TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 34 a Câmara
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- Ana Sofia Salgado Soares
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1 o - SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 34 a Câmara APELAÇÃO C/ REVISÃO N /4 Comarca de CAMPOS DO JORDÃO l.v.cível Processo 664/00 APTE APDO CONCEIÇÃO APARECIDA DIAS MATSUBARA HOTÉIS E TURISMO LTDA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N A C Ó R D Ã O ' " Vistos, relatados e discutidos estes autos, os desembargadores desta turma julgadora da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte integrante deste julgado, nesta data, rejeitada a preliminar, negaram provimento ao recurso, por votação unânime. Turma Julgadora da RELATOR REVISOR 3 o JUIZ Juiz Presidente Data do julgamento : 27/07/09 34 a Câmara DES. GOMES VARJÃO DES. IRINEU PEDROTTI DES. NESTOR DUARTE DES. GOMES VARJÃO
2 PODER JUDICIÁRIO 1 Comarca: CAMPOS DO JORDÃO - 1 a V. CÍVEL Apelante: CONCEIÇÃO APARECIDA DIAS Apelados: MATSUBARA HOTÉIS E TURISMO LTDA VOTO N De acordo com as provas documental e oral produzidas nos autos, os serviços prestados pelo hotel requerido foram satisfatórios, de qualidade compatível com o preço pago. Não ficou comprovado qualquer vício na prestação do serviço, tampouco a alegada veiculação de propaganda enganosa. Era de rigor, portanto, a rejeição do pedido de devolução da quantia paga e de indenização por danos morais. Recurso improvido, rejeitada a preliminar. A r. sentença de fls. 317/320, cujo relatório se adota, julgou improcedente a ação de indenização por danos materiais e morais, decorrente de prestação de serviços, condenando a autora ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 20% do valor da causa, devidamente corrigido. Apela a requerente (fls. 326/350). Preliminarmente, sustenta a nulidade da sentença, uma vez que a apelada, quando da apresentação de memorais, juntou documentos novos, em afronta ao disposto no art. 396, do C.P.C.. Salienta que requereu o desentranhamento de tais documentos, no entanto, o pedido não foi apreciado, tendo sido violado o princípio do contraditório. No mérito, aduz que o fornecedor de serviços responde, independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados aos
3 PODER JUDICIÁRIO 2 consumidores, nos termos do art. 14, do C.D.C.. Alega que o parágrafo terceiro do mencionado dispositivo legal impõe ao fornecedor de serviços a prova da culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro no evento danoso, a fim de que seja isentado da responsabilidade. Afirma que deve ser invertido o ônus da prova, com base no art. 6 o, VIII, da lei consumerista. Assevera que demonstrou as causas de sua insatisfação nos itens 4 e 5 da inicial, bem como nas fotografias acostadas aos autos. Acrescenta que o art. 37 do referido diploma legal veda da publicidade enganosa ou abusiva. Assinala que, segundo o material publicitário, o estabelecimento réu estava enquadrado na categoria quatro estrelas, no entanto, as acomodações eram incompatíveis com a qualidade divulgada. Sustenta que passou por diversos constrangimentos, razão pela qual faz jus à indenização por danos morais. Por isso, requer a reforma da r. sentença, a fim de que a ação seja julgada procedente. 354/358). Recurso recebido e contrariado (fls. 352 e É o relatório. Rejeito a preliminar de nulidade da sentença, uma vez que não ficou configurado o alegado cerceamento de defesa. Inicialmente, cumpre observar que os memoriais da ré não foram instruídos com documentos, mas tão somente com cópias de acórdãos proferidos por nossos Tribunais (fls. 297/305). Todavia, é certo que, no corpo da peça, foram inseridas reproduções de páginas do "Guia Quatro Rodas Brasil 2000" (fls. 288/291). Assim, em prestígio ao contraditório e a fim de evitar futura alegação de nulidade, o MM. Juiz "a quo" determinou a intimação da autora, para se manifestar no prazo de cinco dias (fls. 306). Não há, portanto, que se falar em cerceamento de defesa, tampouco em violação ao disposto no art. 396, do C.P.C.,
4 PODER JUDICIÁRIO 3 mormente porque tais documentos sequer foram mencionados na r. sentença recorrida. No mérito, improcede o inconformismo. Na inicial, a autora afirma que contratou, por meio de uma agência de turismo, hospedagem no hotel requerido para três pessoas, em apartamento de luxo, no período de 16 a 20 de julho de 2000, pelo valor de R$ 1.640,00, depositado antecipadamente no dia sete daquele mês. Aduz que, de acordo com a propaganda veiculada na revista "Nosso Guia Turístico - Campos do Jordão" e com o panfleto do hotel, este estava classificado como "quatro estrelas" pela EMBRATUR. Assevera, no entanto, que os serviços prestados não condiziam com a qualidade oferecida, pois foram constatados os seguintes problemas: colchão rasgado e sem forros; objetos amontoados no canto do elevador; ausência de aquecedor, bem como de tabela de serviços e preços nos quartos; cortinas sem forro e de tamanho insuficiente na janela; sala de chá com apenas três mesas; salão de jogos com apenas uma mesa de snooker; falta de serviço de atendimento de quarto (fls. 04). Pleiteia, diante disso, indenização por danos materiais, consistente na devolução do preço pago, bem como indenização por danos morais no valor de R$ ,00. A ré, por sua vez, impugnou as alegações da requerente, sustentando que os serviços prestados foram adequados ao preço pago. Salientou que a classificação "quatro estrelas" foi dada pela EMBRATUR e que, atualmente, não é mais obrigatória. Asseverou que a revista "Nosso Guia Turístico - Campos do Jordão" é editada pela Secretaria do Turismo do Município, a qual apenas mencionou o seu endereço e número de telefone, sendo certo que não constou qualquer foto do hotel, pois não pagou pela veiculação de propaganda
5 PODER JUDICIÁRIO 4 publicitária. Por fim, afirmou que a autora não reclamou dos serviços prestados, tendo usufruído de toda a estadia. Em depoimento pessoal, a autora declarou que preferia ter se hospedado no Hotel Toriba, considerado de luxo, no entanto, não existiam vagas. Acrescentou que entrou em contato com uma agência de viagem, que lhe informou que somente havia apartamento disponível no hotel requerido, classificado como quatro estrelas. Afirmou que tem conhecimento de que a empresa EMBRATUR não mais classifica os hotéis de acordo com o número de estrelas. Asseverou que achou o hotel muito simples, tendo em vista as propagandas que tinha visto, e que o jardim era muito pequeno. Aduziu que a camareira somente limpou o quarto por volta das 19 horas, após reclamação ao gerente do hotel. Sustentou que acordava após o horário do café-da-manhã, razão pela qual solicitava o serviço de quarto, todavia, não foi atendida (fls. 189/191). O representante legal da ré, por sua vez, afirmou que o hotel não faz propaganda em revista alguma. Alegou que somente tomou conhecimento da insatisfação da autora com a propositura da presente ação. Salientou que o café-da-manhã era servido até as 10hs, sendo que o pedido extraordinário de refeição no apartamento deveria ser requerido com antecedência de 30 minutos, para que os frios pudessem ser fatiados e a bandeja servida. Asseverou que a classificação do hotel por estrela é facultativa e que a placa foi afixada pela EMBRATUR em 1982, independentemente da vontade da ré. Acrescentou que os serviços prestados mantêm o mesmo padrão desde a inauguração, em 1982 (fls. 192/193). A testemunha Maria Eugênia Salazar Cruz afirmou que é amiga da autora e que esta a procurou para, na qualidade de agente de turismo, contratar um hotel "quatro estrelas"
6 PODER JUDICIÁRIO 5 para passar quatro dias com sua filha e marido. Alegou que entrou em contato com vários hotéis, mas que a maioria estava lotado, tendo conseguido vaga apenas no hotel requerido (fls. 229/230). Jeanete Nakano e Simone Francisco, testemunhas arroladas pela ré, afirmaram que se hospedam no hotel Matsubara há muitos anos e que os serviços prestados são de boa qualidade. Asseveraram que todos os quartos têm aquecedores centrais e individuais, e que há serviço de quarto, inclusive café-damanhã. Salientaram que o hotel conta com vários funcionários, como camareiras, garçons e porteiros e que eles são muito solícitos. Acrescentaram que as roupas de cama e banho são de boa qualidade e são trocadas diariamente (fls. 232/233 e 266). Marta Alves Cardoso, camareira responsável pela arrumação do quarto da autora, alegou que na porta do apartamento havia uma placa avisando para arrumá-lo, razão pela qual não foi checar se a chave estava na recepção. Aduziu que ouviu barulho de televisão e bateu à porta, tendo sido atendida pelo marido da requerente, o qual ficou nervoso ante a interrupção do seu repouso, oportunidade em que dispensou a arrumação, embora tenha havido insistência para troca das toalhas (fls. 262). Tais fatos foram corroborados pelo gerente do hotel, Luiz Sérgio Ternovi, que afirmou que enquanto a autora e sua filha saíam para passear, o esposo permanecia no apartamento, razão pela qual ele dispensava o serviço de arrumação. Salientou que a autora apenas efetuou uma reclamação no penúltimo dia de estadia, tendo o problema sido solucionado com a arrumação do quarto enquanto a família jantava (fls. 263/265). Não ficou comprovado o alegado vício na prestação do serviço. Inicialmente, cumpre observar que a autora não juntou aos autos qualquer documento emitido pela agência de turismo,
7 PODER JUDICIÁRIO 6 a fim de comprovar quais os serviços que teriam sido prometidos pelo hotel requerido. As fotografias acostadas à inicial apenas atestam pequenas avarias na mesa de snooker e na base de uma das camas, sobre a qual era colocado o colchão (fls. 12/14 e 18). De acordo com a prova oral produzida, os serviços prestados eram satisfatórios e compatíveis com o preço pago, sendo que o quarto deixou de ser arrumado apenas em uma oportunidade em razão da dispensa por parte do marido da autora, que não queria ser perturbado. Ademais, o problema foi prontamente solucionado após a reclamação da requerente. Impende salientar que a autora demonstrou estar insatisfeita porque esperava a mesma qualidade oferecida por hotéis de luxo, como o Toriba, no entanto, não conseguiu vagas nos mesmos. Ora, tal insatisfação não pode ser imputada à ré, que prestou os serviços a que se obrigou. Por fim, é certo que o preço pago (R$ 1.640,00) é compatível com o serviço prestado, mormente se considerarmos que se tratava de alta temporada em Campos do Jordão (mês de julho), e que referida quantia se referia a quatro estadias para três pessoas, com todas as refeições inclusas. Releva observar, ainda, que não ficou comprovada a alegada publicidade enganosa. Ficou incontroverso nos autos que a classificação de "quatro estrelas" foi atribuída pela EMBRATUR, não sendo mais obrigatória. Ademais, o "Nosso Guia Turístico - Campos do Jordão" é editado pela Prefeitura do Município, sendo que não foi feita propaganda dos serviços prestados pela ré, mas tão somente informado o endereço e telefone do hotel, consoante se denota às fls.41. Por fim, é certo que, ainda que tivesse sido comprovado eventual defeito na prestação do serviço, seria de rigor a improcedência da ação. Ora, a autora usufruiu os serviços postos à sua disposição, tendo completado a sua estadia sem fazer qualquer
8 PODER JUDICIÁRIO 7 reclamação à gerência do hotel. Assim, não seria possível o acolhimento do pedido de devolução do preço pago. Também não haveria como se acolher o pedido de indenização por danos morais, pois não se vislumbra sofrimento intenso suportado pela requerente, mas meros aborrecimentos, inerentes à vida em sociedade. Correta, portanto, a r. sentença, que está de acordo com a prova dos autos e o direito aplicável à espécie. Ante o exposto, rejeitada a preliminar, nego provimento ao recurso. É meu voto. Relator
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