LEVANTAMENTO DA ARANEOFAUNA DO PARQUE ESTADUAL MATA SÃO FRANCISCO, PARANÁ

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1 LEVANTAMENTO DA ARANEOFAUNA DO PARQUE ESTADUAL MATA SÃO FRANCISCO, PARANÁ Introdução As aranhas são animais megadiversos, que distribuem-se por todas as regiões zoogeográficas conhecidas, com eceção do Ártico e Antártica (FOELIX, 1992). Devido a sua imensa capacidade adaptativa, a ordem Araneae é uma das mais abundantes do Reino Animal. Elas podem ser encontradas desde os interstícios do solo até o dossel das árvores, vivendo mesmo em ambientes aquáticos dulcícolas ou litorâneos. As aranhas são um dos mais importantes grupos de predadores em todos os ecossistemas terrestres, sendo agentes reconhecidamente eficientes no controle biológico natural em ecossistemas agrícolas (DIPENAAR-SCHOEMAN & JOCQUÉ, 1997). A ordem Araneae constitui um dos primeiros grupos a conquistar o ambiente terrestre, sendo o seu fóssil mais antigo proveniente do período Devoniano médio (cerca 380 milhões de anos atrás) (SELDEN, 1990; SELDEN, SHEAR & BONAMO, 1991). Segundo LEVI (1982), a Ordem Araneae é considerada o sétimo maior grupo em número de espécies do Filo Arthropoda, superado em número de espécies somente pela ordem Acari (Arachnida) e cinco ordens de insetos. Atualmente, pouco mais de espécies são conhecidas, distribuídas em 110 famílias (PLATNICK, 2006). Apesar da maior parte da diversidade de aranhas estar concentrada nas regiões tropical e subtropical, essas área são ainda pouco estudadas. Atualmente, as regiões com araneofauna mais conhecida são Japão, países do oeste europeu e Região Neártica, onde estima-se que cerca de 80 % das aranhas já foram descritas. Na Nova Zelândia, a estimativa é que 60 % do total de espécies de aranhas já são conhecidas (CODDINGTON & LEVI, 1991; PLATNICK, 1999). As pesquisas para o levantamento da araneofauna da América do Sul foram iniciadas apenas em período mais recente. Uma outra estimativa é a que entre 60 e 70 % do material originário da América do Sul depositado em coleções consiste em novas espécies (CODDINGTON & LEVI, 1991). O primeiro e mais completo catálogo taonômico da Ordem Araneae é o catálogo de BONNET, intitulado Bibliographia Araneorum, dividido em 3 tomos, publicados de 1939 a 1961, abrangendo toda a literatura aracnológica desde as primeiras citações de autores gregos do período clássico. Posteriormente, foram publicados catálogos eclusivamente taonômicos por ROEWER (1955), BRIGNOLI (1983) e PLATNICK (1989, 1993, 1998). Atualmente, a principal fonte de informações sobre a taonomia de aranhas é o catálogo eletrônico de PLATNICK, o qual vem sendo atualizado constantemente e encontra-se atualmente na versão 6.5 (2006). No Brasil, poucas publicações tratando de inventários da araneofauna foram feitas, como MELLO-LEITÃO (1923), BÜCHERL (1949, 1959), SOARES (1944), SOARES & SOARES (1946) e SOARES & CAMARGO (1948). Esses trabalhos, freqüentemente, incluem descrições imprecisas de novos gêneros e espécies, o que representa um problema para a prática taonômica, pois não permitem a identificação precisa das espécies.

2 Recentemente, durante a década de 1990, foram iniciadas novas tentativas para inventariar a araneofauna brasileira. As mais recentes e significativas publicações estão ligadas à Região Amazônica, mas, atualmente, outras áreas brasileiras vêm sendo eploradas. Importantes estudos estão sendo realizados no estado de São Paulo em áreas como as de Mata Atlântica (FOWLER & VENTICINQUE 1995, BRESCOVIT et al. 2003) e em ambientes restritos como cavernas (PINTO-DA-ROCHA 1993, 1995; TRAJANO 1987, TRAJANO & GNASPINI 1991, TRAJANO & MOREIRA 1991). Justificativa A araneofauna do estado do Paraná é pouco estudada com relação aos demais estados do Brasil, tendo apenas alguns trabalhos realizados. As aranhas podem ser utilizadas como biomarcadores para diagnosticar uma área (OLIVEIRA-ALVES, 2005), e como a Mata São Francisco sofre influência da agricultura, o levantamento poderá indicar alguma alteração no comportamento desses animais. Objetivos O objetivo mais imediato deste estudo é fazer um levantamento das espécies de aranhas (Arachnida, Araneae) ocorrentes no Parque Estadual Mata São Francisco, contribuindo para o conhecimento da diversidade e distribuição de aranhas brasileiras, pois há uma grande carência de investigações aracnológicas no Brasil. O levantamento vem preencher parcialmente essa lacuna eistente no conhecimento da araneofauna do Paraná. Os resultados deste levantamento serão utilizados como base para comparação com outras áreas do Estado. Informações mais detalhadas sobre a biodiversidade do local também poderão ser usadas para estudos ecológicos, como a discriminação entre áreas a serem incluídas em diferentes categorias. Material e Métodos O Parque Estadual Mata São Francisco foi criado pelo Decreto 4.333, em 05 de dezembro de Localiza-se entre os municípios de Santa Mariana e Cornélio Procópio (28º08 47,3S e 50º34 19,5W, 543 m de altitude), no estado do Paraná, sendo caracterizada como floresta estacional semidecidual secundária. O parque possui dupla estacionalidade climática: uma tropical, com época de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens acentuadas; e outra subtropical, sem período seco, mas com seca fisiológicas provocada pelo intenso frio de inverno, com temperaturas médias inferiores a 15ºC. Possui área total de 832,5 hectares, com 26,88% de área pertencente ao município de Cornélio Procópio e 73,12% pertencente ao município de Santa Mariana, circundada em quase toda etensão por áreas agrícolas, onde predominam monoculturas de soja, milho e trigo, além de pastagens. A seleção para as áreas analisadas segue critérios logísticos para cada região da mata onde a flora e geologia se diferem. Devido aos muitos e diferentes habitats freqüentados pelas aranhas, é necessário utilizar diversos métodos de analise, visando à obtenção de uma amostragem representativa. Contudo, também é necessário que esse número não seja muito grande e a

3 classificação dos microhabitats relativamente simples, a fim de minimizar a compleidade do protocolo analítico. Os métodos mais utilizados foram selecionados segundo o protocolo desenvolvido por CODDINGTON et al., 1991, aplicado com sucesso em outros levantamentos faunísticos (SILVA, 1996; SØRENSEN et al. 2002). Eles são listados a seguir, com uma pequena eplicação sobre as técnicas e o tipo de fauna amostrado por cada uma. Peneiração do folhiço: amostras do folhiço da mata ou de outros tipos de vegetação foram colocadas em peneiras de malha média (0,5 mm), a fim de realizar a separação das folhas e galhos maiores do material mais fragmentado. Este foi colocado sobre retângulos de napa branca e, então, eaminado cuidadosamente para analise das aranhas eistentes. Este método permite a concentração da fauna eistente no folhiço, sendo ideal para a análise de aranhas de pequeno porte, principalmente as telícolas, que não são bem representadas em armadilhas de solo. Batida de Vegetação: consiste na amostragem da fauna de arbustos de pequeno e médio porte (de 0,5 à 2,5 m), com a utilização de um retângulo de napa branco. Os arbustos são chacoalhados sobre o tecido e o material depositado é analisado. Ideal para aranhas de pequeno porte, com hábitos eclusivamente arborícolas. Análise livre visual: esse método consiste no eame do ambiente pelo pesquisador, a fim de analisar as espécies visíveis, seja em teias, túneis ou errando sobre a vegetação ou solo. As espécies maiores e aquelas que constroem teias aéreas sobre a vegetação são o alvo principal. Análise em ambientes especiais: com esse método são investigados alguns dos microhabitats preferenciais de aranhas de hábitos crípticos ou mais reservados. Ele consiste no eame sob cascas de árvores, troncos caídos, pedras, dentro de buracos, dentre outros. Orçamento Referente aos meses de 11/2008 a 06/2010 Material Câmera Digital 350,00 Bota plástica 30,00 Caneleira 10,00 Lanterna 40,00 Transporte (Bandeirantes-Santa Mariana) 500,00 Alimentação 200,00 Pinça 10,00 Lupa 20,00 Total 1160,00 Preço (Reais)

4 Cronograma Data: 11/2008 a 06/2010 Levantamento Bibliográfico Georreferenciamento dos pontos de análise Análise das Espécies do local Triagem e Identificação das espécies Relatório de Trabalho ao IAP Divulgação dos Resultados Elaboração do Relatório Final Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Referências Bibliográficas BONNET, P., Bibliographia araneorum, 3, p Toulouse: Imprimerie Fréres Douladoure. BRESCOVIT, A. D.; BERTANI, R.; PINTO-DA-ROCHA, R. & RHEIMS, C. A Aracnídeosda Estação Ecológica de Juréia-Itatins (EEJI): Inventário Preliminar e Dados Sobre História Natural (Arachnida). P In: MARQUES, O. A. & DULEBA, W. (eds.). Ambiente, Fauna e Flora da Estação Ecológica Juréia/Itatins. Ribeirão Preto: Holos Editora. BRIGNOLI, P. M., A catalogue of the Araneae Described Between 1940 and London: Manchester University Press. 755 pp. BÜCHERL, W Em torno de três espécies insulares e praianas do gênero Pamphobeteus Pocock, Memórias do Instituto Butantan, 21: BÜCHERL, W. 1959, Fauna aracnológica e alguns aspectos ecológicos da ilha de Trindade. Memórias do Instituto Butantan, 29: CODDINGTON, J. A. & LEVI, H. W., Systematics and Evolution of Spiders (Araneae). Annual Review of Ecology and Systematics, 22: DIPENAAR-SCHOEMAN, A. S. & JOQUÉ, R., African Spiders: An identification Manual. 392 p. Johannesburg: Biosystematics Division, ARC-PPRI.

5 FOELIX, R. F., Biology of Spiders. 330 p. Oford: Oford University Press. FOWLER, H. G. & VENTICINQUE, E. M Ground spiders (Araneae) diversity in differing habitats in the Ilha do Cardoso State Park. Naturalia, 20: LEVI, H. W., Araneae. Vol. 2, p In: PARKER, S. P. (ed.), Synopsis and Classification of Living Organisms. New York: McGraw-Hill. MELLO-LEITÃO, C. F. de, Arachnídeos da Ilha dos Alcatrazes. Revista do Museu Paulista, 13: OLIVEIRA-ALVES, A.; PERES, M. C. L.; DIAS, M. A.; CAZAIS-FERREIRA, G. S.; SOUTO, L. R. A. Estudos das comunidades de aranhas (Arachnida: Araneae) em ambiente de Mata Atlântica no Parque Metropolitano de Pituaçu-PMP, Salvador, Bahia. Biota Neotropical, v.5, n.1a, p.91-98, PINTO-DA-ROCHA, R., Invertebrados cavernícolas da porção meridional do Vale do Ribeira. Revista Brasileira de Zoologia, 10 (2): PINTO-DA-ROCHA, R Sinopse da fauna cavernícola do Brasil ( ). Papéis Avulsos do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo, 39 (6): PLATNICK, N. I., Advances in Spider Taonomy : A Supplement to Brignoli's A Catalogue of the Araneae described between 1940 and p. Manchester: Manchester University Press. PLATNICK, N. I, Advances in Spider Taonomy , with synonymies and transfers p. New York: Entomological Society and American Museum of Natural History Press. PLATNICK, N. I, Advances in Spider Taonomy with redescriptions pp. New York: New York Entomological Society. PLATNICK, N. I., Dimensions of Biodiversity: Targeting Megadiverse Groups, pp In: CACRAFT, J. & GRIFO, F. T. (eds). The Living Planet in Crisis. Biodiversity, Science and Policy. New York: Columbia University Press. PLATNICK, N. I., The World Spider Catalog, version 6.5. American Museum of Natural History. Disponível no sítio do American Museum na Internet: Último acesso: 15-Março ROEWER, C. F., Katalog der Araneen von 1758 bis 1940, bzw Vol. 2, pp Bruelles.

6 SELDEN, P. A. SHEAR, W. A. & BONAMO, P. M A spider and others arachnids from the Devonian of New York, and reinterpretations of Devonian Araneae. Palaeontology, 34: SOARES, B. A. M., Aracnídeos de Monte Alegre. Papéis Avulsos do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo, 4 (10): SOARES, B. A. M. & SOARES, H. E. M., Contribuição ao estudo das aranhas do Espírito Santo. Papéis Avulsos do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo, 7 (3): SOARES, B. A. M. & CAMARGO, H. F. de A Aranhas coligidas pela Fundação Brasil-Central (Arachnida, Araneae). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, 10: SØRENSEN, L., CODDINGTON, J. A. & SCHARFF, N., Inventorying and estimating spider diversity using semi-quantitative sampling methods in an Afrotropical montane forest. Environmental Entomology, 31 (2): TRAJANO, E., Fauna cavernícola brasileira: composição e caracterização preliminar. Revista Brasileira de Zoologia, 3 (8): TRAJANO, E. & GNASPINI, P Composição da fauna cavernícola brasileira, com uma análise da distribuição dos táons. Revista Brasileira de Zoologia, 7 (3): TRAJANO, E. & MOREIRA, J. R. A Estudo da fauna de cavernas da Província Espeleológica Arenítica Altamira-Itaituba, Pará. Revista Brasileira de Biologia, 51 (1):