AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA POTÁVEL DE EMBARCAÇÕES NOS PORTOS DO RIO DE JANEIRO
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1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA POTÁVEL DE EMBARCAÇÕES NOS PORTOS DO RIO DE JANEIRO Autores:Verona, CE 1 ; Almeida, AC 2 1-Instituto Brasileiro para a Medicina da Conservação- Instituto Tríade 2-Universidade Estácio de Sá Resumo Apesar de importância estratégica dos portos, tanto economicamente, quanto de saúde pública, o serviço de vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras brasileiras, realizado pela ANVISA não possui uma legislação especificamente elaborada para a fiscalização da qualidade da água potável em embarcações e na atualidade, este órgão do Ministério da Saúdeentende que as medidas de verificação devam ser realizadas somente a partir da constatação de evidências, sendo tal interpretação antagônica ao princípio da prevenção, uma vez que instalada a evidência a medida sanitária pertinente estará relacionada ao controle do fato ocorrido e não no sentido de evitá-lo. Esta pesquisa analisou a água potável de 132 embarcações em diferentes portos no estado do Rio de Janeiro e encontrou 9,2% delas positivas para a presença de coliformes, colocando em risco a saúde de tripulantes e passageiros e veiculando agentes infecciosos à outros locais. A falta de atenção preventiva afeta diretamente a saúde das pessoas, desrespeita as leis brasileiras e traz prejuízos econômicos ao país. Introdução O Brasil, um país de dimensões continentais que, além de possuir mais de sete mil quilômetros de seu território na costa Atlântica e em região tropical, possui boas condições para utilização de navios tanto para transporte de cargas quanto de passageiros. No que se refere à carga, a via marítima é o principal meio utilizado para o transporte de mercadorias do comércio exterior brasileiro. Em 2011, a tonelagem exportada por via marítima representou 96% do total, enquanto que a importada alcançou 89%. O fluxo comercial por valor de 2011 atingiu 84% do montante exportado e 76% do importado (SNM/ANTAQ, 2012). A indústria internacional de cruzeiros marítimos também tem mostrado um desenvolvimento ascendente, com um crescimento de 3% em 2013 em relação a 2012 e com uma receita estimada em aproximadamente US$ 37,1 bilhões de dólares (FGV/ABREMAR, 2011; ANTAQ, 2013; Cruise Market Watch, 2014).
2 Em temporadas turísticas anteriores como as dos anos 2004/2005 e principalmente 2010/2011, observou-se aumento considerável de cruzeiros marítimos, mas mesmo com a diminuição do número de cruzeiristas, nesta última temporada 2013/2014 os números ainda são bastante expressivos, sendo uma alternativa bastante procurada por brasileiros, não apenas da classe alta, mas também da classe média, transportando mais de 590 mil pessoas e gerando movimentação financeira de mais de 1,15 bilhão de reais entre 2013 e 2014 (CLIA ABREMAR/FGV, 2014). A vigilância sanitária dos portos, embarcações, tripulações e turistas é tarefa essencial para segurança nacional, seja do ponto de vista de fiscalização para controle financeiro ou de saúde. Com relação à saúde pública, esta tarefa está sob a responsabilidade do Ministério da Saúde, mais especificamente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA. Existe uma série de normas nacionais e internacionais a serem aplicadas às diferentes formas de trânsito de produtos relacionados à saúde, mas um dos elementos mais importantes é a água por ser transportada em todas as embarcações, por ser potencialmente veículo de zoonoses e, quando contaminada, gerar problemas em grande escala. Esta pesquisa avaliou embarcações em diferentes portos do estado do Rio de Janeiro e discute a importância de uma fiscalização mais eficiente e as recentes mudanças qualidade dos serviços prestados pela ANVISA. Metodologia De outubro de 2013 a Julho de 2014 foram analisados aspectos físico-químicos e microbiológicos de 132 embarcações de 21 países, nos portos do Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Mangaratiba e Itaguaí, como parte das exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Os parâmetros microbiológicos analisados de cada embarcação coliformes totais, coliformes termotolerantes e presença de Escherichia coli; e os parâmetros físico-químicos foram cloro, ph, alcalinidase turbidez. Os coliformes totais, coliformes termotolerantes e Escherichia coli, foram avaliados pelo método dos tubos múltiplos. O cloro livre, a alcalinidade e a turbidez foram medidos por um espectrofotômetro DR 2010 HACH, o ph foi medido utilizando-se um PhmetroAlpax Modelo APA 200 P. As unidades de medida para cada parâmetro seguiram as informações da portaria 2.914/11 MS. As amostras de água para análise de potabilidade foram realizadas de acordo com as normas nacionais como aresolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 72, de 29/12/2009 e
3 aportaria n 2914/11, e também estão de acordo com normas internacionais como a American Public Health Association (APHA), American Water Works Association (AWWA) e Water Environment Federation (WEF). As análises estatísticas foram realizadas no software Systat, versão Cada uma das embarcação analisadas tiveram duas a três amostras coletadas de diferentes pontos como enfermaria, cozinha e camarote. Para cada embarcação foram calculadas as médias das amostras em duplicatas ou triplicatas e destes valores foram calculadas as médias gerais. Para os testes microbiológicos, foram calculadossuas proporções em relação ao total de embarcações e para os testes físico-químicos foram calculadas as médias e seus respectivo desvios padrão, valores máximos e mínimos. Com os resultados obtidos foram analisadas as implicações da presença de não conformidades para as tripulações e para saúde pública. Resultados Das 132 embarcações, sete (9,2%) se apresentaram positivas para a presença de coliformes totais e destas, seis também positivas simultaneamente para coliformes termotolerantes e duas positivas para Escherichia coli. Com exceção de uma embarcação que é brasileira, todas as outras que apresentaram resultados positivos para a presença de coliformes foram de origem panamenha como apresentados na tabela abaixo na Tabela 1. A Tabela 2 o número de embarcações em que foram analisadas as amostras de água potável com as médias de cada parâmetro analisado (cloro, ph, alcalinidade e turbidez) e os valores de referência. Tabela 1: Valores dos resultados da presença de coliformes nas embarcações analisadas nos portos do estado do Rio de Janeiro entre 2013 e Bandeira Coliformes totais (NMP/100ml) Escherichia coli (NMP/100ml) Coliformes termotolerantes Brasil 4,0 4,0 4,0 Panamá 4,0 0,0 0,0 Panamá 2,0 0,0 2,0 Panamá 17,0 0,0 17,0 Panamá 9,0 0,0 9,0 Panamá 4,0 0,0 4,0 Panamá 6,0 6,0 6,0 A unidade de medida utilizada é o número mais provável, ou NMP, que representa a quantidade média de bactérias encontrada em 100 mililitros de água. Tabela 2: Valores médios de Cloro, ph, alcalinidade e turbidez encontrados nas análises de água de 132 embarcações, em diferentes portos do estado do Rio de Janeiro.
4 Cloro ph Alcalinidade Turbididez Número de embarcações Valores de Referência VMP VMP 5 (UT) Média 0,358 6,422 43,365 0,361 Desvio padrão 0,355 0,416 10,102 0,255 Valor Mínimo 0,100 5, ,033 Valor Máximo 3,000 8, ,370 IC 95% superior 0,419 6,493 45,105 0,405 IC 95% inferior 0,297 6,350 41,626 0,317 IC= intervalo de confiança. Os valores de referência foram extraídos da Portaria 2.914/11; VMP valor máximo permitido; UT unidade de turbidez. Discussão Apesar de sua importância estratégica tanto economicamente, quanto para a saúde pública, a legislação vigente sobre os portos, aeroportos e fronteiras brasileiras (RDC Nº 72/09) não possui instrumentos especificamente elaborados para a fiscalização da qualidade da água potável em embarcações. A RDC Nº 72/09 apresentam diretrizes genéricas sobre o Regulamento Técnico que para a promoção da saúde nos portos de controle sanitário instalados em território nacional, e embarcações que por eles transitem, enquanto que a Portaria n 2.914/11 dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, porém sem especificar particularidades referentes ao sistema portuário ou às embarcações. A falta de regulamento específico obriga os fiscais responsáveis a buscarem as alternativas que lhes pareçam as mais coerentes, tornando a escolha dos parâmetros técnicos da portaria mais subjetiva, variando assim de acordo com o fiscal e com o porto. Fatores importantes que deveriam ser contemplados em legislação pertinente como níveis de tolerância de diferentes substância e frequência de análises não são encontrados em qualquer legislação brasileira, para embarcações. Nossos resultados mostram uma prevalência de quase 10% das embarcações analisadas, com resultados positivos para presença de coliformes, indicando a importância da fiscalização ativa para garantia da saúde de passageiros e das tripulações, porém a norma sanitária vigente vê esse procedimento de fiscalização como informações de caráter complementar. Como resultado deste entendimento, a ANVISA entende que medidas de verificação devam ser realizadas a partir da constatação de evidências, sendo tal interpretação
5 antagônica ao princípio da prevenção, uma vez que instalada a evidência a medida sanitária pertinente estará relacionada ao controle do fato ocorrido e não no sentido de evitá-lo. A atitude acima referida negligencia e desrespeitaprimeiramente os artigos 196 e 197 da Constituição Federal, a Lei 9.782/99, que define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e que, entre outros assuntos, informa que compete à União exercer a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, assim como vai também de encontro aos Princípios da Precaução e da Prevenção, expondo passageiros e tripulações das embarcações ao risco de contaminação por doenças de veiculação hídrica. A atitude também é contrária à Lei 8.080/90, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, assim como sua organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Situações semelhantes às já detectadas e apresentadas nesta pesquisa, quando ocorrerem novamente agora sem a fiscalização adequada provocarão, além da contaminação e os agravos à saúde das pessoas expostas, também o risco de contaminação de outras localidades para onde a embarcação estiver seguindo aumentando consideravelmente o raio de ação negativa do contaminante. Conclusões Falhas na legislação brasileira referentes à fiscalização e controle de qualidade da água potável em embarcações colocam em risco a saúde de passageiros e tripulação que utilizam este meio de transporte, seja como trabalho ou a lazer, contrariando a legislação e prejudicando a saúde das pessoas e a economia do país. Referênciasbibliográficas ANTAQ.Cenário da cabotagem brasileira 2010 a Superintendência de Navegação Marítima e de ApoioGerência de Desenvolvimento e Regulação da Navegação Marítima e de Apoio. Disponível em: a_2010_2012.pdf American Public Health Association (APHA), American Water Works Association (AWWA), Water Environment Federation (WEF). Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.733p., Disponível em: Brasil. Manual Prático de Análise de Água, FUNASA. Brasília, 2006.
6 Brasil. Portaria MS Nº DE 12/12/2011. Disponível em: portaria_ms_2914_dez_2011.pdf. Brasil. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 72, DE 29 DE DEZEMBRO DE C+N%C2%BAo+72+DE+29+DE+DEZEMBRO+DE+2009.pdf?MOD=AJPERES. FGV/ABREMAR.Cruzeiros marítimos estudo de perfil e impactos econômicos no Brasil. %20Abremar% pdf CLIA ABREMAR/FGV. CruzeirosMarítimosEstudo de Perfil eimpactos Econômicosno Brasil. Disponível em: %20Abremar% pdf, SNM/ANTAQ. Panorama da Navegação Marítima e de Apoio. Superintendência da Navegação Marítima e de Apoio, Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Disponível em: io2012.pdf, 2012.
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