OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS NO MUNICIPIO DE IVATUBA-PR

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1 DOI: /4cih.pphuem.444 OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS NO MUNICIPIO DE IVATUBA-PR João Paulo Pacheco Rodrigues Professor História e Pesquisador do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações- Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno- História da UEM. PIC/ UEM E- mail: joaopacheco2210@hotmail.com. Lucio Tadeu Mota Lucio Tadeu Mota Professor Doutor e Pesquisador do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações- Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno- História da UEM. ltmota@uem.br Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados finais da pesquisa sobre os Sítios Arqueológicos do Município de Ivatuba PR. A pesquisa contou com as etapas de produção de uma base cartográfica, levantamento e mapeamento de sítios arqueológicos em campo, conversa com pioneiros e moradores da vila rural, visita dos locais indicados e observação da superfície em busca de vestígios arqueológicos que pudessem ser referentes à ocupação pré-histórica da região e a organização de um espaço dedicado a Arqueologia no museu do Município. Ao termino deste trabalho, temos como resultado alem da carta georreferenciada de Ivatuba, a localização de 21 artefatos arqueológicos e de mais 7 sítios arqueológicos líticos. Assim pode se concluir que os sítios arqueológicos no município de Ivatuba não se trata de um fenômeno isolado, pois o número de vestígios e sítios encontrados foram relevantes e mostram uma ocupação sistemática de locais com grandes possibilidades de ofertas de alimentos e existência de matéria prima para confecção de objetos de uso cotidiano. A Antigüidade da presença humana no vale do rio Ivaí A Antigüidade da presença humana no vale do rio Ivaí apresenta datas que alcançam oito (8) mil anos (Chmyz, 1992). O conjunto de pesquisas realizadas no sul do Brasil e no Paraná revela três horizontes de ocupação. Sirlei Hoeltz (HOELTZ,1996) afirma que no período de a mil anos atrás, a região foi ocupada por populações de caçadorescoletores, cujos vestígios arqueológicos predominantes são artefatos e resíduos de lascamento lítico, cujos padrões tecnológicos foram denominados de Tradição Umbu e Tradição Humaitá. Segundo Francisco Noelli e Lucio Tadeu MotA ao redor de AP (anos Antes do Presente), agrupamentos maiores de 300 pessoas passaram a ocupar a área das atuais bacias dos rios Paraná, Ivaí, Paranapanema Pirapó, Tibagi e seus afluentes. Esses

2 4718 agrupamentos possuíam uma matriz cultural em comum, que assegurava a reprodução e a manutenção de uma estrutura similar em termos lingüísticos, sócio-econômicos, políticos, religiosos e materiais. Os vestígios arqueológicos dessa ocupação tem sido encontrados, como podemos constatar adiante, durante levantamentos realizados junto a comunidade de Ivatuba. Observado o panorama das pesquisas sobre a ocupação pré-histórica da bacia do rio Ivaí, mais precisamente na região do médio Ivaí onde esta localizado o município de Ivatuba, percebeu-se a necessidade de estudos mais aprofundados que pudesse comprovar que os sítios encontrados não se tratavam de ocorrências isoladas, mas sim de uma ocupação sistemática de locais com grandes possibilidades de ofertas de alimentos e existência de matéria prima para confecção de objetos de uso cotidiano. 1- Construção da carta Georreferenciada O primeiro item, para a realização deste estudo, foi a produção de uma carta georreferenciada do município de Ivatuba. Com ela será possível o mapeamento sistemático dos sítios já existentes, bem como a localização exata dos sítios já localizados por pesquisas anteriores. A construção dessa carta foi realizada no Laboratório de Arqueologia Etnologia e Etnohistória (LAEE) com o auxilio de uma mesa digitalizadora e do software Spring programado para criação da base cartográfica. Foram utilizados como fonte para a produção da base cartográfica as cartas do IBGE de Ivatuba, (folha SF-22-Y-D-IV-2) e de Jussara(folha SF-22-Y-D-IV-1). A produção dessa carta georreferenciada durou cerca de 4 meses, nela consta os principais afluentes do Rio Ivaí pertencentes ao município de Ivatuba e também a sua delimitação territorial, com os municípios de Floresta e Doutor Camargo. Bem como os seus limites ao norte o Ribeirão Paissandu e ao sul Córrego Taquaruçu. 2- Entrevista com os moradores de Ivatuba Produzida a carta georreferenciada do município de Ivatuba, passou-se as outras etapas do projeto que foi e através de informações coletadas junto aos agricultores do município de Ivatuba, tendo como objetivo encontrar mais informações que possam indicar a localização de novos vestígios arqueológicos de populações indígenas que habitaram a região Por indicação da revista Ivatuba Progresso Constante (PADILHA 1985), tivemos a oportunidade de localizar os pioneiros da cidade, para a entrevista foi levado uma serie de

3 4719 amostras de artefatos arqueológicos indígenas. Fragmentos cerâmicos com variados tipos de acabamento e material lítico, eram mostrados para os pioneiros O primeiro morador antigo de Ivatuba entrevistado foi o Sr. Leonildo Coral e sua esposa Marisa Coral, estes em 1948 compraram 35 alqueires de terra no qual apenas 4 estavam desmatados. Ambos afirmaram que nunca encontraram qualquer tipo de material lítico ou cerâmico. Em seguida, entrevistamos outro casal de pioneiros o Sr. Olinto Presa e sua esposa Maria Presa, estes também desconheceram a existência de qualquer tipo de material, cerâmico e lítico na região. Na seqüência visitamos um dos agricultores da região, o Sr Sauvir de Mattias, e este afirmou que conhecia o material, e que já tinha encontrado, algumas peças nas redondezas de seu sitio. As peças foram encontradas próximo ao Ribeirão Paissandu, a aproximadamente 6 anos atrás. O Sr. Sauvir de Mattia, nos contou que quando colhia a plantação de soja, uma das peças enroscou na colhedeira. Os outros artefatos também estavam próximo as margens do ribeirão Paissandu. Todos o material encontrado estava em seu poder, numa primeira analise podemos observar que se trata de 2 laminas de machado, 1 mão de mó e 1 fragmento lítico. Por ultimo entrevistamos o Sr. Antonio Tenedine, este afirmou que encontrou vários artefatos, todos líticos, no seu antigo sítio próximo a balsa na vila rural. Ele conta que os artefatos foram todos encontrados quando ele colhia a plantação de milho. Porem Antonio não lembrou o ano que encontrou as peças. No total são três (03) pilões, uma (01) mão de pilão e dois (02) fragmentos líticos. Os artefatos foram todos doados para a Escola Municipal Afrânio Peixoto de Ivatuba. O sitio que Antonio Tenedine encontrou os seis (06) artefatos indígenas é próximo do sitio pesquisado por Francisco Noelli em Organização, limpeza e acervamento do museu de Ivatuba Em seguida fotografamos todos os lugares mencionados, e iniciamos o trabalho de organização, limpeza e acervamento dos artefatos arqueológicos que estão armazenados na Escola Municipal Afrânio Peixoto, local onde se encontra parte das peças encontradas pela população do município

4 4720 Figura 1 Museu da Escola Afrânio Peixoto Foto João Paulo Rodrigues O grupo de pesquisadores LAEE, junto com a secretaria da cultura municipal a Sra Claudete Guellere dos Santos e a Secretaria do Turismo Rosilda Kriger, organizou uma vitrine, no próprio museu da escola, com as peças encontradas pela população conforme a tabela 1. Tabela 1: Artefatos arqueológicos existentes na E. M. Afrânio Peixoto em Ivatuba Pr Descrição da peça Número Pilões 04 Mão de Mó 04 Laminas de Machado 03 Fragmentos de cerâmica 06 Total de artefatos existentes na E. M. Afrânio Peixoto em Ivatuba - Pr 17 As peças arqueológicas que se encontram na Escola Afrânio Peixoto, estavam sem ficha de identificação, reduzindo todo seu caráter histórico. Junto com a estante com as peças foi colocado dois pôsteres com informações sobre as populações Guarani e Jê do Sul, isso

5 4721 auxiliara as pessoas que visitarem o museus, pois estas vão entender do que se trata este material, quais eram as populações que o utilizavam e em que período da nossa historia esta inserido. E a organização de um Museu Municipal possibilitara, além da organização correta e acervamento das peças, com certeza um aumento no número de artefatos, pois a população ao verificar o tratamento que esta sendo dado ao material e sua exposição para a comunidade local fará doações das peças que guardam em suas casas. 4 Surveys Após a o termino desta etapa, foi dado inicio a coleta de informações arqueológicas através de surveys. No mês de novembro de 2007, o grupo de pesquisadores do LAEE, dirigiram-se até a cidade de Ivatuba, onde iniciaram os trabalhos de campo. Percorrendo os principais afluentes (Ribeirão Paiçandu, Água Santa Maria, Ribeirão Taquaruçu, Água Ivatuba e Água dos Alves) que cercam a região, em busca de mais evidencias arqueológicas. As características das áreas em estudo influenciaram na opção por um método usualmente empregado: o caminhamento sistemático observando a superfície do solo em busca de vestígios arqueológicos de qualquer natureza. Como não foi solicitada autorização prévia ao IPHAN, não foi realizado nenhum tipo de alteração, escavação ou coleta de eventual material cultural encontrado in loco. Como a bacia do Ivaí é cortada por vários afluentes, aplicamos a metodologia de percorrer as margens do Ivaí e seus afluentes estando atentos aos locais de erosão, raízes de árvores e tocas de animais. Dessa forma, foi realizada a inspeção visual completa da área, sem adotar técnicas de amostragem ou espaçamentos amplos entre as linhas de caminhamento. A decisão de ter seguido este método deveu-se aos padrões de assentamento evidenciados na bibliografia arqueológica paranaense e no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA), com mais de sítios arqueológicos reconhecidos no Estado do Paraná, vinculados a diferentes tradições tecnológicas ceramistas, líticas e não-indígenas. Por fim, a relação entre a baixa profundidade média dos sítios (até 60 cm) e a intensa mecanização dos trabalhos agrícolas, foi outro fator que influenciou a tomada de decisão para executar a metodologia de trabalho do presente laudo, uma vez que as técnicas agronômicas de preparação do solo e de plantio geralmente expõem os vestígios arqueológicos.

6 4722 Figura 2- Sítio Bosque Foto:João Paulo P. Rodrigues Figura 3 : Artefatos s Encontrados no sítio Conjunto Primavera Foto: João Paulo P. Rodrigues

7 4723 Figura 4: Artefatos s Encontrados no sítio Fazenda do Salto Foto: João Paulo P. Rodrigues

8 4724 Figura 5 : Sítio Formagio Foto : Bruno Vasconcellos Figura 6: Artefatos s Encontrados no sítio Formagio Foto: João Paulo P. Rodrigues

9 4725 Resultados e Discussões Ao termino desta pesquisa, temos como resultado a localização de 21 artefatos arqueológicos, sendo que 4 estão em poder da população e 17 se encontra no Museu da escola Municipal Afrânio Peixoto Tabela 2: Artefatos arqueológicos existentes em Ivatuba - Pr Descrição da peça Número Pilões 04 Mão de Pilão 01 Mão de Mó 05 Laminas de Machado 05 Fragmentos líticos 03 Fragmento não identificado 01 Fragmentos de cerâmica 06 Total de artefatos arqueológicos existentes em Ivatuba na 21 E. M. Afrânio Peixoto e com moradores. A localização de mais 7 sítios com artefatos arqueológicos lítico (Fazenda do Salto 1, Fazenda do Salto 2, Conjunto Primavera 1, Conjunto Primavera 2, Bosque, Serrinha, Formagio) estes sítios, somados com os dados das pesquisas já citadas(igor Chmyz 1969 e Francisco Noelly 2002), serviram como base para alimentação da carta georreferenciada. E assim foi possível comprovar que os sítios encontrados anteriormente desta pesquisa não se tratavam de ocorrências isoladas, mas sim de uma ocupação sistemática de locais com grandes possibilidades de ofertas de alimentos e existência de matéria prima para confecção de objetos de uso cotidiano. Tabela 3 : Os Sítios arqueológicos presentes na região de Ivatuba Nº do sito Município Nome do sitio 1 Ivatuba Condominio PR- TB - 01 Codigo Fonte Material Tradição Água + Próxima Noelli 2002 Umbu Ribeirao Paiçandu Coordenada 23º28 21 S5 2º W Elevação 2 Ivatuba Vila Rural PR-TB Ivatuba Conjunto primavera Noelli 2002 PIC/UEM Rio Ivaí UTM : H V Água Ivatuba 23º37º36 S 52º13 56 W 290 metros

10 Ivatuba Conjunto Primavera PIC/UEM Água Ivatuba 23º37 42 S 52º13º metros 5 Ivatuba Fazenda do Salto PIC/UEM Água Ivatuba 23º37 10 S 52º15 33 W 282 metros 6 Ivatuba Fazenda do Salto PIC/UEM Água Ivatuba S W 286 metros 7 Ivatuba Bosque PIC/UEM Rio Pitanga S W 270 metros 8 Ivatuba Serrinha PIC/UEM Água dos Alves UTM; H V metros 9 Ivatuba Formagio PIC/UEM Ribeirão Paiçandu UTM;H ; V metros Tabela 4: Os sitos arqueológicos presentes na região da bacia do médio rio Ivaí Numero dos Sitos Município Nome do sítio Fonte Coorden ada Projeto Ativ Material Tradição Água + Proxima 10 Doutor Primeira P Chmyz 1969; PRONAPA Prosp Humitá Camargo CNSA Doutor Fazenda S Chmyz 1969; PRONAPA Prosp Humaitá Camargo CNSA Doutor Restaurante Ivaí 1 Chmyz 1969; Camargo CNSA Doutor Restaurante Ivaí 2 Chmyz 1969; Camargo CNSA Doutor Primeira Chmyz 1969; Camargo Corredeira CNSA Doutor Segunda Chmyz 1969; Camargo Corredeira CNSA Doutor Corredeira da Chmyz 1969; Camargo Égua CNSA Doutor Corredeira da Chmyz 1969; Camargo Égua 2 CNSA Doutor Faz Santa Rita Chmyz 1969; Camargo CNSA Floresta Vila Rural Noelli 2002 UTM : VILAS Registro Ceramico Guarani Rio Caxias H RURAIS V Itambé Ribeirão M Noelli 2002 Registro Ocasio Registro Ribeirão Marialva E por ultimo temos como resultado a produção de uma carta georreferenciada do Município de Ivatuba, onde consta a bacia do Rio Ivaí com o seus afluentes no município, e os sítios arqueológicos georreferenciados.

11 4727 Figura 7 : Carta Georreferenciada dos sítios arqueológicos de Ivatuba- PR Conclusão Assim pode-se concluir que a existência de sítios arqueológico em Ivatuba não se trata de um fenômeno isolado, pois o número de vestígios e sítios encontrados foram relevantes. Os vestígios e as peças foram encontradas no sítio Serrinha, próximo ao rio Água dos Alves, no sítio Fazenda do Salto, próximo ao rio Água Ivatuba, no sítio Conjunto Primavera, próximo do rio Água Ivatuba, no sítio Bosque próximo ao Rio Pitanga, no sitio Formagio, próximo ao rio Ribeirão Paiçandu, no sítio Condomínio próximo ao Ribeirão Paiçandu e no sitio da Vila Rural próximo ao rio Ivaí. Todos estes sítios estão em locais diferenciados e próximos aos córregos e as margens dos rios. Todas as informações sobre as peças e sobre os sítios num futuro próximo poderão servir como novas fontes para eventuais pesquisas, sobre a pré-história do Brasil e do Paraná.

12 4728 Este estudo comporá um panorama maior sobre as populações que habitaram o vale do rio Ivaí, contribuído para a compreensão sobre a ocupação humana da região antes da chegada das populações européias no Sul do Brasil. Referencias BLASI, O. O sítio arqueológico de Estirão Comprido Rio Ivaí Paraná. Arquivos do Museu Paranaense, Curitiba, n. 3, p. 1 59, CHMYZ, I. Dados Parciais sobre a Arqueologia do Rio Ivaí. PRONAPA 2. Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, n. 10, p , FERREIRA, João Carlos Vicente. O Paraná e seus Município.. Maringá. Editora Memória Brasileira, 19º ed., MOTA, L. T. NOELLI, F. S. Exploração e guerra de conquista dos territórios indígenas nos vales dos rios Tibagi, Ivaí e Piquiri In: Maringá e o norte do Paraná. Estudos de História Regional.Maringá: EDUEM, NOELLI, F.S. MOTA, L.T. A pré-história da região onde se encontra Maringá, Paraná. In:Maringá e o Norte do Paraná : estudos de história regional. Maringá : EDUEM,1999 p.5-19 NOELLI, F.S. Nota sobre a presença da tradição Umbu no médio-baixo Ivaí, Pr. Revista do Cepa. Santa Cruz do Sul, v. 22. n. 27/28. p PADILHA, Antonio. Ivatuba Progresso Constante. Maringá. Traço Publicações

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