BASQUETEBOL: SISTEMA DE CARGAS SELETIVAS NO BASQUETEBOL E AS ALTERAÇÕES FUNCIONAIS EM UM MÉDIOCICLO DE PREPARAÇÃO
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- Alana de Lacerda Paiva
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1 1 Artigo Aprovado para publicação (revista Internacional) BASQUETEBOL: SISTEMA DE CARGAS SELETIVAS NO BASQUETEBOL E AS ALTERAÇÕES FUNCIONAIS EM UM MÉDIOCICLO DE PREPARAÇÃO Alexandre Moreira 1,2,3, Marcel de Souza 3, Alexandre Okano 2, Leonardo Camacho 3, Antonio Carlos Vendramini 3, Paulo Roberto de Oliveira 2, Antonio Carlos Gomes 4 M&V-Centro de Preparação Física Individualizada 1 Universidade Estadual de Campinas UNICAMP- Faculdade de Educação Física 2 Databasket 3 Clube Atlético Paranaense 4 Universidade Estadual de Londrina UEL 5 Rua República do Iraque, 1263 Campo Belo São Paulo SP-CEP mv-cpfi@uol.com.br RESUMO: O estudo buscou examinar as alterações funcionais representadas pelos indicadores de velocidade e força, em um médiociclo (Oliveira, 1998) do período pré-competitivo, organizado a partir dos fundamentos do modelo de cargas seletivas proposto por Gomes (2002) e utilizado na equipe campeã brasileira de futebol profissional da divisão principal e adaptado na presente investigação para as condições e necessidades do basquetebol. As coletas (exercícios de controle) foram realizadas em dois momentos distintos do médiociclo de treinamento. No início (T1) e ao final (T2) do médiociclo, o qual teve a duração de cinco (5) semanas (microciclos) de treinamento com predominância seletiva das cargas dirigidas ao aperfeiçoamento da resistência especial e da força, com um aumento gradativo do volume de realização dos exercícios de alta intensidade metabólica e de caráter especializado (cargas de velocidade e tarefas técnicas e táticas). Foram realizados os seguintes exercícios de controle: salto vertical- squat jump (SV), salto vertical contramovimento (SVCM), salto horizontal (SHP), salto horizontal triplo consecutivo lado direito (STCD), salto horizontal triplo consecutivo lado esquerdo (STCE) e corrida cíclica-acíclica teste T- de 40metros (C40). Participaram do estudo, nove (09) atletas do sexo feminino, integrantes de uma equipe adulta de basquetebol com idade variando entre 18,4 32,3 anos (média =24,6 anos) participantes do campeonato paulista da divisão principal (A1). Os resultados demonstraram alteração positiva e estatisticamente significante de todas as variáveis utilizadas (C40, SV, SVCM, SHP, STCD, SCTE) do início da preparação para o final do primeiro médiociclo de treinamento (T1-T2). A análise dos dados do presente estudo demonstrou a eficácia da organização do conteúdo de treinamento no médiociclo em questão, para este grupo avaliado, estruturado sob os conceitos do modelo de cargas seletivas. Palavras chaves: velocidade de deslocamento, força explosiva, força rápida, basquetebol, modelo de cargas seletivas.
2 2 1 - INTRODUÇÃO: O conhecimento relativo ao basquetebol deve ser constantemente revisado e atualizado, principalmente por se tratar de um desporto coletivo altamente dinâmico e de constante evolução técnica, tática e, conseqüentemente, física (Moreira, de Souza e Oliveira, 2002). Devido a esta problemática, atenção especial deve ser dirigida na busca do conhecimento inerente aos fatores que influenciam decisivamente no constante aumento da capacidade de trabalho dos basquetebolistas, bem como, as suas relações e contribuições distintas nos diferentes momentos da temporada, associadas à estruturação do processo de preparação. O conjunto de fatores que contribui, e por conseqüência, influencia a capacidade especial de trabalho dos atletas de diferentes modalidades, tem sido alvo de discussão e análise por parte de inúmeras pesquisas e publicações em todo o mundo. A determinação das características antropométricas, fisiológicas e de rendimento motor dos desportistas se tornou bastante popular nas últimas décadas (Jaric et al., 2001). Sob esta ótica, pode-se perceber que o Brasil carece de um material teórico-pedagógicometodológico que demonstre os efeitos das distintas cargas de treinamento na preparação dos basquetebolistas e, ainda, de dados consistentes que ofereçam subsídios importantes relacionados aos principais fatores que determinam a capacidade especial de trabalho e, por conseqüência, que suportem uma organização racional e efetiva do processo de treinamento (Moreira, 2002). Para Matveev (2001), no processo de preparação do desportista, é fundamental compreender e relacionar os fatores que influenciam a preparação, com a dinâmica da resposta de adaptação dos sistemas do organismo do desportista submetidos a estas influências, provocando assim, as alterações no nível de preparação destes atletas. Não se pode limitar a observação de algumas alterações funcionais ou mesmo morfofuncionais no organismo do desportista sem prestar atenção ao essencial, quer dizer, ao que se desenvolveu durante a preparação e que efetivamente condicionou as transformações observadas. A determinação do nível da capacidade especial de trabalho dos desportistas de diferentes qualificações deve se realizar sob um rigoroso controle de determinados elementos da preparação condicional, técnica, psicológica e tática. Para que isso aconteça, é fundamental estabelecer e identificar normativas para as distintas características durante um processo de treinamento plurianual, assim como, conhecer mais minuciosamente a dinâmica da forma do desportista durante um macrociclo ou ciclo anual de preparação e a carga de treinamento empregada, possibilitando-se o entendimento das alterações e das causas destas possíveis modificações no estado de treinamento do desportista. O treinamento físico do basquetebol visa aperfeiçoar e elevar o nível da capacidade de rendimento especial do atleta para a realização das ações motoras do jogo. A organização deste processo deve ser realizada mediante a análise de inúmeros aspectos: desde a predominância das vias metabólicas, passando pela abordagem das concepções metodológicas adotadas, pela organização do conteúdo de treinamento ao longo da temporada, pela utilização de determinados meios e métodos de treinamento com finalidades gerais, específicas e especiais, o calendário competitivo e as competições alvo, o nível de qualificação dos atletas, entre outros (Moreira, 2002). Os treinadores e preparadores físicos em geral analisam as ações motoras do jogo e as solicitações da atividade competitiva, com o objetivo de organizar e distribuir as cargas de treinamento, seu conteúdo, o grau de importância, potencial e especificidade das mesmas. Segundo esta análise, adotam determinados regimes de treinamento e, optam, por distribuir os estímulos ao longo da temporada segundo a organização em ciclos.
3 3 Na maioria das vezes, em nosso país, utilizam-se da metodologia tradicional de estruturação do treinamento com períodos bem definidos, como o período preparatório, competitivo e transitório. O modelo mais comumente utilizado segue o regime de organização das cargas de forma simultânea (na mesma unidade de treinamento ou microciclo) e paralela (fases mais longas da preparação) que prevê o desenvolvimento de uma série de tarefas de treinamento com a utilização de cargas de distinta orientação funcional que visam propiciar o desenvolvimento harmonioso e multifacetado da atleta, segundo a concepção de periodização do treinamento difundida pelo emérito pesquisador russo Matveev. Verkhoshansky (2000) cita dois sistemas de distribuição das cargas de treinamento. O primeiro, reflete a concepção tradicional citada acima, e consiste na organização do treinamento de forma concorrente e de utilização da carga de maneira diluída, compreendendo um treinamento paralelo de várias capacidades motoras e suas manifestações, como a força, a velocidade e a resistência, ao longo de um mesmo período, com o objetivo de desenvolvimento e aperfeiçoamento multifacetado da forma física. Um segundo sistema, caracterizado como contemporâneo (moderno), e que tem sido alvo de utilização e investigação pelos especialistas do desporto mundial atual, é denominado de sistema de cargas concentradas. Este sistema (modelo) preconiza a utilização do método de seqüência conjugada, que compreende a introdução sucessiva no programa de treinamento de meios específicos, separados e concentrados no tempo em função do potencial, direção e efeitos acumulativos e posteriores, ou seja, o sistema prevê a concentração de cargas de diferentes orientações fisiológicas em determinadas etapas concretas da preparação, por conseqüência, tem-se a predominância de estímulos unilaterais em fases distintas do processo de treinamento e uma constante introdução de meios/métodos cada vez mais potentes e com direções bem definidas. O sistema de cargas concentradas tem sido utilizado não somente em desportos de força-velocidade, mas também em jogos desportivos e desportos de resistência. Toledo (2000) demonstrou a eficácia do método em futebolistas da categoria juniores, corroborando com os achados de Oliveira (1998) em um estudo com voleibolistas do sexo feminino da categoria infanto-juvenil. Moreira e Gomes (1997), Moreira, de Souza e Oliveira (2002), Moreira (2002) e Moreira, de Souza e Oliveira (2003) demonstraram a ampla possibilidade de utilização do modelo de cargas concentradas no basquetebol e a eficácia do sistema de treinamento em bloco representada pelo significativo incremento da capacidade especial de trabalho nos momentos das intervenções (competições) principais. No presente estudo, buscou-se observar a dinâmica da carga de treinamento e as alterações da capacidade de trabalho das desportistas envolvidas no treinamento, utilizando-se do modelo de cargas seletivas preconizado por Gomes (2002). Este modelo foi organizado com objetivo de atender ao calendário dos desportos coletivos, em especial, a modalidade de futebol (Gomes, 2002). O autor justifica a utilização deste modelo em virtude do futebol não apresentar tempo suficiente para uma boa preparação dos atletas antes do início dos jogos oficiais. A equipe feminina de basquetebol, que constituiu a amostra deste estudo, incluía-se exatamente na problemática da ausência suficiente de tempo para uma boa preparação antes do inicio da competição principal. Sendo assim, buscou-se investigar a possibilidade de adoção do método de cargas seletivas para uma equipe de basquetebol feminino adulto participante da divisão principal do campeonato paulista, sendo esta competição, o principal campeonato estadual organizado no Brasil.
4 4 Assim como no sistema de cargas concentradas (bloco), o sistema de cargas seletivas tem com alvo principal o aperfeiçoamento das capacidades de velocidade. O volume de treinamento neste modelo oscila muito pouco durante todo o ciclo anual, conseqüentemente, para Gomes (2002), a forma desportiva apresenta uma tendência de melhora durante toda a etapa. O autor e preconizador do modelo de cargas seletivas (Gomes) utilizou o sistema com grande sucesso no futebol, obtendo na ocasião, o título mais importante do calendário do futebol brasileiro - pentacampeão do mundo - conquistando o primeiro lugar no campeonato brasileiro de Gomes (2002) afirma que a velocidade de movimento é de fundamental importância na evolução da performance e preconiza que já no segundo mês de treinamento se dê prioridade ao desenvolvimento do sistema nervoso muscular, sucedendo o trabalho anterior cujo conteúdo predominante deve ser da resistência especial, com crescente utilização dos meios e métodos direcionados para o aperfeiçoamento da força, velocidade e particularidades técnicas e táticas. Assim, o presente estudo buscou observar as alterações funcionais decorrentes da utilização do sistema de cargas seletivas através dos exercícios de controle relacionados às medidas de força e velocidade, ao final de um médiociclo (Oliveira, 1998) pré-competitivo do primeiro macrociclo de preparação do ciclo anual, que coincidiu, com o início da competição principal. Neste momento da preparação realizou-se um percentual superior de utilização das cargas de resistência especial e de força, com um volume menor, porém crescente, relacionado à utilização das cargas de velocidade e de competição. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Caracterização da amostra: Participaram do estudo 09 (nove) atletas do sexo feminino, integrantes de uma equipe adulta participante do campeonato paulista de basquetebol da divisão principal (A1), com idade variando entre 18,4 32,3 anos, média de 24,6, peso corporal entre 55,5 92,1kg, média de 71,5, estatura, entre cm, média de 177,3cm e percentual de gordura (pollock-4 dobras) entre 14,6-37,9%, média de 24,4% Testes : Foram utilizados os seguintes exercícios de controle : Salto Horizontal Parado (SHP): Atleta em pé, pés ligeiramente afastados e paralelos, ponta dos pés atrás da linha. A atleta realizou um movimento de balanceio dos braços como movimento preparatório, semiflexionando os joelhos. O salto foi realizado lançando os braços para frente, estendendo o quadril, joelhos e tornozelos. A atleta realizou 3 tentativas, sendo considerada como controle a melhor tentativa Salto horizontal triplo consecutivo lado esquerdo (STCE): Atleta posicionada em afastamento antero-posterior, joelhos levemente flexionados, atrás da linha de saída. Como preparação para o salto, a atleta realizou uma transferência de peso para a perna detrás, e em seguida, iniciou o exercício. O movimento dos braços foi livre e auxiliou na execução do movimento. Após o primeiro impulso, a atleta tocou o solo pela primeira vez, onde foi considerado o primeiro salto, realizou-se então a repulsão com uma passagem brusca e rápida do amortecimento para a superação (transição rápida excêntrica concêntrica). A atleta foi orientada no sentido de realizar os saltos continuamente sem paralizações, buscando a máxima projeção horizontal. A distância de salto foi medida a
5 5 partir da ponta do pé da frente (posição inicial) até o calcanhar mais próximo da linha de saída ao finalizar o terceiro salto. A atleta realizou 3 tentativas com a perna esquerda, sendo considerada como controle a melhor marca das 3 tentativas Salto horizontal triplo consecutivo lado direito (STCD): Atleta posicionada em afastamento antero-posterior, joelhos levemente flexionados, atrás da linha de saída. Como preparação para o salto, a atleta realizou uma transferência de peso para a perna detrás, e em seguida, iniciou o exercício. O movimento dos braços foi livre e auxiliou na execução do movimento. Após o primeiro impulso, a atleta tocou o solo pela primeira vez, onde foi considerado o primeiro salto, realizou-se então a repulsão com uma passagem brusca e rápida do amortecimento para a superação (transição rápida excêntrica concêntrica). A atleta foi orientada no sentido de realizar os saltos continuamente sem paralizações, buscando a máxima projeção horizontal. A distância de salto foi medida a partir da ponta do pé da frente (posição inicial) até o calcanhar mais próximo da linha de saída ao finalizar o terceiro salto. A atleta realizou 3 tentativas com a perna direita, sendo considerada como controle a melhor marca das 3 tentativas Salto Vertical Contramovimento (SVCM): O salto foi realizado verticalmente, utilizando-se da técnica do contramovimento. O movimento dos braços não foi permitido, assim, a atleta foi orientada a fixar as mãos sobre o quadril a fim de permitir a aferição da força vertical de membros inferiores (M.M.I.I.) sem o auxílio dos braços. A atleta foi orientada a iniciar e finalizar o exercício com os pés apoiados no interior da área da plataforma de contato (Ergojump Test). A atleta manteve os joelhos estendidos durante a fase aérea do salto, a fim de se evitar erros na medição. A medição foi realizada a partir do tempo de vôo, ou seja, ao iniciar o salto a atleta perdeu contato com a plataforma e, ao retornar, o restabeleceu; neste momento, observou-se no LAP TOP no qual a plataforma foi acoplada, a altura do salto vertical em centímetros. A atleta realizou 3 tentativas, sendo considerada como controle a melhor tentativa Salto Vertical-Squat-Jump (SV): O salto foi realizado verticalmente, sem a utilização da técnica do contramovimento, saindo da posição estática com joelhos em 90 o. O movimento dos braços não foi permitido, assim, a atleta foi orientada a fixar as mãos sobre o quadril a fim de permitir a aferição da força vertical de membros inferiores (M.M.I.I.) sem o auxílio dos braços. A atleta foi orientada a iniciar e finalizar o exercício com os pés apoiados no interior da área da plataforma de contato (Ergojump Test). A atleta manteve os joelhos estendidos durante a fase aérea do salto, a fim de se evitar erros na medição. A medição foi realizada a partir do tempo de vôo, ou seja, ao iniciar o salto a atleta perdeu contato com a plataforma e, ao retornar, o restabeleceu; neste momento, observou-se no LAP TOP, no qual a plataforma foi acoplada, a altura do salto vertical em centímetros. A atleta realizou 3 tentativas, sendo considerada como controle a melhor tentativa Teste T - 40 metros (C40): atleta posicionada em pé atrás da linha de saídachegada. Utilizou-se dos seguintes comandos: Atenção, já. O avaliador posicionava-se com o braço direito levantado e o cronômetro na mão, permanecendo a dois passos na diagonal da atleta, a fim de facilitar a visualização do movimento do braço. Simultaneamente ao comando já abaixou-se o braço e disparou-se o cronômetro. A atleta correu em linha reta, percorreu uma distância de 10 metros até uma linha demarcada com um cone; pisou nesta linha e mudou a direção para a esquerda sem cruzar as pernas (parada brusca, seguida de mudança de direção); percorreu, então, uma distância de 5
6 6 metros até uma outra linha também demarcada com um cone; ao pisar nessa linha, a atleta retornou na direção anterior, porém se dirigiu até o outro extremo do T, percorreu, então, desta maneira, mais 10 metros (5 metros até o cone do centro, mais 5 metros até o cone do lado esquerdo); ao pisar na linha (da esquerda), a atleta retornou até o cone do centro, percorreu uma distância de 5 metros e, então, se dirigiu até a linha de saída-chegada, totalizando 40 metros com 4 paradas bruscas, seguidas de rápidas e explosivas mudanças de direção. Foram realizadas 3 tentativas com intervalos de 2 a 3 minutos, sendo considerada como controle a melhor tentativa. 2.3 Local de realização dos testes e meio material Os testes foram realizados na quadra de basquetebol, piso de madeira, no período da manhã, utilizando-se de uma trena da marca Lufkin para a aferição das medidas no SHP, STCD e STCE, do cronômetro manual profissional da marca Timex, para a aferição da velocidade de deslocamento em C40, e da plataforma de contato ErgoJump Test para SV e SVCM. 3 - DESENHO EXPERIMENTAL O estudo desenvolveu-se desde o início da etapa de preparação para o Campeonato Paulista/2003 até a quinta semana de treinamento, a qual, caracterizou o final do primeiro médiociclo do primeiro macrociclo de preparação do ciclo anual. No primeiro médiociclo de treinamento, objetivou-se o aumento do potencial motor do organismo e o aumento das reservas funcionais decorrentes de uma racional organização das cargas de treinamento para o dado período. Segundo os conceitos do sistema adotado (cargas seletivas, Gomes, 2002), determinadas orientações de cargas devem possuir em cada instante da preparação um peso maior sobre outras e, ao longo da preparação, a importância de utilização das diferentes orientações de cargas vai se modificando. Sendo assim, neste primeiro médiociclo de treinamento, predominaram de forma seletiva as cargas de resistência aeróbia e especial (mista), assim como aquelas relacionadas às manifestações de força. Os métodos de treinamento da resistência especial, utilizados preferencialmente durante este médiociclo, foram os contínuos variativos e intervalados extensivos médios, preconizados por Moreira (2002), além dos treinamentos coletivos e jogos reduzidos. No tocante ao treinamento de força, seguiu-se o principio especial do treinamento desportivo, relacionado ao incremento progressivo da carga e do gradativo aumento na utilização de meios e métodos de caráter especial. Utilizou-se da introdução sucessiva (sistema de seqüência conjugada, Verkhoshansky, 2000; Moreira, 2002) de meios e métodos de maior potencial de treinamento, passando-se gradativamente dos exercícios de menor potencial para os de potencial de treino mais elevado. O treinamento de força buscou concentrar gradativamente as tarefas que propiciavam a realização dos movimentos rápidos, como os multisaltos, corrida com tração, entre outros. A musculação realizou-se como meio complementar de força máxima e explosiva, através dos métodos de contraste, breve duração, explosivos e repetidos. As cargas de alta intensidade metabólica e as competitivas foram, neste momento, utilizadas em menor volume e possuíram caráter complementar.
7 7 A velocidade foi desenvolvida através de exercícios de reação, aceleração máxima e de resistência, devido à exigência especial do basquetebol. O volume de utilização dos esforços nestes domínios crescia gradativamente, como pode-se perceber através da figura 1 e do gráfico 1. Foram realizadas 51 sessões de treinamento ao longo das cinco semanas do médiociclo estudado. Durante estas cinco semanas foram realizados apenas quatro jogos. O primeiro momento de coleta de dados (T1) foi realizado durante a primeira semana do médiociclo e o segundo momento (T2), foi realizado no início da sexta semana de treinamento, após a fase de descarga do microciclo anterior. A sexta semana, demonstrada também na tabela 1, não fez parte da investigação experimental, no entanto, as duas sessões de coleta de dados em T2, foram realizadas no dois primeiros treinos do sexto microciclo. Observa-se na tabela 1, o número de jogos durante o médiociclo, assim como, o total de dias de treinamento e as tarefas de treinamento desenvolvidas. O quadro 1 mostra a distribuição das capacidades de treinamento no médiociclo, em minutos. A dinâmica das orientações de carga de treinamento é visualizada a partir do gráfico 1. Tabela 1 Programação do médiociclo de treinamento Total de dias de treinamento Número de sessões Médiociclo de treinamento Jogos oficiais Semana Testes de x x controle Controle de x x x x x x carga velocidade x x x x x força x x x x x X Resistência x x aeróbia Resistência x x x x x X especial Flexibilidade x x x x x X Exercícios de x x x x X x recuperação Exercícios profiláticos / posturais x x x x x X Exercícios técnicostáticos x x x x x x
8 8 Capacidades de Distribuição em minutos treinamento Semanas Resistência especial Flexibilidade Força Velocidade Técnico-tático Quadro 1 Distribuição das capacidades de treinamento em minutos Resistência especial Flexibilidade Força Velocidade Técnico-tático 0 Gráfico 1 Dinâmica das capacidades de treinamento ao longo do médiociclo de treinamento 4. PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS Para a análise descritiva dos dados, foram empregados os valores mínimos, máximos, bem como a mediana e os percentis 25 e 75, apresentados sob a forma de Box plot. Utilizou-se do teste de ordenação sinalizada de pares combinados de Wilcoxon, a fim de determinar o nível de significância das diferenças entre os escores das atletas de T1 para T2. O grau de significância empregado foi de p<0.05.
9 9 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 11.2 Velocidade de deslocamento cíclico-acíclico C Segundos T1 T2 Min-Max 25%-75% Mediana Figura 1 Dinâmica de alteração da velocidade de deslocamento cíclico-acíclico (C40) durante o primeiro médiociclo de preparação A velocidade de deslocamento cíclico-acíclico (Moreira, de Souza, Oliveira, 2003; Moreira, 2002) representada no presente estudo pelos índices alcançados em C40, apresentou significativa e significante melhora de T0 para T1, o que pode ser claramente observado na figura 1. A importância de C40 associada à avaliação do rendimento em desportos que envolvam rápidas e constantes mudanças de direção foi observada por Pauole et al. (2000), que demonstrou a validade e reprodutibilidade do teste T (C40) como uma medida de força explosiva, velocidade de deslocamento e de agilidade. Por sua vez, Moreira (2002) demonstrou a necessidade de uma avaliação criteriosa e minuciosa no tocante a utilização de exercícios de controle que envolvam rápidas mudanças de direção, dada a diferença de alteração que o autor verificou para corridas de velocidade cíclica e acíclica. Sendo assim, no basquetebol, pode-se especular que os exercícios de controle que envolvam paradas bruscas e mudanças rápidas de direção, podem predizer de maneira mais fidedigna a capacidade de velocidade especial. Esta hipótese pode ser corroborada pelos achados de Moreira (2002) que verificou incrementos mais significativos para a velocidade de deslocamento cíclico-acíclico do que para a velocidade de deslocamento cíclico (teste de 30m) durante a concentração de cargas especializadas (de competição e alta intensidade metabólica) em basquetebolistas adultos do sexo masculino submetidos a uma estruturação bicíclica através do sistema de cargas concentradas. Verkhoshansky (2001) afirma que a velocidade é um importante indicador do nível técnico e apresenta um estudo com basquetebolistas do sexo feminino, no qual demonstra através da atividade competitiva das atletas, que maiores níveis de qualificação (liga superior) estão diretamente relacionados com o incremento da velocidade de deslocamento. Em um outro estudo apresentado pelo mesmo autor, refere-se aos índices médios das capacidades de velocidade e força na corrida de 20m de basquetebolistas do sexo masculino, demonstrando que os atletas integrantes da seleção russa apresentavam melhores rendimentos nas variáveis velocidade de deslocamento, força de saída, rapidez de execução e tempo nos 20m, do que os desportistas de qualificação inferior.
10 10 Verkhoshansky (2001) classifica o basquetebol como um desporto de regime alternado de velocidade, e ainda, afirma existir uma alta relação entre os índices de potência anaeróbia máxima com a velocidade de deslocamento. Portanto, assumindo a importância dos índices relacionados ao desempenho em C40, entendendo o exercício de controle em questão como de grande similaridade com os exercícios fundamentais (de competição) no que tange as características dinâmicas de regime alternado de velocidade (Moreira, de Souza e Oliveira, 2003) e observando as alterações significativas decorrentes do sistema adotado no presente estudo, é razoável admitir a eficácia da organização das cargas de treinamento durante o médiociclo em questão, visto que, ao final do mesmo, ter-se-ia a etapa das intervenções mais importantes, quer dizer, o período de competição. Verkhoshansky (1999) considera a velocidade de deslocamento como o critério principal de avaliação da efetividade do programa de treinamento e o objeto de treino fundamental a ser desenvolvido. Gomes (2002) afirma que assim como no sistema de treinamento em bloco (cargas concentradas), o alvo do aperfeiçoamento no treino realizado sob os conceitos do sistema de cargas seletivas está nas capacidades de velocidade e preconiza, para o segundo mês da estruturação, um incremento do treinamento do sistema nervoso muscular, intensificando o aperfeiçoamento da velocidade de movimento. Durante o médiociclo de investigação observa-se (tabela 1 e gráfico 1) uma crescente utilização de um maior volume de treino destinado ao aperfeiçoamento da velocidade de deslocamento, no entanto, mesmo entendendo que a predominância das orientações de carga de treinamento destinaram-se à resistência especial e ao treinamento técnico-tático, verificouse alterações importantes e significantes da velocidade de deslocamento, podendo-se prognosticar uma incremento considerável para o próximo médiociclo, no qual, o peso específico das cargas de velocidade e de competição, seria relativamente maior e, ainda, que a base construída a partir do primeiro médiociclo, possibilitaria ganhos de grande magnitude e de considerável sustentação, permitindo o alcance e a manutenção de uma ótima forma desportiva para os momentos mais importantes da competição. 36 Força explosiva de salto vertical sem contramovimento SVSJ 32 Centímetros T1 T2 Min-Max 25%-75% Mediana Figura 2 Dinâmica de alteração da força explosiva de salto vertical sem contramovimento (SVSJ) durante o primeiro médiociclo de preparação
11 11 36 Força explosiva de salto vertical com contramovimento SVCM Centímetros T1 T2 Min-Max 25%-75% Mediana Figura 3 Dinâmica de alteração da força explosiva de salto vertical com contramovimento (SVCM) durante o primeiro médiociclo de preparação As figuras 2 e 3 demonstram a dinâmica de alteração da força explosiva vertical, sem e com a utilização do contramovimento, respectivamente. Nota-se, assim como para C40 (em C40 observa-se o incremento da capacidade pela diminuição do tempo para percorrer os 40m) o aumento importante e estatisticamente significante da força explosiva vertical de membros inferiores, tanto relacionado à utilização da energia elástica armazenada a partir da ação muscular reversível (SVCM), quanto ao rendimento associado mais especificamente aos componentes contráteis e realizados a partir da tensão voluntária normal, identificados pelos resultados de SVSJ. Estas particularidades relacionadas ao SVCM e SVSJ foram largamente investigadas pela literatura especializada, assim como, as diferenças mecânicas e neuromotoras existentes entre os mesmos (Michael e Cisar, 2001; Badillo e Ayestarán, 2001; Zatsiorsky, 1999). Moreira, de Souza e Oliveira (2003); Drisst, Vandewalle e Monod, 1998; Barbanti, 1996; Manso, Valdivielso e Caballero, 1996; Young, Mc lean e Ardagna (1995), entre outros, observam a correlação importante entre as medidas de força e velocidade. Os resultados apresentados no presente estudo parecem indicar a mesma tendência de incremento significante, tanto para a velocidade, quanto para a força explosiva vertical, assim como, para SHP, assumida no presente estudo como uma força de característica mais generalizada do que SVCM e SVSJ, dada a correspondência dinâmica entre as os exercícios de controle e os exercícios fundamentais da modalidade.
12 Força explosiva de salto horizontal SHP Metros T1 T2 Min-Max 25%-75% Mediana Figura 4 Dinâmica de alteração da força explosiva de salto horizontal (SHP) durante o primeiro médiociclo de preparação 6.6 Força rápida de salto horizontal triplo consecutivo lado direito STCD Metros T1 T2 Min-Max 25%-75% Mediana Figura 5 Dinâmica de alteração da força rápida de salto horizontal triplo consecutivo lado direito (STCD) durante o primeiro médiociclo de preparação
13 Força rápida de salto horizontal triplo consecutivo lado esquerdo STCE Metros STCE STCE2 Min-Max 25%-75% Mediana Figura 6 Dinâmica de alteração da força rápida de salto horizontal triplo consecutivo lado esquerdo (STCE) durante o primeiro médiociclo de preparação A força rápida, avaliada a partir dos exercícios de controle STCD e STCE, demonstra a mesma dinâmica de evolução verificada para C40, SVCM, SVSJ e SHP, ou seja, esta importante manifestação de força, entendida por Kuznetsov (1981) como o tipo de força revelado durante a superação de resistências que não alcançam as magnitudes limites e não ocorrem com a máxima aceleração, foi avaliada e utilizada como indicador, a partir de saltos triplos ou sêxtuplos alternados ou consecutivos, em diversos estudos nos desportos coletivos, em especial no basquetebol, (Moreira, 2003; Moreira, de Souza e Oliveira, 2002; Oliveira, 1998; Moreira e Gomes, 1997). A força rápida, no presente estudo, apresentou melhora significante decorrente da utilização do modelos de cargas seletivas na equipe feminina de basquetebol estudada, tanto para STCD quanto para STCE. Esta tendência similar de incremento tanto para o lado direito, quanto para o lado esquerdo, é extremamente importante, pois, por exemplo, nos estudos de Moreira (2002) verifica-se que a resposta de adaptação da força rápida, quando medida através de exercícios de controle de saltos consecutivos para as duas pernas de forma diferenciada, pode apresentar ocorrências diversas, justificadas pela distinta solicitação entre a perna de apoio e a perna contrária. É possível admitir que tais ocorrências possivelmente seraão mais acentuadas durante as etapas cujo conteúdo predominante esteja relacionado às cargas de competição, o que levaria a uma utilização de maior magnitude de trabalhos unilaterais e específicos relacionados à força rápida e fundamentalmente, a mecânica específica dos movimentos de competição. 6- CONCLUSÃO A análise da dinâmica das alterações funcionais permite afirmar a eficácia dos sistemas de cargas seletivas no médiociclo pré-competitivo, para a equipe estudada. A preferência de utilização mais volumosa dos exercícios relacionados ao desenvolvimento da resistência especial no médiociclo pré-competitivo influenciou favoravelmente o incremento das medidas de força e de velocidade.
14 14 Tendência similar foi apresentada para a força explosiva vertical com e sem a utilização do contramovimento, força horizontal, força rápida e velocidade de deslocamento, observada através do incremento significante do rendimento para todas as variáveis estudadas, variáveis estas consideradas fundamentais para a capacidade especial de trabalho das atletas, devido as exigências específicas do basquetebol, relacionadas aos esforços rápidos, explosivos, com mudanças constantes e variadas de direção e de intensidade das tarefas, determinadas pela natureza acíclica e de regime alternado do jogo de basquetebol. O modelo estudado parece atender eficientemente as necessidades do desporto coletivo, no caso o basquetebol, no que tange as particularidades do calendário e do tempo destinado para a solução das tarefas de treinamento e de competição. Faz-se necessária a realização de um maior número de pesquisas relacionadas à utilização do sistema de cargas seletivas no basquetebol, assim como a adoção de diferentes variantes de estruturação a partir do sistema. Fazem-se necessárias outras investigações, não somente relacionadas, a estruturas intermediárias, no caso o médiociclo pré competitivo de treinamento, mas fundamentalmente, aquelas que permitem observar a dinâmica de alteração ao longo de um macrociclo de preparação, ou ainda, as associadas aos ciclos de longo prazo. Pode-se considerar os achados do presente estudo, o qual observou as alterações funcionais decorrentes das cargas utilizadas no médiociclo, organizadas através do sistema de cargas seletivas, da grande utilidade para a abertura de um novo caminho metodológico no tocante a organização do treinamento no basquetebol, visto que, o presente estudo, parece ser a primeira investigação conhecida da utilização do sistema de cargas seletivas no basquetebol adulto. 7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BADILLO, J.J.G.; AYESTARÁN, E.G. Fundamentos do treinamento de força aplicação ao alto rendimento desportivo. 2.ed., Porto alegre, Ed. Artmed, BARBANTI, V. Treinamento Físico Bases Científicas. 3.ed., São Paulo, Ed. Balieiro, DRISST, T.; VANDEWALLE, H.; MONOD, H. Maximal power and force-velocity relationships during cycling and cranking exercises in volleyball players. Correlation with the vertical jump tests. The journal of sports medicine and physical fitness, v.38, n.4, p , GOMES, A.C. Treinamento desportivo estruturação e periodização. Porto Alegre, Ed. Artmed, KUZNETSOV. V.V. Preparacion de fuerza en los deportistas de las categorias superiores. Ed. Orde, Havana, MANSO, J.M.G.; VALDIVIELSO, M.N.; CABALLERO, J.A.R. Bases teóricas del Entrenamianto Desportivo. Principios y Aplicaciones. Madrid, Ed. Gymnos, MATVEEV, L.P Teoría general del entrenamiento deportivo. Barcelona, Ed. Paidotribo, 2001 MOREIRA, A.; GOMES, A.C. Controle da evolução do nível de performance dos basquetebolistas de alto nível. São Paulo, Anais do Congresso internacional do desporto e atividade física CIDAF-FMU, 1997.
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