DESPROVIMENTO DO RECURSO.

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1 DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N 59430/07 APELANTE: ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL DE ITAPERUNA APELADO: CÂMARA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE ITAPERUNA RELATORA: DES CELIA MARIA VIDAL MELIGA PESSOA CLASSIFICAÇÃO REGIMENTAL Nº 1 OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER. USO DA MARCA SPC NO MUNICÍPIO DE ITAPERUNA. LIDE ENVOLVENDO A CÂ- MARA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE ITAPERUNA (CDL- ITAPERUNA) E A ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRE- SARIAL DE ITAPERUNA (ACE-ITAPERUNA). Sentença de procedência, reconhecendo a ilegalidade no uso da marca pela ré. Incontroversa prestação do serviço de proteção ao crédito pela autora desde 1974, bem como a prestação do serviço pela ré mediante o uso da marca SPC na mesma cidade, por força de convênio firmado com a CDL-Rio. Autora que é filiada da CNDL e da FCDL- RJ. Celebração de convênio pela CDL- Rio com a ré, que viola norma estatutária, configurando a criação de um posto avançado da CDL- Rio fora de sua base territorial, onde a ré atuaria como escudo legitimador da invasão da área, sendo certo que apenas a autora (CDL-Itaperuna) poderia prestar o serviço naquele município. Sentença que não merece reparo. Se só pode haver um CDL por município, e se os estatutos asseguram à CDL municipal a prestação do serviço de SPC, a existência da CDL-Itaperuna, por si só, inibe a prestação do serviço naquele município por outra entidade que se sirva da mesma base de dados da CNDL e da FCDL-RJ, como é o caso da ACE-Itaperuna, que tem acesso a tal base de dados de forma indireta, através do sistema cadastral da CDL-Rio. Alegado caráter emergencial da atuação da ACE- Itaperuna, que não se mostra crível porque à época em que seu serviço foi implantado, a CDL-Itaperuna operava regularmente. Eventuais descumprimentos de normas estatutárias e inadimplência pela CDL-Itaperuna, corretamente classificados pela sentença como questão interna corporis, não sendo motivos hábeis a justificar a invasão da base territorial da CDL-Itaperuna pela CDL-Rio, tendo como instrumento a ACE-Itaperuna. Sentença que se mantém por seus próprios fundamentos. DESPROVIMENTO DO RECURSO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 59430/07 que figura como apelante ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL DE ITAPERUNA, sendo apelado CÂMARA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE ITAPE- RUNA,

2 A C O R D A M os Desembargadores da DÉCIMA OITAVA CÂ- MARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Des. Relatora. Trata-se de ação de obrigação de não-fazer com pedido de antecipação de tutela, ajuizada por Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaperuna (CDL- Itaperuna) em face de Associação Comercial e Empresarial de Itaperuna (ACE- Itaperuna), visando o reconhecimento da ilegalidade da operação e prestação de serviços de informação pela ré através da marca SPC (Plus ou nomenclatura similar), e sua condenação a não operar consultas através da aludida marca em Itaperuna. Argumenta que a autora é a única entidade com legitimidade para prestar o serviço de proteção ao crédito através da marca SPC em Itaperuna, posto que associada da FCDL-RJ (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do RJ) e CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas), sendo certo que a marca SPC pertence à CNDL e, por derivação, às CDLs, integrantes da organização do movimento lojista, estando os estatutos de ambas a admitir apenas uma CDL por município. Afirma prestar o aludido serviço, através da marca SPC, na cidade de Itaperuna desde 1974, vindo a ré a usar tal marca indevidamente em 22/08/2002, em violação à Lei de Propriedade Industrial. A sentença julgou procedente o pedido, reconhecendo a ilegalidade no uso da marca SPC Plus (ou similar) pela ré, confirmando a liminar concedida, e condenando a ré ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios fixados em R$ 3.000,00. Fixou o ponto controvertido na legitimidade para o uso da marca SPC, eis que incontroversa a prestação do serviço de proteção ao crédito pela autora desde 1974, bem como a prestação do serviço pela ré mediante o uso da marca SPC na mesma cidade, por força de convênio firmado com a CDL-Rio. Fundou-se em que, estando a prova dos autos a demonstrar que a autora é filiada da FCDL e da CNDL, a celebração de convênio pela CDL-Rio com a ré violou norma estatutária, eis que configurou a criação de um posto avançado da CDL-Rio fora de sua base territorial, onde a ré atuaria como escudo legitimador da invasão da área, em burla às normas estatutárias, uma vez que, por disposição contratual, apenas a autora (CDL- Itaperuna) poderia prestar o serviço naquele município. Destaca a prolação de sentença no processo nº , envolvendo as mesmas partes e o CDL- Rio, na qual se reconheceu a invasão de área pela CDL-Rio, que, por via oblíqua, estava a prestar o serviço fora de sua base territorial. Afastou a sustentada atuação emergencial pela ré, o suposto descredenciamento da autora e a legalidade da autorização concedida à ré. Pautada no princípio da anterioridade, concluiu que a autora é a única apta a prestar o serviço no município de Itaperuna através do banco de

3 dados formado pelas entidades integrantes do movimento lojista, gerenciado pelo CNDL (SPC-Brasil), nos termos do art. 1º e 47 do Estatuto da CNDL, e art. 4º do Regulamento Nacional dos SPC s (fls.821/829). Embargos de declaração a fls.832/833, desprovidos pela decisão de fls.849, que declarou ser induvidoso que a decisão concessiva da tutela antecipada integra a parte dispositiva da sentença. Recurso de apelação, a fls.834/846, em que a ré pugna pela reforma da sentença para que seja restabelecida a prestação do serviço de proteção ao crédito pela ACE-Itaperuna. Alega que a CDL-Itaperuna teve seu DASPC cassado, que não há provas da ilicitude de sua conduta e tampouco cláusula contratual que a mencione. Nega ter invadido área de atuação da CDL-Itaperuna, uma vez que a recorrente passou a prestar o serviço em decorrência da impossibilidade de a CDL- Itaperuna prestá-lo, por estar em débito com os órgãos que a protegem, sendo certa a existência de norma estatutária impeditiva da atuação de filiada em tal situação. Afirma ter sido emergencial o seu credenciamento, a fim de suprir a lacuna oriunda da impossibilidade de a apelada-autora prestar o aludido serviço, por força do descumprimento de seus compromissos tanto com a CNDL-RJ, quanto com a FCDL-RJ, que teriam rescindido seus contratos com a apelada. Admite funcionar com autorização da FCDL-RJ. Não nega que a apelada é filiada da FCDL-RJ e da CNDL, mas insiste que seus laços comerciais foram rompidos. Aduz que a determinação contida na sentença instaurou o caos em toda a estrutura comercial da região. Contra-razões, a fls.850/854, em prestígio da sentença. Recurso tempestivo e preparado (certidão fls.847). É O RELATÓRIO. A controvérsia gira em torno da legitimidade para o uso da marca SPC (Plus ou nomenclatura similar), através de prestação de serviço de proteção ao crédito, no município de Itaperuna. A sentença não merece reparo. O estatuto da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) entidade sem fins lucrativos constituída pelas Federações das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDLs) e Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs) (art. 1º; fls.46), em seu artigo 15, dispõe que: As Câmaras de Dirigentes Lojistas serão, obrigatoriamente, sociedades civis sem fins lucrativos, sem filiação político-partidária ou religiosa, constituídas por empresas que se dediquem ao comércio lojista, só podendo existir uma em cada município. (fls.47-v)

4 Em seu art. 47, prevê: O SERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO SPC BRASIL é órgão de serviço da confederação, com autonomia administrativa e financeira, originado pelas entidades que celebraram instrumento de adesão, que centraliza, na qualidade de processador de dados, os Serviços de Proteção ao Crédito SPCs, podendo prestar também outros serviços, inclusive para terceiros. (fls.50). O estatuto da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Rio de Janeiro (FCDL-RJ) indica (fls.57), como uma de suas diretivas, a manutenção de cadastro atualizado de todas as CDL s filiadas, e dos Serviços de Proteção dão Crédito, SPC s, e das associações Comerciais (art.2º, 1º, inc.ii), além de também prever que As Câmaras de Dirigentes Lojistas, CDL s, obrigatoriamente, serão constituídas como sociedades civis, sem fins econômicos, sem filiação político-partidária ou religiosa, constituídas por empresas que se dediquem ao comércio lojista, às prestadoras de serviços e instituições financeiras, podendo ser criada apenas 1 (uma) em cada município. Também dispõe, em seu art. 16, que: Os Serviços de Proteção ao Crédito, SPC s, são departamentos das Câmaras de Dirigentes Lojistas, CDL s, e tem como objetivo proporcionar maiôs segurança e agilidade às operações a crédito, realizadas por empresas mercantis, instituições financeiras e prestadoras de serviços. Já o estatuto da Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaperuna (C- DL-Itaperuna; fls.200/203) comprova que a apelada foi fundada em 14/01/1974, estando a alínea j de seu art.1º a impor-lhe a observância dos estatutos da CNDL e da FCDL, bem como o pagamento de contribuições a tais entidades. Por sua vez, o comunicado de fls.354, emitido pelo presidente da CNDL-SPC Brasil em 01/11/2004, confirma que no âmbito do município de Itaperuna somente a CDL-Itaperuna, regularmente constituída há mais de 30 anos, pode utilizar a marca SPC Serviço de Proteção ao Crédito. Outrossim, noticia que a Associação Comercial de Itaperuna, que operava o sistema SPC Plus de consulta à base de dados do CDL-Rio, não está autorizada a fornecer informações de SPC, aduzindo que o CDL-Rio foi desligado do intercâmbio de dados do SPC Brasil, por descumprimento de normas estatutárias. Ora, se só pode haver um CDL por município, e se os estatutos asseguram à CDL municipal a prestação do serviço de SPC, a existência da CDL- Itaperuna, por si só, inibe a prestação do serviço naquele município por outra entidade que se sirva da mesma base de dados da CNDL e da FCDL-RJ, como é o caso da ACE-Itaperuna, que tem acesso a tal base de dados de forma indireta, através do sistema cadastral da CDL-Rio. Quanto ao caráter emergencial da atuação da ACE-Itaperuna, como a própria apelante admite (fls.165) que o seu serviço foi implantado em 22/08/2002, e como à época a CDL-Itaperuna atuava de forma regular (como de-

5 monstra o comunicado de fls.354 supracitado), resta patente que a alegação não se mostra crível. No que pertine a eventuais descumprimentos de normas estatutárias e inadimplência pela CDL-Itaperuna, correta a sentença ao concluir que por configurar questão interna corporis não são motivos hábeis a justificar a invasão da base territorial da CDL-Itaperuna pela CDL-Rio, tendo como instrumento a ACE- Itaperuna. Ademais, a legalidade do ato de cassação do DASPC pelo Departamento do serviço de proteção ao crédito da CNDL (ocorrida somente em 01/04/2005; fls.291) é objeto de ação em trâmite na Justiça paulista na qual a CDL- Itaperuna, inconformada com o ato, pugna pelo acesso ao banco de dados do SPC, relevando notar que a própria CNDL, em petição apresentada naqueles autos (fls.717/722), após esclarecer que o SPC é mero órgão interno da CNDL, não possuindo personalidade jurídica própria, concorda com o pedido exordial por não haver justa causa para o desligamento do link de acesso ao SPC. E ainda que assim não fosse, a CDL-Rio não possui atribuição para atuar ou autorizar acesso para atuação fora do município do Rio de Janeiro. Por tais razões, mantendo a sentença por seus próprios fundamentos, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO. Rio de Janeiro, de de DES CELIA MARIA VIDAL MELIGA PESSOA RELATORA