QUANTIFICAÇÃO E ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS FOCOS DE CALOR NA SUB-BACIA DO RIO GRANDE-BA. Priscila Santos Pinheiro 1, Elane Fiúza Borges 2
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1 QUANTIFICAÇÃO E ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS FOCOS DE CALOR NA SUB-BACIA DO RIO GRANDE-BA Priscila Santos Pinheiro 1, Elane Fiúza Borges 2 1 Geografia, Estudante de Graduação, UEFS, Feira de Santana-BA, pinheiro.priscila@hotmail.com 2 Geógrafa, Professora Assistente do Depto. Ciências Humanas e Filosofia, UEFS, Feira de Santana-BA, elaneborges@gmail.com RESUMO: O Oeste Baiano desde sua formação e ocupação passa por mudanças e transformações da paisagem. As alterações ambientais sofridas na sub-bacia do rio Grande se associam ao exercício agropecuário, expansão agrícola e pelas práticas recorrentes das queimadas. Desta forma, este trabalho visou identificar, quantificar e analisar espacialmente os focos de calor durante os anos de 2008 a 2012 para a área de estudo, a fim de avaliar as áreas de maior intensidade em relação os focos de calor. A partir da identificação destes focos gerou-se um mapa de densidade com o estimador Kernel para a área de estudo. Os resultados foram agrupados em 5 classes: muito baixa (1), baixa (2), média (3), alta (4) e muito alta (5), onde foi possível identificar as áreas com maior recorrência de queimadas. Para além deste, verificaram-se que os anos com maior incidência de focos foram os de 2008, 2010 e 2012, com 3.756, e 5.548, respectivamente. O mês de outubro é o mais crítico, representou 25% dos focos de calor para todo o ano de 2008 e 33% dos focos para todo o ano de PALAVRAS-CHAVE: Queimadas, Sensoriamento Remoto, Oeste da Bahia. INTRODUÇÃO: O Cerrado brasileiro é o segundo maior bioma em extensão no país, representa uma área "core" de aproximadamente 2 milhões de Km², abrange 12 estados brasileiros e seis grandes bacias hidrográficas. Dentre estas bacias está a do rio São Francisco que se constitui de diversas outras sub-bacias, tal qual a sub-bacia do rio Grande, que se caracteriza como o recorte espacial desta pesquisa. Está localizada no oeste baiano, que se configura como área de maior concentração do bioma Cerrado no estado da Bahia. Esta região, desde sua formação e ocupação, vem passando por modificações da paisagem, sobretudo pela expansão da fronteira agrícola e pelas práticas recorrentes das queimadas (LOMBARDI, 2005). As queimadas, em tempos remotos, caracterizavam-se como evento natural causado, basicamente, por raios. Com o domínio do uso do fogo, crescimento da população e a ocupação irregular pelo homem as frequências das queimadas aumentaram significativamente, alterando o período de ocorrência das mesmas e provocando danos ao ambiente (ANDERSON; POSEY, 1985; FRANÇA, 2000; PEREIRA Jr., 2002). As queimadas na região do Oeste da Bahia ocorrem, principalmente, durante o período mais seco (julho a novembro), com a principal finalidade de abertura de novas áreas para atividades agropecuárias, uma vez que, segundo o Projeto Cerrado (2014), a prática do uso do fogo é considerada um método barato para preparar a terra para o plantio. No entanto, os incêndios mais periódicos acabam por provocar impactos ambientais desastrosos, como o comprometimento da qualidade do ar, perda de nutrientes do solo, redução de matérias orgânicas, além de favorecer os processos erosivos. Diante disto, este trabalho visou identificar, quantificar e analisar espacialmente os focos de calor referente ao período de 2008 a 2012 na sub-bacia do rio Grande-BA. MATERIAL E MÉTODOS: A sub-bacia do rio Grande compreende uma área de Km², representando 12% da bacia do São Francisco, na qual está inserida (ALVES, 2011). Dentro do estado da Bahia a sub-bacia do rio Grande abrange 16 municípios da região Oeste da Bahia (Figura 1). Desse total, onze municípios integram totalmente a região, são eles: Formosa do Rio Preto, Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, Wanderley, Angical, Riachão das Neves, Mansidão, Santa Rita de Cássia, Catolândia, Cristópolis e Cotegipe; quatro municípios possuem mais de 60% de seu território na área da sub-bacia: São Desidério, Buritirama, Tabocas do Brejo Velho e Baianópolis; e um município possui entre 40-60% de seu território inserido na sub-bacia: Barra. 553
2 Figura 1 Localização da área de estudo. Para o desenvolvimento desta pesquisa organizaram-se, em formato shapefile, os focos de calor para a área de estudo através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) por meio do Banco de Dados de Queimadas do Centro de Previsão de Tempo e Estudo Climáticos (CPTEC). Os dados de focos de calor são provenientes do sensor Modis a bordo da plataforma TERRA. Tais dados foram normalizados e unidos (aplicando-se um merge), uma vez que os focos são disponibilizados por municípios, a fim de se analisar o comportamento destes em toda a área de estudo. Os focos de calor (Figura 2) foram, a partir da sua distribuição, interpolados no estimador Kernel. Segundo Druck et al. (2004), o estimador Kernel se mostra como alternativa simples para análise do comportamento de pontos e estimar a intensidade pontual do processo na área de estudo. Assim, este interpolador foi escolhido por gerar uma superfície contínua através de dados amostrais, o que proporciona uma melhor análise qualitativa, além do entendimento da dinâmica espacial da concentração dos focos de calor na área de estudo. Elaborou-se uma tabela com a quantidade de focos de calor para cada ano do recorte temporal desta pesquisa, referente ao período seco, uma vez que este apresentou maior incidência de focos (Tabela 1). Assim, uma visão qualitativa dos focos de calor para a região é possibilitada para melhor interpretação e análise do resultado da interpolação. O mapa resultante foi reclassificado e definido em 5 classes de densidade: 1- Muito baixa; 2- Baixa; 3- Média; 4- Alta; 5- Muito alta. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A análise dos focos de calor é uma ferramenta importante para se compreender o comportamento espacial, além da recorrência dos eventos do fogo na área de estudo. A distribuição dos focos de calor pra os anos de 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012 está representada na figura 2, onde foi possível observar a espacialização destes focos em todo o recorte temporal da pesquisa. 554
3 Figura 2 Mapa de distribuição espacial do somatório de focos de calor para os anos de 2008 a A distribuição dos focos de calor total (2008 a 2012) desta pesquisa demonstra a espacialização do conjunto de pontos encontrados por unidade municipal e temporal. A relação foco versus queimada não é direta nas imagens de satélite. Um foco indica a existência de fogo em um pixel, em que pode haver uma ou várias queimadas distintas, onde a indicação será de um único ponto, no entanto se a queimada for extensa, ela será detectada em alguns pixels vizinhos, ou seja, vários focos estarão associados a uma única grande queimada (INPE, 2011). A maior parte dos focos está concentrada na porção norte e nordeste da sub-bacia e há poucas áreas com nenhuma incidência de focos - essas representadas pela cor branca. A recorrência das queimadas está associada a fatores antrópicos e naturais, uma vez que o manejo do fogo é utilizado para limpeza de pastagens a fim de se ter um novo plantio ou para a rebrota da vegetação com o objetivo de servir de alimento para o gado ou mesmo pela vulnerabilidade das fitofisionomias existentes na área de estudo quanto aos incêndios. O mapa de densidade Kernel (Figura 3) se caracteriza como o resultado da interpolação dos focos de calor na área de estudo. Observam-se, na cor amarelo-claro, as áreas com ocorrência muito baixa de focos de calor; destacam-se manchas com densidade média, alta e muito alta. A densidade média é representada pela cor laranja-claro e está distribuída no território da sub-bacia de forma irregular, mas mostra-se presente em quase todas as porções, sendo a mais evidente na área central. A densidade alta é caracterizada pela cor laranja e representa ilhas, muita vezes presentes em áreas onde a densidade média também é percebida. Assim, nota-se que há recorrência de focos de calor nessa área, ou seja, estas áreas provavelmente são sujeitas às queimadas anualmente. A densidade muito alta é representada na cor vermelha, onde se restringe a porção noroeste no município, áreas estas que possuem grande quantidade de focos e extensas cicatrizes de queimadas, sobretudo nos anos de 2010 e
4 Figura 3 Mapa de densidade dos focos de calor para os anos de 2008 a A identificação dos municípios com maior quantidade de focos de calor, no período seco, para cada ano do recorte temporal deste trabalho foi feita a partir da estruturação de uma tabela (Tabela 1). Tabela 1 Distribuição dos focos de calor para o período seco entre os anos de para cada município da sub-bacia do rio Grande. PERÍODO SECO Julho-Novembro Cidades Angical Baianópolis Barra Barreiras Buritirama Catolândia Cotegipe Cristóolis Formosa do Rio Preto Luis Eduardo Magalhães Mansidão Riachão das Neves São Desidério Santa Rita De cássia Tabocas do Brejo Velho Wanderley Foi possível observar que os municípios mais atingidos foram Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves, São Desidério, Santa Rita de Cássia, Barreiras, Cotegipe e Luis Eduardo Magalhães. Tal fato pode estar associado tanto às queimadas naturais do bioma Cerrado - por conta das condições climáticas - como também pode estar associado ao agronegócio, já que os incêndios abrem novas áreas para a expansão agrícola, uma vez que no período de seca a vegetação se torna hidricamente estressada, disponibilizando muito material combustível para ignição. A tabela com a distribuição dos focos de calor por município e ano demonstram a evolução das queimadas e a modificação do ambiente. Notaram-se que os focos de calor obtiveram relevante queda no ano de 2009 e crescente aumento nos anos seguintes: 2010, 2011 e No período de janeiro a dezembro, identificaram-se 556
5 ainda os três anos que demonstraram maior número de focos de calor: 2008, 2010 e 2012, com 3.756, e 5.548, respectivamente. O mês mais crítico, em relação aos focos de calor para os anos de 2008, 2010 e 2012 foi o de outubro. No ano de 2008 apenas neste mês detectaram-se 1713 focos de calor, representando 25% do total de focos para todo o ano. Segundo o CPTEC (2008), o mês de outubro foi marcado pelo atraso do período chuvoso em algumas regiões do país, como a região Nordeste. Assim, houve baixa umidade e elevadas temperaturas, fatores que contribuíram para o aumento significativo do número de queimadas detectadas sobre a região no mês em questão. No ano de 2010, no mês de outubro, detectaram-se focos de calor e, segundo o INPE (2010), se caracterizou por condições severas de clima seco - 30 a 35ºC - favorecendo a ocorrência de incêndios acidentais e queimadas irregulares. A escassez das chuvas combinada com o uso do fogo, fez com que os focos de calor aumentassem em 24% na área de estudo e 206% em todo o território estadual. Em 2012, no mês de outubro detectaram-se focos de calor, representando 33% das áreas queimadas. O CPTEC (2012) associou a intensificação das queimadas à forte estiagem que atingiu o oeste da Região Nordeste e parte da Região Norte há vários meses. Os fatos evidenciados na tabela e mapas dos focos de calor demonstram as mudanças meteorológicas que contribuíram bastante para o aumento e modificação da paisagem, bem como o aumento da atividade agrícola, uma vez que as intensas e recorrentes queimadas estão também relacionadas às ações antrópicas. A vegetação já fragilizada pelas grandes estiagens ficam ainda mais vulneráveis à supressão para ceder espaço às práticas agrícolas, o que interfere no ciclo ecológico desta, causando implicações ambientais desastrosas e, muitas vezes, negligenciadas. CONCLUSÕES: Através dos resultados aqui apresentados para a sub-bacia do rio Grande foi possível observar, de forma qualitativa e quantitativa, a distribuição dos focos de calor, sendo esta abordagem importante para estudos de impactos ambientais. O Sensoriamento Remoto associado ao geoprocessamento são importantes ferramentas para detectar, de forma rápida, as mudanças do meio ambiente. Assim, este trabalho é uma tentativa de alertar, através da identificação dos focos de calor, a realidade, fragilidade e a negligência em relação ao oeste baiano, bem como do domínio Cerrado. AGRADECIMENTOS: À FAPESB pelo apoio financeiro à pesquisa. REFERÊNCIAS: ANDERSON, A. B.; POSEY, D. A. Manejo de cerrado pelos índios Kayapó. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. 2(1): ALVES, R. R. Gênese e Evolução da superfície Quaternária no Médio São Francisco: Fatos e evidências na Bacia do Rio Grande - BA. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal de Uberlândia, 314 p., CPTEC.Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Disponível em:< Acesso em: abril de DRUCK, S.; CARVALHO, M.S.; CÂMARA, G.; MONTEIRO, A.V.M. Análise Espacial de Dados Geográficos. Brasília, EMBRAPA, FRANÇA, H. Metodologia de identificação e qualificação de áreas queimadas no Cerrado com imagens AVHRR/NOAA. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponível em: < Acesso em: Outubro de LOMBARDI, R. J. R. Estudo da recorrência de queimadas e permanências de cicatrizes do fogo em áreas selecionadas do cerrado brasileiro, utilizando imagens tm/landsat. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 172 p., PEREIRA JÚNIOR, A. C. Métodos de geoprocessamento na avaliação da susceptibilidade do cerrado ao fogo. Tese (Doutorado em Ciências da Área de Concentração em Ecologia e Recursos Naturais), Universidade Federal de São Carlos, 98p., Projeto Cerrado. Redução do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado Brasileiro. Avaliação e Diretrizes Socioambientais. Cooperação entre Brasil, Reino Unido e Banco Mundial. Salvador, Bahia
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