VI Jornada Nacional de Economia da Saúde

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1 VI Jornada Nacional de Economia da Saúde Gastos com saúde das famílias brasileiras: composição e desigualdades nas Unidades da Federação, Pesquisa de Orçamentos Familiares Eixo: Financiamento dos Sistemas de Saúde Leila Posenato Garcia, Ana Cláudia Sant Anna, Luís Carlos Garcia de Magalhães, Adriana Pacheco Aurea, Lucia Rolim Santana de Freitas Justificativa As famílias brasileiras têm papel fundamental no financiamento da assistência à saúde. A renda é fator preponderante no gasto com saúde, sendo relevante conhecer as desigualdades nesses gastos. Outro fator relevante é o acesso aos serviços de saúde. A oferta desses serviços também influencia no montante gasto com saúde. Desta forma, o presente estudo objetiva descrever os gastos com saúde das famílias brasileiras com saúde e investigar as desigualdades de renda nesses gastos, nas Unidades da Federação (UF). Metodologia A base de dados utilizada no estudo são os microdados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de Foram estimados os gastos médios com saúde e seus principais componentes: medicamentos, planos de saúde (inclusive planos odontológicos), tratamento dentário, consultas médicas e outros (hospitalização, óculos e lentes, serviços de cirurgia, tratamento médico e ambulatorial, exames e material de tratamento). Ademais, calculou-se a proporção de famílias que tiveram gastos positivos com saúde e seus componentes, a participação do gasto com cada componente em relação ao total do gasto com saúde e a participação do gasto em relação à renda familiar. O Índice de Concentração (IC) foi calculado para mensurar as desigualdades no gasto com saúde, utilizando a renda familiar mensal como indicador socioeconômico. Os valores apresentados estão em reais de janeiro de Resultados Em , o gasto médio das famílias brasileiras com saúde foi R$ 153,81. Entre as Unidades da Federação (UF), o maior gasto médio foi em São Paulo (R$220,72), enquanto o menor foi no Amazonas (R$ 41,54). Entre os UF com gasto médio em saúde superior ao gasto médio em

2 saúde no Brasil, estão, além de São Paulo, os UF da Região Sul, o Distrito Federal e o Rio de Janeiro. As famílias do Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro, receberam em média mais que as dos demais estados. A renda média das famílias variou entre R$1.396,71 e R$4.513,15. As famílias de Alagoas receberam a menor renda mensal, mas não foram as que tiveram o menor gasto médio em saúde, estas foram as famílias do Amazonas, que gastaram R$41,54. São Paulo, em contrapartida, foi onde as famílias tiveram o maior gasto médio com saúde R$220,72. No Brasil, 88% das famílias tiveram gastos positivos com saúde. Essa proporção foi menor no Amazonas (77%) e Amapá (76%) e Alagoas (76%), e maior no Piauí (92%) e São Paulo (91%) (Figura 1). No entanto, nota-se que apesar da existência do Serviço Único de Saúde (SUS) mais de 70% das famílias consideradas na pesquisa gastam com saúde. Figura 1: Percentagem das famílias que gastam com saúde segundo as Unidades da Federação em Fonte: Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2002/2003 e 2008/2009, IBGE.

3 A parcela da renda das famílias brasileiras comprometida com gastos em saúde foi 5,8%. As famílias de São Paulo e Rio de Janeiro comprometeram uma proporção maior de sua renda com saúde (6,4% e 6,4%, respectivamente), enquanto aquelas do Amazonas tiveram o menor comprometimento (2,2%). As famílias em São Paulo gastam em média 5,3 vezes mais com saúde do que as famílias no Amazonas. Uma explicação para esta menor porcentagem é o número inferior de pessoas que gastam com saúde no Amazonas. Entretanto, apesar da correlação entre renda e gasto, o Distrito Federal que possui uma renda superior compromete uma percentagem menor dessa com gastos em saúde, 4,1%. Um motivo para esse resultado reside no fato da renda no Distrito Federal (DF) ser superior à em São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto que os gastos médios com saúde no DF são semelhantes aos últimos estados mencionados. Destaca-se também que apesar do Piauí estar entre os UFs com maior média de gastos com saúde a percentagem da renda ocupada com gastos com saúde está entre as maiores (6,2%). No Brasil, os gastos com medicamentos corresponderam a 48,5% do total do gasto das famílias com saúde. Proporção menor foi registrada no Rio de Janeiro (40,8%). Os gastos com planos de saúde corresponderam a 29,8% dos gastos das famílias brasileiras com saúde. Essa proporção equivaleu a 2,3% em Roraima, por outro lado, superou 30% nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Amapá (Figura 2).

4 Figura 2: Composição dos gastos com saúde segundo UF em 2008/9 Fonte: Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2002/2003 e 2008/2009, IBGE. O estado no qual as famílias tiveram maior comprometimento da renda com planos de saúde foi o Rio de Janeiro (2,8%), enquanto o menor comprometimento foi registrado em Roraima (0,1%). Quanto aos gastos com medicamentos, estes resultaram em maior comprometimento da renda entre as famílias do Paraná (3,5%), e menor entre aquelas do Amazonas (1,5%). De modo a mensurar a desigualdade nos gastos com saúde calculou-se o Índice de Concentração (IC) no Brasil (Figura 3). Esse indicou igualdade nos gastos totais com saúde, 0,16 e desigualdade nos gastos com planos de saúde, 0,71, implicando que os gastos neste componente estão mais concentrados entre os mais ricos.

5 Figura 3: Índice de Concentração segundo tipo de gasto em saúde Valores calculados pelos autores com base na POF 2008/9. Conclusões Segundo os resultados encontrados existem relevantes diferenças entre os estados nos gastos com saúde. As famílias em São Paulo gastaram 5,3 vezes mais com saúde o que as famílias no Amazonas. Os gastos com saúde não são necessariamente maiores nos estados onde a renda média das famílias é maior, por exemplo, no Distrito Federal. De fato, por terem gastos médios menores, o peso dos gastos com saúde na renda é inferior a estados com renda mensais altas como o Rio de Janeiro e São Paulo. O Amazonas é o estado com a menor percentagem de famílias que gastam em saúde e também são os que têm menores gastos médios, apesar de não terem a menor renda média. Os achados refletem a distribuição geográfica desigual da oferta, do acesso e da utilização dos bens e serviços de saúde nas diferentes UF.