O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO EM AMBIENTES VIRTUAIS
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- Pedro Monsanto Varejão
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1 1 O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO EM AMBIENTES VIRTUAIS Prof. Ms. Edeval Aparecido Zaghetti, Secretaria Municipal da Educação, UNIMEP - Santa Bárbara d Oeste São Paulo. edeval@santabarbara.sp.gov.br ou edevalzaghetti@yahoo.com.br Resumo: A alfabetização utilizando ambientes virtuais atualmente supera o estado de utopia e tabu tornando-se realidade e ao mesmo tempo cria um ideário distorcido de seu uso na educação. As idéias mais comuns são: a prática educativa torna-se modernizada, ensina-se melhor, é praticada a inclusão digital ou social, a tecnologia é neutra, o aluno interage com o computador, não é necessário planejar, o computador ensina o aluno. Este ideário não passa de um conjunto de armadilhas que somente são reconhecidas e superadas quando submetidas à reflexão crítica, característica encontrada nos autores Bruno Pucci, Francisco Fontanela e Simone Wolff. Sem a consciência crítica e reflexiva a escola torna-se o palco do sistema de produção capitalista e autuar este conhecimento é o objetivo desta comunicação. Palavras-Chaves: Alfabetização, Tecnologia, Armadilhas, Utopia e Consciência Reflexiva. Introdução: Este texto propõe discutir os usos do computador em Educação e suas possíveis armadilhas decorrentes da novidade tecnológica, o mesmo foi originado das reuniões do grupo de Pesquisa e Estudos da Tecnologia em Educação da Secretaria de Educação de Santa Bárbara d Oeste. Qualquer tipo de armadilha não está no mundo, mas sim dentro de cada pessoa, cabe lembrar que a consciência e o saber das pessoas são constituídos pelos elementos do mundo, isto é, a pessoa é formada de acordo com sua relação direta com as coisas e com os seres, então as armadilhas do mundo estão dentro de cada pessoa e a educação e a reflexão crítica tem o objetivo de trazer a tona a consciência destas armadilhas.
2 2 1ª - Armadilha: Ensina-se melhor utilizando o computador. Ensina-se melhor utilizando o computador. No Brasil existe uma tendência de seguir os modelos de educação dos Países ditos de primeiro mundo, nestes o uso do computador em sala de aula é o modismo do momento. O discurso de que o computador enquanto recurso que melhora a qualidade em educação incorpora questões como à incompetência do professor, e a sublimação do professor pela máquina que será seu substituto neste modelo. Este ideário descaracteriza a função do professor em sala de aula, neste contexto tanto o professor como o aluno se tornam instrumentos da máquina, instrumento mediador entre máquina e conhecimento, onde o aluno não passa de um depósito de Informações semelhante a educação bancária de Paulo Freire modificada a uma sucessão de downloads. Achar que utilizando a ferramenta tecnológica ensina-se melhor é parte do discurso neoliberal que promove a formação abstrata e polivalente, que indiretamente colabora com o sistema privado na formação de mão-de-obra para a sociedade da era tecnotrônica, (...) progresso baseado na inovação tecnológica que busca o bem comum e exige maior qualificação da força de trabalho (Litwin 2002, p.82) A escola existiu em todos os níveis de ensino até antes do computador e a qualidade e o processo de ensino-aprendizagem sempre existiu, neste sentido usar o computador não irá melhorar a qualidade de aprendizagem, mas sim oferecer uma ferramenta diferenciada. 2ª - Armadilha: É praticada a Inclusão Digital ou Social Em decorrência do uso do computador em educação acredita-se que é praticada a inclusão digital e ou a inclusão social, no entanto, em decorrência do discurso da Qualidade em Educação. A escola atual no processo de globalização é também responsável pelo desenvolvimento dos processos produtivos que utilizam a tecnologia, a nova
3 3 retórica da qualidade, ao fundar-se em uma simples equação custo-benefício (Gentili 2001, p.174). Nesta armadilha estão imbricados no mínimo dois ideários: o de constituição de mão-de-obra já iniciado no uso do computador, com as tecnologias informatizadas o trabalho adquire nova conformação: podem se mencionar as mudanças que se produzem sobre o emprego, as qualificações profissionais, as relações trabalhistas, as condições e o meio ambiente de trabalho (Liguori apud Litwin 2002, p. 79). A Inclusão Digital ao mesmo tempo em que é um benefício é uma necessidade de mercado deliberadamente assumida, outra idéia é que a inclusão digital somente é realizada para a aprendizagem de um determinado software ou de uso mínimo do computador, e neste processo nunca irá atingir níveis elaborados de utilização do computador. A Inclusão Digital é uma obrigação da escola e a Inclusão Social uma obrigação do Estado, quando se desenvolve um projeto de Inclusão Digital busca-se diminuir os impactos da Exclusão na vida das pessoas, mas neste processo de inclusão Social tem uma conotação mais ampla. 3ª - Armadilha: A tecnologia é neutra Quando utilizamos o computador ou qualquer outro tipo de Tecnologia não é preciso se preocupar com as questões epistemológicas porque a tecnologia é neutra quando utilizada em Educação. Ledo engano, a tecnologia em especial o computador quando utilizado em Educação traz subjacente o uso do software e este tem um conjunto de paradigmas e pressupostos teóricos utilizáveis seja em educação ou não, os pressupostos teóricos mais comuns são: tecnicismo, behaviorismo, construcionismo, instrucionismo, condutivismo e o construtivismo, este é menos freqüente. Mesmo quando não se vê claramente uma teoria subjacente é possível entender o software impregnado de linguagem de programação fundamentada na utilização de um conjunto de procedimentos técnicos, em Pedagogia da Indignação, portanto existe uma teoria impregnada no software, Paulo Freire desconsidera a neutralidade da educação.
4 4 Da educação que, não podendo jamais ser neutra, tanto pode estar a serviço da decisão, da transformação do mundo, da inserção crítica nele, quanto a serviço da imobilização, da permanência possível das estruturas injustas, da acomodação dos seres humanos da realidade tida como intocável. Por isso, falo da educação ou da formação. Nunca do puro treinamento. (Freire 2000; p. 58) Todo educador obrigatoriamente tem de conhecer as teorias subjacentes ao uso do computador em educação para poder fazer intervenções sempre que necessário e assim tentar superar o puro treinamento. 4ª - Armadilha: o aluno interage com o computador Pensar que o aluno interage com o computador é muito comum em ambientes virtuais, os próprios construtores de software lançam no mercado softwares interativos. Sob o discurso da não neutralidade do uso do computador em educação e com o apoio de diferentes teorias, como de Paulo Freire, Vygotsky, Piaget e outros que defendem a utilização de ambientes informacionais interativos e dialógicos, o discurso que o aluno interage com a máquina fica a cada dia mais fortificado. O processo formativo desenvolvido privilegia a dimensão técnica, com ênfase no equipamento e seus aplicativos, em detrimento da compreensão do significado, da importância e limites desses instrumentos; (...) o computador na escola é utilizado com finalidades motivacionais a partir do ensino dos conteúdos do programa ou disciplina(...) (Almeida 2000, p. 140). O conceito de interação com a máquina está sendo explorado com muita ênfase, mas o próprio conceito de inter-agir já carrega o significado de que para ocorrer inter-ação é necessário no mínimo duas pessoas, dois seres vivos, que desenvolvam uma ação em conjunto. Quando o aluno usa o
5 5 computador não existe interação, porque a ação é somente do aluno para o computador e este apresenta um conjunto de respostas programadas e automatizadas. Acreditar nesta afirmativa é oferecer vida ao computador, considerandoo como uma pessoa que se relaciona com os alunos e pode assim construir um ambiente de aprendizagem pessoal. 5ª - Armadilha: Não é Preciso Planejamento, basta utilizar os softwares para os alunos fazerem atividades Não é preciso Planejar, quando o professor utiliza softwares não é necessário planejar a aula ou discutir previa ou posteriormente com os alunos o uso da tecnologia em educação, ou mesmo a atividade realizada, muitos acreditam que salas de informática são espaços de aprendizagem livre de formalizações educacionais. O planejamento é uma atividade essencialmente e exclusivamente humana.(...) Pensar antes de agir. Organizar a ação Planejar é preciso. (Padilha 2002, p. 31). O planejamento na escola atual é necessário porque é uma atividade organizativa que determina a produtividade do aluno e do professor, a quantidade de atividades que se pode desenvolver num período de aula como também de determinar os métodos de controle da ação, Um planejamento bem elaborado é a chave de uma aprendizagem eficiente, dentro da escola ele projeta no futuro as ações sociais, políticas e administrativas bem definidas. Neste processo de ensinar e aprender a atividade humana torna-se engessada e regida por uma obrigatoriedade determinada pelos mecanismos de manutenção das próprias atividades organizativas
6 6 6ª - Armadilha: O computador Ensina o aluno Acreditar que o computador ensina o aluno subjaz acreditar que o aluno interage com a máquina e como já discutimos a interação com a máquina é alusão de uma relação de Fetiche. Os educadores que não têm contato com a parafernalha tecnológica acreditam que o computador ensina melhor que o professor, pois os inúmeros recursos dos softwares e da instrução programada proporcionam maior esclarecimento das matérias tornando as aulas mais didáticas e criativas. E diante deste fato é indispensável o uso do computador na escola, pois ele melhora além do processo de ensino-aprendizagem o relacionamento em sala de aula, este torna mais fácil as aulas expositivas e aquele assume a função elucidativa e relacional do educador, mas estas melhoras são patológicas e este discurso não passa de muletas do educador que não tem responsabilidade social. Mas, na verdade o computador não ensina, ele somente repete incansavelmente as informações que estão programadas em seu Hard Disk e o educando em sua incansável tarefa de aprendente transforma a aula expositiva e tecnológica em aprendizagem significativa. Referências Bibliográficas: ADORNO, Theodor W. Capitalismo tardio ou sociedade industrial? In T. W. Adorno, Sociologia. São Paulo: Ática, ALMEIDA, Fernando José. et alii. Projetos e Ambientes Inovadores. PROINFO, Brasília: Ministério da Educação, Seed, ALMEIDA, Maria Elisabeth. et alii. Informática e formação de professores. PROINFO, Brasília: Ministério da Educação, Seed, BECKER, Fernando. Modelos epistemológicos e modelos pedagógicos. 4., ed. Porto Alegre: Educação e realidade, 1994.
7 7 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: Cartas Pedagógicas e outros Escritos Unesp : 3ª edição, São Paulo, GENTILI, Pablo A. A. Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação: Visões críticas. 9. ed. Petrópolis: Editora Vozes, LÈVI, Pierre. As tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, LITWIN, Edith. Tecnologia Educacional. 2., ed. Campinas, MARCUSE, H. Tecnologia, guerra e fascismo. São Paulo: EDUNESP, FREUD, A. O ego e os mecanismos de defesa. Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, MARX, K. Fetichismo e reificação. In: IANNI, O. (Org.). Karl Marx. Trad. de Reinaldo Sant'Anna. São Paulo: Ática, Marx, K. O Capital: Crítica da economia política. Livro I, volume 1. São Paulo: Difel, PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico : como construir o projeto político pedagógico da escola. 3ª ed. São Paulo, PUCCI, B..Tecnologia, Crise do Indivíduo e Formação. Comunicações, Piracicaba- SP RIPPER, Afira V. A ambiente LOGO na pré-escola. In : VALENTE, José Armando (Org). Computadores e conhecimento : repensando a educação. Campinas, SP : Gráfica Central da UNICAMP, SAMPAIO, Marisa Narciso. Alfabetização Tecnológica. Petrópolis, RJ : Vozes VALENTE, J. A. Computadores e Conhecimento: Repensando a Educação. UNICAMP : Campinas, 1993.
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