configurar os CRIMES DE CALÚNIA, INJÚRIA OU DIFAMAÇÃO. Isso porque, sendo a informação verdadeira e de relevância pública poderá ser livremente informada não havendo que se falar na configuração dos referidos crimes contra a honra. Página4
5 Código Penal Brasileiro: Calúnia Art Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Difamação Art Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Injúria Art Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Neste sentido, a produção ou veiculação de uma informação deve sempre se atentar para a tripla possibilidade de: i) Se estar atribuindo um crime a alguém (calúnia); ii) Se estar ferindo injustificadamente a reputação de alguém (difamação); iii) Se estar ofendendo injustificadamente a dignidade, a moral ou a honra da alguém (injúria). Entendimento TRF 1ª Região PENAL. CALÚNIA E DIFAMAÇÃO. (CP: ARTS. 138 E 139 C/C 141, INC. III). SENTENÇA ABSOLUTÓRIA (CPP: ART. 386, III). ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO. AUSÊNCIA. RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO. 1. Apesar da aspereza de algumas palavras existentes no texto, o alegado excesso, suscitado pelo apelante, não representa pretexto suficiente a uma sanção penal, até porque, num Estado Democrático de Direito, a liberdade de expressão e de crítica é uma garantia constitucional, assegurada pela Lei Maior aos profissionais de imprensa. (ACR / DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON Página5
6 QUEIROZ, QUARTA TURMA, e-djf1 p.096 de 20/06/2012) c) Comportamento Ético e Zeloso: O informante deve também agir sempre de forma ÉTICA E ZELOSA, buscando fontes confiáveis e verificando se os fatos narrados têm condições de serem verdadeiros. A veiculação de meros boatos sem fundamentos podem gerar a obrigatoriedade de indenizar. Comprovada a verossimilhança das alegações e a postura ética do veículo comunicante não há que se falar em dano moral desde que as informações não sejam relativas à vida privada da pessoa sobre quem se fala. Na hipótese de se tratar de personagem público investido de FUNÇÃO PÚBLICA, não há dano moral quando são informados fatos relevantes e que se refiram à sua função. O agente público exerce função de grande relevância, seus possíveis desvios devem ser denunciados para que possam ser tomadas as devidas providências. Acórdão - Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº STF Em se tratando de agente público, ainda que injustamente ofendido em sua honra e imagem, subjaz à indenização uma imperiosa cláusula de modicidade. Isto porque todo agente público está sob permanente vigília da cidadania. E quando o agente estatal não prima por todas as aparências de legalidade e legitimidade no seu atuar oficial, atrai contra si mais fortes suspeitas de um comportamento antijurídico francamente sindicável pelos cidadãos. d) Veiculação de matérias relativas à atividade pública de pessoa pública, sem interferência na vida privada: Por fim, há ainda os casos em que são tecidas CRÍTICAS ÁCIDAS ao agente público. O Superior Tribunal de Justiça entende que estas não são suficientes para gerar dano moral desde que respeitados todos os outros requisitos já elencados. Isso porque a liberdade de expressão jornalística não está limitada a informar, podendo se fazer através de críticas, mesmo que ácidas e capazes de causar desconforto. Página6
7 Entendimento do STJ RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DANOS MORAIS RECONHECIDOS NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. REPORTAGEM OFENSIVA. RECURSO DO OFENDIDO. MAJORAÇÃO DA REPARAÇÃO. NÃO ACOLHIMENTO. VALOR ARBITRADO. RAZOABILIDADE. MANUTENÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. 2. Na hipótese, levando-se em conta o contexto em que inseridas as ofensas reconhecidas nas vias ordinárias, uma reportagem sobre um político, pessoa exposta a abordagens críticas ácidas por parte da imprensa, não se vislumbra maior gravidade na ocorrência. Trata-se de reportagem que traz abordagem realmente sarcástica, acerca do então deputado federal e do próprio Parlamento, porém sem afastar-se muito dos limites tolerados em qualquer democracia. 4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp /DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 15/03/2012, DJe 29/03/2012) O Judiciário tem sido assolado com demandas que buscam coibir a liberdade de imprensa sob o véu do dano moral pela violação à honra. Em função disso foram criados os supracitados requisitos, para que o direito de expressão seja garantido e não se torne refém de uma fábrica de indenizações. Não se pode esquecer, porém, que a intimidade, a honra e a imagem da pessoa são direitos invioláveis garantidos pela Constituição, sendo indenizável a conduta que os vilipendiar. Portanto, o veículo de informação deve: Noticiar fatos verídicos (ou verossímeis) que tenham relevante interesse público; Buscar fontes confiáveis e diversas antes de transmitir a informação, agindo de forma ética e zelosa; Não interferir na intimidade pessoal de quem se fala; Página7
8 Tecer críticas, ainda que severas, à atuação profissional, sobretudo em sede de função pública, mas nunca de forma a caluniar, difamar ou injuriar. RECOMENDAÇÃO: Recomenda-se, a propósito da presente orientação, que a mesma seja convertida para o formato de boletim, caderno informativo ou cartilha, com a devida diagramação e aposição de elementos visuais. Página8
9 ANEXO - JURISPRUDÊNCIA RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DANOS MORAIS. MATÉRIA JORNALÍSTICA OFENSIVA. LEI DE IMPRENSA (LEI 5.250/67). ADPF N. 130/DF. EFEITO VINCULANTE. OBSERVÂNCIA. LIBERDADE DE IMPRENSA E DE INFORMAÇÃO (CF, ARTS. 5º, IV, IX E XIV, E 220, CAPUT, 1º E 2º). CRÍTICA JORNALÍSTICA. OFENSAS À IMAGEM E À HONRA DE MAGISTRADO (CF, ART. 5º, V E X). ABUSO DO EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE IMPRENSA NÃO CONFIGURADO. RECURSO PROVIDO. 1. Na hipótese em exame, a Lei de Imprensa foi utilizada como fundamento do v. acórdão recorrido e o recurso especial discute sua interpretação e aplicação. Quando o v. acórdão recorrido foi proferido e o recurso especial foi interposto, a Lei 5.250/67 estava sendo normalmente aplicada às relações jurídicas a ela subjacentes, por ser existente e presumivelmente válida e, assim, eficaz. 2. Deve, pois, ser admitido o presente recurso para que seja aplicado o direito à espécie, nos termos do art. 257 do RISTJ, sendo possível a análise da controvérsia com base no art. 159 do Código Civil de 1916, citado nos acórdãos trazidos como paradigmas na petição do especial. 3. A admissão do presente recurso em nada ofende o efeito vinculante decorrente da ADPF 130/DF, pois apenas supera óbice formal levando em conta a época da formalização do especial, sendo o mérito do recurso apreciado conforme o direito, portanto, com base na interpretação atual, inclusive no resultado da mencionada arguição de descumprimento de preceito fundamental. Precedente: REsp /MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe de 26/5/ O direito à imagem, de consagração constitucional (art. 5º, X), é de uso restrito, Página9
10 somente sendo possível sua utilização por terceiro quando expressamente autorizado e nos limites da finalidade e das condições contratadas. 5. A princípio, a simples utilização de imagem da pessoa, sem seu consentimento, gera o direito ao ressarcimento das perdas e danos, independentemente de prova do prejuízo (Súmula 403/STJ), exceto quando necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública (CC/2002, art. 20). 6. Tratando-se de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público, deve ser ponderado se, dadas as circunstâncias, a exposição da imagem é ofensiva à privacidade ou à intimidade do retratado, o que poderia ensejar algum dano patrimonial ou extrapatrimonial. Há, nessas hipóteses, em regra, presunção de consentimento do uso da imagem, desde que preservada a vida privada. 7. Em se tratando de pessoa ocupante de cargo público, de notória importância social, como o é o de magistrado, fica mais restrito o âmbito de reconhecimento do dano à imagem e sua extensão, mormente quando utilizada a fotografia para ilustrar matéria jornalística pertinente, sem invasão da vida privada do retratado. 8. Com base nessas considerações, conclui-se que a utilização de fotografia do magistrado adequadamente trajado, em seu ambiente de trabalho, dentro da Corte Estadual onde exerce a função judicante, serviu apenas para ilustrar a matéria jornalística, não constituindo, per se, violação ao direito de preservação de sua imagem ou de sua vida íntima e privada. Não há, portanto, causa para indenização por danos patrimoniais ou morais à imagem. 9. Por sua vez, a liberdade de expressão, compreendendo a informação, opinião e crítica jornalística, por não ser absoluta, encontra algumas limitações ao seu exercício, compatíveis com o regime democrático, quais sejam: (I) o compromisso ético com a informação verossímil; (II) a preservação dos chamados direitos da personalidade, entre os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à intimidade; e (III) a vedação de veiculação de crítica jornalística com intuito de difamar, injuriar ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi). 10. Assim, em princípio, não caracteriza hipótese de responsabilidade civil a Página10
11 publicação de matéria jornalística que narre fatos verídicos ou verossímeis, embora eivados de opiniões severas, irônicas ou impiedosas, sobretudo quando se trate de figuras públicas que exerçam atividades tipicamente estatais, gerindo interesses da coletividade, e a notícia e crítica referirem-se a fatos de interesse geral relacionados à atividade pública desenvolvida pela pessoa noticiada. Nessas hipóteses, principalmente, a liberdade de expressão é prevalente, atraindo verdadeira excludente anímica, a afastar o intuito doloso de ofender a honra da pessoa a que se refere a reportagem. Nesse sentido, precedentes do egrégio Supremo Tribunal Federal: ADPF 130/DF, de relatoria do Ministro CARLOS BRITTO; AgRg no AI /SP, de relatoria do Ministro CELSO DE MELLO. 11. A análise relativa à ocorrência de abuso no exercício da liberdade de expressão jornalística a ensejar reparação civil por dano moral a direitos da personalidade depende do exame de cada caso concreto, máxime quando atingida pessoa investida de autoridade pública, pois, em tese, sopesados os valores em conflito, mostra-se recomendável que se dê prevalência à liberdade de informação e de crítica, como preço que se paga por viver num Estado Democrático. 12. Na espécie, embora não se possa duvidar do sofrimento experimentado pelo recorrido, a revelar a presença de dano moral, este não se mostra indenizável, por não estar caracterizado o abuso ofensivo na crítica exercida pela recorrente no exercício da liberdade de expressão jornalística, o que afasta o dever de indenização. Trata-se de dano moral não indenizável, dadas as circunstâncias do caso, por força daquela "imperiosa cláusula de modicidade" subjacente a que alude a eg. Suprema Corte no julgamento da ADPF 130/DF. 13. Recurso especial a que se dá provimento, julgando-se improcedentes os pedidos formulados na inicial. (REsp / DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, DJe 12/03/2013) Página11
12 DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR VEICULAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA. A entidade responsável por prestar serviços de comunicação não tem o dever de indenizar pessoa física em razão da publicação de matéria de interesse público em jornal de grande circulação a qual tenha apontado a existência de investigações pendentes sobre ilícito supostamente cometido pela referida pessoa, ainda que posteriormente tenha ocorrido absolvição quanto às acusações, na hipótese em que a entidade busque fontes fidedignas, ouça as diversas partes interessadas e afaste quaisquer dúvidas sérias quanto à veracidade do que divulga. De fato, a hipótese descrita apresenta um conflito de direitos constitucionalmente assegurados: os direitos à liberdade de pensamento e à sua livre manifestação (art. 5º, IV e IX), ao acesso à informação (art. 5º, XIV) e à honra (art. 5º, X). Cabe ao aplicador da lei, portanto, exercer função harmonizadora, buscando um ponto de equilíbrio no qual os direitos conflitantes possam conviver. Nesse contexto, o direito à liberdade de informação deve observar o dever de veracidade, bem como o interesse público dos fatos divulgados. Em outras palavras, pode-se dizer que a honra da pessoa não é atingida quando são divulgadas informações verdadeiras e fidedignas a seu respeito e que, outrossim, são de interesse público. Quanto à veracidade do que noticiado pela imprensa, vale ressaltar que a diligência que se deve exigir na verificação da informação antes de divulgá-la não pode chegar ao ponto de as notícias não poderem ser veiculadas até se ter certeza plena e absoluta de sua veracidade. O processo de divulgação de informações satisfaz o verdadeiro interesse público, devendo ser célere e eficaz, razão pela qual não se coaduna com rigorismos próprios de um procedimento judicial, no qual deve haver cognição plena e exauriente dos fatos analisados. Além disso, deve-se observar que a responsabilidade da imprensa pelas informações por ela veiculadas é de caráter subjetivo, não se cogitando da aplicação da teoria do risco ou da responsabilidade objetiva. Assim, para a responsabilização da imprensa pelos fatos por ela reportados, não basta a divulgação de informação falsa, Página12
13 exige-se prova de que o agente divulgador conhecia ou poderia conhecer a falsidade da informação propalada, o que configuraria abuso do direito de informação. (REsp RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/5/2013) PENAL. CALÚNIA E DIFAMAÇÃO. (CP: ARTS. 138 E 139 C/C 141, INC. III). SENTENÇA ABSOLUTÓRIA (CPP: ART. 386, III). ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO. AUSÊNCIA. RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO. 1. Apesar da aspereza de algumas palavras existentes no texto, o alegado excesso, suscitado pelo apelante, não representa pretexto suficiente a uma sanção penal, até porque, num Estado Democrático de Direito, a liberdade de expressão e de crítica é uma garantia constitucional, assegurada pela Lei Maior aos profissionais de imprensa. 2. Comentários publicados pelo querelado em seu blog não configuram a intenção de caluniar ou difamar o querelante, à medida que agiu tão somente com animus narrandi, ao prestar as informações jornalísticas. 3. Apelação desprovida. (ACR / DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ, QUARTA TURMA, e-djf1 p.096 de 20/06/2012) RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DANOS MORAIS RECONHECIDOS NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. REPORTAGEM OFENSIVA. RECURSO DO OFENDIDO. MAJORAÇÃO DA REPARAÇÃO. NÃO ACOLHIMENTO. VALOR ARBITRADO. RAZOABILIDADE. MANUTENÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. 1. Em regra, é inadmissível, na via estreita do recurso especial, o exame do valor fixado a título indenizatório. Todavia, em hipóteses excepcionais, a jurisprudência deste Tribunal Superior tem autorizado a reavaliação do montante arbitrado nas ações de reparação de dano moral, quando for verificada a exorbitância ou o caráter irrisório da importância, em flagrante ofensa aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Página13
14 2. Na hipótese, levando-se em conta o contexto em que inseridas as ofensas reconhecidas nas vias ordinárias, uma reportagem sobre um político, pessoa exposta a abordagens críticas ácidas por parte da imprensa, não se vislumbra maior gravidade na ocorrência. Trata-se de reportagem que traz abordagem realmente sarcástica, acerca do então deputado federal e do próprio Parlamento, porém sem afastar-se muito dos limites tolerados em qualquer democracia. 3. Então, tem-se como descabida a pretensão do recorrente ofendido de elevação do montante arbitrado pela Corte Local, o qual mostra-se razoável, consideradas as circunstâncias do caso concreto, inclusive o teor da reportagem publicada. Não se faz necessária a adequação da verba reparatória, na via estreita do recurso especial. 4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp /DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 15/03/2012, DJe 29/03/2012) Página14
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