A Formação Matemática no Curso de Pedagogia: algumas reflexões

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1 A Formação Matemática no Curso de Pedagogia: algumas reflexões Patrícia Corrêa Santos 1 GD07 Formação de Professores que Ensinam Matemática Este estudo tem como objetivo analisar a formação matemática do licenciando em Pedagogia da UNEB - Campus X, de Teixeira de Freitas - BA. A pesquisa está sendo realizada para a elaboração da dissertação do programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional da Faculdade Vale do Cricaré - FVC. Por ser uma pesquisa qualitativa caracterizada por um estudo de caso, para o seu desenvolvimento e a fim de alcançar o objetivo proposto, alguns dos envolvidos com o curso em referência, como professores que ministram alguma disciplina na área de Matemática, coordenador do colegiado de Pedagogia, alunos do curso e egressos que já estão atuando como professores, serão investigados no que se refere ao tema estudado, ressaltando desta forma a contribuições de Lüdke e André (1986). Para completar o estudo, está sendo feito um levantamento bibliográfico e documental a fim de analisar teorias que regem a educação nas séries iniciais do Ensino Fundamental, quais são os objetivos do ensino da Matemática neste ciclo e um estudo da grade curricular do curso de Pedagogia, no que concerne a Matemática. Ao termino do trabalho, pretende-se produzir um material que possa subsidiar a organização e reorientação do curso de Pedagogia investigado e responder a questão que incentivou a produção deste trabalho, Como se dá na atualidade a formação inicial em Matemática do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental?. Palavras-chave: Conhecimento Matemático. Formação inicial. Ensino de Matemática. Introdução A formação dos professores das séries iniciais vem sendo tema de discussões a décadas, e em especial, a sua formação matemática. Porém, mesmo diante de discussões e modificações, ainda nos deparamos com professores que apresentam insegurança no que se refere ao ensino da Matemática, ou melhor dizendo, incompreensões sobre vários temas e forma de ensiná-los. A LDBEN 9394/96 determina que a formação de docentes para atuar na educação básica fase-á em nível superior, em curso de licenciatura. Sendo assim, na sua maioria temos como professores deste ciclo de ensino, o pedagogo, pois segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia Parecer, CNE/CP Nº5/2005, o curso de Licenciatura em Pedagogia tem como uma de suas funções, a de preparar os futuros docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental, além disso, considera-se importante que, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os alunos devem ser instruídos na língua escrita e na linguagem matemática. 1 Pós-Graduanda no Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional pela Faculdade Vale do Cricaré - FVC. Professora de Matemática do Instituto Federal baiano - IF Baiano/Campus Teixeira de Freitas. pro.patricia@hotmail.com. Orientador: prof. Dr.Edmar Reis Thiengo.

2 Porém, notadamente algo não vai bem, no que se refere à formação matemática oferecida neste curso. Mediante cenário, surgiram alguns questionamentos: Como se dá na atualidade a formação inicial em Matemática do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental?, A formação em Matemática no curso de Licenciatura em Pedagogia é suficiente para uma prática significativa em sala de aula?, E se não, no ponto de vista dos sujeitos envolvidos, o que pode ser feito para resolver tal problema?. A fim de obter respostas para tais questionamentos, pretende-se investigar a formação Matemática desenvolvida no curso de Licenciatura em Pedagogia. Para isso, fixou-se como universo de estudo o curso oferecido pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) - Campus X, localizada em Teixeira de Freitas, esta escolhida pelo fato de ser uma universidade de destaque na região, pois atende várias cidades circunvizinhas. Desta forma, ao final do trabalho, serão produzidos dados que possam subsidiar a organização e reorientação do curso de Licenciatura em Pedagogia investigado. A Matemática no processo educacional A educação se encontra em constante reajuste, exigindo a todo o momento uma reorganização do planejamento tanto no que concerne a formação docente, quanto no que realmente deve ser ensinado em sala de aula. A Matemática por sua vez, se destaca como uma disciplina que tem papel importante no processo educacional. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's, 1997), ela interfere fortemente na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento e na agilização do raciocínio dedutivo do aluno, além de permite resolver problemas da vida cotidiana, pois é aplicável no mundo do trabalho, sendo essencial para a construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. Sendo assim, ela precisa estar ao alcance de todos e a democratização do seu ensino deve ser meta prioritária do trabalho docente. Além disso, afirmam que a atividade matemática escolar não é olhar para coisas prontas e definitivas, mas a construção e a apropriação de um conhecimento pelo aluno, que se servirá dele para compreender e transformar sua realidade, devendo ser apresentado aos alunos como historicamente construído e em permanente evolução, mantendo uma relação das observações do mundo real com representações e estas com os princípios e conceitos matemáticos.

3 Numa reflexão sobre o ensino da Matemática é de fundamental importância ao professor: identificar as principais características dessa ciência; conhecer os conhecimentos informais sobre um dado assunto; ter clareza de suas próprias concepções sobre a Matemática. O ministério da educação afirma que aprender matemática é um direito básico de todos e uma necessidade individual e social de homens e mulheres. Saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações estatisticamente etc. são requisitos necessários para exercer a cidadania. No entanto, a idéia não é atender a criança porque é lei, mas porque se trata de uma responsabilidade social com as crianças, instituindo alternativas diversas de socialização para todas e abrindo espaços para elas nas mais diferentes instituições já existentes e nas mais variadas práticas sociais, que permitam que a história de cada criança seja contada, ressignificada, mudada, pois todos os espaços e os tempos de contar e recontar, educar e cuidar são igualmente importantes (KRAMER, 2002). Isso reforça a necessidade de trabalhar com os conteúdos programáticos relacionando-os com a realidade na qual o aluno se encontra, ou seja, dá significado e realidade ao que é proposto em sala de aula. A formação matemática do professor pedagogo Com uma carga horária mínima de 3200 horas, pesquisas apontam que os cursos de Licenciatura em Pedagogia ofertados, destinam ao estudo da Matemática cerca de 120 horas, ou seja, aproximadamente 4% da carga horária total.curi (2004) afirma, houve época em que sequer havia a disciplina de Matemática nos cursos de formação de professores (pedagogos) e ainda hoje é possível afirmar-se que os futuros professores (pedagogos) concluem cursos de formação sem conhecimentos de conteúdos matemáticos com os quais irão trabalhar, tanto no que concerne a conceitos quanto aos procedimentos e a própria linguagem Matemática que utilizarão em sua prática docente. Isso confirma que estamos diante de um problema que não é caracterizado como atual, e sim, com um problema do qual existe há algum tempo e merece ser discutido. Desta forma, o curso de Licenciatura em Pedagogia se torna alvo de estudo, a fim de se verificar se esta formação inicial é satisfatória, no ponto de vista da Matemática. Pesquisas apontam para índices que indicam baixo desempenho dos alunos na área de Matemática em testes de rendimento. Frequentemente, a Matemática tem sido apontada como disciplina que contribui significativamente para elevação das taxas de retenção e que parte

4 dos problemas referentes ao ensino de Matemática estão relacionados ao processo de formação inicial do professor. Para os PCN's, parte dos problemas referentes ao ensino de Matemática estão relacionados ao processo deformação do magistério, tanto em relação à formação inicial como à formação continuada. Decorrentes dos problemas da formação de professores, as práticas na sala de aula tomam por base os livros didáticos, que, infelizmente, são muitas vezes de qualidade insatisfatória. A implantação de propostas inovadoras, por sua vez, esbarra na falta de uma formação profissional qualificada, na existência de concepções pedagógicas inadequadas e, ainda, nas restrições ligadas às condições de trabalho. Tais problemas acabam sendo responsáveis por muitos equívocos e distorções em relação aos fundamentos norteadores e idéias básicas que aparecem em diferentes propostas. Mas, o que se tem feito a respeito? Segundo Fiorentini (2003) há poucas pesquisas referentes à presença da Matemática nos cursos de formação inicial de professores para os anos iniciais em nível superior, em especial aquelas que possibilitem subsidiar programas de formação. O autor ainda destaca que praticamente não há estudos sobre o ensino de Matemática e de sua Didática nos cursos de Pedagogia, nem sobre o perfil dos formadores que ensinam Matemática e/ou Didática da Matemática nesse curso de nível superior. O autor concluiu que sabemos pouco sobre os conhecimentos matemáticos necessários aos docentes que ensinam Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental. Ainda hoje nos deparamos com um número pequeno de pesquisas voltadas ao tema abordado e as poucas encontradas confirmam novamente a situação em que se encontra a formação matemática desse futuro professor. Como Bulos e Jesus (2007), que destacam em sua pesquisa alguns problemas identificados na formação de professores dessa etapa do ensino, notadamente o não domínio de conteúdos, a insegurança e o não relacionamento dos conteúdos matemáticos com a realidade acabam influenciando negativamente na formação das crianças. Azevedo (2007) encontrou nos professores uma grande dificuldade, advinda da ambiguidade que significa trabalhar com intencionalidade em um espaço que demanda a preservação da espontaneidade da criança, percebendo quanto essa questão é obscura para os professores, denunciando uma formação precária. A formação deve favorecer o desenvolvimento de concepções, atitudes e capacidades positivas, como o gosto por aprender, a autonomia, a vontade e o gosto por enfrentar dificuldades, a persistência, a valorização da ajuda de outro, a capacidade de procurar ajuda, a confiança nas idéias próprias... (LOUREIRO, 2004: p ). Essa formação

5 deve encorajar o futuro professor a refletir, questionando suas crenças e concepções, de forma que possa vir a alterá-las. Assim, possibilitará a esse professor romper com várias crenças construídas e ver a Matemática de uma maneira diferente, construindo novas concepções sobre fazer, aprender e ensinar Matemática. Para Azevedo (2007), é preciso, portanto, oferecer uma formação sólida para que os professores respondam a esse desafio e exerçam sua atividade com autonomia, integridade e responsabilidade. Isso significa, no caso dos educadores infantis, ter uma concepção clara do que é infância e de como a atividade pedagógica no espaço da educação infantil deve preservá-la. Por fim, o último destaque que os professores apontaram na pesquisa realizada por Azevedo (2007) é pertinente: quando dizem que faltam professores formadores que tenham vivenciado a prática da educação infantil durante sua trajetória docente, isso indica que fica difícil para o professor falar de uma realidade que ele não conhece, pois pode cometer equívocos e trabalhar com os alunos algo distante do real; voltamos, então, à lacuna apontada pelos professores: a falta de relação entre a teoria e a prática. Curi (2004) reforça essas informações e as completa com base nos dados que derivam de seu estudo. Segundo a pesquisadora, as influências que procedem, tanto da formação escolar como da formação acadêmica, auxiliam na constituição do conhecimento dos professores. Nesse sentido, [...] quando professores têm pouco conhecimento dos conteúdos que devem ensinar, despontam dificuldades para realizar situações didáticas, eles evitam ensinar temas que não dominam, mostram insegurança e falta de confiança.(p.162) Mediante conclusão, mais um agravante é destacado, pois diante de dificuldades em ministrar conteúdos matemáticos dos quais não dominam, o professor acaba não trabalhando com todo o conteúdo programático da série em que se encontra. E isso, faz com o aluno siga para a próxima etapa de ensino sem os pré-requisitos necessários para dá continuidade aos estudos da Matemática. Procedimentos metodológicos da pesquisa Para o desenvolvimento desta pesquisa e realização dos objetivos propostos, optou-se por uma pesquisa qualitativa caracterizada por um estudo de caso. Esta metodologia permite estudar a realidade de determinada unidade buscando coletar o maior número de informações acerca do objeto pesquisado. Lüdke e André (1986) complementam essa idéia

6 quando afirmam que na pesquisa qualitativa, "a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. O interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas. (p.12). Com o objetivo de analisar a formação matemática do licenciando em Pedagogia da UNEB - Campus X, tem-se como objetivos específicos: averiguar a grade curricular do curso de Licenciatura em Pedagogia da instituição em estudo, no que se refere a Matemática; caracterizar o acervo disponibilizado pela instituição para o curso de Licenciatura em Pedagogia, no tocante ao ensino da matemática; diagnosticar como é conduzida a formação matemática pelos professores das disciplinas de Matemática que são oferecidas neste curso; discutir qual a contribuição dessa formação docente de alunos egressos deste curso e propor um momento de reflexão e construção de uma intervenção junto aos sujeitos envolvidos, que colabore para a aquisição de conceitos matemáticos na formação do educador das series iniciais, com vistas em facilitar a sua pratica docente. Para isso será feito um levantamento bibliográfico e documental, será analisado teorias que regem a educação nas séries iniciais do Ensino Fundamental e quais são os objetivos do ensino da Matemática neste ciclo, como também um estudo da historia da formação do professor das séries iniciais. Cellard afirma que o conceito de documento reporta tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de testemunho, é considerado como documento ou fonte (2008, p. 296). O autor amplia sua visão: pode tratar-se de texto escritos, mas também de documentos de natureza iconográfica e cinematográfica, ou de qualquer outro tipo de testemunho registrado, objetos do cotidiano, elementos folclóricos, etc (p. 297). No limite, poder-se-ia até qualificar de documento um relatório de entrevista, ou anotações feitas durante uma observação. (CELLARD, 2008) Além disso, será feito um levantamento da grade curricular do curso de Licenciatura em Pedagogia, no que concerne a Matemática, um levantamento do acervo direcionado ao estudo das disciplinas que envolvem Matemática. Em conversa com os sujeitos envolvidos, coordenadores, professores, alunos e egressos do curso, será utilizado a pesquisa histórico oral, método de pesquisa que consiste em realizar entrevistas induzidas, estimuladas e gravadas, com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modo de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Para a realização de uma proposta de intervenção serão realizados momentos de discussões entre todos os

7 envolvidos na pesquisa. Por fim, a presente pesquisa será realizada na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Teixeira de Freitas, logo, também se caracterizar como estudo de caso. Referências. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CONSELHO NACIONALDE EDUCAÇÃO. Lei n.9394, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: Acesso em 20/03/ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CONSELHO NACIONALDE EDUCAÇÃO. Parecer CNE/CP 05/2005. Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Brasília: MEC/CNE, Disponível em: Acesso em 15/03/2012. AZEVEDO, Priscila Domingues de. Os fundamentos da prática de ensino de matemática de professores da educação infantil municipal de Presidente Prudente/SP e a formação docente. Dissertação(Mestrado em Educação) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, p BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros curriculares nacionais : Matemática /Secretaria de Educação Fundamental. Brasília :MEC/SEF, BULOS, Adriana Mascarenhas Mattos; JESUS, Wilson Pereira de. Professores generalistas e a Matemática nas séries iniciais: uma reflexão.ebrapem, X encontro, Belo Horizonte, 07, 08 e 09 de set., p.disponível em: < Acesso em: 23 de jan. de CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa:enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, Vozes, CURI, Edda. Formação de professores polivalentes: uma análise do conhecimento para ensinar Matemática e de crenças e atitudes que interferem na constituição desses

8 conhecimentos. 2004a. 278 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) - Faculdade de Educação Matemática, PUCSP, São Paulo, FIORENTINI, D. et al. Formação de professores que ensinam Matemática: um balanço de 25 anos de pesquisa brasileira. In Revista Educação em Revista- Dossiê Educação Matemática, BH:UFMG (2003). KRAMER, Sonia. Formação de profissionais de educação infantil: questões e tensões. In: MACHADO, Maria Lúcia de A. (Org.).Encontros e desencontros em educação infantil. 2. ed. São Paulo: Cortez, LOUREIRO, C. F. B; Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São Paulo: Cortez, LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.