ANÁLISE DO PERÍODO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL ATRAVÉS DAS COMPSIÇÕES DE CHICO BUARQUE DE HOLANDA RESUMO

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1 ANÁLISE DO PERÍODO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL ATRAVÉS DAS COMPSIÇÕES DE CHICO BUARQUE DE HOLANDA Fernanda Oliveira (G CCHE - UENP/CJ) fernanda_maximu@hotmail.com Luis Fernando Martins (G CCHE - UENP/CJ) fernando-hist2011@hotmail.com Marcus José Takahashi Selonk (Orientador CCHE - UENP/CJ) selonk@uol.com.br RESUMO A presente comunicação tem por finalidade identificar, através da análise das letras das canções de Chico Buarque de Holanda, sua oposição ao governo durante o Regime Militar. Articulando-as ao respectivo contexto histórico. Através desta análise será possível enxergar e compreender as mensagens subliminares e as ideologias presentes nestas composições. Pretende-se também demonstrar que esta metodologia pode ser aplicada em sala de aula, despertando questionamentos por parte dos alunos em relação ao período estudado. Palavras-chave: Chico Buarque de Holanda. Regime Militar. Ideologias. Mensagens Subliminares. Este artigo tem como objetivo mostrar as ideologias inseridas nestas canções e principalmente a oposição em relação ao governo militar que fez o Brasil sair de um regime democrático quando João Goulart ainda era presidente da república, para dar lugar a um governo extremamente autoritário e violento a quem se opusesse a este regime autoritário. A escolha deste compositor para entendermos melhor este contexto histórico se justifica na letra de suas canções e também foi levado em conta que Chico Buarque de Holanda era considerado o inimigo número um dos militares, tendo sua vida vigiada de perto pelos homens da Delegacia de Ordem e Proteção Social (DOPS). Todos estes fatores foram fundamentais para a escolha deste compositor que buscava através de suas canções que em sua maioria eram compostas com mensagens subliminares e inseridas ideologias onde o principal questionamento era o regime militar 135

2 e seu abuso em relação a perca de direitos, principalmente a liberdade de expressão e a luta contra a censura, tanto nas letras das músicas, nos jornais, na televisão e também no teatro e cinema. Mas o foco se limitará apenas na interpretação das letras destas músicas, dentre varias compostas por Chico Buarque, neste artigo se limitará em analisar as seguintes canções: Apesar de Você, Construção, Roda Viva e Cálice. Estas composições mostram em suas letras uma tentativa de oposição ao governo de uma clara, pois para compreendermos melhor todas estas canções discutiremos cada uma separadamente ao longo deste artigo. Num primeiro momento não entraremos logo de imediato na análise, será estudado brevemente todo o contexto histórico que envolve este período de nossa história que ficou marcado pela violência e pela perseguição de quem eram contra os militares no governo do país, para que se possa compreender a intencionalidade deste cantor e que ele queria transmitir com estas letras repletas de ideologias que a priori quem escuta estas músicas não conseguem captar diretamente as mensagens subliminares ali implícitas. Como sabemos durante todo o período militar houve diversas tentativas de mostrar a não aceitação daquela forma de governo instaurada através de um golpe de estado, ou como os próprios militares chamam ainda hoje este período A revolução de 31 de março de Assim a busca pela democracia se tornou o primeiro objetivo da população e principalmente dos estudantes universitários e dos intelectuais daquele período, mas com os Atos Institucionais esta luta se tornaria ainda mais complicada, principalmente se pensarmos o ano de 1965, onde o então presidente Castello Branco decreta o Ato Institucional número dois (AI-2) onde o principal objetivo deste era eliminar todos os partidos políticos e com isso a eleição presidencial passou a ser algo indireto, ou seja, a escolha do sucessor seria feita pelo Congresso Nacional e com este novo decreto surge uma mudança na punição para os crimes políticos, antes julgados pela justiça comum. Outro ponto que deve ser levado em conta também neste período é a violência cometida contra os considerados inimigos do governo e o melhor meio encontrado pelos soldados do exército e pelos delegados do DOPS foi à tortura, vejamos um exemplo desta prática retirada do livro de Elio Gaspari A Ditadura Envergonhada: Maurício Vieira de Paiva, 24 anos quintanista de engenharia, foi ligado a um magneto pelos dedos mínimos das mãos. Era a maquina de choques elétricos. Depois de algumas descargas, o tenente-mestre ensinou que se devem dosar voltagens de acordo com a duração dos choques. Chegou a recitar algumas relações numéricas, lembrando que o objetivo do interrogador é obter informações e não matar o preso. (GASPARI, 2002, p. 361) 136

3 Este tipo de violência era muito comum nos porões do DOPS onde o acesso era restrito somente os torturadores tinham acesso direto a este local. Um trecho interessante que deve ser destacado da citação acima, onde Elio Gaspari (2002, p. 361) menciona (...) o objetivo do interrogador é obter informações e não matar o preso, mas isso não acontecia de fato, pois muitos dos prisioneiros eram torturados até a morte ou em alguns casos cometiam suicídios nas celas para não passar a informação que os torturadores tanto queriam obter a qualquer custo. Fazendo um recorte temporal saindo do ano de 1965 veremos como estava nosso país em 1968, onde a violência e a luta pela democracia ainda continuava ainda mais forte, principalmente em relação aos estudantes universitários e seus protestos que ganhavam ainda mais. Procuravam questionar não somente o governo autoritário e a política tradicional buscando com isso novas liberdades que haviam sido perdidas com os atos institucionais e o lema usado por estes estudantes contra o governo era este: (...) é proibido proibir (D'ARAUJO¹, S/D²). Mas ao contrario do que se esperava esta busca por liberdade seria interrompida mais precisamente em 13 de dezembro quando o presidente Costa e Silva baixa o Ato Institucional número cinco ou AI-5 e com isso a imprensa passa a ser censurada e políticos presos, entre eles Carlos Lacerda, Jucelino Kubitschek, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Mas a situação estava longe de ter uma solução definitiva, pois o governo continuava sendo mais linha dura e uma das medidas tomadas para tentar acabar com grupos que não aceitavam as decisões e até mesmo o próprio sistema político que foi instaurado pelos militares desde 1964 foram os ataques aos teatros. Um destes alvos foi o (...) Teatro Paulista onde se encenava Roda Viva (...) (GASPARI, 2002, p. 388), e como punição para os atores, estes foram espancados. E seguindo esta linha de violência, somente no ano de 1968 ocorreram 85 denúncias de tortura, 12 mortes em manifestações nas ruas e seis militares e dois civis mortos por conta de terrorismo (Idem, Ibidem). Sobre esta violência e perseguição em relação aos opositores ao governo, sendo estes estudantes universitários e intelectuais deste período, o historiador Marcos Napolitano em seu artigo intitulado A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância política ( ), onde menciona a violência e a vigilância por parte dos homens do DOPS: 137

4 ¹. Maria Celina D'Araujo - Doutora e mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro IUPERJ ². Artigo consultado no site do CPDOC no dia 07/05/2011 ás 11h e 08 min. Ver o link na referência bibliográfica. (...) Se a violência policial, legal e ilegal, era sistemática e utilizada contra inimigos e críticos do regime em casos extremos e em situações nas quais os generais no poder sentiam-se particularmente ameaçados, a vigilância sobre a sociedade civil era constante. A obsessão pela vigilância como forma de prevenir a atuação subversiva, sobretudo naquilo que os manuais da Doutrina de Segurança Nacional chamavam de propaganda subversiva e guerra psicológica contra as instituições democráticas e cristãs, acabava por gerar uma lógica da suspeita ou ethos persecutório. Os milhares de agentes envolvidos, funcionários públicos ou delatores cooptados, eram regidos por essa lógica e, ao incorporá-la, acabavam produzindo um fenômeno que é típico de regimes autoritários e totalitários: mais importante do que a produção da informação em si, era a produção da suspeita. Dentro dessa lógica de produção da suspeita produzida pelos informantes, a comunidade de informações não apenas alertava o governo e os serviços de repressão direta para situações concretas de contestação ao regime (...) (NAPOLITANO, 2004, p. 104) Vemos na citação acima que para viajar os considerados inimigos do governo havia certa mobilização por parte dos órgãos públicos, que cediam os seus funcionários para que se infiltrassem e monitorassem todas as atividades de um grupo subversivo ou uma única pessoa que demonstrasse ser contra o governo. E estes agentes eram responsáveis também por monitorar qualquer tipo de propaganda considerada subversiva ao regime militar e com estas informações os militares sabiam qual seria o próximo passo ou manifestação dos opositores e desta forma a represália se adiantaria e a violência seria a forma mais adequada de conter estes protestos sejam eles nas ruas ou através da censura nas peças de teatro ou até mesmo na música. Uma solução encontrada pela sociedade para tentar questionar o governo não de forma explicita, foram as canções de protestos, onde o descontentamento aparecia nas entrelinhas destas, que em sua maioria eram escritas por cantores que faziam parte da MPB naquele período, podemos destacar entre os mais conhecidos Chico Buarque de Holanda, que viria mais tarde ser considerado inimigo público do governo, se destacou também Caetano Veloso, Milton Nascimento, Geraldo Vandré entre outros nomes consagrados ainda hoje dentro da música popular brasileira. Cabe destacar também que no ano de 1970 a cultura teve alguns acontecimentos importantes, sendo eles pela conquista do terceiro título mundial do Brasil no futebol, derrotando a Itália por 4X1, este torneio foi usado como pretexto pelo governo para que 138

5 a população apoiasse a seleção e torcessem pelas suas vitorias com o objetivo de amenizar a situação interna do país. Ainda na cultura os cantores Roberto Carlos e Erasmo Carlos gravam a música Jesus Cristo e Chico Buarque compõe a musica Apesar de Você*. *Dados retirados do livro A Ditadura Escancarada de Elio Gaspari, pág Após dar uma breve passada no contexto histórico envolvendo o regime militar e mostrando principalmente a violência e a tentativa de liberdade de expressão, para compreendermos o porquê o movimento da Música Popular Brasileira passou a ser tão perseguida pelos militares, devido a suas ideologias que eram totalmente contrárias a forma de governo instaurado no Brasil. Para vermos estas ideologias analisaremos algumas canções de Chico Buarque e com isso mostrar as entrelinhas destas composições. E destacando também como o professor de história pode usar desta metodologia em sala de aula, dando enfoque diferenciado sobre o conteúdo e deste modo faz com que o aluno demonstre interessado pela disciplina de História, mostrando para o aluno de que tudo pode ser objeto de estudo para o historiador. Para fazer esta análise utilizaremos de trechos que destacam algumas das ideologias de oposição e a tentativa de se buscar a liberdade de expressão, perdida com os Atos Institucionais, onde não se podia falar absolutamente nada contra o governo. A primeira canção a ser analisada será Apesar de Você, começamos pelo próprio título da musica que transmite a não aceitação desde regime autoritário e este você colocado no título enfatiza ainda mais esse pensamento no decorrer da letra de sua música. Em relação às canções de Chico Buarque o historiador Marcos Napolitano faz uma análise da maneira como podem ser classificadas as composições deste importante cantor ligado a MPB seguindo a visão da escritora Adélia Meneses³: Lirismo nostálgico ontem tempo mítico; Canções da repressão assume o tempo histórico, seu tempo. Imperativo e não escolha. O poema não apenas expressa a semântica da repressão, mas também a sintaxe da repressão, pois a censura e repressão introjetadas tornam-se estruturais nas canções desta época. (MENESES apud NAPOLITANO, 2003, p.116) A partir da citação acima se torna ainda fácil compreendermos o porquê suas canções eram escritas desta maneira, pois procurava enfatizar a sua realidade e independentemente se sua opinião seria bem aceita ou sofreria alguma represália por parte do governo e do órgão de censura que poderia proibir a vinculação desta música na 139

6 sociedade e sempre procurou lutar contra a repressão e o autoritarismo que foi instaurado no país. Depois de toda esta explicação, analisaremos algumas das canções de Chico Buarque. ³. Citação retirada do livro: MENESES, A. Desenho mágico. Poesia e política em Chico Buarque de Hollanda. 2ª ed. São Paulo: Ateliê Editorial, Logo no início da canção é possível notar uma forte indagação em relação aos militares e ao golpe dado por eles em 1964, para ficar ainda mais claro vejamos a o que diz a letra: Hoje você é quem manda/falou, tá falado/não tem discussão, não./a minha gente hoje anda/falando de lado e olhando pro chão/viu?/você que inventou esse Estado (...) (site consultado Acessado em 06/05/2011 às 10h e 59 min.). É possível notar nestas primeiras linhas a crítica em relação à liberdade de expressão, onde os militares falavam e o povo obedecia e o curioso é que o compositor vê este fato e articula com o fato de todos andarem olhando para o chão, ou seja, sendo submissos ao governo e aos soldados do exército. Podemos perceber nestas linhas que há uma crítica em relação ao golpe de 1964 e ao regime autoritário que foi instaurado ao longo dos anos pelos militares e o cuidado que as pessoas tinham que ter para não serem presas por dizerem algo que pudesse prejudicar o governo e com isso acabava presa ou vigiada de perto pelo DOPS. Outro ponto da letra desta canção que chama atenção também que dever ser mencionado é logo no início da segunda parte da música onde Chico Buarque mostra uma ironia em relação ao termino do regime militar e a cobrança que a sociedade faria em relação ao sofrimento aos quais foram submetidos ao longo de vinte e dois anos de governo militar e as conseqüências do sofrimento causado por eles na sociedade brasileira. Vejamos o quis a letra: Eu pergunto a você onde vai se esconder/ Da enorme euforia?/ Como vai proibir Quando o galo insistir em cantar? /Água nova brotando/ E a gente se amando sem parar/ Quando chegar o momento/ Esse meu sofrimento/ Vou cobrar com juros. Juro!/ (site consultado Acessado em 06/05/2011 às 10h e 59 min.). 140

7 Toda esta crítica apresentada neste pequeno trecho se remete a segunda parte inteira desta canção onde o principal objetivo do compositor era questionar a sua realidade, mas também que a população pensasse nas conseqüências deste regime e a punição principalmente dos torturadores e até mesmo de quem usou a censura para proibir que a sociedade se manifestasse em diversas formas, pois menciona também o nascimento de uma nova geração que continuaria a questionar o que estava acontecendo no Brasil naquele momento, buscando principalmente a liberdade de expressão e pela volta da democracia como forma de governo. Outra canção de Chico Buarque de Holanda a ser analisada é Construção onde se pode notar uma menção ao canteiro de obras que estava o nosso país durante o chamado Milagre Econômico e não podemos não esquecer também a submissão que a sociedade foi imposta pelos militares. O compositor desta música procura enfatizar o sofrimento causado por este regime autoritário e desta forma evidencia ainda mais sua oposição a forma de governo instaurada, isso fica nítido logo no início desta música: (...) Beijou sua mulher como se fosse à última/ E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido/ Subiu a construção como se fosse máquina/ Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/ Tijolo com tijolo num desenho mágico/ Seus olhos embotados de cimento e lágrima/ Sentou pra descansar como se fosse sábado/ Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe (...) (site consultado Acessado em 06/05/2011 às 11h e 14 min.) Vemos neste trecho um pequeno contraste da sociedade e como era a vida de um operário que trabalhava nestas obras, levando em conta a organização familiar deste individuo e a alimentação deste em seu local de trabalho. Notamos também que este era submisso ao regime, isso fica claro ao analisarmos a seguinte frase atravessou a rua com seu passo tímido, podemos observar que grandes partes dos cidadãos com poder aquisitivos menores ou de classes sociais inferior não procuravam se envolverem, pois pensavam em primeiro lugar na sua família antes de se envolverem na luta contra a ditadura militar. Seguindo com a análise desta canção outro trecho bastante curioso são os últimos versos onde questiona principalmente a falta de liberdade de expressar aquilo que pensa e podemos perceber também uma referência as prisões do DOPS. Para termos uma noção mais clara: (...) Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir/ A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir/ Por me deixar respirar, por me deixar existir,/ Deus lhe pague (...). Vemos aqui crítica também às torturas cometidas nos porões deste órgão de 141

8 repressão e que muitas vezes acabavam tirando a vida de muitos prisioneiros pelos meios usados pelos torturadores e de uma maneira satírica agradece por deixar vivo alguns dos opositores e principalmente Chico Buarque, este era vigiado 24 horas por dia pelos homens do exército ou pelos seus informantes (agentes infiltrados). A próxima canção a ser analisada será Roda Viva também composta pelo próprio Chico Buarque, fazendo uma analogia entre o período vemos que o título se refere os militares e sua abordagem para prender os ditos subversivos ao governo. Vejamos o que diz a letra desta música logo no início a ideologia que está implícita nas entre linhas: Tem dias que a gente se sente/ Como quem partiu ou morreu/ A gente estancou de repente/ Ou foi o mundo então que cresceu.../ A gente quer ter voz ativa/ No nosso destino mandar/ Mas eis que chega a roda viva/ E carrega o destino prá lá.../ (...) (site consultado Acessado em 06/05/2011 às 11h e 05 min.) É possível notar neste pequeno trecho um sentimento de perda por parte do compositor, mas fica implícito, pois não sabemos quem é essa pessoa ou pessoas que faleceram provavelmente nas prisões do DOPS após serem torturados até a morte ou por suicídio, ambos eram comuns em relação ao contexto histórico que envolve esta canção. Outro momento também que fica evidente nesta canção é o pedido pela liberdade de expressão, (...) A gente quer ter voz ativa/ No nosso destino mandar (...), pois com os Atos Institucionais os cidadãos perderam o direito de mandar nas suas próprias vidas se tornando submissos ao regime e aceitando as ordens estabelecidas pelo governo naquele momento. Um pouco mais a frente esta mesma canção deixa a entender como agiam os soldados em relação aos opositores do governo, pois ao se referir a Roda Viva deixa a impressão que os militares estavam levando quem resistia ao regime preso: (...) A gente vai contra a corrente/ Até não poder resistir/ Na volta do barco é que sente/ O quanto deixou de cumprir/ Faz tempo que a gente cultiva/ A mais linda roseira que há/ Mas eis que chega a roda viva/ E carrega a roseira prá lá... (...) (site consultado: Acessado em 06/05/2011 às 11h e 05 min.) Neste trecho fica evidente que luta pela liberdade de expressão e a volta pela democracia já era algo que se estendia por muitos anos, isso fica claro ao mencionar o cultivo de uma roseira, pois podemos fazer uma analogia com o direito de questionar o que estava acontecendo no país, mas isto era algo engasgado na garganta da população. 142

9 Quando os estudantes universitários e os intelectuais começavam a questionar ou criticar o governo e suas medidas autoritárias, estes eram facilmente descobertos e como a própria letra da canção diz (...) Mais eis que chega a Roda Viva (...), faz uma menção de forma indireta aos militares que ao verem um protesto nas ruas partiam para a violência contra as pessoas participantes daquela manifestação. A última canção a ser analisada será Cálice composta por Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil, cabe destacar que o próprio título já se torna sugestivo para interpretação, podemos ter duas concepções diferentes, a primeira pode-se referir ao fato de mandar alguém se calar. A segunda possível interpretação está direcionada para a violência cometida contra quem era contra o governo e o derramamento de sangue causado aos subversivos. Logo nas primeiras linhas desta canção fica evidente a analogia estabelecida com a violência por parte dos militares e enfatiza também os torturados que mesmo estando machucadas e mesmo não conseguindo falar suas ideologias continuavam firmes e fortes. Menciona de uma maneira crítica a realidade do país naquele momento dando ênfase as mortes causadas pelos homens do DOPS e pelos soldados do exército, vejamos o início desta canção: (...) Como beber dessa bebida amarga;/ Tragar a dor e engolir a labuta? Mesmo calada a boca resta o peito./ Silêncio na cidade não se escuta./ De que me vale ser filho da santa?!/ Melhor seria ser filho da outra;/ Outra realidade menos morta;/ Tanta mentira, tanta força bruta. (...) (site consultado Acessado em 06/05/2011 às 11h e 02 min.) Outro ponto que cabe mencionar é a violência cometida pelos militares nas ruas das grandes cidades por parte dos soldados das Forças Armadas que desde o início deste regime autoritário o silêncio já não existia no cotidiano as pessoas, pois sempre era comum este tipo de manifestação com ideologia de oposição a realidade do país naquele momento. Mais adiante os compositores faz uma crítica à liberdade de expressão perdida há muito tempo e o que chama atenção no trecho abaixo é a forma usada por eles (Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil) para mostrar as pessoas que o movimento da Música Popular Brasileira eram contrário a ditadura e também a maneira que encontraram para expressar sua opinião, usando de mensagens subliminares e ideologias nas canções. Para ficar ainda mais claro: (...) Como é difícil acordar calado/ Se na calada da noite eu me dano./quero lançar um grito desumano,/que é uma maneira de ser escutado./esse silêncio todo 143

10 me atordoa.../atordoado eu permaneço atento/ (...) (site consultado Acessado em 06/05/2011 às 11h e 02 min.) Nesta canção o refrão também tem um duplo sentindo, pois transmite a impressão de que a o Cálice mencionado seria o usado pela Igreja Católica, esta interpretação pode-se notar ao escutar a música pela primeira vez. Mas a intencionalidade desde refrão não é esta, usa a palavra cálice como um local onde o sangue de muitos opositores foi derramado pelos homens do DOPS, é possível perceber uma mera semelhança com o ritual da comunhão de uma igreja, porém no lugar do vinho seria colocado o sangue destas pessoas mortas ou torturadas pelos homens dos órgãos de repressão do governo. Depois desta breve explicação vejamos o que diz o refrão desta música: (...) Pai! Afasta de mim esse cálice/ Pai! Afasta de mim esse cálice /Pai! Afasta de mim esse cálice/ De vinho tinto de sangue... (...) (site consultado Acessado em 06/05/2011 às 11h e 02 min.). Depois de analisarmos cada uma das canções buscando compreender as ideologias implícitas em suas letras, onde percebemos a luta pela liberdade de expressão, a recusa do sistema de governo implantando pelos militares. Outro aspecto presente nas canções analisadas foi à tortura e prisão dos opositores ou subversivos ao regime militar e a violência cometida pelos soldados em relação a qualquer manifestação que o governo considerasse perigosa e que poderia colocar em jogo suas ideologias que buscavam ressaltar o sentimento patriótico nos cidadãos brasileiros. Todos estes elementos implícitos nas entrelinhas das canções nos ajudam a termos uma nova visão sobre a Ditadura Militar no Brasil desde 1964 a 1985, e fica uma pergunta, com todas estas ideologias como o professor de história deve trabalhá-las em sala de aula? Antes o professor deve explicar todo o contexto histórico envolvendo o regime militar e seus antecedentes, para que o aluno consiga compreender como estava a realidade do Brasil antes de Explicar também como foi que os militares assumiram o poder e instaurou um governo extremamente autoritário, mencionar também a censura que existia naquele momento e por que a MPB usava canções com mensagens de protesto em suas entrelinhas. Depois de toda esta explicação o docente deve partir com o trabalho com a música na sala de aula. Sobre esta metodologia de ensino a historiadora Katia Maria Abud em seu artigo intitulado Registro e Representação do Cotidiano: a Música Popular na aula de História, onde menciona quatro elementos que o professor deve levar em conta para o trabalho com esta metodologia em sala de aula: 144

11 Transmitir uma memória coletiva, revista e corrigida a cada geração, que coloca o aluno diante de uma consciência coletiva; Formar a capacidade de julgar comparando sociedades em épocas diferentes, e a existência elas ao mesmo tempo em locais diferentes que tem como efeito social o desenvolvimento do espírito crítico e da tolerância; Analisar uma situação aprendendo a isolar os componentes e as relações de força de um acontecimento ou de uma situação que leva ao refinamento do espírito, antídoto ao simplismo de pensamento; Formar a consciência política como instrumento de coesão social, memória de um grupo que toma consciência de um destino comum. (PEYROT apud ABUD, 2005, p. 311) Todos estes elementos são importantes, pois faz com que o aluno consiga criar sua própria interpretação sobre o contexto histórico estudado e deste questiona o que sabe sobre o assunto, despertando assim o lado interpretativo do aluno e não aceitando tudo como se fosse uma verdade absoluta, principalmente na disciplina de história. Deste modo além do docente mudar sua metodologia e usar de fontes históricas para que o aluno tenha uma noção do assunto estudado não se limitando apenas ao livro didático, como acontece muitas vezes em que este assunto é estudado, mas as ideologias criadas pelos militares e dos grupos que eram contra o governo acabam sendo deixadas de lado pelo professor se limitando apenas a história dos vencedores e os vencidos não tiveram nenhuma importância para o contexto histórico, um exemplo os intelectuais e até mesmo os artistas legados a MPB e suas canções repletas de ideologias e protesto contra o governo militar e as atitudes tomadas durante os vinte e dois anos que governaram o nosso país, fizeram nosso economia crescer, mas também usaram de muita violência contra quem não aceitava o fim da democracia e da liberdade de expressão durante todo este período marcado pela violência e pelo abuso de poder por parte das Forças Armadas. Desta maneira a Ditadura Militar passaria ser muito mais interessante de ser trabalhada pelos professores em sala de aula, pois pode se criar novas vertentes para o mesmo fato, quebrando com a forma tradicional onde o livro didático é o único material para trabalhar em sala de aula independentemente do conteúdo, pois faz com que o aluno tenha uma nova visão sobre o contexto histórico estudado e este se aproxima daquela realidade através de fotos, jornais e diversas outras fontes ligadas a este período em especial. 145

12 REFERÊNCIAS ABUD, Kátia Maria. Registro e Representação do Cotidiano: a Música Popular na aula de História. In: Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p , set./dez Disponível em D'ARAUJO, Maria Celina. O AI-5. S/D. Disponível em: ou segue o link do artigo: Acessado em 07/05/2011 ás 11h e 08 min. GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, A Ditadura Escancarada. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância política ( ). In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 24, nº 47, p Hoje preciso refletir um pouco : ser social e tempo histórico na obra de Chico Buarque de Hollanda 1971/1978. In: História, São Paulo: v.22, n. 1, pp. 115 a 134, Sites consultados para consultar letras das canções: Apesar de Você: Letras disponíveis em: Acessado em 06/05/2011 às 10h e 59 min. Construção: Letras disponíveis em Acessado em 06/05/2011 às 11h e 14 min. Roda Viva: 146

13 Letras disponíveis em Acessado em 06/05/2011 às 11h e 05 min. Cálice: Letras disponíveis em: Acessado em 06/05/2011 às 11h e 02 min. Deus Lhe Pague: Letra disponível em: Acessado em 06/05/2011 às 11h e 23 min. Para citar este artigo: OLIVEIRA, Fernanda Oliveira; MARTINS, Luís Fernando. Análise do período da Ditatura Militar no Brasil através das composições de Chico Buarque de Holanda. In: XI CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho Anais...UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, ISSN p

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