REFLEXOS DAS DOSES DE ADUBAÇÃO NITROGENADA E SISTEMAS DE SUCESSÃO NOS CARACTERES LIGADOS À PRODUÇÃO EM TRIGOS.
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- Fernando Castilho Alves
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1 UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEAg DEPARTAMENTO DE ESTUDOS AGRÁRIOS CURSO DE AGRONOMIA REFLEXOS DAS DOSES DE ADUBAÇÃO NITROGENADA E SISTEMAS DE SUCESSÃO NOS CARACTERES LIGADOS À PRODUÇÃO EM TRIGOS. LEANDRO RITTEL Ijuí - RS Julho
2 1 LEANDRO RITTEL REFLEXOS DAS DOSES DE ADUBAÇÃO NITROGENADA E SISTEMAS DE SUCESSÃO NOS CARACTERES LIGADOS À PRODUÇÃO EM TRIGOS. Trabalho de Conclusão de Curso de Agronomia - Departamento de Estudos Agrários da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIJUI, como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo. Orientador: Prof. Dr. José Antônio Gonzalez da Silva Ijuí - RS Julho
3 2 TERMO DE APROVAÇÃO LEANDRO RITTEL REFLEXOS DAS DOSES DE ADUBAÇÃO NITROGENADA E SISTEMAS DE SUCESSÃO NOS CARACTERES LIGADOS À PRODUÇÃO EM TRIGOS. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Agronomia - Departamento de Estudos Agrários - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, aprovado pela banca abaixo subscrita. Ijuí RS, julho de Prof. Dr. José Antônio Gonzalez da Silva DEAg/UNIJUÍ Orientador Msc. Felipe Zambonato Engenheiro Agrônomo
4 3 DEDICATÓRIA Aos meus pais Leomar Rittel e Noemi Pereira da Silva Rittel que sempre me apoiaram fazendo o possível e o impossível para que este sonho se tornasse realidade. Dedico a todos que de uma forma ou de outra contribuíram para a realização deste trabalho, especialmente meus colegas e amigos.
5 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por estar sempre guiando meus passos, me dando forças para vencer todas as dificuldades da vida. À Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), pelo comprometimento com a pesquisa e com o desenvolvimento regional. Ao Departamento de Estudos Agrários, professores e funcionários, pelo apoio e disponibilidade, que se fizeram úteis e indispensáveis ao desenvolvimento das atividades realizadas durante o curso. Ao professor Dr. José Antônio Gonzalez da Silva, pela paciência, coerência, clareza e dedicação em seus ensinamentos sempre disposto a atender minhas necessidades e dúvidas e por me orientar neste trabalho de conclusão de curso. Aos demais professores que participaram do processo de minha formação acadêmica. Aos colegas bolsistas e estagiários do Grupo de Pesquisa de Sistemas Técnicos de Produção Animal e Vegetal do Curso de Agronomia, pelo incansável trabalho deste a implantação até a conclusão do experimento. Aos funcionários do Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR), Adair e Cezar e todos aqueles que não mediram esforços na execução e condução dos trabalhos e pelos momentos de apoio, diversão e descontração. Aos meus pais, por terem me proporcionado cursar um ensino de nível superior e por terem acreditado que seu filho alcançaria seus objetivos. E a todos os meus colegas e amigos tanto da Agronomia, quanto de outros cursos, que de uma forma ou de outra me ajudaram no decorrer da faculdade.
6 5 REFLEXOS DAS DOSES DE ADUBAÇÃO NITROGENADA E SISTEMAS DE SUCESSÃO NOS CARACTERES LIGADOS À PRODUÇÃO EM TRIGOS DE RESUMO CLASSE PÃO E MELHORADOR LEANDRO RITTEL Orientador: Prof. Dr. José Antônio Gonzalez da Silva O trigo (Triticum aestivum L.) é uma cultura amplamente difundida no mundo pelos inúmeros derivados obtidos pela sua industrialização que vão desde a farinha para fabricação de pães, massas, biscoitos, do farelo usado na alimentação animal como complemento vitamínico até o gérmen utilizado na indústria farmacêutica, produção de óleos e dietéticos. Atualmente, as diferentes cultivares lançadas no mercado evidenciam comportamentos distintos de expressão dos componentes de produção, aliado as formas de fornecimento de nitrogênio e sistemas de cultivo que disponibilizam maior ou menor quantidade de nutrientes pela taxa de decomposição. O presente trabalho teve por objetivo determinar os efeitos proporcionados pelas doses de nitrogênio e tipo de precedente cultural em caracteres ligados à produção e qualidade de grãos em trigos da classe pão e melhorador em dois sistemas de cultivo (soja/trigo; milho/trigo). O experimento foi conduzido no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR), pertencente ao Departamento de Estudos Agrários (DEAg) da UNIJUÍ, localizado no município de Augusto Pestana (RS), no ano de O experimento foi delineado em blocos casualizados com quatro repetições em cada sistema de cultivo, seguindo um modelo fatorial triplo 2x6x2 sendo duas cultivares de trigo (Guamirim (Pão); Cristalino (Melhorador)), seis doses de aplicação da adubação nitrogenada e dois ambientes de cultivo, com milho e soja como cultura precedente. A adubação nitrogenada foi aplicada de acordo com o precedente cultural. No ambiente milho foram aplicadas as seguintes doses: testemunha (zero), 40, 80, 120, 160, 200 kg N ha -1, e no ambiente soja foram utilizadas as doses: testemunha (zero), 30, 60, 90, 120, 150 kg N ha -1. A cultivar Fundacep Cristalino, da classe comercial melhorador, teve rendimentos superiores à cultivar BRS Guamirim independentemente das doses de nitrogênio empregadas e dos distintos ambientes de cultivo. O ambiente de cultivo soja proporcionou uma maior herdabilidade de expressão dos caracteres de interesse agronômico conferindo maior estabilidade de produção. A massa média de grãos é o caráter que mais influencia no rendimento final de grãos em trigo. A máxima eficiência técnica foi obtida com a aplicação de 114 e 78 kg ha -1 de nitrogênio, sendo a máxima eficiência econômica alcançada com 78 e 59 kg ha -1 nos ambientes de milho e soja, respectivamente. Palavras Chave: sistemas de sucessão, analise multivariada, caracteres da inflorescência, herdabilidade, componentes do rendimento.
7 6 REFLECTIONS OF NITROGEN DOSIS AND SUCCESSION SYSTEMS RELATED TO PRODUCTION CHARACTERS IN CLASSES OF WHEAT BREAD AND WHEAT IMPROVER LEANDRO RITTEL ABSTRACT Advisor: Prof.. Dr. José Antonio Gonzalez da Silva The wheat (Triticum aestivum L.) is a widespread culture in the world by numerous derivatives obtained by its industrialization, ranging from flour to make bread, pasta, biscuits, bran used in animal feed as a vitamin supplement to the germ used in pharmaceutical industry, production of oils and dietary factors. Currently, different varieties released in the market show different behaviors in the expression of the components of production, combined forms of nitrogen supply and crop systems that provide greater or lesser amounts of nutrients by the rate of decomposition. This study aims to determine the effects provided by nitrogen dosis and type of species previously used in characters related to production and quality of wheat of bread and improver class in two cropping systems (soybean / wheat, corn / wheat). The experiment was conducted at the Regional Institute of Rural Development (IRDeR) from the Department of Agrarian Studies (DEAG) of UNIJUÍ, located in the municipality of Augusto Pestana (RS) in the year The experiment was designed in randomized blocks with four replications in each culture system, following a triple factorial design 2x6x2 with two cultivars of wheat (Guamirim (Bread), Cristalino (Improver)), six application rates of nitrogen and two environmental systems, with corn and soybean as previous crop. Nitrogen fertilization was applied according to the preceding culture. On the environment Corn the following doses were applied: control (zero), 40, 80, 120, 160, 200 kg N ha - 1, and in the environment Soy were used: control (zero), 30, 60, 90, 120, 150 kg N ha -1. The plots consisted of five rows spaced 0.20 m apart and five feet long, resulting in five square meters per plot. The variety Fundacep Cristalino of the commercial grade improver, had incomes above the BRS Guamirim regardless of nitrogen levels used and the different culture environments. The soybean crop environment provided a greater heritability of expression of the characters of agronomic interest conferring greater stability of production. The average mass of grains is the character that most influences the final grain yield in wheat. The maximum technical efficiency was obtained with the application of 114 and 78 kg ha - 1 nitrogen, and the maximum economic efficiency achieved with 78 and 59 kg ha -1 in the environments preceding the species of corn and soybeans, respectively. Keywords: systems of succession, multivariate analysis, the inflorescence characters, heritability, yield components.
8 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Croqui área experimental sobre resíduo de soja...59 Figura 2. Croqui área experimental sobre resíduo de milho...59
9 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classifcação de trigo segundo a Instrução Normativa nº 7, de 15 de agosto de 2001, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento...21 Tabela 2. Recomendação de adubação nitrogenada para a cultura do trigo e/ou triticale, RS/SC...31 Tabela 3. Resumo da análise de variância do rendimento e massa de grãos e demais caracteres ligados à inflorescência do trigo...36 Tabela 4. Teste de médias por Scot Knott dos caracteres ligados à produção e inflorescência do trigo...38 Tabela 5. Resumo da análise de variância de equação de regressão, parâmetros da equação e sua significância com determinação da máxima eficiência técnica e econômica de produção em trigo...40 Tabela 6. Parâmetros genéticos em diferentes caracteres agronômicos ligados ao trigo para a previsão da estabilidade destes caracteres em distintos sistemas de sucessão Tabela 7. Correlação entre caracteres de importância agronômica em trigo, com base nas diferenças que envolvem cultivar e tipo de precedente cultural...43 Tabela 8. Médias gerais, autovalores e contribuição relativa das variáveis de importância agronômica do trigo sobre o tipo de precedente cultural, cultivar e geral...46 Tabela 9. Análise multivariada e agrupamento de Tocher a partir da distância generalizada de Mahalanobis para os distintos sistemas de sucessão e tipo de cultivar frente às doses de aplicação do nitrogênio em cobertura...47
10 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Cultura do trigo Classificação botânica: origem e evolução Estádios fenológicos de desenvolvimento Expressão dos componentes de rendimento em trigo Qualidade tecnológica do trigo Nitrogênio e suas funções Transformações e dinâmica do nitrogênio no solo Matéria orgânica como componente essencial no ciclo do Nitrogênio Mineralização ou Amonificação Nitrificação Desnitrificação Perdas de Nitrogênio: Volatilização e Lixiviação Formas preferenciais de assimilação do nitrogênio nas plantas Assimilação do Nitrato (NO - 3 ) Assimilação do amônio (NH + 4 ) Nitrogênio e desenvolvimento da planta de trigo Ambientes de cultivo e fornecimento de nitrogênio... 29
11 10 2. MATERIAL E MÉTODOS Localização do campo experimental Caracterização do experimento Genótipos avaliados Cultivar BRS Guamirim Cultivar FUNDACEP Cristalino Procedimento Experimental Variáveis mensuradas Rendimento de Grãos Análise estatística RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS APÊNDICE A Croquis da Área Experimental... 59
12 11 INTRODUÇÃO O trigo (Triticum aestivum L.) é uma espécie cultivada em larga escala, em diversas regiões do mundo, sendo utilizado em varias formas, desde a farinha para a fabricação de pães, massas e biscoitos, até o uso de farelos em rações utilizadas para alimentação animal. Ainda, o trigo se constitui em uma importante cultura na rotação e ou sucessão cultural nas unidades de produção agropecuárias, garantindo o fluxo econômico e a sustentabilidade da propriedade. Além disto, é alimento básico para cerca de 30% da população mundial e fornece em torno de 20% das calorias consumidas pelo homem, pois possui uma grande quantidade de amido no grão além de conter uma proteína denominada de glúten que não é encontrada em outros alimentos (SEAGRI, 2009). As projeções mundiais da cultura do trigo indicam aumento de 0,4% na área plantada com o cereal, passando de 225 milhões de hectares na safra 2008/2009 para 225,8 milhões de hectares em 2010 (ESTADOS UNIDOS, 2010a). A produção mundial está estimada em 677,4 milhões de toneladas, enquanto o consumo chega a 645,6 milhões de toneladas, ficando um estoque final de 195,9 milhões de toneladas (ESTADOS UNIDOS, 2010b). O Brasil produziu, em 2010, cerca de cinco milhões de toneladas ante a um consumo de 10,7 milhões de toneladas. Isto significa que, para atender a demanda, o País deve importar aproximadamente 5,5 milhões de toneladas de trigo e seus derivados (CONAB, 2010) Atualmente, esta espécie representa cerca de 32 % da produção mundial de grãos com suas áreas de cultivo localizadas nos mais diversos países, sendo que as mais produtivas são encontradas na Europa, Ásia e América do Norte. Dentre os maiores produtores encontramos União Europeia (27 países), China, Índia, Rússia, EUA e Canadá, sendo que EUA e Canadá também são os maiores exportadores e
13 12 China, Índia, Rússia, Japão e o Brasil os maiores importadores do produto (CONAB, 2010) O trigo, por ser da família das Poaceas (anteriormente gramíneas), não tem como característica a fixação biológica de nitrogênio, necessitando assim, que esse nutriente seja suprido através de fertilizantes para completar seus processos biológicos que determinarão o crescimento e reprodução da planta. Desta forma, a adubação nitrogenada se insere como um fator importante, pois esse nutriente é crucial para o desenvolvimento e metabolismo da planta de trigo. O nitrogênio (N) é um elemento essencial para as plantas, pois participa de uma série de rotas metabólicas-chave em sua bioquímica, sendo constituinte de importantes biomoléculas, tais como ATP, NADH, NADPH, clorofila, proteínas de armazenamento, ácidos nucléicos e enzimas (HARPER, 1994 apud SANGOI et al., 2007). Neste contexto, a qualidade industrial encontrada nas cultivares se insere como um diferencial no que diz respeito à valorização do produto. A qualidade de panificação possui grande importância para a indústria e produtores de trigo, e possibilita a agregação de valor de mercado ao produto (MITELMANN et al., 2000). Assim, trigos de diferentes classes industriais têm sido cultivados, buscando atender de modo mais especifico nichos industriais. Portanto, o teor e o ajuste de proteínas são fundamentais para a definição de uso dos grãos. Neste sentido, a maior ou menor agregação de compostos proteicos no grão podem determinar em reflexos significativos nas doses e formas de fornecimento de nitrogênio. Este trabalho teve por objetivo determinar os efeitos proporcionados pelas doses de nitrogênio e tipo de precedente cultural em caracteres ligados à produção e qualidade de grãos em trigos da classe industrial pão e melhorador.
14 13 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1. Cultura do trigo O trigo é um dos cereais mais produzidos mundialmente, principalmente pela grande demanda de seus derivados como: pães, massas, biscoitos, entre outros. Além disso, é cultivado em larga escala e em vários países do mundo (MUNDSTOCK, 1999). O Brasil concentra sua produção na região Sul do país, os principais estados produtores são o Paraná e o Rio Grande do Sul com a participação de cada um, respectivamente de 53,0% e 36,0%, os quais são responsáveis por mais de 90% da produção nacional, que em média é de quatro milhões de toneladas (CONAB, 2010). Este montante representa menos de 50% do consumo interno do cereal, fazendo com que o Brasil seja um dos principais países importadores de trigo no mundo. No Estado do Rio Grande do Sul, a produção de trigo, que teve seu auge na década de 70, decresceu significativamente tanto em área semeada, quanto na quantidade produzida. Na última década a cultura tem oscilado, com aumento de produção em alguns anos, principalmente devido à produtividade obtida nas safras. As áreas que cultivam trigo mantêm a associação com a soja, concentrando-se principalmente no norte do estado que produz cerca de t (16,3%), no Noroeste Colonial com t (15,5%), Alto Jacuí com t (13,1%) e Missões com t (11,3%). Essas regiões produzem 56,3% do total produzido no Estado, destacando-se os municípios de Palmeira das Missões com toneladas, Tupanciretã com t, Giruá com t, Santa Bárbara do Sul com t e Cruz Alta com t (ATLAS, 2006). Foram cultivadas, em 2010, cerca de 5.026,2 mil toneladas geradas pela produtividade média de kg ha -1, 10,7% menor que a área cultivada na safra Muitos produtores da região sul estão migrando para lavoura de aveia, cevada e canola que apresentam melhores condições mercadológicas. (CONAB, 2010).
15 14 Para que se consiga um incremento, principalmente em área cultivada com este cereal é necessário que se invista, além das qualidades agronômicas da planta, também em caracteres ligados as qualidades industriais do produto de exploração, incrementando em competitividade no mercado. O melhoramento da qualidade representa uma oportunidade de agregar valor de mercado aos produtos agrícolas. No caso do trigo, em face do comércio internacional, existe uma forte interação entre qualidade e preço (WRIGLEY, 1994) Classificação botânica: origem e evolução O trigo é um cereal pertencente à família Poaceae e tribo Triticeae. A subtribo Triticinae é constituída pelos gêneros Triticum, Agropyron, Secale e Haynaldia. As espécies de trigo cultivadas são pertencente ao gênero Triticum sendo elas Triticum aestivum, também chamado de trigo comum ou trigo para pão e Triticum durum, o qual é conhecido como trigo duro ou trigo para macarrão. Entre elas, o trigo comum representa cerca de 90 % do trigo cultivado no mundo. A história do trigo está intimamente relacionada com o desenvolvimento da civilização humana. Foi graças à domesticação deste cereal ocorrida a cerca de dez mil anos na região da Mesopotâmia, que o homem conseguiu mudar a sua forma de obter alimento que era baseada na coleta e na caça, com isso começou a se estabelecer em povoados e produzir seu próprio alimento. A produção e desenvolvimento dos primórdios de trigo se deram a cerca de anos a.c. no crescente fértil na região que compreende os rios Tigre e Eufrates onde hoje está localizado o Iraque (antiga Mesopotâmia). Por uma questão de adaptação o homem deixa de ser nômade, migrador das mais diversas regiões, e cria uma relação intrínseca com a terra (agricultura), produzindo seu próprio alimento e cultivando plantas de seu interesse, entre elas o trigo. Desta forma, ele se torna menos vulnerável as inúmeras variações de oferta de alimento. Historiadores demonstram que os Sumérios, inventores da roda, Igreja, arado e irrigação, alicerçaram suas civilizações com base no trigo, onde produziam
16 15 para próprio consumo e também comercializavam o excedente entre si e com outras civilizações estrangeiras (comércio internacional). Mas para que este comércio de excedente ocorresse de forma efetiva se teve a necessidade de ampliar o modo de comunicação, assim surge à escrita suméria através da inscrição de símbolos de entendimento dos dois povos em tijolos maciços. Também se acredita que outras civilizações bem sucedidas como Assírios, Babilônios, Egípcios, Gregos, Romanos e Árabes também se consolidaram com o trigo como base de sua alimentação. Relatos antigos feitos por filósofos em passagens bíblicas, como o grego Teofrásto, por volta de 300 a.c. descreveu os diversos trigos que eram encontrados na bacia do mediterrâneo (ABITRIGO, 2008). Mais recentemente a arqueologia descobriu, em escavações na França e Suíça, grãos de trigo fossilizados junto a corpos de homens primitivos o que demonstra claramente que o trigo de fato foi alimento utilizado pelos remanescentes mais antigos do homem. As hibridações ocorridas entre os gêneros desta subtribo possibilitou a troca de constituintes genéticos e que levaram a formação de espécies poliplóides. Estes foram originados a partir da hibridação natural entre os gêneros Triticum e Aegilops. Assim existem trigos diplóides (2n=14, genoma AA), tetraplóide (2n=28, genoma AABB) e hexaplóide (2n=42, genoma AABBDD). 1 Huang et al 2002 apud Carvalho e Piana (2008, p ) verificou que estudos moleculares recentes reforçam a tese de que o Triticum aestivum foi resultado da hibridação entre Triticum turgidum (AABB) e Aegilops tauschii (DD), há apenas oito mil anos. A espécie Triticum aestivum é a de maior importância comercial entre o trigo por ter uma maior produtividade aliado à qualidade maior em relação a teor de glúten e proteínas e por ter uma maior adaptabilidade em decorrência do seu elevado nível de ploidia. 1 HUANG, S.; SIRIKHACHORNKIT, A.; SU, X.; FARIS, J. D. GILL, B. S.; HASELKORN, R. Genes enconding plastid acetyil-coa carboxylase and 3-phosphoglycerate kinase of the Triticum/Aegilops complex and evolutionary history of polyploidy wheat. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, Washington, v.99, n.12, p , 2002.
17 Estádios fenológicos de desenvolvimento Os estádios de desenvolvimento é de suma importância conhecê-los, pois é em função deles que é decidida a época mais adequada de se realizar os manejos fitossanitário que a cultura necessita, além de ser uma referência universal entre os profissionais que se dedicam tanto ao melhoramento, pesquisa e também de profissionais da assistência técnica. Existem várias escalas que podem ser utilizadas na cultura do trigo, porém este trabalho esta baseado seguindo a proposta de Counce et. al, (2000). Estádios de desenvolvimento vegetativo: V 1 Colar formado na 1ª folha do colmo principal V 2 Colar formado na 2ª folha do colmo principal V 3 Colar formado na 3ª folha do colmo principal V 4 Colar formado na 4ª folha do colmo principal V 5 Colar formado na 5ª folha do colmo principal V 6 Colar formado na 6ª folha do colmo principal V 7 Colar formado na 7ª folha do colmo principal V 8 Colar formado na 8ª folha do colmo principal Estádios de desenvolvimento reprodutivo R 0 Iniciação da espiga R 1 Diferenciação da espiga R 2 Formação do colar na folha bandeira R 3 Emissão da espiga R 4 Antese R 5 Elongação do grão R 6 Expansão do grão
18 17 R 7 Maturidade de um grão da espiga R 8 Maturidade completa da espiga No estádio V 3 a planta de trigo se encontra no início da diferenciação do primórdio floral e do afilhamento, sendo que nesta época é indicada a realização do manejo da adubação nitrogenada para que as gemas axilares possam desenvolver afilhos além de garantir desde então um bom desenvolvimento da estrutura reprodutiva, para que o rendimento seja maximizado. Nesse sentido, ALVES et al., (2005) relata que o afilhamento pode ser uma característica bastante desejáveis para incrementos de produção nos cereais de estação fria cultivados na região sul do Brasil. Nesse estádio começa a ser definido o potencial de rendimento deste cereal, a qual é conhecida também de fase de duplo anel, onde já inicia a ser definida o tamanho da espiga. O afilhamento tem um desenvolvimento progressivo, sendo que uma boa disponibilidade de nitrogênio nesta época se torna de suma importância para que maximize ao máximo sua produção, conforme o potencial de cada cultivar. A qualidade da luz também é um fator que interfere na emissão de afilhos. ALMEIDA; MUNDSTOCK, (2001) relatam que a qualidade da luz pode ter um papel crítico na determinação da emissão, desenvolvimento e sobrevivência dos afilhos. O número de afilhos férteis produzidos pela planta cessa quando o primeiro nó é visível no colmo, isto é, quando a planta de trigo está, em geral, no seu estádio de desenvolvimento V 6 ou na fase de alongamento. Sendo que os que serão formados após essa fase, serão inférteis. Portanto a boa adequação do manejo para que se tenha uma boa produção deste componente do rendimento é essencial, pois a fotossíntese realizada por afilhos inférteis geralmente não se traduzem em aumento da produtividade (COUNCE et. al., 2000). No estádio R 0 começa a fase reprodutiva, sendo que esta inicia antes do fim do estádio vegetativo, correspondendo a V 6, tendo início também a diferenciação da espiga (COUNCE et. al., 2000). Após a formação do colar da folha bandeira, ocorre a emissão da espiga (R 2 ), a qual ainda esta se desenvolvendo. Em sequência, ocorre a fecundação que acontece antes da antese (R 4 ), processo pelo qual se observa a exposição dos
19 18 antécios. Concluído a fecundação tem início o processo de divisão celular que irá compreender as células do endosperma onde serão armazenados os fotoassimilados em seguida começa o processo de elongação do grão (R 5 ) e a expansão do grão (R 6 ). Encerrado o enchimento de grão, a maturação fisiológica, que na cultura do trigo inicia-se do centro da espiga para as extremidades. Com a maturação de um grão na espiga corresponde ao estádio R 7 e com a maturação fisiológica completa na espiga ao estádio R 8, quando cessa a acumulação no grão (COUNCE et. al., 2000) Expressão dos componentes de rendimento em trigo Na cultura do trigo o rendimento de grão esta associado ao produto, basicamente, dos componentes diretos que são três: número de espiga fértil por unidade de área, o número de grão por espiga e a massa média de grão. A expressão destes componentes é intrínseca de cada constituição genética, podendo ser alterados conforme o manejo que for utilizado. Desde quando a planta estiver com o colar da terceira folha formada (V 3 ), esses componentes já começam a ser definidos e dependendo do manejo utilizado nesta fase a produtividade final pode ser comprometida. O primeiro a ter seu número final definido será o número de afilhos, que acontece em V 6, seguido do número de grão por espiga que se define na fecundação da oosfera pelo grão pólen, e a massa média de grão que tem seu valor expresso em função da divisão celular ocorrida logo após a fecundação e pela quantidade de fotoassimilados que serão direcionados para o grão. Cunha; Balcaltchuk (2000) relatam que o enchimento de grãos possui duas sub-etapas: primeiramente a divisão celular, em que se formam todas as células do grão, com duração de uma semana aproximadamente e muito sensível a deficiências, posteriormente o enchimento das células que tem duração de aproximadamente 25 dias. Muitas vezes o não conhecimento do comportamento da cultivar que se esta trabalhando, principalmente em relação ao afilhamento, é o responsável por erros no manejo empregado, em especial a densidade, para que sua expressão seja
20 19 maximizada, o que também é observado por Valério et al., (2008) quando relatam que esse problema está relacionado à grande diversidade no padrão de afilhamento dos genótipos de trigo, o que faz com que não haja clareza nos critérios para a escolha da densidade de semeadura mais adequada, e também sobre adubação nitrogenada que interfere na expressão dos componentes do rendimento da planta. Sangoi et al., (2007) relata que a aplicação de nitrogênio no momento adequado pode aumentar a eficiência de uso do nitrogênio pelo trigo, incrementando o número de grãos por espiga e o número de espigas por área. Porém existem cultivares que apresentam efeito compensatório e que, portanto compensam o número reduzido de um componente maximizando outro Qualidade tecnológica do trigo Emprega-se geralmente o termo qualidade tecnológica de trigo para indicar a performance de uma cultivar de trigo para determinado produto final. O balanço preciso das propriedades viscoelásticas da massa é fator essencial para a determinação de seu uso final. A presença de glúten elástico é necessária tanto em farinhas de panificação, quanto de massas alimentícias, enquanto que um glúten menos elástico é requerido em farinhas para bolos e biscoitos (GUTKOSKI et al., 2007). A expressão força de glúten normalmente é utilizada para designar a maior ou menor capacidade de uma farinha sofrer um tratamento mecânico ao ser misturada com água. Também é associada à maior ou à menor capacidade de absorção de água pelas proteínas formadoras de glúten, que combinadas à capacidade de retenção do gás carbônico resulta em um pão de volume aceitável, textura interna sedosa e de granulometria aberta (GUTKOSKI et al., 2007). As proteínas do trigo, por sua vez, dividem-se em formadoras de glúten e não formadoras de glúten. As formadoras de glúten são as gliadinas e as gluteninas, e constituem cerca de 80% do total de proteínas. Elas são classificadas em função da sua massa molecular e de sua capacidade de agregação. As proteínas de reserva são naturalmente ricas em prolina e glutamina, dois dos 20 aminoácidos
21 20 essenciais ao homem. Esta composição explica, em parte, porque o trigo é responsável por mais de 20% das calorias e proteínas necessárias à nutrição humana. O glúten é um conjunto de proteínas insolúveis que misturadas à água formam uma rede protéica ligada a grânulos de amido, que durante a panificação retém o CO2 produzido no processo fermentativo. Muitas das características desejadas do pão são determinadas pela presença do glúten. O trigo é o cereal cuja farinha possui propriedades do glúten, apresentando maior aptidão à panificação (MANDARINO, 1993). As gluteninas conferem viscosidade e elasticidade, enquanto que as gliadinas são responsáveis pela extensibilidade da massa do pão (DONG et al., 2009). A relação de proporção entre essas proteínas determina as diferentes características do glúten dos diversos tipos de trigo. Como estas proteínas estão correlacionadas à força de glúten ( W ) e a uma série de outras características, sua composição apresenta correlação com o tipo de farinha obtido do trigo em estudo, podendo servir à fabricação de pães, massas ou biscoitos. As proteínas de reserva possuem relação com parâmetros de qualidade. Dentre estes, podemos citar: análises de número de queda (NQ); microssedimentação com SDS (MS-SDS); alveografia, com os seus parâmetros: força de glúten (W); tenacidade (P); extensibilidade (L) e índice de elasticidade (Ie). No Brasil, a força do glúten juntamente com os valores de número de queda (relacionado à atividade da enzima alfa-amilase que hidrolisa o amido), é usada como critério para a classificação comercial do trigo como Trigo Melhorador, Trigo Pão, Trigo Brando e Trigo para outros usos (TORRES, 2008). Trabalhos que estudam os efeitos do glúten sobre os parâmetros de qualidade são conduzidos em todo o mundo. Estes estudos têm como objetivo dar apoio a programas de melhoramento genético de trigo. Na Nova Zelândia, Luo et al. (2001) realizaram cinco cruzamentos para os quais foram realizadas avaliações de força de glúten e de volumes de sedimentação relacionados com a presença das subunidades de gluteninas de alto peso molecular. A variação da composição alélica dos diferentes genótipos determinou diferenças genéticas na qualidade panificativa. (TOHIDFAR et al., 2004).
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