RENOVAÇÃO LEXICAL: OS NEOLOGISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA
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- João Lucas Avelar Caiado
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1 RENOVAÇÃO LEXICAL: OS NEOLOGISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA
2 RESUMO O léxico de uma língua vive em permanente expansão. Em face dessa eterna evolução, é importante saber quais as causas que levam a formação de novos itens léxicos e quais são os mecanismos utilizados nessa renovação lexical. Dentro dessa perspectiva de expansão vocabular, o fenômeno neológico tem sido objeto de muitas investigações que visam desde a descrição lexical até à planificação linguística. O presente estudo, enfoca o estudo da neologia das palavras apontando os neologismos e empréstimos linguísticos encontrados nas áreas jornalística, literária e técnico-científica na contemporaneidade. Busca-se, dessa forma, contribuir para o desenvolvimento da pesquisa em neologia geral no que concerne ao estudo da formação de unidades lexicais neológicas, dos processos de formação mais usuais e dos elementos afixais mais produtivos, apontando alguns neologismos nas áreas aqui referidas. Palavras-chave: neologismo, imprensa, ciência, literatura, informática
3 ABSTRACT The lexicon of a language lives in constant expansion. In the face of this evolution, it is important to know what causes that lead to formation of new lexical items and what are the mechanisms used in this lexical renewal. Within this perspective of vocabulary expansion, neological phenomenon has been the subject of many investigations aimed from the lexical description to language planning. This study focuses on the study of neology words pointing neologisms and loanwords found in journalistic, literary and scientific-technical areas nowadays. The aim is thus to contribute to the development of research in general neology regarding the study of the formation of neological lexical units, the most common formation processes and the most productive elements, pointing out some neologisms in the areas mentioned in the research. Keywords: neologism, press, science, literature, computer
4 SUMÁRIO 1. NEOLOGISMO: CONCEITO E FORMAÇÃO 1.1 Processos de Formação do Neologismo Neologismos Fonológicos Neologismos Sintáticos Neologismos Semânticos 1.2 Empréstimos linguísticos Os estrangeirismos e sua integração no léxico português Como ocorre o aportuguesamento das palavras? Os xenismos 2. O NEOLOGISMO NAS ÁREAS JORNALÍSTICA, CIENTÍFICA,LITERÁRIA E TECNOLÓGICA 2.1 A presença dos neologismos na imprensa Neologismos formados por derivação prefixal Neologismos formados por derivação sufixal Formação de Palavras por Composição Outros processos neológicos Neologismos por empréstimos 2.2 O neologismo na área científica 2.3 Os neologismos na literatura 2.4 Os neologismos na área da informática 3. A IMPORTÂNCIA DO NEOLOGISMO: CONTRIBUI OU ATRAPALHA? CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS
5 1. NEOLOGISMO: CONCEITO E FORMAÇÃO 1.1 Processos de Formação de Neologismo De que são feitas as palavras? Como se criam novos vocábulos - neologismos -para denominar novos conceitos ou renomear os já existentes? A todo momento, ocorrem na vida dos falantes de uma língua experiências que exigem a adoção de novas palavras para dar conta delas. Paralelamente, coisas ou fatos sociais já conhecidos podem receber novos nomes, pelas mais diversas razões, seja porque o nome antigo adquiriu conotações arcaicas ou pejorativas, seja para acentuar a posição social do falante (as gírias são um bom exemplo disso), seja ainda por influência estrangeira (o nosso vocábulo vernáculo mosteiro está sendo progressivamente substituído pelo latinizado monastério, provavelmente por força das traduções a partir do inglês monastery). Seja qual for a razão para criar novas palavras, há quatro processos que permitem fazer isso e, portanto, quatro tipos de neologismos numa língua: o fonológico, o morfológico (ou sintagmático), o semântico e o alogenético. O neologismo fonológico é aquele em que a palavra surge de uma combinação inédita de fonemas, não procedente de nenhuma palavra já existente na língua, como em chinfrim, zureta e poperô, ou nas onomatopéias ( tique-taque, miau, entre outras.). O neologismo morfológico resulta de dois processos básicos: composição (puxar + saco = puxa-saco, perna + longa = pernilongo) e derivação (cera > encerar > enceradeira, farofa > farofeiro). O neologismo semântico surge da atribuição de um novo significado a uma palavra já existente. Por exemplo, já havia em português a palavra presunto para designar um tipo de alimento quando a gíria dos marginais passou a usar o termo com o significado de cadáver. Igualmente, arrasar,
6 que sempre significou destruir, passou a ter também o sentido de fazer sucesso. Finalmente, o neologismo alogenético, também chamado de empréstimo, é a importação, com ou sem adaptação fonética ou gráfica, de palavras estrangeiras: futebol, abacaxi, pizza, bonbonnière. Segundo Dubois, a neologia é o processo de formação de novas unidades léxicas. Enquanto que neologismo é toda palavra de criação recente ou emprestada há pouco de outra língua, ou toda acepção de uma palavra já antiga. Por certo, o termo neologismo vem de neologia - do grego neo = novo e logia = ciência -, e significa palavra recém-criada ou palavra com um novo significado. Desse modo, pode-se dizer que a língua está sempre em processo de mudança linguística: algumas palavras caem em desuso, assim como novas unidades léxicas vão sendo incorporadas no léxico. O neologismo pode surgir também com um fim pejorativo (palavrões, gírias, ironias, entre outros) ou para fins comunicativos simplesmente. O neologismo passa a ser parte do léxico da língua quando é dicionarizado e admitido na linguagem padrão. Isto acontece frequentemente, pois a língua se adapta ao uso que a comunidade linguística faz dela, e não o contrário. Da mesma forma, observa-se que há palavras que antigamente faziam parte do léxico da língua e que hoje são consideradas arcaísmos, pois deixaram de ser utilizadas. O que nos interessa aqui é discutir a formação de palavras pelo processo morfológico, isto é, por composição ou derivação. Para compreender a estrutura de um vocábulo, faz-se normalmente a chamada análise morfológica (ou mórfica), que consiste na decomposição da palavra em seus morfemas, ou unidades mínimas dotadas de significado. Algo como desmontar a palavra, num caminho inverso àquele pelo qual ela foi construída
7 1.1.1 Neologismos Fonológicos A neologia fonológica pode ser de dois tipos,a saber, específica ou complementar. Este último resulta da introdução, no léxico, de um novo significante, em decorrência de um outro tipo de neologia. Entretanto, nos interessa aqui a neologia fonológica específica, aquela que não parte de elementos mórficos preexistentes na língua, mas sim, cria novos morfemas pela produção de sequências inéditas de fonemas, desde que permitidas pelo sistema fonológico da língua. Segundo Bizzocchi (1998), o neologismo fonológico pode ser: a) ex-nihilo, isto é, resultante de uma combinação totalmente arbitrária de fonemas como, por exemplo, pirlimpimpim; b) onomatopeico, isto é, parcialmente motivado pelo som do referente como, por exemplo, miau que resulta dos sons emitidos pelos felinos; O primeiro tipo é bastante frequente no discurso publicitário e na gíria, sendo, ao contrário, bastante raro em outras normas discursivas. Em geral, não dá origem a compostos ou derivados. Já o segundo tipo costuma apresentar derivações, os chamados vocábulos impressivos (miar, ziguezaguear, crocante, entre outros). Os neologismos fonológicos ex-nihilo e as onomatopeias puras são, evidentemente, inclassificáveis, quer como grecolatinismos, quer como vulgarismos. Já os vocábulos impressivos podem ser classisficados, até porque alguns deles são de origem vernácula (por exemplo, cuco < lat. cuculus, piar < lat. pipiare, uivar < lat. ululare) ou estrangeira (pingue-pongue, do inglês pingpong).
8 1.1.2 Neologismos Sintáticos Segundo Câmara Jr. (1986) neologismo são inovações linguísticas que se afirmam numa língua, podendo ser vocabular e de construção frasal. Em regra geral, porém, são composições ou derivações novas havendo, nestas últimas, acentuada preferência por certos prefixos. Os neologismos sintáticos resultam de uma criação estilística, que se padroniza na língua, ou de um estrangeirismo sintático. Coutinho (1972) denomina os processos neológicos de intrínsecos (os que se criam com recurso da própria língua) e extrínsecos (os de importação estrangeira). Alves (1994) apresenta os vários recursos que os usuários de uma língua utilizam para formar novos itens lexicais. Apresentamos a seguir alguns desses recursos: A) Neologismos sintáticos: São muito fecundos e supõe-se a combinatória dos elementos já existentes na língua. Para a autora os neologismos sintáticos são formados pela derivação prefixal e sufixal, pela composição coordenativa e subordinativa e pelas siglas ou acronímicos. São denominados sintáticos porque a combinação de seus membros constituintes não está circunscrita apenas no âmbito lexical, mas também no nível frásico havendo uma alteração na classe gramatical da palavra-base, ao ser acrescentado um prefixo ou um sufixo. Bechara (1999) diz que o prefixo empresta ao radical uma nova significação. Agrega-se a verbos, a adjetivos e a substantivos. O prefixo tem força significativa, pode ter formas livres, ou seja, tem existência independente na língua. Já o sufixo não tem curso independente na língua é, portanto, chamado de forma presa. O sufixo em geral altera a categoria gramatical do radical de que sai o derivado, embora não ocorra sempre isso. Sandmann (1988) denomina esse processo de cruzamento vocabular, além de contaminação, mistura, palavra portmanteau. É um tipo de formação muito fecundo no português contemporâneo. Com a ocorrência do carnaval fora de época em quase todo o Brasil, as chamadas micaretas, seus organizadores
9 recorrem à criatividade para chamar a atenção do público,criando assim, palavras que denominam esses eventos. Em Fortal, por exemplo, criado a partir das bases Fortaleza e carnaval, ambas as bases perderam partes para se gerar um terceiro léxico. Ainda temos carnatal para carnaval fora de época de Natal, Micaroa, para a micareta de João Pessoa e muitos outros. A reduplicação, consiste na repetição das bases que compõem o léxico. No carnaval cearense há um ritual que ocorre em praça pública chamado melamela, que consiste de uma mistura de pó, massa ou farinha que é jogada nos foliões molhados de suor, causando o tal mela-mela, já bastante tradicional. Os neologismos por empréstimo consistem no emprego de um léxico de outro sistema linguístico. É sentido como externo ao vernáculo da língua receptora, ainda não faz parte do acervo lexical do idioma. É diferente dos processos autóctones da língua, o que para muitos autores constituem um barbarismo ou estrangeirismo. A pesar de serem rejeitados por muitos defensores do idioma pátrio, os empréstimos estão presentes na nossa língua diariamente, provindos, principalmente, do inglês através dos meios de comunicação e da tecnologia Neologismos Semânticos O neologismo semântico atribui novos significados às palavras. O caráter pelo qual se perfaz a língua é único e estritamente social. Assim, como a sociedade, sofre transformações de acordo com o passar do tempo. A linguagem vai evoluindo, rompendo barreiras, transformando gerações, e, sobretudo, acompanhando os avanços, entre eles, o tecnológico. A título de comprovação, destaca-se o fato de as pessoas atualmente se comunicarem em tempo real, mesmo estando distantes, como se estivessem dialogando de forma presencial.
10 A referida prerrogativa se atém ao fato de que a cada instante novos padrões vão incorporando-se ao cotidiano e moldando nosso perfil, inclusive o linguístico. Exemplo disso cita-se os denominados modismos e chavões preconizados pela mídia, que mesmo não pertencendo à modalidade padrão, acabam se tornando usuais, em referência a este ou aquele ator (atriz) que tanto os proferem. Assim sendo, ao enfatizarmos sobre a questão dos neologismos, os mesmos caracterizam-se pelo atributo de novos vocábulos em referência a outros já existentes na língua. Muitos são originários de outros idiomas, conforme evidenciados pelos exemplos: a) Lincar (forma aportuguesada de link), cujo sentido refere-se ao acesso de hipertextos por meio de links. b) Deletar (forma aportuguesada de delete), o qual significa apagar, eliminar um documento registrado em meio eletrônico. Não somente estes, mas como vários ouros, na medida em que passam a compor o vocabulário dos interlocutores, utilizados informalmente, acabam sendo dicionarizados. Ao nos referirmos sobre a questão da semântica, a mesma reporta-se ao significado atribuído a um determinado vocábulo de acordo com o contexto em que se encontra inserido. Dessa forma, caracteriza-se como neologismo semântico, um novo significado que ora se concebe a uma palavra em função daquele original.
11 BIBLIOGRAFIA ALVES. Ieda Maria. Neologismo criação lexical. São Paulo: Ática, BECHARA, Evanildo. Moderna gramática Portuguesa. 37a. Rio de Janeiro: Lucerna,1999. BIZZOCCHI, A. Léxico e Ideologia na Europa Ocidental. São Paulo: Editora Annablume, COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica.Rio de Janeiro : Ao Livro Técnico, DUBOIS, J. e col. Dicionário de linguística (trad.). São Paulo: Ed. Cultrix, SANDMANN, Antônio José. Formação das Palavras no português brasileiro contemporâneo. Curitiba : Scientia et labor, Deseja mais auxílio na sua dissertação? Se precisar de apoio acadêmico, entre em contato com a equipe Trabalhos Universitários: Através do site: ou pelo telefone (11) de segunda à sexta, das 10h às 18h.
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