ALGUMAS DAS FORMAÇÕES MONOTÍPICAS DO PANTANAL José Vamberto Alves 1

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1 ALGUMAS DAS FORMAÇÕES MONOTÍPICAS DO PANTANAL José Vamberto Alves 1 RESUMO As atividades antrópicas têm mudado as feições do pantanal, onde os desmatamentos e a expansão da fronteira agrícola, por exemplo, são capazes de comprometer a qualidade de vida dos seres vivos, inclusive as espécies arbóreas do bioma, cujas matas sofrem inundações periódicas. A vegetação do Pantanal não é homogênea e há um padrão diferente de flora de acordo com o solo e a altitude, sendo certo que as árvores de porte médio entremeadas de arbustos e plantas rasteiras, aparecem nas alturas médias, enquanto nas áreas inundáveis ficam os capões de mato, com as árvores maiores. As formações monotípicas existentes no pantanal se caracterizam pela predominância de uma única espécie arbórea com a carambazal, carandazal, paratudal e outros. 1. INTRODUÇÃO A Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e Ciência (UNESCO) nos anos 2000 reconheceu o Pantanal como Patrimônio Natural e Reserva da Biosfera com uma área estimada de 250 mil quilômetros quadrados, sendo cerca de 60% (sessenta por cento) em território nacional e o restante dividido entre a Argentina, o Paraguai e a Bolívia, onde as terras úmidas ou áreas passíveis de alagamento levam o nome de Chaco 2. O Pantanal que também ocupa uma pequena porção do Estado de Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul está inserido na Bacia do Alto Paraguai, sofrendo a influência do Chaco e de outros três tipos de biomas, quais sejam: o Cerrado, a Amazônia e a Mata Atlântica. 1 O autor é aluno matriculado na disciplina Biogeografia do Curso de Bacharelado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 2 Entre o Chaco e o Pantanal existem profundas diferenças no que diz respeito à infraestrutura (maior no Chaco) e no tocante a áreas protegidas e políticas de conservação (mais desenvolvidas no Pantanal). A análise dessas diferenças deveria servir como base para estabelecer políticas ativas de conservação de desenvolvimento (ADÁMOLI, 2000). 1

2 Não obstante as melhores referências de conservação e de preservação do Pantanal são certas que as atividades antrópicas são interferências que vem ocorrendo e comprometendo as áreas de vegetação nativa, pois a expansão da fronteira agrícola, os desmatamentos e até o uso intensivo dos recursos hídricos são preocupações cada vez mais presentes nos dias atuais. 2. ALGUMAS DAS FORMAÇÕES MONOTÍPICAS DO PANTANAL O Pantanal é formado por um mosaico de comunidades hidrófilas submersas e natantes, heliófilas, mesófilas e até xerófilas. Apresenta-se também tipos vegetacionais com predominância de uma única espécie arbórea com a carambazal, carandazal, paratudal e outros (NASCIMENTO, 1989) CARAMBAZAL Algumas espécies tem sua distribuição relacionada às áreas de planície intermitente e inundáveis, como é o caso do cambarazal. Os proprietários de fazendas no pantanal, há décadas vêm informando sobre o fato de que o cambará tem se espalhado com muita celeridade sobre os campos naturais e os manejados. Figura 1 - Carambazal, tipo formado basicamente por indivíduos Vechysia divergens. Fonte: 2

3 O cambará não é considerado um problema em áreas alagáveis, porém quando atinge partes mais altas dos terrenos do Pantanal e avança em direção aos campos e cordas das cordilheiras formando florestas é considerado um problema grave, pois o cambarazal elimina áreas de pastejo (FRAGA, 2009 apud Santos, 2006) PARATUDAL Por sua vez, segundo LORENZI (2002), o Paratudo é uma árvore não pioneira pertencente ao gênero Tabebuia (dos ipês e pau-d'arcos), tendo sido descrita originalmente em 1836 como Bignonia aurea, por Silva Manso. O nome popular "paratudo" deve-se ao fato de que os pantaneiros do Brasil mascam a casca como remédio para problemas no estômago, vermes, diabetes, inflamações e febres. Outros nomes populares: craibeira, caraiberia, caroba-do-campo, cinco-em-rama, cinco-folhasdo-campo, ipê-amarelo-craibeira, ipê-amarelo-do-cerrado, pau-d'arco. O Paratudal é uma formação savânica alagável, com estrato arbóreo com domínio de Tabebuia aurea (Bignoniaceae), o que caracteriza uma formação monodominante neste estrato... devendo ser levado em consideração a ocorrência periódica do fogo, que atua selecionando somente as espécies resistentes a esse fator (MOTA et al, 2011 apud Soares e Oliveira, 2009). Figura 2 - Paratudal com o predomínio de estrato dominado pelo Paratudo (Tabebuia aureo). Fonte: (STRAUBE et al, 2006). Disponível em: 3

4 A ocorrência da formação do Paratudal, especialmente no Pantanal de Porto Murtinho/MS, tem levado pesquisadores a levantar possíveis diferenças quanto à diversidade e similaridade florística entre aquela formação vegetacional com a própria Mata Ciliar existente, já que esta última é reconhecidamente mais dispersa por apresentar-se num ambiente menos seletivo comparado ao Paratudal CARANDAZAL O Carandá (Copernicia australis Becc.; Arecaceae ou Palmae) é uma planta da família das arecáceas, nativa da ecorregião de Chaco na Bolívia, Paraguai, Brasil (nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e Argentina (especialmente na província de Formosa). É a mais resistente ao frio das espécies de Copernicia (WIKIPEDIA, 2013). Figura 3 - Associação de Carandá, localmente denominado Carandazal. Fonte: (STRAUBE et al, 2006). Disponível em: 4

5 C. alba é uma palmeira que atinge até 20 m de altura, com um espique de 40 cm de diâmetro máximo, raramente bifurcado, coberto de uma crosta de cor cinza e de superfície lisa ou marcada pelas vestígios dos galhos antigos nas plantas adultas. O sistema radicular é extenso e profundo. A madeira é resistente e densa (até 0,92 de densidade relativa em exemplares adultos). Mostra folhas palmadas, em forma de leque, agrupadas no ápice do talo, com o limbo de uns 70 cm de largura e o ráquis muito mais largo que isso, lenhoso e dotado de espinhos negros, duras e curvas; são palmatisetas, persistentes, com entre 30 e 50 folíolos lineares, cada um em torno de 2 cm de extensão e cor ligeiramente azulado. Nos exemplares adultos estão cobertos de uma cera similar a da carnaúba PIUVAL Em agosto o Pantanal seca bem e muitas árvores perdem as folhas, a paisagem ganha tons cinza e marrom e o ambiente fica seco e árido. Essa descrição parece dura e hostil, mas durante uma semana a natureza nos surpreende de repente. Em meio aos galhos secos e ao sol escaldante, uma cintilante coloração rosa aparece. É a Piúva, árvore símbolo do Pantanal, florescendo para o deleite da comunidade pantaneira (BRANDÃO, 2012). Foto 4 Piúvas. Fonte: 5

6 Ela recebe muitos nomes, como: ipê rosa, ipê roxo, ipê de Minas, Piúva roxa, sendo que ela pode chegar a medir até 30 metros de altura, quando é encontrada no interior da mata. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por trazer características de biomas como Amazônia, Cerrado e do Chaco Boliviano, o Pantanal apresenta uma enorme variedade de espécies vegetais, porém com um arranjo exclusivo (DUNHAM SANTOS, 2012). A camada de lodo nutritivo que fica no solo após as inundações permite o desenvolvimento de uma rica flora. Em áreas em que as inundações dominam, mas que ficam secas durante o inverno, ocorre vegetações como a palmeira carandá e o paratudal (BUENO, 2008). Segundo a EMBRAPA Pantanal citada por Monteiro (2103), nas últimas três décadas, a região vem sofrendo agressões pelo homem, praticadas principalmente nos planaltos adjacentes. Atualmente, os impactos ambientais e socioeconômicos no Pantanal são bastante evidentes, decorrentes da inexistência de um planejamento que garanta a sustentabilidade dos recursos naturais desse importante bioma. É preciso responder aos desafios de gerar uma nova base de informação tecnológica, capaz de conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental. As pesquisas mostram que é possível utilizar de forma sustentável os recursos naturais da região, proporcionando a elevação da renda e melhoria da qualidade de vida da população pantaneira, além de estudar alternativas como o ecoturismo, gerando empregos e garantindo a conservação do meio ambiente. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADÁMOLI, Jorge. Bases para uma política comum de conservação de terras úmidas do Pantanal e do Chaco. Trabalho apresentado no III Simpósio sobre recursos naturais e socioeconômicos do Pantanal. Os desafios do novo milênio. Corumbá, MS: Disponível: < 91.pdf> Acesso em: 07. Mar

7 BRANDÃO, Helder. A semana rosa. Ecopousada Fazenda Natureza Pantanal Disponível em: < Acesso: 07.Mar.2013 BUENO, Chris. A fauna e a flora do pantanal. Ecoturismo Disponível em: < Acesso em: 08. Março DUNHAM SANTOS, Gabriela P. et al. A flora do pantanal Disponível em: < Acesso em: 08. Mar FRAGA, Camila I. de Menezes. Evapotranspiração e fator de desacoplamento em área de Cambarazal no Pantanal. Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá: Disponível: < Acesso em: 08. Mar LORENZI, Harri. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil, 4 ed. vol. 1. Instituto Plantarum, Nova Odessa, SP, MONTEIRO, Neide. O Pantanal Sul-Mato-Grossense Disponível em: < Acesso em: 08. Mar NASCIMENTO, M. T.; CUNHA, Cátia Nunes da. Estrutura e Composição Florística de Um Cambarazal No Pantanal de Poconé-MT. Acta Botânica Brasílica, v. 3, n.1, p. 3-23, Disponível em: Acesso em: 07.Mar SANTOS, S. A.; NUNES DA CUNHA, C.; TOMÁS, W.; ABREU, U. G. P.; ARIEIRA, J. Plantas invasoras no Pantanal: como entender o problema e soluções de manejo por meio de diagnóstico participativo. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 66. EMBRAPA. Corumbá, 45p, Agosto,