Considerações sobre a indústria do etanol do Brasil. A experiência brasileira da produção e uso do álcool combustível: o Proálcool
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- Kevin Alcaide Mendonça
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1 Considerações sobre a indústria do etanol do Brasil Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes 1 A experiência brasileira da produção e uso do álcool combustível: o Proálcool Em novembro de 1975, por meio do Decreto nº , o Presidente Ernesto Geisel criou o Proálcool, um programa de incentivo à produção do álcool combustível visando a alternativas para enfrentar a crise do petróleo que ameaçava as economias mundiais importadoras do produto. Esse Programa alterou significativamente o perfil da produção de açúcar e álcool do Brasil e estimulou aumento importante da área plantada de cana-de-açúcar. Em relação ao processo de implementação do Programa, devem ser destacadas duas fases: a primeira iniciou-se com a promulgação do Decreto-Lei nº , de novembro de 1975, e estendeu-se até Essa etapa corresponde ao uso da mistura álcool-gasolina, à implantação das destilarias anexas e ao envolvimento da indústria automotiva para a produção de carros a álcool. A segunda fase, iniciada em 1979, e que atingiu seu ápice em 1985, é a da produção em larga escala 1 Profª Doutora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Universidade de São Paulo. mafdmora@esalq. usp.br 137
2 Desde a criação do Proálcool, em 1975, aos dias atuais, a produção brasileira de álcool obteve um crescimento médio anual de 11,8%. do álcool hidratado, para ser usado em carros movidos exclusivamente com esse combustível. Desde a criação do Proálcool, em 1975, aos dias atuais, a produção brasileira de álcool passou de aproximadamente 555 milhões de litros para 17,7 bilhões de litros, o que significa um crescimento médio anual de 11,8%. Contudo, as taxas de crescimento são distintas durante o tempo. Entre as safras 1975/76 e 1978/79, a produção de álcool passou de 560 milhões de litros para 2,49 bilhões de litros. Nota-se uma aceleração do crescimento a partir da segunda fase do Proálcool (safra 1979/80) até o auge do Programa, em 1985/86. Nesse período a produção passou de 3,39 bilhões de litros para 11,8 bilhões de litros, o que representa uma taxa geométrica média anual de cres- Divulgação/Unica 138 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
3 cimento de 23%. Destaca-se que o crescimento maior foi na Região Centro-Sul 2. A evolução da produção de álcool no Brasil a partir do lançamento do Proálcool pode ser vista na Figura 1. Figura 1. Evolução da produção brasileira de álcool /76 a 2006/ / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / / /07 Norte-Nordeste Centro-Sul Fonte: elaborada A partir do auge do Programa, em 1985, surge um período de estabilidade da produção ao redor de 12 bilhões de litros, que se estende até meados da década de Em 1986, diversos fatores contribuíram para que se iniciasse uma fase de avaliação do Programa pelo Governo. Conforme Santos (1993), desde janeiro daquele ano os preços internacionais do a partir de Moraes (2000) e UNICA. 2 Existem duas regiões produtoras no Brasil, diferenciadas pelo período da safra. Os seguintes estados fazem parte da Região Norte-Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. Da região Centro-Sul: São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 139
4 petróleo começaram a declinar; a produção interna crescente desse produto diminuía a dependência do País em relação ao petróleo importado; e os planos econômicos do Governo priorizavam o controle da inflação e do déficit público, evidenciando que a expansão do Programa deveria ser feita por meio do aumento da produtividade das atividades agrícolas e industrial, já que os financiamentos governamentais para a ampliação da capacidade instalada estavam suspensos. Do lado da demanda, em 1989 e 1990, houve duas crises de abastecimento de álcool, que marcaram profundamente os consumidores de carros movidos com esse combustível, levando à queda nas vendas e à rejeição a esse produto, tendência que só se inverte com o lançamento dos carros bicombustíveis ou flex-fuel 3, em A partir da safra 1998/99, observa-se uma queda na produção de álcool, que pode ser explicada pela desregulamentação do setor, com conseqüente finalização dos incentivos à produção, e pela queda acentuada na demanda dos carros a álcool, que por sua vez reduziu o consumo do próprio álcool hidratado. A redução da intervenção estatal no setor 4, em 1999, coincidiu com uma grave crise de super oferta do produto, quando os níveis de preço do álcool atingiram patamares mais baixos inclusive que os custos de produção, instalando-se grave crise no setor. Nesse período ocorreu o 3 O carro bicombustível é um veículo cujo motor admite a utilização de álcool hidratado ou de gasolina, em qualquer proporção: desde 100% álcool até 100% gasolina, sendo que o consumidor pode fazer a escolha em função dos preços relativos entre os dois produtos, ou conforme a disponibilidade dos mesmos. A primeira montadora a lançar o carro bicombustível foi a Volkswagen, com o Gol. 4 Ver Moraes, M.A.F.D. (2000). A desregulamentração do setor sucroalcooleiro do Brasil. 140 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
5 Divulgação/Unica fechamento de várias usinas e a adequação da oferta à demanda do mercado. Contudo, a partir de 2002, observa-se o início da retomada da produção e venda de álcool. Nesse período, a questão ambiental começava a preocupar diversos países, fortalecendo a produção de álcool combustível, considerado um combustível limpo. O uso de combustíveis oxigenados - com o objetivo de reduzir a emissão de CO 2 - passou a ser uma tendência nos países desenvolvidos a partir de meados de Também em 2003, houve o lançamento dos carros flex-fuel no Brasil, que não só causou aumento do consumo de álcool hidratado, mas também foi muito importante para a retomada do crescimento da sua produção. O consumidor aderiu ao novo produto, que possibilita o uso de qualquer proporção entre álcool e gasolina. 141
6 Banco de Imagens Petrobras/Rogério Reis Incentivos de mercado: os carros flex-fuel e o mercado internacional de álcool É interessante notar que, desde o início do Proálcool, os consumidores reagem imediatamente às políticas de incentivo e desincentivo ao Programa e aos preços relativos entre álcool hidratado e gasolina. Isso faz com que as tendências nas vendas de carros movidos com os diferentes combustíveis se revertam em poucos meses. Ressalta-se, portanto, a importância do consumidor no sucesso do Proálcool e, nos anos recentes, no crescimento do mercado de carros flex-fuel. A Figura 2 apresenta a evolução das vendas de carros a álcool, a gasolina, e, a partir de 2003, dos carros bicombustíveis. 142 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
7 Figura2. Evolução das vendas de carros a álcool e a gasolina Gasolina Álcool Flex-fuel Fonte: elaborado a partir de dados da Anfavea. Observam-se mudanças importantes ao longo do tempo. Desde 1979 até 1986, as vendas de carros a álcool, de forma geral, apresentam crescimento. Ao término de 1982, o mercado de carros a álcool estava superaquecido, representando 38% das vendas totais de carros de passageiros, sendo que em dezembro esse percentual chegou a 67%. Entre os anos de 1983 e 1989, as vendas de veículos a álcool representavam, em média, 90% das vendas totais de automóveis. A partir de 1989, provavelmente devido à grave crise ocasionada pela falta do álcool ocorrido nessa época, a participação das vendas de carros a álcool começou a diminuir e, em 1990, a porcentagem de vendas desses veículos em relação ao total representava apenas 11%. Em 1995, esta porcentagem passou a somente 2,2% das vendas totais, sendo que, em 2000, chegou a aproximadamente 1%. Conforme salientado anteriormente, em 2003 ocorreram duas importantes alterações no agronegócio da cana-de-açúcar, que alteraram significativamente as perspectivas de de- 143
8 Quanto ao mercado internacional de álcool, é uma oportunidade excelente para o País, considerandose as vantagens comparativas que temos na produção desse produto. manda pelo álcool combustível no médio prazo: a primeira foi o lançamento do carro bicombustível (flex-fuel), a segunda foi o desenvolvimento do mercado externo para o álcool. É importante observar que o veículo flex-fuel dá ao consumidor o direito de escolher o combustível que quer utilizar, considerando-se questões de eficiência (potência, consumo) e de preços relativos entre álcool hidratado e gasolina. O impacto do lançamento desse produto deve ser analisado sob dois aspectos: o primeiro, já mencionado, é o da autonomia do consumidor, que contribui para afastar a preocupação com o risco do desabastecimento ocorrido no passado (já que na falta de álcool hidratado o consumidor pode abastecer com gasolina). O segundo aspecto é regular o mercado: num cenário desfavorável ao uso do álcool hidratado devido a relação de preços com a gasolina, os consumidores tendem a migrar para esse combustível, reduzindo a demanda pelo álcool hidratado, com conseqüente redução de preços, tornando novamente atrativo seu uso. Ademais, deve ser considerado o impacto sobre a produção de álcool, decorrente do aumento da demanda adicional pelo álcool hidratado advinda das vendas dos carros bicombustíveis, num cenário de preços favorável para esse combustível. Nessa situação, pode-se imaginar que todo comprador de carro flex-fuel é um consumidor potencial do álcool hidratado, e a demanda por esse produto tende a crescer proporcionalmente às vendas desses veículos. Quanto ao mercado internacional de álcool, é uma oportunidade excelente para o País, considerando-se as vantagens comparativas que temos na produção desse produto, e o fato de o álcool ser um combustível renovável menos poluente que a 144 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
9 gasolina. Desde a assinatura do Protocolo de Quioto, diversos países desenvolvidos estão procurando alternativas ao petróleo, de forma a reduzirem suas emissões de CO 2, o que abre excelentes oportunidades para o álcool combustível. Contudo, o mercado internacional de álcool, embora concreto, deve ser encarado como de médio a longo prazo, pois diversas barreiras têm que ser vencidas, desde as protecionistas, impostas por alguns países desenvolvidos, até as culturais. Poucos países atualmente conhecem o uso do álcool combustível em larga escala, sendo necessário divulgar a experiência brasileira. Além disso, os países que já demonstraram interesse concreto no uso do álcool anidro para mistura na gasolina, como o Japão, precisam de uma garantia de abastecimento, e a preços condizentes, já que não querem correr o risco de preços decorrentes da existência de apenas um fornecedor mundial do produto, no caso o Brasil. Gargalos de logística também precisam ser solucionados se aumentarem as exportações. 145 Divulgação/Unica
10 O crescimento da produção de cana-de-açúcar A elevação da produção de álcool fez com que também se aumentasse muito a demanda de cana-de-açúcar do País, com conseqüente acréscimo de sua produção e expansão para regiões não tradicionalmente produtoras. Entre os anos de 1975 a 2006, a produção brasileira de cana-de-açúcar passou de 88,9 milhões para 456 milhões de toneladas, um crescimento de 413%; ao passo que a área plantada saltou de 1,9 milhões para 6,2 milhões de hectares, representando um crescimento de 226,3%. Observa-se que o aumento da área foi menor que o da produção, o que indica um crescimento importante da produtividade agrícola, decorrentes de investimentos públicos e privados. Conforme Macedo (2007), entre 1980 e 1990 observou-se a introdução de novas variedades de cana-de-açúcar Divulgação/Unica 146 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
11 (desenvolvidas no Brasil), uso de vinhaça como fertilizante, controle biológico da broca da cana, otimização das operações agrícolas, entre outros. No início do período, a produtividade agrícola era de 46,8 toneladas de cana-de-açúcar por hectare, e, em 2006, atingiu 74,1 toneladas por hectare. A Figura 3 indica o crescimento da produção, área colhida e produtividade, considerando-se o início do período como base 100. Figura 3. Cana-de-Açúcar: produção, área colhida e produtividade Fonte: elaborada a partir dos dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Área Colhida Produção Produtividade IBGE e UNICA. Os ganhos de produtividade foram também observados na área industrial. Conforme Nastari (2005), os ganhos de produtividade agroindustrial cresceram em média 3,77% ao ano durante 1975 e Em 1975, produzia-se 2024 litros de álcool hidratado equivalente por hectare. Trinta anos depois, esse valor atingiu 5931 litros por hectare. Na área industrial, os investimentos realizados foram principalmente no desenvolvimento de novos sistemas de moagem, fermentações com capacidades maiores e autonomia em energia (Macedo, 2007). 147
12 Competitividade da agroindústria brasileira Os ganhos de produtividade agrícola e industrial resultaram em reduções importantes dos custos de produção ao longo do tempo, sendo atualmente o Brasil o país com os menores custos de produção mundial. Dado o grande número de produtores que utilizam diferentes sistemas produtivos (solos, custos da terra, níveis tecnológicos, mecanização, matéria-prima própria ou comprada, etc), é difícil uma estimativa precisa dos custos de produção. Carvalho (2002) apresenta uma comparação entre os custos de produção do álcool produzido a partir das principais matérias-primas utilizadas. Destaca-se que o álcool de cana-de-açúcar produzido no Brasil tem o menor custo, conforme ilustrado na Tabela 1. Tabela 1. Comparação custos médios de produção álcool anidro País Anidro (US$/l) Matéria-Prima BR: Centro-Sul 0,19 Cana-de-açúcar BR: Norte-Nordeste 0,23 Cana-de-açúcar Fonte: Carvalho, 2002 EUA 0,33 Milho UE 0,55 Trigo - Beterraba Observa-se que, em comparação com a região Centro-Sul do Brasil, o álcool de milho produzido nos Estados Unidos apresenta um custo 73% mais elevado; o álcool produzido a partir de trigo ou beterraba tem custos 189% mais altos. Outra questão importante refere-se à eficiência energética, que é a quantidade de energia produzida em relação à 148 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
13 quantidade de energia necessária para produzi-la. Novamente o álcool de cana-de-açúcar apresenta o melhor desempenho. A tabela 2 traz o balanço energético das principais matérias-primas atualmente utilizadas para a produção de álcool. Observa-se que para a cana-de-açúcar, cada quantidade de energia fóssil utilizada resulta na produção de 8,3 unidades de energia renovável, ou seja, um balanço energético extremamente favorável para esse produto. Tabela 2. Balanço energético principais matérias-primas Matéria-Prima Energia Renovável Produzida/ Energia Fóssil Consumida Trigo 1,2 Milho 1,3 1,8 Beterraba 1,9 Cana-de-Açucar 8,3 Fonte: Macedo et alii, F.O. Lichts 2004, International Energy Agency Localização da produção e estrutura de mercado O crescimento da produção de álcool, conforme salientado anteriormente, deu-se principalmente na região Centro- Sul. Na safra 2006/07, a referida região foi responsável por 87,5% da produção nacional de cana-de-açúcar, por 85,5% da produção de açúcar e 90,5% da produção de álcool. São Paulo, o maior estado produtor do País, na mesma safra foi responsável por 63% de toda a cana produzida no Brasil, por 63,3% da produção nacional de álcool e por 65% da produção 149
14 de açúcar. A Figura 4 traz a produção por região, para o Brasil e para o estado de São Paulo. Figura 4. Produção de cana-de-açúcar, açúcar e álcool por região produtora Cana-de-Açúcar Milhões t NNE CS Brazil SP Álcool Mil litros NNE CS Brazil SP Fonte: elaborado a partir dos dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Açúcar Mil t NNE CS Brazil SP 150 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
15 Da mesma forma, a maior parte das usinas e destilarias localiza-se na região Centro-Sul, principalmente no estado de São Paulo. Observa-se que, em 2006, do total de 363 unidades existentes, 46,5%, ou seja, 169 unidades produtoras localizavam-se em São Paulo. Figura 5. Número de usinas/destilarias por Estado AL AM BA CE ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RS SE SP TO A partir da desregulamentação do setor, em 1999, dado o ambiente institucional mais propício aos investimentos, observou-se a formação de grupos econômicos produtores de açúcar e álcool, por meio do processo de fusões e aquisições. Embora tenha ocorrido a entrada de capital externo de várias nacionalidades, tais como francês (Coinbra-Louis Dreyfus, Tereos), americano (Cargill, Infinity Bioenergy, Globex, Brenco) e asiático (Noble), a grande maioria da produção ainda é de capital nacional, visto que a participação dos grupos estrangeiros foi da ordem de 5% na safra 2006/07. Em 2006, os vinte maiores grupos do Brasil foram responsáveis por 41,3% da produção de cana-de-açúcar, por 39,3% da produção de álcool e por 46% da produção de açúcar. Apesar do acelerado movimento de fusões e aquisições, a indústria nacional de açúcar e álcool não era concentrada: o 151
16 CR 4, ou seja, a razão de concentração dos 4 maiores grupos produtores de álcool era de 14,9%. O maior grupo produtor do Brasil é o Grupo Cosan, que, em 2006, tinha 17 usinas e destilarias, sendo responsável por aproximadamente 7% da produção brasileira de álcool, 11,1% da produção de açúcar e 9% da moagem total de cana-deaçúcar. Ressalta-se que a moagem do grupo Cosan, que foi de 34 milhões de toneladas de cana-de-açúcar naquele ano, representou 71% da produção da região Norte-Nordeste. Geração de empregos No ano de 2005, trabalhavam no setor de cana-de-açúcar, açúcar e álcool do Brasil, segundo os dados dos Registros Administrativos do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS), empregados. A Tabela 3 traz a evolução do número de trabalhadores formais envolvidos na produção de cana-deaçúcar, açúcar e álcool, para as duas regiões produtoras, e o total do Brasil, para os anos de 2000 a Tabela 3. Número de empregados formais por região produtora 2000 a 2005 Região Produtora Fonte: Elaborado a partir de MT-b Rais (vários anos). NNE CS Total Brasil Nota-se que, para o Brasil como um todo, entre 2000 e 2005, considerando-se os três setores (cana-de-açúcar, açú- 152 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
17 car e álcool) conjuntamente, houve aumento expressivo de 52,9% do número de empregados formais, que passou de empregados em 2000 para em Entre esses, 63%, ou seja, empregados, estavam na região Centro-Sul do País. Na Tabela 4 apresenta-se o número de empregados formais por região produtora e por setor: cana-de-açúcar, açúcar e álcool. Observa-se que, em 2005, existiam empregados na atividade da cana-de-açúcar no Brasil, empregados na produção de açúcar e um contingente menor, mas ainda importante, na indústria do álcool: empregados. Tabela 4. Número de empregados formais por região produtora e por setor 2000 a 2005 Região NNE Cana-de-Açúcar CS Total Brasil NNE Açúcar CS Total Brasil NNE Álcool CS Total Brasil Total Brasil 3 setores Percebe-se que, entre 2000 e 2005, o crescimento dos empregados formais das usinas de açúcar (101,9%) e destilarias de álcool (88,4%) do Brasil foi maior do que o dos Fonte: Elaborado a partir de MT-b Rais (vários anos). 153
18 trabalhadores rurais (16,2%) envolvidos com a produção de cana-de-açúcar, provavelmente em decorrência do processo de mecanização da colheita de cana. É importante observar que nesse período houve crescimento da produção de canade-açúcar: em 2000, a produção nacional foi de 325,33 milhões de toneladas e, em 2005, foi de 419,56 milhões (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2005), ou seja, um crescimento da produção da ordem de 28,9%. Notase também que, em 2000, 55% eram empregados rurais. Já em 2005 sua participação caiu para 42,2%. Ressalta-se o grande número de trabalhadores formalmente empregados nos três setores da agroindústria canavieira cana-de-açúcar, açúcar e álcool -, que, em 2005, foi de trabalhadores. Não se inclui nesse total os empregados de outros setores relacionados com a cadeia produtiva, por exemplo, adubos e fertilizantes, tratores e equipamentos, comercialização, transporte, etc. Divulgação/Unica 154 Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
19 Considerações finais O Brasil é internacionalmente reconhecido pelo pioneirismo em desenvolver a produção e uso em larga escala de um combustível renovável, produzido a partir da cana-de-açúcar, com alta eficiência energética e com os menores custos de produção do mundo. A motivação principal do Proálcool, na época de seu lançamento, era reduzir a dependência do País em relação ao petróleo importado, bem como atenuar os impactos sobre os indicadores macroeconômicos do País. Além disso, possibilitou ao Brasil deter o domínio da tecnologia da produção de álcool e desenvolver carros com motores alimentados exclusivamente pelo álcool hidratado. Mais recentemente, a indústria automobilística nacional lançou o carro bicombustível, amplamente aceito pelo consumidor brasileiro. Grandes foram os crescimentos da produção de cana-deaçúcar, de álcool e de açúcar desde a criação do Proálcool, em 1975, o que foi possível devido às extensões territoriais do País, aos investimentos em tecnologia industrial e agrícola, incluindo as novas variedades de cana-de-açúcar mais produtivas. Também o envolvimento da indústria automobilística, a criação da rede de postos com oferta de álcool hidratado em todo o território nacional, a criação de tanques coletores, de dutos para transporte, dentre outras ações, foram essenciais para o sucesso do Programa. Se na época da criação do Proálcool o principal atrativo do uso do álcool combustível foi a redução da dependência em relação ao petróleo importado, atualmente acrescentamse os benefícios ambientais ligados às reduções líquidas das emissões de CO 2. O fato de ser renovável e menos poluente do que a gasolina tornou o álcool uma alternativa interessante 155
20 para os países que desejam reduzir suas emissões de carbono, o que pode representar oportunidades importantes ao Brasil, dada sua competitividade e disponibilidade de terras. Nesta nova fase, além da viabilidade econômica, fatores ambientais e sociais ligados à produção são igualmente relevantes. Nesse sentido, é importante ressaltar o potencial de geração de empregos da agroindústria canavieira: em 2005, 982 mil pessoas foram inseridas formalmente no mercado. Nesse cenário de crescimento e maior inserção internacionalmente, ressaltam-se os desafios logísticos e a expansão sustentável da produção, incluindo-se, portanto, os cuidados com o meio-ambiente e a preocupação com as questões sociais, de forma a estender os benefícios gerados na cadeia produtiva aos empregados agrícolas e industriais. Bibliografia Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). CARVALHO, L.C.C. Etanol: perspectivas de mercado. In: MORAES, M.A.F.D; SHIKIDA, P.F.A. Agroindústria canavieira no Brasil: evolução, desenvolvimento e desafios. São Paulo: Atlas, cap.2, p MACEDO, I.C. Greenhouse gas emissions and bio-ethanol production / utilization in Brazil. Piracicaba: CTC, 05/97, jan p. MACEDO,.I.C. A energia da cana-de-açúcar. Doze estudos sobre a agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil e sua sustentabilidade. São Paulo: Berlendis&Vertecchia: Unica. 2ª. Ed Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas
21 MORAES, M.A.F.D. A desregulamentação do setor sucroalcooleiro do Brasil. Americana: Caminho Editorial, 2000, 238p. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTE- CIMENTO. Acessado em 27/05/2007. REGISTROS ADMINISTRATIVOS. RAIS. Ministério do Trabalho e Emprego. CD-ROM. Vários anos SANTOS, M.H.C. Política e políticas de uma energia alternativa: o caso do Proálcool. Rio de Janeiro: Notrya, p. 157
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