VERIFICAÇÃO DA ESCALA DE ÁLCOOL DO MCMI-III NO CAPS AD LESTE, CAPS AD NORTE, CAPS OESTE E CAPS CURRAIS NOVOS

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1 VERIFICAÇÃO DA ESCALA DE ÁLCOOL DO MCMI-III NO CAPS AD LESTE, CAPS AD NORTE, CAPS OESTE E CAPS CURRAIS NOVOS Beatriz Mendes e Madruga; Blenda Carine Dantas de Medeiros; Yasmin Makhamid Makhamed; Hannia Roberta Rodrigues Paiva da Rocha; Heloísa Karmelina Carvalho de Sousa; João Carlos Alchieri. Departamento de Psicologia UFRN. RESUMO O presente estudo visou verificar a forma como se apresentam as respostas de sujeitos em reabilitação para álcool e/ou drogas de uma das escalas do instrumento de avaliação psicológica Millon Clinical Multiaxial Inventory III (MCMI-III). Os sujeitos selecionados são integrantes de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em suas modalidades de saúde mental (CAPS II) e de álcool e drogas (CAPS AD). O instrumento, cuja estrutura é comporta por diferentes escalas de personalidade e de síndromes clínicas, traz a escala de dependência alcoólica como uma de suas possibilidades de avaliação. Essa escala é composta por itens prototípicos e característicos, e, observando como estes foram respondidos, isto é, avaliando a incidência de respostas Verdadeiro e respostas Falso dadas à eles, fizemos uma caracterização geral de tal população no que tange especialmente à escala de dependência alcoólica. As respostas dos sujeitos dos CAPS AD foram comparadas com as respostas dos sujeitos dos CAPS II. Palavras-chave: Dependência alcoólica; avaliação psicológica; CAPS AD; MCMI-III. INTRODUÇÃO Avaliação psicológica é um procedimento de acesso aos padrões de comportamento e de personalidade dos indivíduos, que em seu amplo espectro engloba, entre outros passos, a testagem psicológica. Teste psicológico é um procedimento sistemático através do qual mostra-se possível obter amostras de comportamento relevantes para o funcionamento cognitivo ou afetivo e para a avaliação destas amostras de acordo com certos padrões (URBINA, 2007). Instrumentos cujas respostas não são avaliadas como certas ou erradas e cujos testandos não recebem escores de aprovação ou reprovação são denominados inventários, questionários, levantamentos, entre outros nomes, e geralmente são agrupados sob a denominação de testes de personalidade (URBINA, 2007). Instrumentos desse gênero usualmente são de auto-relato, caso do Millon Clinical Multiaxial Inventory III (MCMI-III), instrumento norteador do presente estudo. O MCMI-III tem em sua constituição algo comum a muitos testes psicológicos: escalas. Trata-se de conjuntos de itens dentro de um teste, e cujo propósito é medir uma característica distinta e específica (URBINA, 2007). São obtidas através da soma de vários itens que foram selecionados como indicadores do construto teórico sob mensuração (FACHEL; CAMEY, 2003).

2 Tal teste psicológico, que se apresenta como um instrumento de auto-relato, tem por trás uma teoria base, a teoria de personalidade de Theodore Millon, autor mesmo do instrumento avaliativo. Millon, em sua teoria, incorporou aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais, lhe permitindo estabelecer um instrumento multiaxial, isto é, pautado em vários eixos. Para o autor, a personalidade mostra-se como um padrão completo de características interrelacionadas, características que têm lugar em uma matriz comum. Nessa matriz, estão as predisposições biológicas e as experiências de aprendizagem do sujeito, o qual se constituirá como tal a partir da interação entre esses dois aspectos. A teoria da personalidade de Millon abarca a personalidade sadia e também a patológica. Esta última como conseqüência de um funcionamento mal adaptado ao meio, e aquela como reflexo de uma adaptação eficaz. Assim, é possível observar que Theodore Millon valeu-se do estudo da evolução das espécies para construir sua própria teoria. Por isso, ele divulga que o padrão patológico pode ser caracterizado, à guisa de exemplos, por uma flexibilidade escassa em seus comportamentos e atuação, por uma baixa resistência a estressores, restrições interpessoais, distorções percepto-cognitivas, e por compulsões repetitivas. Valendo-se de tal teoria da personalidade, Millon elaborou o MCMI, inventário de personalidade cuja primeira versão foi divulgada em O instrumento, já em sua terceira versão, e cuja proposta é a avaliação psicológica de sujeitos que estejam sob tratamento psicológico ou sob avaliação, conta com escalas para 14 estilos de personalidade e 10 síndromes clínicas. Tal divisão entre escalas e síndromes deve-se ao modelo multiaxial do MCMI e às seqüenciais interpretações clínicas dadas aos seus resultados. Diferenciar escalas de estilos de personalidade das escalas para síndromes clínicas permite ao profissional que interpreta os resultados a distinção entre padrões patológicos de longa duração e sintomas clínicos corriqueiros. No MCMI-III, as desordens de personalidade representadas em escalas são as seguintes: esquizóide, evasiva, depressiva, dependente, histriônica, narcisista, antisocial, agressivo-sadista, compulsivos, passivo-agressivo, fracassados. Aquelas que medem estilos de personalidade severos, podendo estes desembocar em transtornos psicóticos posteriormente: esquizóide, borderline e paranóide. E, por fim, as escalas capazes de mensurar síndromes clínicas: transtorno de ansiedade, transtorno de somatização, transtorno bipolar, distimia, dependência alcoólica, dependência de drogas, síndrome do estresse pós-traumático, desordem de pensamento, depressão maior, transtorno delirante. Bem como descreveu Millon e Davis (2000), uma escala é composta por vários itens referentes ao mesmo construto psicológico, refletindo, conseqüentemente, um sumário de comportamentos particulares que estão expressos nas respostas daqueles itens. Assim, cada escala do inventário é composta por algumas das sentenças de Verdadeiro ou Falso dispostas no mesmo. Essas sentenças, direta ou indiretamente, referem-se ao construto em questão, seja ele dependência de álcool, dependência de drogas, transtorno de personalidade anti-social, estilo de personalidade borderline, etc. Os itens cuja referência é direta ao construto, ou, melhor dizendo, que expressam e representam mais fortemente a presença do construto no sujeito respondente, são denominados itens prototípicos, e por isso atribuem maior pontuação ao escore bruto de tal escala. Porém, quando sua referência não é direta, ou, melhor dizendo, quando não se trata de uma referência extrema e intensa, o item denomina-se item característico, pois ele apenas caracteriza o transtorno ou estilo de personalidade,

3 trazendo elementos que podem ou não estarem presentes no sujeito que apresenta a síndrome ou a personalidade em questão. São itens cujo valor soma menos ao escore da escala. O MCMI-III vem sendo aplicado em alguns CAPS do estado, dentre eles os CAPS para álcool e drogas e os CAPS voltados para a atenção à saúde mental. Decidiuse por verificar como se mostra a escala de dependência alcoólica em quatro CAPS, sendo dois deles CAPS para álcool e drogas, e os outros dois CAPS de saúde mental. Partimos do pressuposto de que a escala de álcool receberia escores brutos superiores nos CAPS cuja atenção é para dependentes de substâncias psicoativas, e que o mesmo não ocorreria nos CAPS cujo foco não seja a reabilitação de sujeitos dependentes de álcool e drogas. A avaliação dos índices de respostas da escala de álcool se deu observando apenas os escores brutos dos sujeitos, e não a interpretação completa do inventário (na qual são necessárias interpretações quanto aos escores relativos, quanto às pontuações nas demais escalas, dentre outros procedimentos). Selecionaram-se os itens da escala de álcool, prototípicos e característicos, e foram analisadas as respostas de Verdadeiro e Falso de todos os sujeitos da amostra vigente, respeitando o valor indicado para cada resposta Verdadeiro (o qual variava de 0 a 2) e o valor indicado para cada resposta Falso (o qual também variava de 0 a 2). MÉTODO O presente estudo vem a ser um recorte e também parte de uma pesquisa de pós-graduação do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a qual tem por objetivo traduzir e adaptar o MCMI-III para ser usado no Brasil como instrumento de avaliação psicológica. Com estes fins, a pesquisa teve de lançar-se a alcançar um mínimo de 1750 respondentes, obedecendo aos critérios de tradução e adaptação de instrumentos, os quais postulam um mínimo de 10 sujeitos para cada item do instrumento. Esse critério deve ser obedecido, pois só assim o instrumento é considerado válido e eficientemente adaptado em novo território. Tal extensa amostra conta com indivíduos saudáveis e com indivíduos de padrão patológico. Para atingir esses últimos, buscaram-se os CAPS como um dos locais para a coleta. Então, nos servimos do banco de dados já existente e selecionamos as quatro instituições: CAPS AD Leste, CAPS AD Norte, CAPS Oeste, e CAPS Currais Novos, estando os três primeiros localizados na cidade de Natal, e o último fixado na cidade de Currais Novos. Os CAPS AD têm como caráter o auxilio ao processo de reabilitação de usuários de álcool e outras drogas, enquanto os demais CAPS tem como foco a atenção a saúde mental. Assim, mantivemos os sujeitos separados por estabelecimento, e, então, selecionamos os 15 itens pertencentes à escala de álcool. Os itens prototípicos somavam dois pontos ao escore bruto do sujeito. Os itens característicos somavam apenas um ponto ao mesmo escore bruto. Dessa forma, observamos como se revelaram os escores brutos em cada CAPS, verificando, para cada item, quantos sujeitos haviam lhe respondido Verdadeiro e quantos sujeitos haviam lhe respondido Falso. O intuito não foi qualificar as respostas de cada sujeito, mas do estabelecimento como um todo. Frase a frase, delineou-se quantos sujeitos lhe responderam Verdadeiro, e quantos restantes lhe responderam Falso, sempre salientando se este era um item prototípico da síndrome de dependência alcoólica ou se apenas um item característico.

4 RESULTADOS Os itens da escala de álcool, com sua pontuação correspondente está na tabela que segue: Sentença Pontuação atribuída ao escore bruto 14. Às vezes sou muito duro e V=1, F=0 cruel com a minha família. 23. Beber nunca me causou V=0, F=2 problemas no trabalho. 41. Fiz coisas estúpidas por V=1, F=0 impulso que me causaram grandes problemas. 52. Eu tenho um problema V=2, F=0 com o álcool que criou problemas para mim e para minha família. 64. Não sei por que, mas às V=1, F=0 vezes digo coisas cruéis só para fazer os outros infelizes. 77. Esforço-me muito para V=2, F=0 controlar o desejo de beber em excesso. 93. Algumas pessoas dizem V=1, F=0 que sou egoísta e que só penso em mim Penso que não sou V=1, F=0 diferente dos meus pais, por estar me tornando um alcoolista como eles Acho que não assumo as V=1, F=0 minhas responsabilidades de família com a seriedade que devia Estive envolvido em V=1, F=0 problemas com a lei algumas vezes Parece que estrago as V=1, F=0 boas oportunidades que me aparecem Quando me sinto triste, V=2, F=0 beber me ajuda Sou muito bom para V=1, F=0 inventar desculpas quando me envolvo em problemas Tenho problemas com o V=2, F=0 álcool que tentei solucionar, Qualidade

5 mas não consegui Ajo muito rápido na maioria das vezes e não penso nas coisas tão bem quanto deveria. V=1, F=0 Itens prototípicos acrescentam dois pontos ao escore bruto do sujeito, pois eles representam e ilustram de modo mais direto o que a escala pretende avaliar. Já os itens característicos, que, de certa forma, tangenciam o transtorno ou o estilo de personalidade em questão, acrescentam no máximo um ponto ao escore bruto. O Caps de Currais Novos, contando então com 16 sujeitos tabulados à época das análises presentes, nos trouxe os seguintes dados quanto aos itens prototípicos: o item 23, Beber nunca me causou problemas no trabalho (F=2, V=0), 7 sujeitos responderam Falso, e 9 responderam Verdadeiro. O item 52, Eu tenho um problema com álcool que criou problemas para mim e para minha família, recebeu 4 respostas Verdadeiro e 12 respostas Falso. Para a sentença 77 ( Esforço-me muito para controlar o desejo de beber em excesso ), também houve apenas 4 respostas Verdadeiro e 12 Falso. A sentença 131 ( Quando me sinto triste, beber me ajuda ) recebeu apenas 2 respostas Verdadeiro e 14 respostas Falso. E o item 152, Tenho problemas com o álcool que tentei solucionar, mas não consegui., recebeu também apenas 2 apontamentos Verdadeiro e 14 apontamentos Falso. E as sentenças que receberam grande número de confirmações ao serem ouvidas por eles foram: Fiz coisas estúpidas por impulso que me causaram grandes problemas (10 responderam afirmativamente); Parece que estrago as boas oportunidades que me aparecem (13 responderam afirmativamente); e Ajo muito rápido na maioria das vezes e não penso nas coisas tão bem quanto deveria (10 responderam afirmativamente). O Caps Oeste continha 17 sujeitos já tabulados à época desse estudo. Ao item 23, Beber nunca me causou problemas no trabalho (V=0, F=2), 9 sujeitos responderam Verdadeiro e 8 sujeitos responderam Falso. O item 52 (Eu tenho um problema com álcool que criou problemas para mim e para minha família) recebeu 3 respostas Verdadeiro e 14 respostas Falso. O item 77 (Esforço-me muito para controlar o desejo de beber em excesso) obteve 5 respostas Verdadeiro e 12 respostas Falso. Já para a sentença 131 (Quando me sinto triste, beber me ajuda), apenas 2 usuários responderam Verdadeiro, enquanto 15 responderam Falso. O mesmo aconteceu com o item prototípico 152 (Tenho problemas com o álcool que tentei solucionar, mas não consegui), para o qual 2 usuários disseram Verdadeiro, a 15 disseram Falso. Os itens característicos obtiveram pontuações bastante equivalentes quando comparamos as respostas Verdadeiro e Falso de cada um deles. Aqueles que receberam confirmações da maioria foram os seguintes: Fiz coisas estúpidas por impulso que me causaram grandes problemas (10 responderam Verdadeiro); Algumas pessoas da minha família dizem que sou egoísta e que só penso em mim (10 responderam afirmativamente); Parece que estrago as boas oportunidades que me aparecem (10 responderam afirmativamente). O Caps Ad Leste, cujo propósito é o de acompanhar o processo de reabilitação de usuários de álcool e outras drogas, contava, então com 46 sujeitos tabulados. De modo geral, todos os itens da escala receberam respostas dos sujeitos que correspondem a pontuações elevadas. Em alguns casos, houve equilíbrio entre as

6 respostas, e em uma minoria de itens, um padrão de respostas na direção de uma pontuação baixa. Dentre os 6 itens prototípicos, apenas 1 obteve um índice de respostas com certo equilíbrio entre Verdadeiro e Falso. Os demais receberam afirmações que direcionam para um escore alto na escala. À sentença 23, Beber nunca me causou problemas no trabalho (V=0, F=2), 33 usuários responderam Falso, enquanto 13 responderam Verdadeiro. O item 52 (Eu tenho um problema com álcool que criou problemas para mim e para minha família) obteve 37 respostas Verdadeiro e 9 respostas Falso. O item 77 (Esforço-me muito para controlar o desejo de beber em excesso) terminou por contar com 31 respostas Verdadeiro e 15 Falso. A frase 131 (Quando me sinto triste, beber me ajuda) foi a única com aparente equilíbrio: 21 Verdadeiro e 25 Falso. O item 152 (tenho um problema com álcool que tentei solucionar, mas não consegui), por fim, recebeu 27 Verdadeiro e 19 Falso. E em relação aos itens característicos, 10 ao todo, em boa parte deles (6), a maioria dos sujeitos do Caps AD Leste deu respostas que atribuem maior pontuação à escala. Os 20 sujeitos tabulados desse estabelecimento deram, aos itens prototípicos, respostas que adicionavam maior pontuação à escala. Isso ocorreu com os cinco itens desse caráter. No item 23 (Beber nunca me causou problemas no trabalho), 4 respostas Verdadeiro e 16 Falso; no item 52 (Eu tenho um problema com álcool que criou problemas para mim e para minha família), 13 respostas Verdadeiro e 7 Falso; no item 77 (Esforço-me muito para controlar o desejo de beber em excesso), 12 respostas Verdadeiro e 8 respostas Falso; no item 131 (Quando me sinto triste, beber me ajuda), 11 respostas Verdadeiro e 9 Falso; e no item 152 (Tenho problemas com o álcool que tentei solucionar, mas não consegui), 11 respostas Verdadeiro e 9 respostas Falso. Houve um equilíbrio considerável em 3 dos 5 itens prototípicos, quais sejam os itens 77, 131 e 152. Neles, a quantidade de respostas Verdadeiro é próxima da quantidade de respostas Falso. E dos 10 itens característicos, os quais recebem 1 ponto para Verdadeiro e 0 (zero) para Falso, 9 receberam a resposta Verdadeiro da maioria dos sujeitos. Em 5 itens, inclusive, a incidência de Verdadeiro foi muito maior que a incidência de Falso, e em outros 3 do grupo de itens característicos, foi possível observar um equilíbrio no padrão de respostas. DISCUSSÃO É possível observar o delineamento geral já previsto para tais populações. Os sujeitos usuários do serviço de saúde mental responderam de modo diferenciado dos sujeitos usuários dos Caps Ad para a escala de dependência alcoólica. Os indivíduos do Caps de Currais Novos e do Caps Oeste (Natal-RN), responderam com um direcionamento contrário à da síndrome do alcoolismo. As respostas que pontuariam mais alto no escore bruto para essa escala não foram as apontadas por eles. De modo geral, eles deram respostas que pontuaram o mínimo possível na escala em questão. Por outro lado, os indivíduos dos Caps Ad foram em sentido oposto: o sentido coerente com o de sujeitos adictos do álcool. Não podemos dizer que há o diagnóstico de dependência alcoólica para tais sujeitos, pois não foi realizado um psicodiagnóstico completo para cada indivíduo, mesmo que apenas usando o MCMI-III.

7 Pudemos apenas observar que, sim, esses sujeitos respondem aos itens de modo diferenciado de sujeitos com outros tipos de psicopatologias e de sujeitos não clínicos. É importante considerar também que uma das possibilidades para a dependência alcoólica não ter sido, até então, salientada nos sujeitos dos Caps de saúde mental, na análise presente, é a possível presença de outras escalas do MCMI-III serem as escalas primárias dentre essa população. É possível que escalas de outras síndromes clínicas ou, ainda, de outros estilos e/ou distúrbios de personalidade sejam as escalas primárias nesses sujeitos, e, por isso, a escala de álcool não recebeu grande destaque nessas análises preliminares. Como, por sua vez, é bastante provável que essa mesma escala seja primária (ao lado da escala dependência de drogas) na população dos Caps Ad, seus itens tiveram incidência maior de respostas em direção ao transtorno. Vale aqui também salientar que optamos por esse tipo de interpretação dos dados não simplesmente por motivos práticos, mas porque observar respostas de verdadeiro e falso dadas por inúmeros sujeitos da pesquisa permite uma aproximação subjetiva do processo. Conhecer a sentença, e então conhecer a quantidade de respostas Verdadeiro e a quantidade de respostas falso permite pensarmos sobre como os sujeitos recebiam essas sentenças, ao passo que eles tinham de dizer, absolutamente, verdadeiro ou falso ao que estava sendo colocado. A análise dessas respostas permite tal aproximação subjetiva, bem como uma experiência de empatia e de reflexão. Tal experiência aplica-se principalmente para os usuários dos Caps AD, onde é esperado haver uma quantidade considerável de usuários de álcool. Para estes, principalmente, ouvir itens como os supracitados tem um valor diferente, especialmente em um contexto de pesquisa, onde eles tinham de falar, via suas respostas, acerca de suas cognições, sentimentos e ações para alguém para eles desconhecido. Por fim, seria interessante comentar acerca de alguns itens em especial que receberam grande incidência de respostas Verdadeiro. Foram eles: 41) Fiz coisas estúpidas por impulso que me causaram grandes problemas; 122) Parece que estrago as boas oportunidades que me aparecem; 166) Ajo muito rápido na maioria das vezes e não penso nas coisas tão bem quanto deveria. No que tange aos sujeitos dos Caps para Álcool e Drogas, pensar que esses itens foram expressamente respondidos como Verdadeiro traz à tona o construto impulsividade, com freqüência presente em sujeitos que fazem abuso de substâncias. E, associada a ele, viriam as conseqüências dos atos impulsivos desses indivíduos, o que os faz pensar que estragaram boas oportunidades e que fez coisas estúpidas. Em relação aos usuários dos outros dois Caps, porém, considerar a expressividade dessas questões nos carrega para um campo mais abstrato e de maiores inferências. É possível que, sim, em decorrência de da psicopatologia, esses sujeitos tenham agido de modo impulsivo algumas vezes, e, por conseguinte, tenham sofrido as conseqüências desses atos. Porém, cabe também contemplar a possibilidade de outras pessoas terem apontado, nesses sujeitos, seus atos impulsivos, estúpidos, e, algumas vezes errados. Esse apontar, por parte de pessoas alheias ao indivíduo portador de saúde mental, pode vir carregado de estereótipos e preconceitos, os quais acabam por construir uma auto-imagem para esses indivíduos que seja muito negativa, e bastante associada a elementos de impulsividade (devido a possibilidade de visões preconceituosas acreditarem que esses sujeitos não pensam, não raciocinam de modo razoável).

8 CONCLUSÃO As análises realizadas corroboram as hipóteses que a escala de álcool seria proeminente nos Caps Ad e não tão prevalente nos Caps II. Observando os itens da escala, eles nos permitem uma maior aproximação subjetiva do problema alcoolismo em se tratando dos sujeitos usuários do serviço do Caps Ad, pois esses itens trazem questões como a tristeza, as implicações familiares devidas ao vício, entre outros. Também foi prevalente e expressiva a incidência de respostas Verdadeiro às sentenças que dizem respeito ao teor impulsividade para os dois tipos de estabelecimentos. Isso pode nos fazer pensar que o uso abusivo de álcool pode estar associado a tal característica, bem como os sujeitos adictos também reconhecem sua personalidade com traços impulsivos. REFERÊNCIAS ANASTASI, A.; URBINA, S. Antecedentes históricos da testagem moderna. In:, Testagem Psicológica. Porto Alegre: ArtMed, 2000, pp CASULLO, M. M. Evaluacion Psicologica. In: S. M. WECHSLER, R. S. GUZZO, Avaliação Psicológica - Perspectiva Internacional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999, pp CRAIG, R. J. Essentials of MCMI-III Assessment. In: S. STRACK (org). Essentials of Millon Inventories Assessment. Nova York: John Wiley & Sons, MILLON, T; DAVIS, R. Trastornos de la personalidad en la vida moderna. Barcelona: Masson, S.A, MILLON, T.; DAVIS, R.; MILLON, C.; GROSSMAN, S. The Millon Clinical Multiaxial Inventory III, third edition (MCMI-III). Minneapolis: Pearson Assessment, URBINA, S. Fundamentos da Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2007.