X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis
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- Anderson Sá Arantes
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1 DIÁLOGOS (IN)AUTÊNTICOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE INGLÊS E SEUS IMPACTOS NA COMPETÊNCIA INTERACIONAL DO/A APRENDIZ DE LE: UMA PROPOSTA DE PESQUISA VIA ANÁLISE DA CONVERSA Ana Paula Alba Wildt Doutoranda em Linguística Aplicada UNISINOS awildt@outlook.com Resumo: A proposta desta pesquisa é analisar e problematizar a questão da (in)autenticidade de diálogos em livros didáticos de inglês utilizados no Brasil. Para tanto, tomamos a Análise da Conversa como aporte teórico e metodológico. A Análise da Conversa se ocupa de observar e descrever a organização da fala natural, compreendida como aquela que acontece espontaneamente em situações interacionais no mundo social. Porque o uso da linguagem adequada e o papel desempenhado pelos/as participantes em determinado evento interacional são enfoques do processo de aprendizagem em uma perpectiva comunicativa de ensino de línguas, o Ensino de Línguas Baseado em Tarefas, que é um desdobramento da Abordagem Comunicativa ao qual os livros didáticos estão vinculados atualmente, pressupõe a utilização de insumos orais autênticos que demonstrem como a língua é empregada em diferentes contextos. Portanto, nessa perspectiva pedagógica, os diálogos devem atuar como amostras da língua estrangeira em uso. Contudo, o que temos observado nos livros didáticos de inglês baseados em tarefas das editoras que lideram o mercado brasileiro é a ausência de insumos orais autênticos, isto é, de diálogos que, de fato, espelham a organização da fala natural observada no mundo social e descrita por analistas da conversa. Assim, preliminarmente, nossa investigação tem comparado diálogos em livros didáticos de inglês em circulação no Brasil com estudos prévios de fala-em-interação, a fim de evidenciar as disparidades entre os diálogos utilizados em sala de aula como insumos orais para o desenvolvimento da competência interacional dos/as aprendizes de inglês e os diálogos autênticos, que, ao contrário daqueles, não são fabricados com fins exclusivamente pedagógicos. Em um segundo momento, iremos propor um curso de extensão em inglês utilizando, como insumos orais, diálogos inautênticos para um grupo, e diálogos autênticos para outro, objetivando comparar o impacto dos diálogos (in)autênticos no desenvolvimento da competência interacional de aprendizes de inglês. 1. Introdução Embora a figura do/a professor/a como sujeito crítico que seleciona e elabora materiais de ensino significativos para uso em sala de aula venha merecendo a atenção de diferentes estudos, os livros didáticos produzidos pelas editoras em larga escala, paradoxalmente, têm se consolidado cada vez mais no cotidiano escolar, em virtude da percepção de que facilitam o trabalho docente e a organização dos conteúdos linguísticos (D ALMAS; PASSONI, 2013, p.65-66). X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq 20 a 24 de outubro de 2014
2 Ao apresentar diálogos, os livros didáticos de inglês pretendem fornecer amostras da língua em uso em situações interacionais e possibilitar ao/à aluno/a perceber a relação entre linguagem e práticas sociais, capacitando-o/a a se comunicar e interagir em vários contextos com diferentes finalidades. Nessa perspectiva, os diálogos em livros didáticos desempenham papel importante no processo de aprendizagem de inglês como segunda língua e língua estrangeira, uma vez que atuam como insumos orais no desenvolvimento da competência interacional dos/das alunos/as. Por isso, nosso estudo tem investigado a (in)autenticidade dos insumos orais, mais especificamente, dos diálogos nos livros didáticos de inglês. Contudo, o que temos observado nas obras didáticas das principais editoras internacionais que dominam o mercado brasileiro na contemporaneidade é a ausência de insumos orais autênticos. 2. Objeto de estudo A proposta de nossa pesquisa é analisar e problematizar a questão da (in)autenticidade de diálogos apresentados em livros didáticos de inglês das editoras internacionais líderes de mercado no Brasil. Para tanto, temos buscado contribuições teóricas nos estudos sobre ensino de línguas baseado em tarefas, insumo oral autêntico, competência interacional e Análise da Conversa aplicada à avaliação de diálogos em materiais didáticos. Embora não tenha sido ignorada pelas concepções pedagógicas que antecederam ao ensino comunicativo de línguas (SIMÕES, 2004, p.19), foi a partir do movimento de transição entre tendências metodológicas do qual a Abordagem Comunicativa emergiu que a ideia do uso de textos escritos e orais autênticos nos livros didáticos de inglês encontrou maior ressonância (FRANZONI, 1992, p.38). Em virtude de que o uso da linguagem adequada e o papel desempenhado pelos/as participantes em determinado evento interacional são enfoques do processo de aprendizagem em uma perpectiva comunicativa de ensino de línguas (LEFFA, 1988), o Ensino de Línguas Baseado em Tarefas (ELBT), que é compreendido como um desdobramento da Abordagem Comunicativa, pressupõe a utilização de insumos escritos e orais autênticos que demonstrem como a língua é empregada em situações do mundo social. Assim, no Ensino de Línguas Baseado em Tarefas ao qual os livros didáticos normalmente estão vinculados na atualidade, há uma preocupação maior com o mundo real e o uso de dados linguísticos autênticos (LEFFA, 2008, p. 26). Esses dados linguísticos são denominados insumos. Nunan (2004, p. 47) define insumo como todo dado escrito, falado e visual com que o/a aprendiz trabalha durante o curso da tarefa até a sua completude (tradução nossa). Portanto, dentro do ELBT, o insumo é um componente da tarefa (NUNAN, 2004), colaborando na sua execução e para a sua completude. No que se refere à (in)autenticidade dos insumos orais, ainda que a que a literatura disponha de múltiplas noções de autenticidade (MISHAN, 2005; SHOMOOSSI; KETABI, 2007; BROWN, 2011), compreendemos como autêntica a fala naturalística, isto é, a fala que acontece espontaneamente em interações do mundo social, e que aconteceria com ou sem a presença de um/a pesquisador/a, não tendo sido produzida especificamente para fins pedagógicos. Defendemos que é relevante utilizar diálogos autênticos na sala de aula de
3 inglês porque se esse insumo é 'fabricado', ou seja, artificial, o aluno pode ser levado a produzir uma variante da língua-alvo que não o possibilite uma comunicação/interação efetiva e natural (SCHUBERT, 2010, p. 27). 3. Metodologia de trabalho Como aporte teórico e metodológico, utilizamos a Análise da Conversa, cujos precursores Harvey Sacks, Gail Jefferson e Emanuel Schegloff (1974) ajudaram a descrever e sistematizar uma série de observações e convenções referentes à organização, à sequencialidade e às práticas de interação pela fala que hoje são utilizadas pelos/as pesquisadores/as de fala-em-interação nas mais diferentes áreas, inclusive nos estudos sobre aquisição e aprendizagem de segunda língua e língua estrangeira. Se a Análise da Conversa se ocupa de observar e descrever a organização, a sequencialidade e as práticas interacionais no mundo social, parece natural vislumbrar a potencialidade das suas contribuições aos estudos sobre aquisição e aprendizagem de inglês como segunda língua e língua estrangeira, especialmente no âmbito do ensino comunicativo de línguas, em que a competência interacional entendida por Barraja-Rohan (2011, p. 482) como a habilidade de a) se engajar em vários eventos interacionais para coconstruir a fala com vários/as participantes e demonstrar conhecimento pragmático através do uso da sintaxe conversacional 1, e b) gerenciar o sistema de tomada de turnos de forma conjunta com co-participantes, adotando papeis interacionais apropriados 2 (tradução nossa) é meio e fim pedagógicos. Ainda que tenha partido da noção de competência comunicativa a qual envolve o conhecimento linguístico utilizado para se comunicar em situações concretas (CANALE; SWAIN, 1980), a competência interacional se difere daquela não só por ampliar consideravelmente seus componentes conceituais, mas principalmente por ser distribuída entre todos/as os/as participantes e variar de acordo com a prática interacional (YOUNG, 2011, p ). Isso porque a noção de competência interacional está voltada não para o que uma pessoa sabe (competência comunicativa), mas para o que ela faz conjuntamente com os/as outros/as participantes em um determinado contexto (YOUNG, 2011, p.430), o que é justamente o foco das investigações em Análise da Conversa. Assim, o desenvolvimento da competência interacional pressupõe a compreensão da estrutura de um turno e de como se orientar para respondê-lo em uma sequência determinada, demonstrar entendimento e empatia, reparar algum problema de comunicação e desempenhar ações sociais relacionadas a um dado contexto interacional, com vistas a um determinado objetivo social ou institucional (BARRAJA-ROHAN, 2011, p.482) todas ações interacionais que podem ser descritas e evidenciadas pela Análise da Conversa. Nessa direção, Gardner (2008) e Barraja-Rohan (2011) destacam o aumento, nos últimos quinze anos, do número de pesquisas que vêm conferindo aos estudos de aquisição, aprendizagem e uso de L2 uma perspectiva analítica. 1 Engage in various interactional events to co-construct talk with various participants and display pragmatic knowledge through the use of conversational syntax. 2 Jointly manage the turn-taking system with co-participants adopting appropriate interactional roles.
4 Por isso, em nossa pesquisa. neste primeiro momento, temos comparado diálogos em livros didáticos de inglês, baseados em tarefas, das principais editoras internacionais com estudos prévios de fala-em-interação, que possuem como objeto a fala de ocorrência natural no mundo social, isto é, a fala autêntica, e que descrevem e analisam a organização e as características comuns à fala naturalística em diferentes situações interacionais. Os impactos da inautenticidade de diálogos em livros didáticos de inglês no desenvolvimento da competência interacional do/a aluno/a serão analisados em outro momento, durante um curso de extensão em língua inglesa, a ser oferecido a um determinado grupo com uso de diálogos autênticos e a outro, com uso de diálogos inautênticos. 4. Síntese dos resultados Em fase inicial, nossa pesquisa vem apontando disparidades importantes entre os diálogos em livros didáticos de inglês baseados em tarefas e aqueles de ocorrência natural no mundo social, analisados por estudos prévios de fala-em-interação. O fato de que os diálogos são interações gravadas em estúdio a partir de um script elaborado em conformidade com um syllabus previamente estabelecido que, por sua vez, está voltado a atender a uma política linguística de grande alcance que associa os materiais didáticos a testes de proficiência internacionais (o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas), evidencia que os livros didáticos continuam focando no ensino de aspectos linguísticos, e não na língua em uso no mundo social, como clamam as editoras e a perspectiva comunicativa à qual estas obras se vinculam. Além disso, a ausência de fala naturalística nos diálogos dos livros didáticos de inglês avaliados até o momento destaca que, diferentemente do que o Ensino de Línguas Baseado em Tarefas pressupõe, as obras não apresentam insumos orais autênticos. Tais resultados, embora parciais, fazem refletir sobre os possíveis impactos da (in)autenticidade dos diálogos em livros didáticos no desenvolvimento da competência interacional dos/as aprendizes de inglês, já que os textos orais pretendem funcionar como amostras de como a linguagem é utilizada em diferentes contextos do mundo social para que o/a aprendiz possa se comunicar efetivamente. Esses impactos serão analisados no próximo estágio de nossa pesquisa, em que, através de um curso de extensão, utilizaremos, como insumos orais, diálogos autênticos com um grupo de alunos/as de inglês como língua estrangeira, e diálogos inautênticos com outro. 5. Conclusões parciais Ainda raros no Brasil (DALACORTE, 1991), estudos de Análise da Conversa aplicada à avaliação de diálogos em livros didáticos de inglês realizados em outros países (BERNSTEN, 2002; WONG, 2002; WONG; WARING, 2011) vêm demonstrando disparidades significativas entre a fala-em-interação apresentada nos materiais de ensino e a fala de ocorrência natural, que é o objeto de investigação dessa área na interface da Linguística Aplicada e da Sociologia. Na mesma direção, nosso trabalho tem evidenciado diferenças importantes entre a fala nas interações em diálogos de livros didáticos de inglês
5 em atual circulação no Brasil e a fala natural observada e descrita em estudos anteriores, o que pode refletir na competência interacional do/a aluno/a de língua estrangeira. Nesse sentido, almejamos, com nossa pesquisa, problematizar a (in)autenticidade de diálogos em livros didáticos de inglês de editoras internacionais utilizados no Brasil, tendo como aporte teórico e caminho metodológico a Análise da Conversa, com vistas a qualificar a produção e a seleção de materiais de ensino, e investigar os impactos dos diálogos didáticos (in)autênticos no desenvolvimento da competência interacional do/a aprendiz de língua inglesa. Referências BARRAJA-ROHAN, A. M. Using conversation analysis in the second language classroom to teach interactional competence. Language Teaching Research, v. 15, n. 4, p , Disponível em: < Acesso em: 12 out BERNSTEN, S. G. Using conversation analysis to evaluate pre-sequences in invitation, offer, and request dialogues in ESL textbooks f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Inglês como Segunda Língua)-University of Illinois, Urbana-Champaign, Disponível em: < Acesso em: 13 nov BROWN, S. Listening myths: applying second language research to classroom teaching. Ann Arbor: University of Michigan Press, CANALE, M.; SWAIN, M. Theoretical bases of communicative approaches to second language teaching and testing. Applied Linguistics, vol. 1, n. 1, p.1-47, Disponível em: < Acesso em: 01 mar DALACORTE, M. C. F. Natural conversation and EFL textbook dialogs: a contrastive study f. Dissertação (Mestrado em Letras)-Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Florianópolis, D ALMAS, J; PASSONI, T. P. Análise de um livro didático de compreensão e produção escrita: uma proposta para licenciatura em língua inglesa. Pro-Docência Revista Eletrônica das Licenciaturas/UEL, vol. 1, n. 3, p.65-79, Acesso em: 19 abr FRANZONI, P. H. Nos bastidores da comunicação autêntica: uma reflexão em linguística aplicada f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada)- Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP, Campinas, Disponível em: < Acesso em: 16 nov
6 GARDNER, R. Conversation analysis and orientation to learning. Journal of Applied Linguistics, v. 5, n. 3, p , Disponível em: < Acesso em: 24 nov LEFFA, V. J. Metodologia do ensino de línguas. In: BOHN, H. I.; VANDRESEN, P. Tópicos em lingüística aplicada: o ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: UFSC, 1988, p Disponível em: < Acesso em: 10 nov MISHAN, F. Designing authenticity into language learning materials. Bristol: Intellect, NUNAN, D. Task-based language teaching. Cambridge: Cambridge University Press, SACKS, H.; SCHEGLOFF, E. A.; JEFFERSON, G. Sistemática elementar para a organização da tomada de turnos para a conversa. Veredas, v. 7, n. 1-2, p.9-73, Tradução de SACKS, H.; SCHEGLOFF, E. A.; JEFFERSON, G. A simplest systematics for the organization of turn-taking for conversation. Language, v. 50, p , Disponível em: < Acesso em: 25 abr SCHUBERT, B. P. B. A autenticidade do material didático para o ensino de inglês como língua estrangeira. Linguagens e diálogos, vol. 1, n. 2, p.18-33, Disponível em: < Acesso em: 18 nov SHOMOOSSI, N.; KETABI, S. A critical look at the concept of authenticity. Electronic Journal of Foreign Language Teaching, vol. 4, n. 1, p , Disponível em: < Acesso em: 14 mar SIMÕES, L. C. Autenticidade e a abordagem comunicativa: reflexões sobre a sala de aula de língua inglesa f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem)- Universidade Estadual de Londrina/UEL, Londrina, Disponível em: < Acesso em: 10 nov WONG, J. Applying conversation analysis in applied linguistics: evaluating dialogue in English as a second language textbooks. IRAL, vol. 40, p.37-60, Disponível em: < Acesso em: 26 nov
7 WONG, J.; WARING, H. Z. Conversation analysis and pragmatics in language teaching. ALIS Newsletter, vol. 31, n. 1, Disponível em: < Acesso em: 15 nov YOUNG, R. F. Interactional competence in language learning, teaching, and testing. In: Hinkle, E. (Org.). Handbook of research in second language teaching and learning, vol. 2, 2011, p Disponível em: < Acesso em: 12 mar
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