IMPLANTAÇÃO DA METODOLOGIA DE ENSINO A DISTÂNCIA NA ESCOLA DA MAGISTRATURA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO: UMA IDEIA, VÁRIAS DESCOBERTAS.

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1 1 IMPLANTAÇÃO DA METODOLOGIA DE ENSINO A DISTÂNCIA NA ESCOLA DA MAGISTRATURA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO: UMA IDEIA, VÁRIAS DESCOBERTAS. Porto Alegre, 2 de maio de 2010 Isabel Cristina Lima Selau Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região icl@trf4.gov.br Alberto Pietro Bigatti Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região apg@trf4.gov.br Ricardo Lisboa Pegorini Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região rlp@trf4.gov.br Rodrigo Meine Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região rom@trf4.gov.br Categoria A - Estratégias e Políticas Setor Educacional 4 Educação Corporativa Natureza B Descrição de Projeto em Andamento Classe 3 Experiência Inovadora

2 2 RESUMO Este trabalho tem como objetivo relatar o processo de implantação da metodologia de ensino a distância na Escola da Magistratura do TRF4R, experiência pioneira entre Escolas institucionais da Magistratura. Descreve as estratégias adotadas ao incorporar esta modalidade de ensino para o aperfeiçoamento e a atualização profissional dos magistrados da Justiça Federal da 4ª Região (RS, SC e PR) e as soluções inovadoras desenvolvidas durante este processo, respeitando as bases metodológicas do ensino a distância (EaD). PALAVRAS-CHAVE TRF, Justiça Federal, Emagis, implantação de EaD em instituição governamental, pesquisa, capacitação, aprimoramento, magistratura, CNJ, Enfam. A Justiça Federal, um cenário O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4R), com sede em Porto Alegre e atuação nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, é um órgão do Poder Judiciário Federal com origem na Constituição de 1988, criado com o objetivo de descentralizar e agilizar os serviços judiciais, ampliando o acesso da população ao Judiciário Federal. A Justiça Federal da 4ª Região (JF4R) conta com mais de 400 juízes federais distribuídos em seus três Estados. Atualmente, a JF4R configura-se como a região de maior interiorização da Justiça Federal no país. Neste contexto está inserida a Escola da Magistratura (Emagis) do TRF4R. Trata-se de escola Institucional, criada no ano de 2001, que atende às necessidades de capacitação, aperfeiçoamento e qualificação dos magistrados da Justiça Federal da 4ª Região. A Emagis cumpre, portanto, uma importante função no que diz respeito ao fortalecimento pessoal e profissional do quadro de magistrados da Justiça Federal da 4ª Região, um dos objetivos reforçados no atual Planejamento Estratégico do TRF4R, ratificado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no estabelecimento de metas para o ano de 2010 para o Poder Judiciário Nacional.

3 3 As facilidades que o EaD disponibiliza são fundamentais em uma organização como a da Justiça Federal da 4ª Região, na qual o público-alvo (os magistrados) das atividades de ensino encontra-se disperso nos três estados da região sul. Em termos econômicos, com a adoção da modalidade educacional restringem-se despesas com deslocamentos e diárias. Além disso, o magistrado não precisa, nesta situação, afastar-se de suas funções jurisdicionais para fins de qualificação nem é gerada a necessidade de substituição do juiz durante o período do(s) curso(s), fatos relevantes para o dia-a-dia do Judiciário. A decisão de implantar EaD na Emagis Considerado este cenário de dispersão territorial de nossos magistrados e de necessidade efetiva de aperfeiçoamento, determinada pela Emenda Constitucional 45/2004, dispondo que, para a promoção na carreira pelo critério de merecimento, deverá o magistrado participar com aproveitamento de cursos de capacitação ao longo de sua carreira, chegou-se à conclusão de que nenhuma outra alternativa traria tantos benefícios globais como trouxe a do ensino à distância, conforme será demonstrado por meio deste relato da implantação da modalidade em nossa Escola. Em 2008, o Desembargador Federal Paulo Afonso Brum Vaz, diretor da Emagis na época, traz a ideia que desvendaria inúmeras descobertas: o desejo de implantar o EaD. A Emagis dá início, então, ao processo de incorporação da metodologia de ensino a distância com o objetivo de disponibilizar mais uma ferramenta para aperfeiçoamento e atualização nas matérias relativas à atuação jurisdicional e interdisciplinares ao Direito, com foco constante na qualificação dos processos de ensino-aprendizagem. O início desse percurso deu-se com pesquisa sobre propostas pedagógicas compatíveis com os formatos de curso a serem adotados por nossa escola, bem como estudos sobre novas tecnologias de comunicação e de informação. As principais etapas deste processo inicial foram: 1. Pesquisa sobre Educação a Distância, conceituação, atores envolvidos, pedagogia, tecnologias disponíveis, objetivos, facilidades, obstáculos, processo de

4 4 avaliação; 2. Pesquisa em instituições de ensino público e privado sobre experiências em EaD; 3. Pesquisa junto ao Conselho Federal de Justiça para verificar as experiências em EaD: tipo de cursos ofertados, duração, sistema de acompanhamento e avaliação proposto; 4. Levantamento de necessidades junto aos magistrados federais da 4ª Região para verificar interesse de cursos que poderiam ser oferecidos na modalidade a distância; 5. Pesquisa sobre sistemas informáticos capazes de atender à demanda projetada pela Emagis em termos de Ambiente Virtual de Aprendizagem. Qualificação de pessoal: uma realidade, uma necessidade Permeando o processo de pesquisas de campo e de descobertas teóricas a cerca do desafio que a EaD representava para a Emagis, identificou-se a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre as características e peculiaridades deste novo tipo de modalidade educacional. Com esse objetivo, a Emagis procurou capacitar seu quadro de funcionários quanto às condições de utilização do EaD: suas vantagens e desvantagens; suas possibilidades e limitações; seus pontos fortes e pontos fracos. Dessa forma, trouxe para o seu quadro de pessoal um especialista na área de Metodologia do Ensino a Distância, proporcionou a seus servidores a participação em cursos de formação nesta área, e a própria coordenadora do setor pós-graduou-se em curso específico sobre o tema. Um panorama geral sobre o assunto foi estendido, em forma de palestras e apresentações, para todos os funcionários da Emagis, tendo como objetivo nivelar o conhecimento das noções básicas a respeito da utilização desta metodologia de ensino. Escolhendo um sistema de gerenciamento de conteúdo educacional Entendido com um processo orgânico, em que decisões tecnológicas e de cunho político-educacionais são tomadas simbioticamente, esta etapa da implantação culminou com a escolha do sistema de gerenciamento de conteúdo educacional (Learning Management System). A Emagis optou pela adoção da plataforma Moodle considerando as suas principais vantagens:

5 5 1. É um sistema gratuito; 2. é amplamente utilizado no mundo todo por diversas instituições de ensino e corporações privadas (o que atesta a sua robustez e adaptabilidade às necessidades de cada instituição); 3. é customizável e de baixa complexidade do ponto de vista de sua utilização pelo usuário final; 4. agrega as principais ferramentas necessárias para o oferecimento de cursos a distância (fóruns, questionários, capacidade de operar nos formatos mais comuns de arquivos eletrônicos). Outro fator determinante nesta escolha foi o fato de, por tratar-se de software livre, com seu código de programação aberto, o Moodle contar com desenvolvedores aperfeiçoando o sistema para as mais diversas finalidades e, por isso, podendo-se acrescentar módulos e funcionalidades conforme a necessidade imediata do programa de ensino de cada instituição. Degustando a metodologia No período de abril a julho de 2008, o Moodle foi instalado pela Diretoria de Tecnologia de Informação do TRF4R e procedeu-se ao processo de configurações e testes deste ambiente para a sua utilização pela Emagis. Para testar o Ambiente Virtual de Aprendizagem, seus mecanismos, funcionalidades, capacidade e nível de confiabilidade, a equipe do EAD Emagis desenvolveu um curso-piloto chamado Elementos Essenciais do Sabor. Este curso, promovido de julho a novembro de 2008, envolveu a participação de todos os servidores da Emagis, na época 12 pessoas. Valeu-se desta experiência também para preparar a equipe em termos de desenvolvimento de estratégias e táticas pedagógicas possíveis na plataforma Moodle. O curso constituiu-se de 3 módulos semanais, usando ferramentas de texto e ilustração (html, doc, pdf); de interação assíncrona (Fóruns) e síncrona (Chat); ferramentas de avaliação de aprendizagem (questionário de múltipla escolha) e pesquisa de avaliação a respeito do curso, a qual registrou uma excelente receptividade por parte da turma, obtendo índices de satisfação acima de 85%. Oficializando o EaD na Emagis

6 6 Tendo testado o ambiente virtual de aprendizagem, analisado suas possibilidades de aplicação e desenvolvido estratégias pedagógicas para o melhor aproveitamento da metodologia de ensino a distância, a equipe EAD Emagis julgou estar apta a oferecer um curso baseado nesta modalidade. Em novembro de 2008 é emitido um ofício informando a Escola Nacional de Aperfeiçoamento de Magistrados Enfam (órgão máximo nacional regulador das atividades de ensino destinadas ao aperfeiçoamento de magistrados) do processo de implantação da modalidade de ensino a distância na Emagis e da realização de seu primeiro curso, seu primeiro fruto. Rumo, foco e objetivos: Levantamento de Necessidades de Aperfeiçoamento LNA Seguindo o planejamento de implantação do EaD, em novembro de 2008 a Emagis realiza um Levantamento de Necessidades de Aperfeiçoamento junto à magistratura federal da 4ª região. A partir da análise dos resultados deste levantamento, uma das demandas verificadas foi a de abordar a Reforma Ortográfica, em vias de entrar em vigor nos países de Língua Portuguesa no início de Lançamento do EAD Emagis No dia 24 de abril de 2009, a Emagis oficializa o lançamento de seu programa de ensino a distância numa cerimônia com a presença do Desembargador Federal Vilson Darós, atual Presidente do TRF4R, do Diretor da Emagis na época, Des. Federal Paulo Afonso Brum Vaz, diversas autoridades convidadas, além dos participantes do curso sobre Produção Textual. Como convidada especial, a professora Gardênia da Silva Abbad, professora de pósgraduação na área de psicologia da Universidade de Brasília, proferiu uma conferência, oficializando a implantação do EaD no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Reforma Ortográfica, consolidando nossa metodologia

7 7 O curso de Estudos do Texto Jurídico, constituído de 40 horas/aula, programado para o período de abril a julho de 2009, marcou o lançamento da oferta de cursos na modalidade a distância na Emagis, registrando um total de 34 magistrados inscritos. Estruturado com um planejamento minucioso, procurando prever todos os movimentos da execução das etapas pela equipe e registrado num cronograma detalhado, o curso procurou deixar um espaço mínimo para improvisações, com o conteúdo didático tendo sido produzido quase inteiramente antes do período de inscrições. O conteúdo didático era enviado semanalmente pelas conteudistas por correio eletrônico, adaptado ao formato eletrônico pela equipe do EAD Emagis, que tomava a decisão de qual formato seria mais conveniente para disponibilizar no AVA (texto, imagem, filme ou animação) e no próprio ambiente as tutoras revisavam este material, informando à equipe eventuais correções ou adaptações a serem feitas antes da distribuição para os participantes. Para garantir a dinâmica de produção/distribuição, manteve-se um canal constantemente aberto de comunicação (reuniões presenciais semanais, telefone e correio eletrônico) entre a equipe do EAD Emagis e as tutoras contratadas. A distribuição do conteúdo era feita no formato de módulos semanais, sendo disponibilizados progressivamente aos participantes conforme calendário estabelecido no programa do curso. A cada módulo correspondia uma bateria de atividades de avaliação, na forma de questionários ou participações nos fóruns propostos. Os debates gerados nos fóruns do AVA tornaram-se atrativos fundamentais para que os participantes trocassem ideias entre si e com as tutoras do curso, mantendo sempre alto o nível de motivação do grupo. Foram feitas duas pesquisas de satisfação no decorrer do curso. Na primeira, foram coligidas impressões dos participantes a respeito das condições técnicas oferecidas e serviços de suporte (acesso ao ambiente, acesso a arquivos multimídia, atendimento da monitoria, acesso aos fóruns, etc); na segunda pesquisa a ênfase recaiu sobre o modelo pedagógico/instrucional empregado: conteúdo, objetivos de avaliação, proporção entre exemplos, conteúdo e

8 8 exercícios, aplicabilidade profissional do conteúdo, ritmo da exposição, carga horária, etc. Com as informações coletadas, a Emagis pôde dispor de importantes subsídios capazes de confirmar ou corrigir as decisões tomadas a respeito do modelo pedagógico adotado, assim como pôde-se delinear claramente um quadro das possibilidades técnicas e operacionais do EaD que poderia ser desenvolvido para a nossa realidade educacional. Formação de tutores O passo seguinte seria formar a próxima geração de tutores dentro do âmbito de atuação da Emagis. Normalmente, magistrados especialistas num determinado assunto jurídico, tema doutrinário ou área de conhecimento de interesse específico da magistratura são contratados como professores para cursos oferecidos por nossa Escola. Definiu-se que estes futuros tutores teriam de passar por uma formação específica para atuarem como tutores em cursos a distância, tanto em termos de adaptação ao ambiente virtual como em termos de assimilação dos conceitos, práticas e metodologia do ensino não-presencial. Com este objetivo, a Emagis contratou empresa especializada na formação de tutores em ensino a distância, promovendo um curso de Capacitação Pedagógica em EaD, curso com carga horária de 75 horas/aula para o qual 30 magistrados se inscreveram. Os alunos tornam-se tutores Como resultado direto deste empreendimento e percebendo as características vantajosas da modalidade de ensino a distância para um projeto de qualificação técnica nos moldes que a Emagis desenvolveu, dois alunos do curso de Capacitação Pedagógica para EaD, magistrados com atuação em assuntos de natureza jurídico-previdenciária, proporiam a realização de um curso a distância com objetivos bem definidos. O Curso de Perícia Judicial Previdenciária, com 80 horas/aula distribuídas em 9 semanas, foi oferecido com o objetivo principal de situar o profissional

9 9 nomeado como perito médico em processos previdenciários na dinâmica de concessão administrativa e judicial de um benefício previdenciário por incapacidade ou de um benefício de prestação continuada da assistência social. Uma equipe multidisciplinar de especialistas médicos, sob a coordenação dos magistrados capacitados pela Emagis, foi constituída, englobando especialidades como Ortopedia, Psiquiatria, Cardiologia, Neurologia, e outras de mesma importância dentro do contexto de ação da concessão jurídica de benefícios previdenciários. Para certificação do curso, conveniou-se a Emagis com a Sociedade Brasileira de Perícias Médicas. Com 150 vagas oferecidas, o curso atingiu a marca de 780 inscrições. Coroando o uso da metodologia EaD No final do ano de 2009, dois fatos coroaram a iniciativa de nossa Escola relatada até o momento: 1. A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), que como foi dito, é o órgão maior do Judiciário brasileiro no campo da educação, escolheu o Ambiente Virtual de Aprendizagem de nossa Escola como padrão a ser adotado por ela, assinando Acordo de Cooperação Técnica para que viabilizássemos o seu AVA e treinamento pertinente; e 2. Um evento que é tradicionalmente desenvolvido por nossa Escola presencialmente, o Encontro dos Juizados Especiais Federais, ganhou sua versão a distância obtendo grande êxito e superando as expectativas por parte de seus participantes, que conseguiram extrair da plataforma a distância o melhor que ela poderia fornecer em termos de debates e aprendizado. Com tutores também gerados no Curso de Capacitação em EaD promovido pela Emagis, foi viabilizado o Fórum Estratégico dos JEFs, totalmente online. Amadurecimento No ano de 2010, a realidade da Emagis é outra. Se nos seus oito primeiros anos era uma Escola eminentemente presencial e no ano de 2008 começou uma marcha no sentido da virtualização de seu programa de ensino,

10 10 neste ano de 2010, a Emagis conseguiu integrar harmoniosamente seus objetivos de treinamento e aperfeiçoamento numa programação que mescla atividades presenciais, semi-presenciais e a distância. Mesmo tendo ocorrido mudança em sua Direção, a nova gestão, liderada pelo Des. Federal Tadaaqui Hirose, manteve a relevância do EaD. Atualmente, a sua programação tem 20% de cursos presenciais, 30% de atividades semi-presenciais e 50% totalmente a distância. O que sempre se disse na Emagis é que o EaD não representa em hipótese alguma a aniquilação do ensino tradicional presencial, mas sim, a possibilidade de democratização e maior abrangência de nossas atividades de ensino. Por meio de um aperfeiçoamento necessário, vivo e pulsante que colabore para a melhoria da Justiça brasileira. Aperfeiçoa-se o magistrado, ganha a sociedade. Alcance nacional, a vitória das descobertas A vitória mais recente do EAD Emagis também se confunde com uma vitória para a sociedade brasileira: atendendo à meta do Conselho Nacional de Justiça (CNJ, o órgão regulador da Justiça brasileira) de treinar todos os magistrados do país em Administração Judiciária, a Enfam, mais uma vez, projeta parceria para que a Escola da Magistratura do TRF4R, a nossa Emagis, viabilize conjuntamente essa ambiciosa meta. Planeja que a Emagis realize o treinamento para todos os magistrados do Judiciário Nacional por meio de seu Programa de Educação a Distância. Humildade Nesse processo de implantação, nossa equipe fez inúmeras descobertas. A principal delas é que um bom programa de EaD é feito com ingredientes simples: dedicação, trabalho e paixão. A Emagis, hoje, é uma apaixonada pelas possibilidades da educação a distância e, humildemente, está pronta para todo o aprendizado que tem pela frente neste universo da educação. Pretende um dia ser lembrada por ter feito bem a lição de casa e ter contribuído de alguma forma para o aprimoramento do judiciário brasileiro.