DA TERRA UM NOVO PATRIMÓNIO PARA UMA NOVA ECONOMIA CO-FINANCIADO POR:
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- Miguel Vitorino Figueiredo Peixoto
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1 E se pensássemos da Terra... como um imenso condomínio? O QUE Sistemas Climático e Oceânico NOS UNE A TODOS Um Património Natural Intangível para a Humanidade CONDOMÍNIO DA TERRA UM NOVO PATRIMÓNIO PARA UMA NOVA ECONOMIA CO-FINANCIADO POR:
2 Um conceito que enquadra uma solução A experiência demonstrou que o uso partilhado de bens, ou mesmo um sistema, por um grande grupo de indivíduos, resulta numa inevitável "tragédia dos comuns". Os sistemas naturais globais, tais como os sistemas climático e oceânico, são impossíveis de dividir ou de conter dentro dos limites físicos de uma fronteira. Por essa razão, somos confrontados com a sua utilização desordenada à escala da comunidade global. O quadro legal do condomínio é uma forma de propriedade híbrida, desde há muito utilizada em edifícios, comunidades rurais e na gestão de recursos comuns entre países vizinhos. Ao definir os limites da propriedade individual e da propriedade comum, separa e define obrigações e tarefas de gestão, conciliando os interesses individuais e coletivos. Inspirado por este exemplo, o Condomínio da Terra constitui uma proposta de harmonização da tensão existente entre os interesses comuns ao conjunto de toda a humanidade ao longo das várias gerações na manutenção dos recursos naturais vitais e os interesses económicos imediatos, evitando a tragédia dos comuns à escala do ecossistema global. Esta proposta inclui dois elementos essenciais: 1) Um estatuto jurídico internacional para os sistemas globais naturais 2) Um sistema de contabilidade e de gestão global 1) Sistemas Naturais como Património Comum da Humanidade A percepção da existência de sistemas naturais globais, que colocam todos os seres humanos na direta dependência da qualidade destes recursos vitais, reclama uma nova resposta jurídica de harmonização destas relações humanas alargadas à escala global. Identificados estes novos recursos, há que lhes reconhecer um estatuto jurídico, atribuí-los a alguém, e uma vez que são 1
3 limitados e que se esgotam, é necessário construir um sistema de gestão destes recursos. Até aos nossos dias, as alterações climáticas, através da Resolução 43/53 da Assembleia Geral da ONU, têm sido consideradas como "uma preocupação comum da humanidade, uma vez que o clima é uma condição essencial que sustenta a vida na Terra. " A crise climática tem de ser mais do que um problema ou uma preocupação, e no plano jurídico internacional terá de surgir uma qualificação jurídica compatível com o carácter vital, intergeracional e planetário destes recursos. Da mesma forma os problemas ecológicos do espaço oceânico estão estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados como um único ecossistema no seu todo. A necessidade de respostas jurídicas a esta realidade global dos sistemas naturais, pode passar pela criação de um novo objecto de direito: A do reconhecimento de um novo património, o património natural intangível, que como recursos vitais, deve pertencer a toda a Humanidade e por todas as gerações. A aplicação dos princípios fundamentais dos contornos jurídicos do conceito de Património Comum da Humanidade, aos sistemas climático e oceânico, como "Património Natural Intangível da Humanidade" pode constituir um passo para superar o "buraco negro" jurídico que estes sistemas representam atualmente, resultando numa indefinição de direitos e deveres relativos ao uso e benefícios realizados nestes sistemas globais. Esta noção de Património Natural Intangível pode constituir o suporte estrutural legal para capturar factores vitais que até hoje a economia considera externalidades, sejam elas positivas ou negativas, abrindo as portas á criação de um sistema de tributação do uso, e compensação pelos benefícios realizados nesse património comum. A inclusão dos benefícios nesta contabilidade possibilita o desenvolvimento de novas actividades de 2
4 prestação de serviços ambientais de interesse comum para toda a Humanidade, e a construção de uma economia capaz de gerar biocapacidade. Sua classificação como bem comum alargado a toda a Humanidade, torna-o livre de qualquer apropriação privada ou estadual, e cujo o uso não deve ser mercantilizado, embora se imponha um sistema de contabilidade relativo aos diferentes benefícios e encargos que cada um realiza no bem comum. A criação deste novo objeto jurídico de uma natureza sistémica intangível, permite ainda uma clarificação de conceitos vital para a nova economia verde: a distinção do serviço do ecossistema (por exemplo, o sistema de regulação do clima) da infra-estrutura que o suporta (por exemplo, a floresta física). Embora determinados ecossistemas estejam no interior da soberania dos estados, os benefícios que disponibilizam dispersam-se por todo o planeta. Desta forma, é possível capturar e contabilizar este benefícios, e criar um sistema de compensação de serviços de interesse comum a toda a humanidade, podendo dar origem a uma economia em que se justifica investir na manutenção e recuperação de ecossistemas, uma vez que existe uma compensação económica pelos benefícios realizados no património comum. O valor deste património dependeria de indicadores (como por exp. a concentração de CO2 na atmosfera ou o ph dos oceanos) informados pela ciência, que delimitam um "espaço de manobra seguro" para a humanidade. 2) EcoSaldo As contas do Condomínio da Terra A dispersão da maioria dos encargos e benefícios ambientais por toda a humanidade, é identificada pela ciência económica como uma falha de mercado, uma vez que não existe uma instituição de troca onde o sujeito que afeta positivamente outro(s) recebe uma compensação por isso ou o sujeito que afeta negativamente outro(s) suporte o respetivo custo. A existência de muitos 3
5 agentes a utilizar o recurso, nestas condições, leva à falha de mercado, a um ineficiente nível de utilização do recurso e a uma especial propensão para o uso excessivo do recurso. Quando se fala em atribuir um valor económico aos serviços ecológicos, imediatamente se pensa que será necessário transformá-los em produtos transacionáveis e que ter-se-á que criar um mercado convencional. Essa não é a abordagem correta, porque está-se a falar de bens de livre acesso e não se pode usar um mercado convencional para gerir bens inapropriáveis e de cujo consumo ninguém pode ser excluído. Uma vez que todos os países consomem e disponibilizam serviços ecológicos que se refletem nos sistemas naturais globais, só obtendo o saldo entre a totalidade da oferta e do consumo, será possível encontrar uma plataforma de justiça e assegurar equidade não só intrageracional mas também intergeracional. Uma métrica e o Acerto de Contas Para proceder a um acerto as contas entre os diferentes contributos para a manutenção desse património comum, é necessário um acordo quanto à utilização de uma métrica, capaz de captar o consumo e a oferta dos recursos comuns em unidades. Se articularmos esta métrica com o sistema de compensação que atribui um valor a cada unidade desta métrica, poderemos iniciar um processo de internalização destes factores vitais na nossa economia. Este novo património relativo aos sistemas deveria ser gerido por uma entidade - as Nações Unidas com novas funções que com base no balanço entre os contributos positivos e negativos de cada estado para a manutenção dos sistemas globais naturais, o EcoSaldo, proceder à gestão global do uso destes sistemas. 4
6 A contabilidade também oferece a oportunidade de criar um sistema de compensação das prestações de serviços, por exemplo através de transferências fiscais ou mesmo de liquidação internacional de dívidas EcoSaldo. Desta forma, criar-se um incentivo positivo para preservar e recuperar os ecossistemas e o capital natural, equilibrando o paradigma dominante de desincentivos ao poluidor (poluidor-pagador), articulando-o com o prestador de serviços-recebedor, sem tentar transformar estes serviços em produtos comercializáveis no mercado. É necessário evitar que novas falhas nestes novos mercados, onde quem tem muitos recursos financeiros pode sempre poluir, e quem não tem acesso vender créditos, poderá invocar direitos de destruição ecossistemas. Um conceito simples para o futuro que queremos O conceito do Condomínio da Terra através do reconhecimento dos sistemas naturais globais como Património Natural Intangível da Humanidade, pretende estabelecer um acordo global de gestão entre os Global Commons e os Estados, através da adopção de um sistema de contabilidade do consumo e de benefícios. A inclusão destes benefícios na contabilidade das relações, pode alterar a regra da predação de recursos para obtenção de uma compensação económica, e este é um elemento determinante na construção de uma economia capaz de gerar biocapacidade de forma articulada com o seu consumo. Para todos os efeitos economia capaz de repor recursos, isto é uma economia sustentável. Este é o futuro que queremos. Para mais detalhes sobre o conceito de Condomínio da Terra e do Projeto ver: Junte-se a nós em 21 de Junho, no evento paralelo Condomínio da Terra no Rio+20 ou enviar-nos um . 5
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